30.4.10

Imagem: psicologia e design

Outro cúmplice dos tempos de O Malaco e Marca Diabo entrou em contato comigo: Ramiro Pissetti, que agora virou um sujeito sério e é professor da Faculdade da Serra Gaúcha. Como tal, ele é editor de uma revista acadêmica chamada Imagem. No blog da publicação ela é definida assim:


Revista Imagem é um projeto multimídia desenvolvido de forma transdiciplinar pelos cursos de Design e Psicologia da Faculdade da Serra Gaúcha. Produzida por professores, estudantes e colaboradores, a publicação é direcionada a teóricos, pesquisadores e interessados pelos conhecimentos difundidos no universo do ensino superior de graduação e pós-graduação.

Como o próprio título indica, a proposta central do projeto é debater os mais amplos sentidos do termo, bem como suas distintas abordagens em diferentes campos do saber. Para tanto, não serão desconsideradas perspectivas por vezes conflitantes, como a representação pelo desenho manual, a captura por dispositivos digitais, a edição eletrônica, a transmissão via satélite, a projeção na retina e a recriação pela mente humana, a transformação em reflexo, símbolo ou mito. A discussão está aberta.

A primeira edição pode ser acessada aqui tanto para leitura on-line quanto para baixá-la em pdf. Mas para este blog, o que interessa é que na próxima edição de Imagem haverá um artigo sobre steampunk de minha autoria. Na verdade, será a versão atualizada de um texto que já publiquei no Cidade Phantástica e no Overmundo. Portanto, se alguém souber de algum projeto ligado ao gênero em produção, que eu ainda não tenha noticiado por aqui, deixe um comentário neste post que tentarei incluir no texto final.

29.4.10

Tempo e eternidade

Se lançar um livro no Brasil já é um feito, alcançar uma segunda edição é algo ainda maior. E se a obra em questão é ligada à ficção científica, então, isso já é quase um milagre. Este é o caso da antologia de contos Fábulas do tempo e eternidade, da paulistana Cristina Lasaitis, título lançado em meados de 2008 pela Tarja Editorial e que agora vai ganhar sua segunda tiragem. E com um belo banho de loja, já que a nova capa é bem mais bonita que a primeira e a editora garante que a encadernação também é superior - este foi o grande problema da edição original, assim como ocorreu com outros livros de formato de bolso daquela casa editorial que também é responsável pela coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.

Como o livro em questão é muito bom mas não é ligado ao gênero tratado aqui, precisei de alguma desculpa para poder tocar no assunto. Consegui isso ao relembrar de um texto antigo da escritora para seu blog no qual ele apresentava a seus leitores os vários subgêneros da FC. Como o steampunk está entre eles, esta abertura fica a título de introdução aos trechos que reproduzo abaixo.

E o que é ficção científica, afinal?
É um gênero muito rico, que engloba vários subgêneros, comportando obras tão diferentes entre si que muita gente nem suspeita se tratar de FC. Costumam designa-la também como ficção especulativa, porque sua função é especular sobre realidades diferentes e explorar novos universos de possibilidades. É a ficção do: “como seria se…?”, e sobre essa pergunta, os autores constroem universos inteiros dentro de uma complexidade própria, abordando aspectos científicos, políticos, tecnológicos e culturais; partindo de premissas que nos conduzem a reflexões por horizontes além dos limites do convencional. E é aí que reside o grande valor da ficção científica: ela exercita a criatividade, a imaginação, o raciocínio, o poder de abstração e a flexibilidade de pensamento. São habilidades exploradas pela literatura como um todo, mas que florescem de forma especial quando a ficção extrapola as fronteiras do cotidiano.

A ficção científica pode ser fatiada em vários subgêneros, que não são absolutos. Muitas obras não podem ser classificadas dentro de uma vertente ou outra, por reunirem características de vários subgêneros. Farei um resumo das principais vanguardas da FC, mas entenda que as fronteiras que separam uma e outra são tênues, algumas fizeram sentido em momentos específicos da literatura, outras são divisões tão virtuais quanto as dos times de futebol. (...)


Steampunk
Amostra de um futuro que jamais houve

Um dia William Gibson (o mesmo autor de Neuromancer) acordou com um bug nas idéias, se reuniu com Bruce Sterling e juntos eles decidiram desenterrar o projeto da máquina diferencial de Charles Babbage (que se tivesse funcionado teria se tornado o primeiro computador da história, isso em… 1822!), puseram-na para funcionar sob forças fictícias e criaram um desvio na história, situando a revolução da informática um século antes que ela realmente acontecesse. O resultado foi The Difference Engine, outro romance que chegou para abalar a FC com estilo.

Imagine você que maravilha o mundo computadorizado batendo cartões em máquinas a vapor, os céus tomados por zeppelins movidos por piloto automático e a Rainha Vitória atravessando os oceanos com os submarinos da Nautilus Rapinante Ltda. Sim, isso mais parece Júlio Verne recauchutado, com engrenagens de ouro e rococós barrocos. O steampunk – punk a vapor – é a tendência que veio explorar o progresso científico que o passado poderia ter vivido e que jamais aconteceu. A premissa sempre é fundamentada em um ponto crítico da história, gerando um desvio para uma revolução tecnológica bem-sucedida.

Nos quadrinhos, o gênero foi muito bem explorado por Alan Moore em A Liga Extraordinária (cuja adaptação cinematográfica deixa a desejar). E mais recentemente, o filme A Bússola de Ouro traz uma linda amostra dos devaneios estéticos do steampunk.

Na verdade, o punk a vapor é um gênero pouco ou nada funcional, mas com um apelo estético fortíssimo, retro-futurista e quase parnasiano. Em outras palavras: “essa engenhoca do vovô não serve pra nada, mas é tão bonitinha, tão legal, tão bacana…!!”

Competicão de design steampunk

Estão lembrados daquele computador vitoriano que postei por aqui recentemente? O responsável por aquele projeto, Bruce Rosenbaum, e outros fomentadores da cultura steamer estão promovendo um concurso para escolher e premiar os melhores projetos de design steampunk, do qual artistas brasileiros podem participar. Promovido por Charles River Museum of Industry & Innovation, ModVic, LLCSteampuffin e Brute Force Studios, a primeira competição anual Steampunk Form & Function Design aceita trabalhos entregues até o dia 5 de setembro deste ano. A premiação prevê US$ 1.000 para o primeiro lugar, US$ 500 para o segundo, US$ 250 para o terceiro e US$ 100 para a menção honrosa e a escolha do público, além da exibição dos produtos em um museu americano. As regras do concurso podem ser lidas neste endereço. Fica a torcida deste blog pela participação de algum conterrâneo nosso neste evento.

28.4.10

Vai ter vapor na Virada

Assunto deste milissegundo no Twitter, a Virada Cultural de 2010 vai acontecer por toda São Paulo entre os dias 15 e 16 de maio. A programação prevê um espaço privilegiado para a cultura nerd, concentrada na Praça Roosevelt. Como pode ser visto abaixo, os steampunkers estarão presentes. Para mais detalhes, o site do evento.


Grande encontro do cenário multi-facetado de infinitas dimensões e tendencias do universo nerd. Uma vez o mundo dominado, é hora de festejar.
Independance Day – Editores Independentes de Hqs.
Pintura e Exposição de Toy Art
Parada Estelar
Parada dos Universos Mágicos
Parada dos Monstros
Parada Cosplay
Praça Pentagonal

18h00 - Animação do Palco Cosplay
18h30 - Banda Olam Ein Sof
19h00 - Mesas de Rpg e Jogos de Tabuleiro
20h00 - Apresentação Livre Medieval
21h00 - Apresentação Livre Cosplay
21h45 - Ecos do Silêncio – Instituto Lohan
22h00 - Batalha de Sabres de Luz: Equipe Blades
00h00 - Live Action de Vampiro: a Máscara
07h00 - Palco Cosplay Brasil
10h00 - Apresentação Conselho Steampunk
11h00 - Teatro Cosplay
12h00 - Apresentação Livre Cosplay
13h00 - Apresentação Livre Medieval
14h00 - Banda Olam Ein Sof
15h00 - Teatro Cosplay
16h00 - Banda Agente Smith
17h00 - Banda Gaijin Sentai
18h00 - Encerramento da Dimensão Nerd
Vão da Praça Roosevelt

18h00 - Abertura dos Stands Tematicos
Chegada das Paradas Cosplay, Monstros, Universos Mágicos e Estelar
19h30 - Jam Session com a Banda Gaijin Sentai
22h00 - Inicio das Atividades dos Fãs Clubes
22h30 - Maratona Sci-Fi na Virada
23h00 - Apresentação do Conselho Branco
00h00 - Desfile de Fantasias
01h00 - Apresentação Grupo Hednir
02h00 - Apresentação do Grupo Graal
03h00 - Batalha Campal: Grupo Alliance e Grupo EBM
04h00 - Batalha de Sabres de Luz: Equipe Blades
05h00 - Apresentação Grupo Hednir
06h00 - Batalha Campal Geral de Eva
07h00 - Mesas de Rpg e Jogos de Tabuleiro
08h00 - Batalha Campal: Grupo Alliance e Grupo EBM
09h00 – Apresentação Grupo Hednir
10h00 - Atividade Jornada Nas Estrelas
11h00 - Desfile Star Wars
13h00 - Batalha Campal Geral de Eva
14h00 - Desfile de Fantasias
15h00 - Apresentação Confraria das Ideias
Estacionamento

18h00 - Abertura das Exposições 24H – Estudio Melies – Estúdio Hard Replics – Mythos Editora – Devir Livraria – Editora JBC
18h00 - Demonstração de Jogos de Tabuleiro
18h00 - Abertura da Arena de Games
23h00 - Discotecagem Sci-Fi, Cartoon e Anime
08h00 - Exibição de Filmes Medievais

O Santo Guerreiro e o Dragão Steampunk

Uma conversa no Twitter entre vários escritores rendeu um insight e tanto a Eric Novello. Mais que isso, talvez tenha nascido daquele papo uma proposta de padroeiro para a literatura fantástica. Ele fez um resumo da situação em seu bem nutrido site.


