29.10.11

Heróis na Guerra Civil

O leitor João Norberto comentou em um post do blog em que fiz a chamada para uma das minhas HQs favoritas da linha "O que aconteceria se" da Marvel: aquela sobre o Capitão América em atividade na Guerra Civil americana. Em seu comentário ele deixou o link para artes vetorizadas que fez expandindo aquele universo com outros personagens também envolvidos no maior conflito bélico já travado neste continente. Vale a pena conferir o material na íntegra aqui. Deixo vocês com alguns exemplos, do Capitão América, Batman e Flash, respectivamente.




28.10.11

Nova resenha de Deus Ex Machina

Acabo de receber uma nova avaliação da coletânea da editora Estronho para a qual fui o autor convidado: Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor. O autor da crítica é conhecido deste blog, Pedro Dobbin, que foi o vencedor no sorteio feito por aqui de uma outra coletânea, a Vaporpunk, da editora Draco. Ele fez uma resenha completa, de cada um dos contos, e ainda do material adicional do projeto gráfico, elaborado por M. D. Amado, que também é um dos organizadores da compilação, ao lado de Cândido e Tatiana Ruiz. Vamos ao texto, que publico aqui, na íntegra, conforme foi enviado por Dobbin.




Deus ex machina: Anjos e Demônios na era do vapor.
Editora Estronho, 2011, 200 páginas

Deus ex machina: Anjos e demônios da era do vapor tem a proposta de unir a temática Steampunk com o fascinante assunto de anjos e demônios. Trabalho dobrado para os autores da coletânea e também para os organizadores.

A capa e as ilustrações no interior por si só já valem uma folheada. Antes de cada conto temos uma apresentação do autor e ilustrações na temática Steampunk. Os autores são chamados de operadores e as páginas de caldeira. Dirigíveis, locomotivas a vapor, medidores de pressão podem ser vistos entre os contos. A editora Estronho mandou junto com o livro um botom e um marcador de livro, fazem um bom conjunto.

A diabólica comédia - A conquista dos mares
Romeu Martins
Numa batalha pelo controle dos oceanos, a nau capitânea dos demônios, um submergível, mostra todo o seu poder. A descrição dos artefatos de guerra é muito bem detalhada e a história da disputa pelo poder entre demônios, arcanjos e deuses olimpianos fascina. Quando a história termina percebemos que essa foi uma batalha de uma guerra que ainda pode durar muito. Excelente.

A seita do Ferrabraz
Paulo Fodra
Anjos e demônios em boa forma. Mas quem são os bons na história? Quem deseja de uma forma ou outra garantir a sobrevivência da humanidade? Final supreendente de uma história cativante.

Anhanguera
Norberto Silva
Um padre faz de tudo para conquistar os fiéis e o preço é alto, a felicidade não é o paraíso que as pessoas pensam. Interessante ver o papel do Anhanguera que dá título ao conto.

O dia do grande Uirá
Davi M. Gonzales
Curtíssimo, tem o mérito de mostrar dois lados de uma história. De um lado um indigena e do outro o português, o império britânico é o vilão e o grande saqueador de recursos.

Neflin
Carlos Machado
Trabalhos de terraplanagem revelam restos humanos e não humanos. As pesquisas que seguem irão levar a conclusões inesperadas. A história que se segue é eletrizante.

Zeitgeist – Brigada anti incêndio
Yuri Wittlich Cortez
Um bispo patrocina a construção de uma máquina voadora para, literalmente, alcançar o céu. O papel da brigada anti incêndio não é exatamente o de apagar incêndios. Com alguns toques de humor, a história se desenrola de forma fantástica. É o mais divertido dos contos do livro.

O Sheol de Abaddon
Alliah
Um anjo e um demônio unem forças para caçar um rebelde, aliança improvável e mais improvável ainda é a existência deste rebelde. Vale a pena ver os motivos de tal rebeldia e divertir-se com as trabalhadas da dupla de protagonistas.

Avatar de anjo
Georgete Silen
Um anjo vai ao inferno para recuperar um artefato. A forma como ele, ou melhor ela, consegue isso é bastante original.

A obscura história da Sterling Railways
O. S. Berquó
A construção de um túnel para uma ferrovia encontra um portão de aço. A história da interrupção da construção e do sumiço de todas as informações a respeito é descoberta por um estudante em um livro antigo. Em alguns momentos me lembrou os contos de H. P. Lovecraft.

O pai da mentiras
Lenilson Lopes
Batalha épica entre anjos e demônios. Enredo interessante e bem elaborado. O papel de um dos anjos no conflito foi muito bem elaborado.

A máquina dos sonhos
Daniel I. Dutra
História de como uma máquina capaz de ver os sonhos das pessoas pode ser usada para o trabalho de alguns anjos. Também me lembrou em alguns momentos os contos de H.P. Lovecreft.

Os relógios pensantes de sua majestade
Alex Nery
Um cientista tem seu invento utilizado para propósitos bélicos. Muito bem mostrado o dilema e as escolhas do criador ao ver a criatura ser utilizada para fins diferentes dos que desejava.

Cálico: entre o céu e o inferno
Rebeca Bacin
Conto em ritmo de aventura. Bem escrito e envolvente. Uma mulher e um anjo lutam para impedir a detonação de uma bomba.

Conclusão


Apesar de alguns contos deixarem a desejar no atendimento à temática proposta a qualidade de todos é inegável e alguns são mesmo excelentes. Entre estes posso citar “A diabólica comédia - A conquista dos mares”, “A seita do Ferrabraz”, “Anhaguera” e “A máquina dos sonhos”. As ilustrações e fotografias contidas no livro são um bonus a parte e acrescentam valor ao mesmo. O conjunto como um todo é ótimo e vale a pena a leitura.

22.10.11

Weird west brasileiro tipo exportação

Uma ótima notícia vem do blog Galvanizando do escritor e advogado paulista Marcelo Augusto Galvão. Ele será um dos autores presentes na coletânea Os anos de ouro da Pulp Fiction portuguesa, editada em Portugal pela Saída de Emergência e com organização de Luís Filipe Silva. Em seu mais recente post, Galvão informa que o conto selecionado para fazer parte do livro é de um dos gêneros favoritos desta casa:

No meu caso, participo com o weird west Horror em Sangre de Cristo, uma trama que mostra um xerife tentando solucionar mortes brutais numa cidadezinha no Oeste americano do século XIX.

Mais ainda, o representante brasileiro naquela obra deixou disponíveis a bela capa da coletânea - será o Sombra aquele em um táxi lisboeta? - e a instigante apresentação que podem ser vistas a seguir:

Poucos o sabem, mas a literatura de pulp fiction, que marcou toda a cultura popular dos EUA na primeira metade do século XX, também esteve presente em Portugal, e em força.Houve um tempo em que heróis mascarados corriam as ruas de Lisboa à cata de criminosos; em que navegadores quinhentistas descobriam cidades submersas e tecnologias avançadas; em que espiões nazis conduziam experiências secretas no Alentejo; em que detectives privados esmurrados pela vida se sacrificavam em prol de uma curvilínea dama; em que bárbaros sanguinários combatiam feitiçaria na companhia de amazonas seminuas; em que era preciso salvar os colonos das estações espaciais de nome português; em que seres das profundezas da Terra e do Tempo despertavam do torpor milenário ao largo de Cascais; em que Portugal sofria constantes ataques de inimigos externos ou ameaças cósmicas que prometiam destruí-lo em poucas páginas, antes de voltar tudo à normalidade aquando do último parágrafo.