São Jorge é um dos poucos santos que consegue conquistar a simpatia de um público mais amplo, indo além das fronteiras da igreja. É padroeiro de Portugal, Inglaterra, Catalunha (Corinthians não vale!), e tem um séquito considerável de devotos no Brasil, com direito a sincretismo Afro-católico que o associa a Ogum.  Superação de santo de lado, o encanto desse legionário romano no imaginário coletivo se deve mesmo à história romântica em que ele salva uma princesa das garras de um dragão (e faz o reino inteiro se converter ao cristianismo depois, é verdade, mas vamos liberá-lo dessa parte). Foi assim que ele foi parar em quadros e esculturas do mundo inteiro. São Jorge não quer saber de conversa. Pega sua armadura, cavalo e lança, fere o dragão e se manda com a princesa. Não me cabe aqui discutir a origem da história. Tem gente com mais conhecimento e mais Wikipedia do que eu para isso, mas arrasto minha asa para o mito do herói grego Belerofonte. Mais estiloso do que São Jorge, Belerofonte montou em um Pégaso. Em compensação, matou uma Quimera e não um dragão, então considero empate técnico.

Isso tudo para dizer que no dia 23 de abril, dia de São Jorge, rolou um papo entre autores de literatura fantástica no twitter e não teve como não fazer a associação. Um paladino que vai de cavalo até a lua para matar um dragão? Só pode ser o padroeiro da literatura fantástica. Como choveu bastante, também chegamos a conclusão de que São Pedro é o padroeiro da literatura do cotidiano (mainstream). É claro que foi uma escolha informal, feita por um grupo de amigos, mas… por que não? Dia 23 de abril passa a ser o dia da literatura fantástica e de seu padroeiro matador de dragões.

Com a nova onda da literatura steampunk lá fora e bons autores se aproximando do gênero também no Brasil, imaginei logo um dragão steampunk,  cuspindo fogo e deixando escapar vapor pelas narinas de metal. Não consigo pensar em criaturas mais steam do que  os dragões. Esse aí do lado, super atual, é do Kerem Beyit, um artista turco igual a São Jorge (se você se lembra da música de Jorge Ben, Jorge é da Capadócia, hoje parte da Turquia) que conta com vários desenhos de fantasia no currículo e mais uma penca de prêmios. O site oficial faz a alegria de qualquer jogador de RPG, mas enlouquece qualquer um com uma conexão mais lenta, então aconselho uma visita direta ao devianART dele.
Continue a leitura e confira a imagem que Novello escolheu para representar o padroeiro da literatura fantástica e do steampunk.

Aula de História 2

Em julho do ano passado, logo após o lançamento da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, fiz uma chamada aqui para um texto que chamei de verdadeira aula sobre o gênero, ou, mais precisamente, escrevi isso:

Ana Cristina Rodrigues, historiadora, escritora e fomentadora cultural da literatura fantástica nacional, deu uma verdadeira aula sobre o que chamou - com razão - de "novo hype da Ficção Especulativa brasileira", no caso o gênero abordado nesta casa, o Steampunk. No blog Ficção Científica e Afins, que vem a ser uma versão Wordpress da maior comunidade em português de FC, da qual ela é a atual dona e há tempos moderadora, Ana destrinchou o contexto por trás desta "novidade", que já tem um quarto de século se considerarmos apenas sua vertente mais bem acabada, apontou várias obras em diferentes mídias que seguem o estilo steamer e relacionou tudo com a realidade do Brasil.

 Volto a chamar a atenção para outro texto da moça, desta vez sobre o subgênero da FC - ou um gênero à parte, a depender do analista - chamado História Alternativa. É uma aula magna sobre o assunto. Ela volta a tocar no steampunk em certa altura, mas mesmo se não o fizesse, indicaria o artigo aqui. Abaixo segue o tal trecho, mas a íntegra deve ser lida aqui:

O movimento steampunk em várias obras se aproxima da História Alternativa, como no livro seminal do gênero The difference engine de Bruce Sterling e William Gibson. Porém, de modo geral podemos dizer que nesse movimento a estética do vapor é mais importante do que estabelecer as mudanças a partir de um ponto de convergência em relação a nossa Linha Temporal.

27.4.10

Há muito tempo, numa ilha muito distante...

 Vocês já ouviram falar em Sillof? O homem é um artista, um mestre na customização de bonecos. Ou seja, ele pega aquelas action figures industrializadas de personagens de filmes, quadrinhos ou animações e as recria, dando uma especial atenção a transportá-las no espaço e no tempo, dando origem a novas criações com alma steampunk. Graças a uma matéria no excelente Blog de Brinquedo fiquei sabendo que ele atacou novamente. Desta vez, o artista apresentou uma versão de Star Wars em pleno Japão feudal. Leiam abaixo trechos do texto de Dado Ellis e vejam como ficou a transformação de algumas das criaturas de George Lucas:

Como seriam as personagens de Star Wars se o filme fosse passado no tempo dos Samurais?


Sillof, o mestre da customização steampunk, responde essa pergunta com uma coleção de action figures inspiradas no filme Sutâ wôzu: Aratanaru kibou (Star Wars: A New Hope), com as principais personagens da saga no Japão feudal, como Samurais.

Sillof teceu uma história por trás das figuras, envolvendo fotografias de um filme antigo achadas em Yokahama. As fotos, de 1955, são do início das filmagens de Sutâ wôzu: Aratanaru kibou (Star Wars: A New Hope), um filme dirigido por Akira Kurosawa com grande elenco, que acabou cancelado devido a um acidente no set.

26.4.10

Steampunkers em evento de RPG

Realizado em Curitiba no último final de semana, o World RPG reuniu fãs desses jogos de interpretação e, entre eles, parece ter chamado a atenção a presença de representantes locais do Conselho Steampunk. No blog do evento, um post apresentou aos participantes as diretrizes da Loja Paraná:

O Conselho SteamPunk PR objetiva discutir, escrever, inspirar, valorizar e divulgar informações a respeito do movimento Steampunk que vem crescendo no Mundo e também no Brasil.

A inspiração para isso tudo veio da imaginação humana, possivelmente influenciada pelos contos de Julio Verne e H. G. Wells. Obras inspiradas em universos paralelos onde a tecnologia mecânica a vapor desenvolveu-se levando a humanidade a outros caminhos, alguns inclusive singrando sistemas estelares longínquos.

O estilo vitoriano ou Western lembrando tecnologia a vapor como em um mundo paralelo é uma nova forma de escrever ficção científica. Como se não bastassem os contos cibervaporianos agora está surgindo a moda Steampunk.
Outro flagrante, este com direito a fotos, se deu no site Liga Nerd que fez a pergunta: "Você sabe o que é steampunk?" As respostas da colaboradora que assina como Beatrix Kiddo está parcialmente abaixo:

Rodando pelo World RPG Fest as lentes da minha câmera encontraram o pessoal do movimento Steampunk no Paraná. O figurino, muito peculiar, remonta há muito tempo, mas nesse planetinha aqui mesmo. Carlos Machado, conhecido como Capitão Escarlate, me contou que a idéia do steam é despertar valores antigos, como o apreço da leitura e o hábito de visitar museus. "Queremos ser uma lembrança de coisas esquecidas porque, se uma sociedade quer ter um futuro bacana, tem que valorizar seu passado e seu presente também", disse.



O Steampunk é um subgênero da ficção científica que define um universo paralelo, onde a humanidade teria evoluido antes, mas com os recursos disponíveis a época. Ou seja, seria mais ou menos como se a literatura de Julio Verne tivesse acordado um dia e, com preguiça de andar pelas prateleiras da imaginação explodisse sobre a realidade. Um mundo onde carros, aviões, robôs, armas e outras engenhocas seriam desenvolividos com a tecnologia mecânica a vapor depois de terem enchido ela de espinafre do Popeye. Surgido do cyberpunk ,o steampunk flertou com as distopias, principalmente dos gêneros noir e ficção pulp onde as histórias eram ambientadas em épocas passadas mas mantinham a tradição da atitude punk. Com o tempo o steam se aproximou das utopias dos romances de ficção científica do século XIX.

Damas do Vapor 2

Vejamos agora algumas das participantes que já estão concorrendo ao concurso SteamGirls promovido pelo Conselho Steampunk em parceria com OutraCoisa e dotWeb. As fotos e as informações sobre as candidatas estão disponíveis no site criado especialmente para divulgar o projeto.


Lady Jesse é SteamPlayer, faz parte da Sociedade Lewis Carroll do Brasil e é membro do Conselho SteamPunk.


Jezebelly Trenare é praticante de SteamPlay e enfeita os eventos do Conselho SteamPunk sempre que pode com seus trajes ricamente trabalhados e cheios de detalhes.


Joanna Oliveira tem 22 anos, é Steamer, SteamPlayer, dona de um blog sobre Teoria Musical e responsável pela Loja Rio Grande do Sul do Conselho SteamPunk.

Damas do Vapor

Nem bem comentei o fato de ele ter sido considerado o "porta-voz da subcultura steampunk brasileira" pela Steampunk Magazine, e já encontrei na rede outra entrevista de Bruno Accioly divulgando mais projetos de divulgação da cultura steamer. Desta vez foi uma entrevista que o empresário carioca concedeu ao site Cosplayers Net, dedicado às pessoas que se fantasiam de seus personagens favoritos dos quadrinhos, cinema, animações, games ou literatura. O tema da conversa conduzida por Ricardo Iagi foi o concurso promovido por Accioly e seus associados do Conselho Steampunk para incentivar uma maior participação feminina neste universo que recria o século XIX com tons fantásticos.

O projeto em pauta é o concurso SteamGirls, aberto a todas as interessadas em mostrar ao público seus trajes inspirados naquele período da História, com algum toque retrofuturista. Abaixo, segue um trecho da entrevista que levou o título "Cosplay com um toque histórico" e, no post seguinte, algumas das fotos já enviadas e publicadas no site criado para o concurso.

CN: Como surgiu a idéia para o concurso SteamGirls?
BA: A idéia surgiu do fato de que boa parte do Conselho SteamPunk regularmente se veste em trajes vitorianos e cultiva hábitos que alardeiam as virtudes atribuídas à época sem se permitir abraçar tudo aquilo em que a época falhava. Sob este aspecto o concurso é ao mesmo tempo uma homenagem a mulher, ao gênero e a uma visão utópica e nostálgica da Era Vitoriana. A iniciativa e patrocínio, contudo, vem do OutraCoisa.com.br e da dotWeb.com.br.

CN: Vocês esperam por um bom número de cosplayers desse estilo? Já estão recebendo fotos?
BA: O que ocorre é que o SteamPunk não é tão reconhecido como estilo no Brasil quanto é, digamos, na Alemanhã -, informação que temos por conta da parceria do Conselho com o www.ClockWorker.de, que já veio ao País duas vezes, representado por Johanna Sievers. Hoje temos oito candidatas inscritas e uma dezena de outras que vêm nos perguntando detalhes de como participar e como se vestir.

steampunk2.jpgCN: Vocês participam de eventos de animê e mangá?
BA: Estamos começando a estabelecer algumas parcerias e a aparecer nos lugares, seja a paisana seja em trajes vitorianos, mas ainda não participamos. Há interesse, sem dúvida, de nos aproximarmos da comunidade de cosplay, sobretudo por conta de haver já esta tradição, no Conselho SteamPunk, de aparecer por aí em roupas tão peculiares.

CN: Vocês realizam eventos próprios? Há datas específicas que possam ser divulgadas?
BA: Até por conta de ser mais conhecido em São Paulo, o movimento por aqui tem sido muito mais forte. Já houve dois eventos desde o início do ano e a Loja São Paulo vem divulgando-os em seus sites. Um evento está previsto para o dia 26 de julho e maiores detalhes vão poder ser encontrados nos sites do Conselho.

25.4.10

Por falar em Verne...

Octavio Aragão acaba de publicar em seu blog uma entrevista com um historiador português, aficcionado por ficção científica, que traçou um rápido panorama da situação daquele gênero literário no país onde reside há 36 anos e onde a FC nasceu, por mérito do sempre citado por aqui Jules Verne (1828-1905). Pedro Mota, criador do site La Porte des Mondes, deu especial atenção a certo subgênero, como Aragão destacou no título do seu post - "Steampunk em Paris: entrevista com Pedro Mota". Abaixo, seguem a abertura da entrevista e o trecho da conversa em que o especialista lusitano toca no assunto:


Pedro Mota é um historiador português que atualmente reside na França.

Graças a seus projetos editoriais e admiração pela Ficção Científica – especialmente o subgênero chamado “História Alternativa” – vem promovendo um intercâmbio bastante salutar e inédito entre autores de língua portuguesa e de origem francesa. (...)

O AVocê acredita que há a possibilidade do desenvolvimento de um mercado de literatura de FC de cunho mundial, fora do universo editorial anglófono?

P M – Sinceramente, creio que sim. Porque penso que pode haver outros modos de escrever FC, outras sensibilidades além daquela dos anglo-saxônicos. A pouco, tive uma conversa com a Sylvie Miller, onde ela me disse que a FC americana é, por vezes, demasiado maniqueísta e um tanto redutora. Enquanto que a FC espanhola ou lusófona aparece mais colorida e mais diversa.

Na França, os leitores puderam descobrir nestes últimos anos, autores alemães, espanhóis, italianos, cubanos, jamaicanos. Todos eles propõem visões e alternativas diferentes da FC anglo-saxônica. Não quero dizer que a FC não-anglosaxônica seja melhor, mas é diferente, e desenvolve outras maneiras de escrever temas clássicos como space-opera, hard-science, cyberpunk, steampunk e outros.

Pegamos, por exemplo, o steampunk, que conheço bem: a princípio, trata-se de uma nova corrente que se iniciou nos EUA e na Inglaterra, com os livros de Powers, Blaylock, Gibson e demais. Mas, por volta de 1995, reparamos que vários autores francos souberam recuperar esse tema e adaptá-lo ao público francês. Em vez de situar a ação em Londres dos finais do século XIX, transpuseram as suas historias à Paris, mas na mesma época, com personagens (verdadeiros ou imaginarios) bem conhecidos, como Arsène Lupin, Jules Verne, Vidocq etc... Acho que o steampunk “à francesa” não deve nada ao anglófono, e até pode interessar o público português, espanhol ou brasileiro. Mas será que esses públicos alguma vez ouviram falar desses livros? Julgo que não, e acho uma pena.

Ademais, a FC estrangeira pode contar histórias com temas bem diferentes dos habituais, temas usados na França, tal como "Eu matei Paolo Rossi", de Octavio Aragão. Nesse conto, um dos pontos focais é a paixão pelo futebol que existe no Brasil, o que soa um pouco "exótico" na França.

É preciso saber se as editoras portuguesas, brasileiras e as outras, podem ter vontade de buscar e traduzir contos franceses, e realizar um trabalho similar ao de alguns editores franceses.

Se ninguém der o primeiro passo, todo o trabalho realizado por várias pessoas para tentar descobrir essa "outra" FC pode não ser mais do que "un coup d'épée dans l'eau" (un golpe de espada na água) e as várias FC existentes no resto do mundo continuarão a ignorar-se, medindo forças com a FC anglófona.

24.4.10

Mais Verne no Terra Magazine

No final de janeiro, noticiei aqui que o colunista e escritor Roberto de Sousa Causo havia feito um especial sobre ficção científica e o século XIX em seu espaço no site Terra Magazine. Naquela ocasião, ele havia escrito a resenha "Atirando para a Lua"  sobre o livro Da Terra à Lua, de 1865. Agora, ele acabou de voltar ao tema para escrever sua análise da continuação daquela obra de Jules Verne (1828-1905): Autour de la Lune, de 1870, que, assim como o primeiro romance, serviu de base para a minha noveleta na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, da qual Causo também participou.

Em "Cápsula Lunar", o resenhista compara as duas obras, separadas por meia década entre a publicação de uma e outra, atualizando alguns pontos do que atualmente se sabe em termos de viagens espaciais e que era assunto apenas de especulação na época em que o escritor francês imaginou suas aventuras extraordinárias. Abaixo, um trecho da crítica e a capa do livro, que ganhou uma edição em português pela espanhola RBA Coleccionables, disponível em bancas do Brasil, mas, infelizmente, ausente do território catarinense.