20.10.11

O dieselpunk é nosso 2

Algumas novidades em relação à resenha que publiquei aqui sobre a coletânea Dieselpunk da Editora Draco. A primeira é que meu caro conterrâneo Afonso Luiz Pereira, do blog Contos Fantásticos - que aliás foi o primeiro a me entrevistar a respeito de minha recente produção de ficção - republicou o texto em seu prestigiado espaço dedicado à literatura de gênero. Agora, "O dieselpunk é nosso" pode ser lido também por lá. A segunda novidade é que um dos contistas daquele livro, Sid Castro, escreveu e ilustrou uma nova crítica ao livro em sua página. Lá, ele linka minha resenha e faz uma revelação a respeito de um dos seus personagens que já havia comentado por aqui. Logo no início ele faz referência a uma sugestão que fiz para que sua noveleta "Cobra de Fogo" fosse adaptada para os quadrinhos, aproveitando também seus dotes de desenhista que podem ser conferidos abaixo:


Foi a sugestão do escritor Romeu Martins em seu blog “Cidade Phantastica” aqui , autor do conto de mesmo nome publicado em “Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário”, da editora Tarja. Aliás, revelei a ele uma curiosidade. Quase todos os personagens tem nomes referentes de uma maneira ou outra, como o mitológico Dâmocles, os Vultani (tirado do vilão do antigo seriado “O Homem Foguete”) e com consoantes dobradas, como nas HQs da Era Clássica. Já o mecânico JD (João Diesel), confessadamente inspirado no Sparky do Speed Racer, não conseguia um nome que me agradasse. Até que lembrei do antológico João Fumaça de Cidade Phantástica… e voilá

Devo dizer que é um baita orgulho ter servido de inspiração para batizar um dos personagens do meu conto favorito daquele livro. E é uma baita coincidência que isso tenha ocorrido, já que João Fumaça é apenas o apelido do personagem cujo nome completo é João Octavio Ribeiro. E esse nome se deve a uma homenagem que fiz a dois colegas de Sid Castro em Dieselpunk: Octavio Aragão, autor de “O dia em que Virgulino cortou o rabo da cobra sem fim com o chuço excomungado”, e o organizador Gerson Lodi-Ribeiro, escritor de "O país da aviação". Foi minha maneira de reconhecer a influência de livros daqueles dois cariocas na concepção de "Cidade Phantástica" - respectivamente A mão que cria e Outros Brasis. Saber que agora João Fumaça também serve de inspiração para um outro escritor é uma daquelas surpresas que só a cultura retrofuturista que anda tomando conta do Brasil nos últimos anos poderia me dar.

Para encerrar, posto aqui a resposta que dei a Sid Castro nos comentários da minha resenha quando soube da origem do nome de seu João Diesel:

Olha, muito legal saber a origem do nome do JD! Eu ia mesmo comentar que, além das locomotivas, gostaria de ver o personagem para saber se ele tinha algum parentesco com o JF hehe... Como curiosidade: eu não tive tempo de escrever o roteiro que imaginei para a Dieselpunk, mas cheguei mesmo a pensar numa trama e em personagens. O protagonista seria um negro parrudo apelidado de Chico Betume e que seria conhecido pelos engenheiros mecânicos alemães de uma certa Plataforma Lobato por... Franz Diesel ;-)
Sim, esbocei mentalmente como seria a noveleta dieselpunk que teria escrito caso não fosse atropelado por outros compromissos, "Plataforma Lobato". Seria uma história alternativa cujo ponto de divergência estaria no sucesso de Monteiro Lobato em convencer Getúlio Vargas a apoiar sua campanha "O petróleo é nosso". Como resultado, lá por 1943 já haveria uma plataforma petrolífera na costa fluminense, garantindo uma interesse ainda mais estratégico em se conseguir o apoio brasileiro na guerra que estaria se desenrolando na Europa. Mas o caudilho gaúcho se esforçaria por manter a neutralidade, já que os investimentos tecnológicos seriam garantido com recursos vindos dos países em conflito: EUA, Alemanha e Japão.