Se Da Terra à Lua é um romance cômico pela gozação de tipos humanos e nacionalidades, À Roda da Lua apóia seu humor quase que exclusivamente no tripulante Michel Ardan (aportuguesado para "Miguel", nesta edição traduzida para o português europeu), cujo romantismo contrasta com a personalidade pragmática dos outros dois, Barbicane e Nicholl. Nessa oposição, ocorre também o choque entre a cultura literária e a científica, e Verne tem a oportunidade de dar as explicações didáticas que o caracterizavam, conforme os americanos vão explicando ao francês como funciona a mecânica celeste ou o que se sabe sobre a geografia da Lua.

Há uma incrível presciência em alguns dos detalhes. A cápsula com três homens - como aquelas do Programa Apollo da NASA -, a descrição desoladora da Lua, assim como a amerissagem no Oceano Pacífico, com o projétil-cápsula sendo resgatado por um navio da marinha americana.

Mas como não poderia deixar de ser, Verne nos apresenta uma infinidade de hipóteses e especulações científicas que transitavam na época, mas que não foram confirmadas pela ciência do século 20. Entre elas, a existência de um segundo satélite da Terra, um asteróide que orbitaria o nosso planeta entre a Terra e a Lua - e que, tendo quase se chocado com a cápsula dos heróis, interfere com sua trajetória, impedindo-a de tocar a superfície da Lua. E Verne aposta na origem vulcânica das crateras lunares, resumida em uma citação do astrônomo franco-catalão François Jean Dominique Arago (1786-1853): "Para a produção do relevo lunar não contribuiu ação alguma exterior à Lua." Não deixa de ser irônico que os dois especialistas em balística, Barbicane e Nicholl, não tenham apreciado as crateras como resultantes do impacto de projéteis espaciais - ainda mais considerando que o próprio Verne dramatiza dois quase-encontros fatais com bólidos viajando no espaço.

Victorian Organ Command Desk

 A dica veio do meu chapa Gabriel Rocha, colega de Gárgula, O Malaco e Marca Diabo: o verborrágico jornalista Alexandre Matias havia postado material sobre steampunk em seu blog Trabalho Sujo, que faz parte do coletivo O Esquema.  Primeiro ele fez um comentário rápido e exibiu um trailer de um filme que está prestes a ser lançado. Com o título "Se a volta de Indiana Jones não valeu...", Matias complementou: "Tentemos a adaptação do quadrinho proto-steampunk Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec, de Jacques Tardi, para o cinema. Cortesia de Luc Besson". Mas o que chamou a atenção do Gabriel foi o post seguinte, no qual o blogueiro publicava fotos impressionantes como a que segue:



Este é o Victorian Organ Command Desk, um projeto de computador em estilo vitoriano totalmente funcional de autoria de Bruce Rosenbaum. Alexandre Matias pescou as imagens no site The Steampunk Workshop, de alguém já citado por aqui, na ocasião em que traduzi uma reportagem do jornal El País: o americano Jake Von Slatt. Nos endereços linkados neste texto, os leitores poderão ver mais detalhes dessa maravilha steamer. Deixo vocês com o detalhe que achei o mais bem sacado dessa criação de Mr. Rosenbaum.



 A webcam. Sorri. Estás sendo cinedaguerreotipado.

23.4.10

Uma melhorada no visual

O Cidade Phantástica deu uma renovada na aparência. A partir de hoje, este blog conta com uma nova cabeça de página e com um banner assinados por um profissional do qual falei neste post. Tiburcio, quadrinista e ilustrador experiente, colaborador da Mad e autor da webtira Meu Monarca Favorito, que se passa no século XIX, em um país fictício mas muito inspirado no Brasil do Segundo Império. Estou muito feliz em poder contar com a arte desse confrade talentoso que vai passar a valorizar minha página toda vez que algum leitor olhar para a parte de cima e para o lado esquerdo do meu blog. E, para ilustrar esse post, segue abaixo mais uma arte de Tiburcio, tirada diretamente daqui.

Update: Vale lembrar que tanto na cabeça quanto no banner, Tiburcio fez uma colagem com ilustrações de outros artistas. O dirigível faz parte da capa da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, de Marcelo Tonidandel. Já os desenhos em preto e branco são criação de Henri Montaut (1825-1890) para um dos livros que mais contribuíram para a noveleta "Cidade Phantástica", De la Terre à la Lune do também francês Jules Verne (1828-1905). Agora sim, vamos ao desenho de Tiburcio:

Ela não mora mais aqui

Quando foi convidado para interpretar James Mathew Barrie (1860-1937) no filme Em busca da Terra do Nunca, de 2004, Johnny Depp praticamente obrigou a equipe do diretor Marc Foster a realizar um levantamento completo na vida daquele homem. O objetivo do ator era se certificar de que não estaria emprestando o rosto a um pedófilo, como sinalizavam boatos em relação ao dramaturgo escocês por conta da relação dele com as crianças que lhe inspiraram em seu trabalho mais famoso, a peça teatral Peter Pan, que ganharia fama mundial e chegou a virar desenho da Disney. Agora, Depp atua em um filme da Disney que adapta uma obra também do século XIX cercada de ainda mais suspeitas quanto ao interesse de seu autor original em relação à fonte de inspiração: Alice no País das Maravilhas.


O clássico Aventuras de Alice no País das Maravilhas e sua continuação, Através do espelho, foram obras escritas pelo professor de matemática Charles Dogson (1832-1898), mais conhecido pelo pseudônimo literário Lewis Carrol. A musa de ambos os livros foi uma menina que tinha quatro anos incompletos quando ele a conheceu, em 1856, cujo nome não por acaso é o mesmo da protagonista dos romances e do filme que acaba de estrear no Brasil fazendo uma fusão daqueles dois trabalhos. Johnny Depp está no longa e em várias imagens relacionadas a ele dando forma ao Chapeleiro Maluco. Sendo que o diretor desta vez é Tim Burton, não é supresa alguma que o ator tenha feito parte do projeto - mesmo que ainda guarde reservas pessoais quanto a trabalhar com obras ligadas a suspeitas de pedofilia em sua origem - pois a parceria dos dois é muito bem estabelecida há duas décadas, desde Edward Mãos de Tesoura, de 1990.

Curioso é que a Alice criança originalmente escrita por Carrol tenha sumido. Ao contrário da primeira vez que os estúdios Disney adaptaram aquele material, em uma animação de 1951, a opção aqui foi a de dobrar a idade da personagem-título. Ela aparece como uma mulher às vésperas de completar 20 anos, vivida pela atriz  australiana Mia Wasikowska, e de ser pedida em casamento por um nobre longe de se encaixar no perfil de príncipe encantado. Seja para se livrar de qualquer insinuação mais polêmica ou por escolha puramente artística, esse envelhecimento forçado foi uma decisão arriscada e que deixou marcas na obra. Num primeiro momento, poderia ser somente estranhamento, como ocorreu quando a Globo optou por usar uma atriz mirim para viver a personagem Emília - na ocasião em que a emissora brasileira resolveu voltar a adaptar o Sítio do Picapau Amarelo - depois de uma longa tradição em que a boneca de pano era interpretada por mulheres adultas na tela da TV. Mas é bem mais complicado que isso.

Independentemente das motivações por trás de sua criação, é inegável que Lewis Carrol produziu uma obra-prima da literatura infantil. Ao mesmo tempo em que contestou os rigores da sociedade da Era Vitoriana e apresentou brincadeiras com lógica e matemática, sua obra vem divertindo gerações de crianças há quase um século e meio e fascinando adultos com a riqueza de sua imaginação e apuro técnico. O efeito se perde muito, quase por completo, quando ao invés de uma criança entediada se deslumbrando e sendo desafiada por aquele mundo de maravilhas vemos uma pessoa adulta fugindo de suas responsabilidades interagindo com aquela sucessão de personagens enigmáticos. Mesmo que essa pessoa seja bem menos adulta em termos de personalidade do que seria de se esperar de uma mulher de sua idade naqueles tempos. O sense of wonder - sem trocadilhos com o nome do filme - acaba prejudicado com isso. Muito de Alice se perdeu no processo.

Mas ainda pior são os rumos do roteiro que troca aquela contestação um tanto anárquica da fonte primária por uma história que tenta agradar a mais parcelas do público, incluindo o masculino e adolescente, com toques épicos. Quase ao final do filme, ao ver a Alice adulta de armadura e espada na mão, enfrentando criaturas geradas por computador, tive a impressão de que alguma interferência estava acontecendo. Parecia que cenas de O senhor dos anéis, de Crônicas de Nárnia ou mesmo de Aragorn haviam sido infiltradas naquele universo meio que sem contexto, à força. E dali segue um final que, bem, é muito mais Disney que Burton, procurando amarrar tudo de um jeito tão explicadinho, tão didático que sobram sorrisos amarelos, maiores que o do famoso gato, tão pouco explorado no filme, infelizmente. Parece que o diretor acabou sendo apressado pelo Coelho Branco e convencido a acelerar o ritmo para não se atrasar.

Claro que na parte visual, como é de se esperar de  Tim Burton, o espetáculo está garantido. Em sua primeira criação com atores no atual padrão 3-d que se estabeleceu nas salas de projeção, o cineasta dá um show. Provavelmente, o filme perde muito de seu impacto se for visto sem os recursos tridimensionais. A cena da queda de Alice pelo toca do Coelho, por exemplo, deve entrar para uma antologia dos melhores momentos da carreira do diretor. Contudo, ao contrário do que aconteceu com Avatar, aqui as legendas atrapalharam um tanto o processo. Se no filme de James Cameron elas ocupavam um plano à parte, sem interferir com o restante, em Alice no País das Maravilhas as letras em alguns momentos, como na cena do chá, acabam se fundindo ora com um elemento, ora com outro, confundindo o efeito de profundidade. Para quem conseguir abstrair esses momentos - que não são tantos - há muito o que se deslumbrar com essa Era Vitoriana fantástica criada por um dos maiores estetas em atividade no cinema.

22.4.10

Presença brasileira na Steampunk Magazine

A comunidade steamer internacional conta com uma publicação on line para debater e difundir sua cultura: a Steampunk Magazine. Na edição mais recente, a de número 7, já disponível para download no site da revista cuja capa pode ser vista ao lado, há um artigo que toca em um tema tão interessante quanto delicado e que merece uma atenção especial dos leitores brasileiros, até por citar um conhecido compatriota nosso. "The presence of race in steampunk" é o título da matéria que trata de questões étnicas relacionadas a este subgênero da ficção científica e já começa sua análise reconhecendo o quanto este é um tópico tão difícil de se discutir quanto a apropriação cultural, a opressão sistemática e os privilégios. Na opinião da revista, outros assuntos, como os relacionados às classes sociais e mesmo os ligados ao gênero, são mais facilmente subvertidos, por exemplo, em campanhas de RPG ligadas a essa vertente da FC. "Há muitas mulheres que atuam como capitãs do céu, ou outros papéis do tipo, que lhes seriam negados em jogos mais realísticos", compara.

Entretanto, para a Steampunk Magazine, as questões raciais seriam mais difícieis de se discutir e mesmo de serem retratadas. O artigo faz uma série de questionamentos sobre o significado de outras culturas - não ligadas ao mundo vitoriano - buscarem se vestir com clara inspiração inglesa ou americana. Seria uma forma de assimilação da cultura dominante, simulando uma aparência ligada a dos "opressores"? E caso algum povo resolva adotar uma identidade ligada diretamente às suas origens, deixando de lado elementos identificados com a Era Vitoriana, seria uma forma de exotismo? Ainda poderia ser considerado como steampunk? São algumas das perguntas deixadas no ar uma vez que, como o artigo enfatiza, este subgênero é um pastiche formado por muitas referências, sendo difícil categorizar algo não-vitoriano como quintessencialmente steampunk quando deixa de incorporar elementos facilmente reconhecíveis.

O ponto é exatamente o que a revista chamou de "óbvia penúria de mídia steampunk derivada de fontes não-vitorianas", eclipsadas que são pela variedade opressora das formas mais tradicionais de se representar o subgênero. A revista cita dois exemplos de trabalhos e de subculturas steamers que conseguiram superar tal eclipse com um alcance mais cosmopolita. Um é o ilustrador chinês, nascido em Hong Kong, James Ng - abaixo deixo vocês com uma amostra da arte dele, que pode ser conferida neste site. O segundo exemplo listado já é conhecido deste blog. "Bruno Accioly é um porta-voz para a subcultura steampunk brasileira", anotou a revista sobre o cofundador do Conselho Steampunk e que já foi entrevistado por aqui. "Contudo esses exemplos são notáveis porque surgem de povos e de lugares que não estão imersos no vitorianismo ou no steampunk americano", continua o articulista que reconhece ter ouvido falar de James Ng depois de o chinês ter publicado seus trabalhos mais famosos fora de seu país natal e afirma que o empresário carioca "filtra o steampunk vitoriano através de sua perspectiva excepcionalmente brasileira".

Mas a Steampunk Magazine se pergunta onde estarão mais exemplos de steamers, entre eles as pessoas de outras etnias que vivem em culturas de dominação branca, como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. A análise que a publicação faz é a de que o assunto racial acaba sendo tratado em termos simplistas, focando, por exemplo, apenas na escravidão, tema que é consensual pois ninguém pretende reproduzir tal realidade novamente. Porém, há pouco espaço para questões com mais nuances, tais como microagressões e preconceitos inconscientes que se manifestam no cotidiano. "A questão da raça no steampunk, para muitos, é frequentemente teórica, e não uma realidade desordenada que o steampunk médio tenha que tratar", pondera antes de concluir: "Mesmo os steampuks de outras etnias prefeririam não ter de tratar dos problemas raciais, porque o steampunk é uma fantasia, um mundo construído, uma forma de escapismo".



21.4.10

Orgulho e preconceito contra zumbis

Sempre que possível, gosto de resenhar eu mesmo obras que sejam legitimamente steampunk ou ao menos relacionadas ao gênero lançadas no Brasil. Foi assim com os filmes Como treinar seu dragão e Sherlock Holmes; com as HQs Gotham City 1889 e "Mickey e o selo de Vladimir Zeta"; com os livros Conspiração Dumont, A solução final e Anno Dracula; e mesmo com contos como "Não mais/Ya no" e "Ernst Amedée B. Mouchez, espião de Sua Majestade Imperial". Seria também o caso do romance que é o tema desta postagem, mas uma obra ainda em andamento aqui em casa está simplesmente acabando com aqueles dois sinônimos - tempo e dinheiro - em minha vida ao longo deste primeiro semestre. Felizmente, se no momento não é possível nem comprar nem conseguir condições para ler o romance, posso contar com a autora daquele último conto listado acima para pincelar trechos da resenha dela no meu blog.

O livro em questão é Orgulho e preconceito e zumbis, uma releitura iconoclasta feita por Seth Grahme-Smith do clássico do início do século XIX Pride and prejudice, escrito por Jane Austen (1775-1817). E a resenhista é Ana Cristina Rodrigues que, em sua crítica, fez um levantamento muito interessante dos bastidores da criação desta nova obra, que deu origem à febre editorial dos mashups literários; do contexto tanto da época do romance original quanto o dos tempos atuais que permitiram tal dessacralização de um texto icônico para a literatura inglesa e mundial como aquele. Algumas das melhores partes da análise da escritora e agitadora cultural carioca são suas observações sobre a reação que a novidade provocou em certos intelectuais, e outros nem tanto, com uma série de acusações e ataques ao trabalho de Grahme-Smith. Essa visão já começa pelo título que ela deu à sua resenha, o qual mantive nesta postagem.

Segue abaixo apenas o início do artigo que pode - e deve - ser lido integralmente aqui.

Um dos maiores chavões que eu conheço – olha que são muitos – é o velho ‘a escola mata o gosto pela leitura ao obrigar os alunos a ler os clássicos’. Apesar de acreditar que muito disso se deve mais a obrigatoriedade do que aos clássicos em si, não podemos desconsiderar que em tempos de ‘Resident Evil’ e ‘God of War’, ‘O morro dos ventos uivantes’ e ‘A Odisseia’ saem perdendo no quesito atratividade.

Afinal, entre ler sobre monstros e matá-los para se tornar um deus qualquer pessoa com menos de 30 anos vai escolher o caminho mais divertido e sangrento. Oras, por vezes até eu mesma escolho. Então, fica difícil alguém conseguir manter a atenção nos intermináveis saraus e reuniões sociais de ‘A moreninha’ e ‘Senhora’ em tempos de ‘The Sims’, twitter e MSN.

E até onde posso perceber, o problema é universal. Ou melhor dizendo, mundial. As crianças vulcanas devem adorar ler os ensinamentos de Surak.

Mas aqui na 3ª pedra a partir do Sol, o negócio é bem mais complicado.

Até que um dia, lá fora – claro, o editor Jason Rekulak da Quirk Classics achou o ‘ovo de Colombo’ dessa história. Foi inspirado pelo exemplo de um livro de auto-ajuda para pessoas… ah, fofas em excesso assim como eu, que misturava os ensinamentos do Sun Tzu em ‘A arte da guerra’ com os conselhos que todo o fofinho já escutou de seu endócrino ou nutricionista que mudou os rumos da sua casa editorial.

Resolveu pegar clássicos da literatura que já tivessem caído em domínio publico e fazer uma mistura com elementos dos livros que a rapaziada curte: vampiros, fantasmas, lobisomens, andróides, zumbis, monstros marinhos, ninjas… Contatou o escritor pouco conhecido Seth Grahame-Smith, dizendo que tinha uma ideia, um título e só. O autor disse depois que este título ‘era a coisa mais genial que já tinha ouvido’: ‘Pride and Prejudice and Zombies‘.

Cá entre nós, se não é a coisa mais genial que EU já ouvi, está no top 100 com certeza.