No dia 7 de Setembro daquele ano, o ditador iria fazer um gesto simbólico e decretar a nacionalização da plataforma, para surpresa dos engenheiros nipônicos e germânicos que lá trabalhavam. Para garantir a efetividade das ordens, o agente designado seria o tal Chico Betume, um gigante negro que, dizem os boatos na capital da república, era filho bastardo de um segurança de Vargas com a babá da casa de Lobato. Quem sabe um dia eu ainda escreva essa história.

19.10.11

Muito além dos mosquetes

Antes de mais nada, devo dizer que meu contato inicial com a obra de Alexandre Dumas - e uma de minhas memórias televisivas mais antigas - foi com uma animação do início dos anos 80 na qual D'Artagnan, Athos, Portos e Aramis eram cães de diferentes raças. Então, apesar de muito gostar da prosa do autor francês não tenho o mesmo apego purista que o de vários outros de seus fãs. Sendo assim, a mais nova superprodução a levar Os três Mosqueteiros ao cinema repleta de liberdades e modernizações, não me desagradou a princípio. E depois de ver o filme, em que parece que a intenção foi fazer um mashup com o outro escritor gaulês a concorrer em termos de popularidade com Dumas, Jules Verne, devo dizer que sai bem mais satisfeito da sala escura do que esperava. Gostei bastante da reinterpretação retrofuturista feita pelo diretor Paul W. S. Anderson e encabeçada pelos atores Logan Lerman, Milla Jovovich, Matthew Macfadyen, Ray Stevenson, Luke Evans, Mads Mikkelsen, James Corden, Juno Temple, Orlando Bloom, Christoph Waltz.



Só pela listagem dos profissionais envolvidos já dá para se ter uma ideia de quais as intenções por trás de mais esta transposição cinematográfica do clássico da ficção histórica. Com tanta gente vinda de franquias estabelecidas (ou que tentaram se estabelecer) como Resident Evil, Percy Jackson, 007, Piratas do Caribe, Besouro Verde é bastante evidente que a aposta é dar início a uma nova série de filmes unindo ação, aventura, humor, romance para toda a família. E como aconteceu com o recente Sherlock Holmes de Guy Ritchie, tal aposta passa por um investimento no tema que é mais caro a este blog: invenções tecnologicamente avançadas no passado que dão novos rumos à vida de personagens conhecidos. No caso deste filme, a retrotecnologia remete diretamente à quintessência do clockpunk, pois aquele dirigível já visto por todos nos trailers parte de ideias resgatadas dos arquivos de Leonardo da Vinci. A sequência inicial é justamente em Veneza, na ocasião em que os Mosqueteiros, então ainda em número de três, tentam chegar aos projetos do mestre renascentista em nome da França antes que o Duque de Buckingham o faça pela bandeira da rival Inglaterra.

Quando mais tarde o jovem gascão D'Artagnan se reunir ao grupo os acontecimentos já estarão alterados por essa corrida armamentista encabeçada pelos coroados Luis XIII e Jaime. Tanto que da obra literária original pouco resta, apenas alguma semelhança na sequência em que o novato interiorano chega a Paris e logo vai desafiando um a um os Mosqueteiros, sem saber quem de fato eram, para duelos no mesmo dia. A recriação, portanto, é bem radical, devendo afastar os mais fieis ao texto de Dumas, mas talvez com potencial para agradar novas audiências para um filme que se pretende explicitamente ser apenas o primeiro de uma série. Mais não fosse pela dica do diretor e do elenco, a cena final é bem clara a respeito disso. E essa ânsia acaba cobrando um preço no ritmo do primeiro filme que não apresenta por completo todos os personagens que são nominalmente protagonistas (apenas Athos e D'Artagnan têm algum destaque). Na verdade, os vilões recebem bem mais destaque na trama escrita por Andrew Davies e Alex Litvak, sendo que eles são bem numerosos, um para cada membro do quarteto dos mosquetes.