O livro obviamente incomodou muitos acadêmicos. Mas como todos nós sabemos, o público em geral não dá muita bola para ranzinzices mofadas e adorou a ideia, fazendo do mashup do livro de Jane Austen um dos grande sucessos editoriais do ano passado. A Intrinseca, mostrando mais uma vez que é antenada com o que cheira a sucesso (é a editora das séries ‘Crepúsculo’ e ‘Percy Jackson’ no Brasil), lançou a versão brasileira do livro no começo de 2010.

Manteve-se fiel ao espírito da edição original: a capa é a mesma, o título é a tradução literal, as ilustrações – uma boa emulação dos originais da época de Austen – também estão lá. Inclusive a ‘ficha de leitura’, que tira um grande sarro das perguntas dos livros paradidáticos, aparece no final.

20.4.10

Engrenagens na pele

Não ia postar mais nada hoje, mas um tweet de Gabriela Barbosa, da Loja Paraíba do Conselho Steampunk, me chamou a atenção para uma derivação da cultura steamer da qual nem havia pensado ainda: as tatuagens. O artigo em questão foi publicado ontem, dia 19 de abril, na revista eletrônica portuguesa Obvious por Catarina Pires. "Steampunk - Arte e movimento" apresenta uma definição dessa cultura, mais do que simplestemente enxergá-la como um gênero literário, e faz comentários interessantes sobre a estética aplicada na arte de decorar o corpo com tinta permanente. Muito bacana podermos continuar a nos surpreender com novas camadas de possibilidades e usos do steampunk, não? Segue um trecho e uma das fotos do artigo:

Para alguns a arte no corpo, para outros uma ideologia que agarra a ficção científica, percorre o tempo e instala-se na nossa sociedade desde o final dos anos 80.

Steam, ou vapor em português; Punk, a ideologia e estilo de vida cultural. Estas duas palavras juntas, designam o movimento Steampunk que é hoje representado através de diversas manifestações artísticas. Do cinema, à música, à dança até à representação da sua arte no corpo.

Não é difícil entender o movimento Steampunk se o pensarmos enquanto história. Uma história que se enquadra no universo da ficção cientifica, que remonta ao reinado da Rainha Vitória no Reino Unido e agarra tudo o que acarreta essa era, tendo como base a revolução industrial e as novas invenções como a máquina a vapor. O Steampunk cria uma realidade espácio-temporal utópica, na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis, deixando-se fundir com o corpo humano. Muito da origem deste movimento vem da variante "Cyberpunk", sendo as maquinas cibernéticas substituídas pelas tecnologias da era do vapor. Conseguimos imaginar este tipo de teoria se pensarmos na Literatura que deu origem a este movimento, como é o caso de Julio Verne e Mark Twain.

Quando o movimento Steampunk começa a ser representado no corpo, através de admiráveis tatuagens, dá-se o efeito surpresa na maioria dos interessados, pois o realismo tridimensional com que são recheadas choca e conquista qualquer olhar mais atento.


Vem aí o primeiro romance steampunk nacional

Tenho acompanhado neste blog desde o início a produção daquele que deve ser o primeiro romance nacional totalmente pensado dentro da estética steampunk. No dia 7 de junho do ano passado, falei do blog que foi criado pelo autor para ajudá-lo a estruturar a obra. Mais tarde, em um artigo geral sobre o steampunk no Brasil, anunciei o futuro livro como uma das novidades por vir. No dia 9 de dezembro de 2009, a novidade era um e-book derivado do mesmo universo. Voltei a mencionar o projeto, já com a publicação confirmada, no último post daquele ano, anunciando que 2010 deveria ser o Ano do Vapor. Já em janeiro, comentei sobre os wallpapers que estavam disponíveis com imagens referentes ao romance.

Volto ao assunto agora para repassar aos leitores a sinopse de O Baronato de Shoah, do escritor José Roberto Vieira, em breve, nas livrarias, com o selo da editora Draco.


O romance de estréia de José Roberto Vieira é uma fantástica aventura em um mundo sombrio que remete ao Steampunk, videogames, animações e RPG, onde passado, presente e futuro se encontram numa fórmula emocionante.

Sehn Hadjakkis é um Mashiyrra, um Escolhido. Desde seu nascimento ele foi eleito para ser um soldado da Kabalah, a elite do exército e liderar as forças do Quinto Império contra seus inimigos, os Legisladores.

Depois de quatro anos de lutas, mortes, e traições, Sehn finalmente tem a chance de voltar para casa e cumprir uma promessa feita ainda na infância: se casar com seu primeiro e verdadeiro amor, Maya Hawthorn.

Entretanto, a única coisa que o impede é outra promessa, feita no leito de morte a seus pais: vingar-se de Edgar Crow, um amigo que traiu sua família e destruiu seus sonhos, transformando a vida de Sehn num verdadeiro inferno e o mundo em que vive um pesadelo.
Quando um Golpe de Estado ameaça tudo aquilo em que Sehn acredita, ele se vê obrigado a escolher entre uma destas promessas para salvar seu mundo ou a mulher que ama.

Se fizer a escolha errada, ele pode destruir a ambos.

Ou a si mesmo.

Eyjafjallajökull e a cultura steamer

Fábio Fernandes, escritor, especialista em cybercultura e um dos contistas presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, deixou para os leitores de seu blog, o Pós-estranho, uma reflexão sobre os motivos para o atual interesse mundial em torno da cultura steamer. O mote para a reflexão foi a atual sucessão de tragédias naturais, das quais a erupção do vulcão islandês Eyjafjallajökull é apenas a mais recente de um ano que está sendo marcado por sucessivos terremotos e por chuvas muito acima das médias históricas. Abaixo, deixo vocês com o trecho inicial do artigo dele, que pode ser lido aqui, e com uma foto daquele vulcão que me foi enviada por Giseli Ramos e que pode ser vista aqui:


É um pensamento que me ocorreu há algum tempo (na verdade, depois dos terremotos do Haiti e do Chile) e que agora, com a erupção do vulcão Eyjafjallajökull, me instiga ainda mais: será que o interesse pela cultura steamer não traduz, em vez de um desejo ou de uma mera brincadeira estética, uma preocupação inconsciente com o retorno a uma era tecnológica menos avançada -- ou um momento tecnológico de virada em que nos são apresentadas alternativas para nossa vida neste momento? Será que o movimento steampunk não é uma maneira que a espécie, culturalmente falando, encontrou para apresentar essas alternativas?

Colin Wilson, em O Oculto (salvo engano) disse que nós somos as partes visíveis de Deus. Se você acredita ou não num ser superior, não faz diferença, não é esta a questão; um bom steamer ateu diria que somos todos engrenagens de uma Grande Máquina. Será que a Grande Máquina não está dando um jeito de nos programar para, como espécie (nem que seja apenas como subcultura), pensarmos em alternativas viáveis para um possível dia em que as catástrofes naturais nos impeçam de usar a tecnologia do século vinte e um?

19.4.10

Mais vapor em Rascunhos

A divulgadora de literatura fantástica Cristina Alves volta a falar sobre o subgênero steampunk em seu obrigatório blog Rascunhos. Em suas últimas dicas a resenhista portuguesa destacou duas obras. A primeira delas, como já comentada neste blog, contará com a presença de um brasileiro, Fábio Fernandes, em uma versão para o inglês de sua noveleta publicada na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.  Confira o trecho abaixo e leia a íntegra aqui:

Ann e Jeff Vandermeer organizaram uma antologia de contos Steampunk em 2008, com o nome do género.

Dois anos após o sucesso da primeira, será publicada agora a antologia Steampunk II: Steampunk Reloaded através da Tachyon, contando com autores como Gail Carriger, Ekaterina Sedia, Fabio Fernandes, Brian Stableford, Margo Lanagan ou Caitlín R. Kiernan. Para uma completa lista de conteúdos podem consultar o blog de Jeff Vandermeer, Ecstatic Days .

Para além destes contos, dentro do género Steampunk vão também ser lançados alguns livros, como The Dream of Perpetual Motion, de Dexter Palmer. Decorrendo numa realidade alternativa, conta a história de Harold Winslow, aprisionado a bordo de um zeppelin, acompanhado pela voz de Miranda, a única mulher que amou, e pelo corpo gelado do pai, Prospero, um génio e magnata industrial.

The tale of Harold’s life is also one of an alternate reality, a lucid waking dream in which the well-heeled have mechanical men for servants, where the realms of fairy tales can be built from scratch, where replicas of deserted islands exist within skyscrapers..

Um certo monarca do século XIX

Tiburcio, quadrinista e ilustrador conhecido dos leitores por seu trabalho publicado na revista Mad, está desenvolvendo desde o início deste ano uma tirinha na rede com uma ambientação muito próxima aos trabalhos da cultura steampunk. Claramente inspirada nos últimos dias do Império do Brasil, Meu Monarca Favorito narra as desventuras de um rei fictício, de um país fictício, em pleno século XIX, cercado de ameaças à sua coroa.

Com um clima leve, acompanhamos uma série de conspiradores republicanos, civis e militares, cobiçando o poder do Monarca anônimo, mas cujas aparência e personalidade remetem instantaneamente a nosso conhecido D. Pedro II (1825-1891). As webtiras são postadas duas vezes por semana, às quartas-feiras e aos domingos, com algumas postagens intermediárias para apresentar novos personagens ou para dar alguma ilustração de brinde aos leitores, como foi o caso das que permitem a impressão de cédulas do dinheiro que circula naquela monarquia - o mango imperial - ou a que mostra a aparência da bandeira e das armas do país. As atualizações podem ser acompanhadas ainda pelo Twitter do cartunista, o que gerou o desenho perfeitamente steamer do computador ao lado.

Abaixo, reproduzo uma das tiras de Meu Monarca Favorito, a mais recente no momento em que escrevo este post. É um capítulo com um gosto especial para quem aprecia o retrofuturismo, protagonizado pelo Sr. Platelminto, um personagem aparentemente à frente de seu tempo, espécie de antecessor dos marqueteiros. Na verdade, como Tiburcio havia explicado em um post anterior, a inspiração para o rapaz veio de passado ainda mais remoto, dos tempos de outro império: o romano. Platelminto seria baseado em Quinto Túlio Cícero, irmão caçula do mais famoso Marco Túlio Cícero (106 a.C - 43 a.C), apontado pelo historiador José Murilo de Carvalho como o pioneiro no marketing político. Na tira a seguir, Platelminto aparece como o criador de outra profissão que costuma atrapalhar a vida de quem tem telefone em casa até os dias de hoje... Clique na imagem para ampliar e fique de olho nos episódios semanais dessa tira quase steampunk.

15.4.10

Steampunk em debate no Rio

A livraria carioca Blooks prepara para o próximo mês um ciclo de debates sobre várias vertentes e mídias da FC, incluindo aí o subgênero steampunk. Iniciativa do escritor Octavio Aragão, um dos pioneiros do Brasil a escrever uma obra steamer, como falei neste post sobre o aniversário de Jules Verne, o Space Blooks - Ciclo de bate-papo sobre ficção científica vai reunir dez personalidades em três encontros, o último deles dedicado exclusivanente ao tema deste blog. Dois dos debatedores são escritores presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, Fábio Fernandes e Alexandre Lancaster. Abaixo, segue a lista de convidados e assuntos a serem debatidos, conforme anunciado no site da livraria por Toinho Castro, que divide a curadoria do evento com Aragão:

  • Dia 6 de maio, 19h | Cinema e Ficção Científica: o escritor e roteirista Bráulio Tavares, o animador César Coelho, o jornalista do Globo Rodrigo Fonseca e o jornalista Eduardo Souza Lima, o Zé José.

  • Dia 13 de maio, 19h |Ficção científica na Internet: Os escritores Fábio Fernandes, Ana Cristina Rodrigues e Saint-Clair Stockler expõem seus sucessos e vitórias nesse território de bravos.

  • Dia 20 de maio, 19h |Steampunk:  o escritor e editor Gérson Lodi-Ribeiro, o ilustrador Alexandre Lancaster e o multimidiático Fausto Fawcett falam sobre suas visões de passado na última mesa da noite.
A Books Livraria fica na Praia de Botafogo, 316, junto ao cinema Arteplex.

13.4.10

Torre de Vigia 24

Como havia prometido em um post anterior, eis a resenha de Ana Carolina da Silveira na seção Torre de Vigia. Em seu blog Leitura Escrita, a escritora começou o texto com uma introdução ao livro e passou a resenhar cada uma das noveletas de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Como de hábito, vou reproduzir o início do post e o comentário dela a meu conto, no qual foi a primeira pessoa a comentar um certo easter egg presente em "Cidade Phantástica". O texto integal pode ser lido aqui.


O Brasil, feliz ou infelizmente, é o “país do futuro”, que jamais chega. Tivemos várias oportunidades históricas de saltos de desenvolvimento, mas acabamos por ficar para trás. Nós, mais do que a grande maioria das nações, temos na pele o sentimento do que poderia ter sido, mas por várias razões não foi. Agora vivemos um período de crescimento e prosperidade, mas estaremos escolhendo os rumos certos? Será que finalmente viraremos o país do presente?

Mas quantos planos não foram frustrados, embriões de bonança abortados, sonhos partidos? Quantos futuros não poderíamos ter tido, não fossem os mais diversos fatores?

O steampunk lida, como já dito antes, com um futuro que não foi. Como nós, brasileiros, enxergaríamos então um passado glorioso que poderia ter sido?

Bom, primeiro é preciso dizer que o steampunk demorou a pegar no Brasil, tendo sido mais divulgado só a partir da segunda metade da década de 2000 (apesar de já existir como gênero desde 1990). Não saíram muitas obras steampunk estrangeiras no Brasil, dá para destacar principalmente o RPG Castelo Falkenstein e os quadrinhos d’A Liga Extraordinária, mas não muito mais do que isso.

O primeiro livro genuinamente nacional a tratar do steampunk foi a coletânea Steampunk: Histórias de um Passado Extraordinário, lançada pela Tarja Editorial em 2009. A Tarja, como quem acompanha o blog já sabe, é uma editora voltada principalmente para a ficção especulativa nacional e vem lançando trabalhos bem interessantes de nossos autores.

A edição é muito bem cuidada, o projeto editorial é bem legal, é um livro bonito de se ter em mãos. Foram convidados para compô-los vários autores, de vários estilos, mostrando sua visão do steampunk.
Interessante perceber também que a coletânea teve repercussão internacional, ganhando resenha do crítico literário estadunidense Larry Nolan, em seu blog, que dá destaque à obra dentro do cenário da ficção especulativa latino-americana (...)
 
Cidade Phantástica, de Romeu Martins
– Uma aventura steampunk no Rio de Janeiro imperial, onde alguns fatos políticos ocorreram de maneira diferente de nossa realidade, como a ausência da Guerra do Paraguai e uma abolição décadas antes da real, além da aparição de personagens ficcionais brasileiros, como o pai da Sinhá Moça, que faz uma participação especial, e certo vilão muito conhecido. Aqui acontece algo inverso ao primeiro conto do livro: o conto tem pegada, tem empatia… mas tem alguns probleminhas de desenvolvimento. A trama é um bocadinho confusa, como se três histórias estivessem fundidas em uma só e fossem contadas em conjunto, mas sem delineamento. Achei uma pena, porque faltou só uma acertadinha de pilares para termos aqui um conto muito bom.

12.4.10

Bruce Sterling rides again... again

O mentor do steampunk volta a dar destaque para a produção brasileira em seu blog. Sim, Bruce Sterling já havia tratado do Brazilian Steampunk antes, o que foi noticiado neste blog aqui e aqui. Agora, novamente por inciativa do empresário Bruno Accioly, cofundador do Conselho Steampunk, ele foi informado da movimentação da cultura steamer neste lado do globo.

No email que o brasileiro lhe enviou, publicado pelo escritor em seu blog na Wired, tanto ele quanto os leitores de sua página são informados oficialmente sobre o Ano do Vapor em nosso país. O que inclui, entre as várias atividades promovidas pelo Conselho, a publicação da versão nacional pela editora Aleph do romance que começou tudo: The difference engine, a obra que Sterling escreveu em parceria com William Gibson e deu a forma moderna a esse subgênero. O americano se mostrou muito surpreso com o nome niporrusso - "magnificamente improvável" - de sua tradutora e foi pesquisar a existência de Ludimila Hashimoto no Twitter.

Bruno Accioly manifestou ainda a intenção do seu grupo em relação à divulgação da cultura movida a vapor. "Nós estamos estamos tentando construir um steampunk brasileiro que não seja apenas sobre estilo, moda e beleza, estamos tentando ir além do entretenimento para educar o público de uma maneira lúdica, usando a estética fascinante da Belle Époque, da Era Vitoriana, do século XIX, como a cobertura de açúcar de uma ferramenta educacional poderosa e uma forma obviamente importante de comunicar os problemas do presente enquanto fala divertidamente sobre o passado ficcional do steampunk". No seu comentário em resposta, Sterling não só deu apoio e demonstrou entender sobre o que o missivista falava como ainda provou ser um bom conhecedor do jeito certo de se fazer uma caipirinha.

10.4.10

Nostalgia revisitada

A advogada e escritora mineira Ana Carolina Silveira prometeu para breve uma resenha da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário em seu blog Leitura Escrita (adoro o nome dessa página). Assim que ela fizer isso, entra na minha seção de clipagem - aquela cujos títulos sempre são Torre de Vigia -, porém, antes de mais nada ela resolveu fazer uma bela introdução ao tema de onde extrai algumas passagens abaixo. A íntegra pode ser lida aqui:

Todos nós somos um pouco saudosistas, alguns mais, outros menos. É comum ouvirmos coisas como “no meu tempo as coisas eram melhores”, “no meu tempo tudo era diferente” e outras variantes. A nostalgia é parte de nós, ainda mais quando estamos diante de tempos difíceis e precisamos recorrer a lembranças de quando tudo era seguro e agradável.

O Steampunk, como gênero literário, também é uma espécie de releitura do saudosismo. O gênero é uma derivação do cyberpunk (aqui cabe um parêntesis para falar da ironia de falar do cyberpunk como uma projeção de um futuro que já chegou), que trata de como a humanidade estaria em um futuro próximo dominado pela alta tecnologia, principalmente a computacional, e onde as diferenças sociais se agravariam ainda mais pelo fortalecimento e ascensão das megacorporações e pelo crescimento de uma classe social posta à margem do progresso.

Já o steampunk parte da seguinte premissa: a tecnologia do vapor (“steam”, em inglês) surgiu no final do século XVIII-início do século XIX e foi determinante tanto para a industrialização (Revolução Industrial, baby) quanto, por via de consequência, da expansão do Império Britânico ocorrida no período vitoriano (chamado assim por ter coincidido com o longo reinado da Rainha Vitória). O século XIX também assistiu a ascensão do positivismo – e da aplicação mais rigorosa do método científico – e avanços científicos como o delineamento da evolução, por Darwin, e maiores conhecimentos sobre eletromagnetismo e química, que muito influenciaram as descobertas e teoremas elaborados posteriormente por Bohr, Curie, Einstein… Foi um século de luzes.

(...)Mas engana-se quem limita o steampunk à especulação tecnológica. O elemento “punk” que veio de seu tronco principal – o cyberpunk – diz respeito, também e principalmente, à crítica social. O século XIX e o Império Britânico foram o berço da civilização e da inovação científica? Foram sim, mas também promoveram a exploração, matança e divisão da África, o que gera consequências gravíssimas até hoje, assim como um sistema de colonização opressivo no Oriente Médio e Ásia (e que também foi responsável por vários frutos colhidos ao longo do século XX…). Também foi a época da exploração dos operários pelos industriais, o que gerou movimentos de revolta e propiciou o início de várias lutas sociais e movimentos políticos. Não houve apenas luzes, mas uma boa dose de trevas…

(...)Claro que não é minha intenção falar do steampunk como um todo, mas só dar uma introduçãozinha. Algumas pessoas fazem/fizeram melhor do que eu, aí uma lista de links para quem quiser se aprofundar no assunto:

Portal Steampunk: a maior página, com várias informações, sobre o steampunk no Brasil. Bem interessante.

Cidade Phantastica: Blog bem legal do Romeu Martins, também sobre steampunk em geral

Papo de Artista Steampunk: Do podcast do multiartista e multitarefas Rod Reis, com participação especial minha e do pessoal do Papo na Estante. Vale colocar no iPod.

Steampunk na TV 2

No finalzinho de setembro do ano passado escrevi aqui:

A coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário foi lançada durante o Fantasticon 2009, evento organizado por Silvio Alexandre no mesmo local em que vai ocorrer, em novembro, uma nova atividade ligada ao gênero. O lançamento do livro foi marcado ainda por uma mesa redonda que discutiu e apresentou a cultura steamer aos brasileiros.

Aquela conversa reuniu o organizador da coletânea, Gian Celli, editor da Tarja, um dos autores, Fábio Fernandes, e o empresário Bruno Accioly, fundador do Conselho Steampunk. A boa notícia para os que perderam o evento ou para aqueles que querem rever a discussão é que agora a mesa redonda está disponível na rede, no site da TV Cronópios. Clicando aqui você pode assistir à mesa "Steampunk e os novos rumos da ficção científica".

O gênero voltou a conquistar espaço na televisão esta semana. Primeiramente foi o colunista social Amaury Jr., da Rede TV!, quem convidou dois representantes da Loja São Paulo do Conselho Steampunk, Lord Fire e Lili Angelika, a apresentarem a seus telespectadores o assunto. Focado principalmente na questão da indumentária em estilo vitoriano - mas também com observações sobre outros temas dessa "nova tribo", como definiu o apresentador - a matéria de quase quatro minutos pode ser conferida no canal do YouTube do Conselho.

Uma outra investida televisiva do gênero ocorreu nesta sexta-feira, dia 9 de abril, no programa Hiper-Real da SescTV. Infelizmente, como não tenho o canal em minha grade, não pude assistir a esse programa que parece ter sido muito bom. Para quem perdeu a primeira exibição mas conta com a possibilidade de ver a programação daquela emissora, há reprises programadas, como informa este site:




Steampunk (14 anos)


reprises deste programa
10/04/2010 : 01h00 : sábado
10/04/2010 : 23h00 : sábado
11/04/2010 : 20h00 : domingo
12/04/2010 : 05h00 : segunda-feira

Steampunk é mais que um subgênero de ficção cientifica, é também uma versátil e criativa estética de viver. O SteamPunk no Brasil conta com uma estrutura que inclui um Conselho criado em 2008 que promove eventos em que grupos de jovens se encontram no Memorial do Imigrante de São Paulo para passear, vestidos como damas e cavalheiros, na velha Maria Fumaça.


Um caleidoscópio dos jovens na São Paulo contemporânea. Grupos diferentes, interesses distintos, prazeres e problemas singulares. Histórias da juventude.

6.4.10

Steampunk na rádio 2

Em novembro passado escrevi aqui:

Está no ar um verdadeiro crossover de podcasts tratando integralmente de cultura steamer. Rod Reis, do Papo de Artista, recebeu a equipe do Papo na Estante para falar sobre várias manifestações steampunk. Durante mais de uma hora, Thiago Cabello, Ana Cristina Rodrigues, Ana Carolina Silveira e Eric Novello fazem um levantamento de obras literárias, cinematográficas e dos quadrinhos dentro do gênero. Alguns dos contos presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário são comentados. Para ouvir o programa este é o endereço

Pois acabo de ouvir uma segunda investida de um podcast neste mundo do steampunk. Trata-se do terceiro episódio do PODespecular, um programa radiofônico virtual dedicado à ficção especulativa. Com o significativo nome de "Vapores eletrônicos", a equipe e seus convidados discutiram as variadas vertentes da cultura steamer, ao longo de 85 minutos. Entre as várias atrações, eles comentaram conto a conto toda a coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. O programa pode ser baixado no site Dimensão Nerd e logo abaixo deixo vocês com a lista completa do que foi abordado no podcast, com os devidos links.


No episódio de hoje, Paulo Elache e Edgar Smaniotto resenham a antologia brasileira “Steampunk - Histórias de um Passado Extraordinário” e conversam com Carlos Alberto Machado, Marco Ortiz e Rogério Brito para discutir e definir tudo (ou quase isso) sobre Steampunk, o gênero literário e o movimento cultural.
Divirtam-se!

* Vitrine especialmente produzida por Carlos Relva
Livros citados:
De Gianpaolo Celli (organizador):Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário”.
De Philip José Farmer: “O Diário de Bordo de Phileas Fogg” (The Other Log of Phileas Fogg), ler resenha aqui e comprar acolá.
De William Gibson e Bruce Sterling: “The Difference Engine”, livro steampunk escrito pelos pioneiros do movimento cyberpunk, que será publicado no Brasil pela Editora Aleph - leia aqui a notícia.
Da Editora Draco, vários lançamentos anunciados para 2010.
Da Editora Devir, anunciado o lançamento de “Xenocídio” (de Orson Scott Card), terceiro livro da “Saga de Ender”.

.Outras mídias citadas:
História em Quadrinhos: Os dois volumes, publicados pela Mythos Editora, de “Docteur Mystère”, resenhados aqui, ali, , acolá e cá também; “Os Passarinhos” (tirinha de Estevão Ribeiro), aqueles dois lá no canto direito da imagem de vitrine do podcast, o baixinho (Hector) e o magrão (Afonso), vestidos à steamplay. Conforme citado por Edgar Smaniotto, a graphic novel “As aventuras de Luther Arkwright” (The Adventures of Luther Arkwright), publicada em dois volumes no Brasil e que pode ser encontrada aqui. E, como curiosidade, uma ilustração steampunk de Hellboy, discretamente inserida por Carlos Relva no canto esquerdo da imagem de vitrine do podcast.
Música: Exemplos desse estilo nos links Gilded Age Records, The Clockwork Cabaret (steampunk radio) e num artigo da revista Matrix Online (“Pump Up The Volume: The Sound of Steampunk”) com vários links.
Cinema:Steamboy”, de Katsuhiro Otomo - encontrável aqui; o filme mencionado por Paulo Elache “The Prestige” (no Brasil, O Grande Truque) - encontrável aqui.
TV:Warehouse 13”, série citada por Carlos Alberto Machado, que passa no canal pago Warner (e nos USA, no canal SyFy).
.Podcasts sugeridos:
.Links:
Artigo da revista Carta Capital sobre Steampunk.
Comunidade Steampunk no Orkut.
Loja Paraná do Conselho Steampunk.
(Não deixem de se inscrever na Lista de Discussão do CLFC)
.Para críticas, dúvidas e palpites, mande e-mail para: podespecular@gmail.com
E para apontar nossos deslizes… No mesmo e-mail (fazer o quê?)