Outro problema básico no roteiro da dupla acontece em uma das batalhas aéreas. Difícil de acreditar que soldados experientes não desconfiem que, em relação ao citado dirigível, basicamente um navio de madeira elevado aos céus por um balão, o alvo principal da artilharia deve ser justamente aquele que também é o mais fácil de acertar. Ou seja, mirem os canhões no frágil, desprotegido, inflamável e enorme balão, meus caros.

Sendo vendido já no título pelo uso da tecnologia 3d, esta nova produção tem um capricho maior que o da maioria dos filmes com atores que utilizaram o recurso desde o lançamento de Avatar por James Cameron. Não que Anderson ouse muito neste aspecto, pois novamente a tridimensionalidade se resume aos objetos jogados na direção do público. Porém, o problema com a iluminação, grande alvo de crítica em relação a esse modismo, parece ter sido resolvido. Nada de imagens escuras aqui, ao contrário. Há exuberância nos detalhes das roupas e da recriação arquitetônica nos cenários que estão tão nítidos para os olhos de todos que dificilmente a Academia deixará de premiar a obra com alguns Oscar técnicos em categorias como figurino e desenho de produção.

14.10.11

Nova resenha de Cursed City

A primeira coletânea da qual participei este ano, Cursed City - Onde as almas não têm valor, da editora Estronho, acaba de receber uma nova e completa resenha, com comentários para cada um dos seus vinte contos. A avaliação foi feita por no blog Guria que lê, mas por um guri, Gutemberg Fernandes. Como é o costume neste blog, irei republicar o início do texto e a crítica que o resenhista faz ao meu conto. Como extra, também o comentário a respeito de minha coblogueira Ana Cristina Rodrigues, parceira naquelas páginas amaldiçõadas. Ao final, deixo o link para o texto completo a respeito da primeira antologia weird western do Brasil.



Cursed City, outrora conhecida por Golden Valley, é uma cidade incrustada no interior do meio-oeste americano, em meio a cânions e desertos que já viveu seus melhores dias sendo que hoje abriga somente um punhado de almas condenadas.
Tomada por forças do mal, Cursed City é um local onde até mesmo o Diabo tem medo de andar a noite e seus habitantes vivem trancados em meio ao temor e o álcool, vivendo cada segundo das longas noites como se fossem eras. Os esperançosos rezam para o sol chegue mais rápido enquanto que os desafortunados para não terem que agüentar outra lua sob aquela cidade maldita.
Certo é que quando o sol se põe somente a escuridão tem vez naquelas paragens.
Cursed City foi à primeira das antologias editadas pela Estronho Editora que tive o prazer de ler e esta me surpreendeu tanto pelo cuidado com a diagramação quanto pela qualidade dos textos. Seguindo a proposta de sua linha editorial, cujos títulos em catálogo e seus futuros lançamentos tendem a explorar vertentes poucos ortodoxas da literatura e promoverem ótimas misturas de gênero, esta antologia reuniu vinte autores para mostrarem como seria a visão de cada um sobre o velho oeste permeado por criaturas fantásticas e seres de outros mundos.
O resultado desta mistura de elementos, que pode ser chamada de Weird West ou Oeste Estranho, resultou numa das melhores, e mais coesas, coletâneas de contos que li até então. Por conta de determinados itens do regulamento da seleção, que exigiam a presença de certos elementos da cidade fictícia, cada conto, mesmo criado por autores diversos, conseguiu manter o ritmo e o clima da narrativa ao longo das duzentas e quarenta páginas de Cursed City.
Outro ponto muito importante de ser frisado é a qualidade dos contos. Em geral as pessoas tendem a preterir a leitura de antologias, mesmo as feitas por autores únicos, por conta da variação do nível dos textos apresentados. Em Cursed City esta preocupação é inexistente, uma vez que de todas as obras selecionadas tem atrativos para todo o tipo de leitor.
O único ponto negativo com relação a publicação que acho interessante de ressaltar diz respeito a margem interna do livro, que prejudica em alguns momentos a leitura por esconder o final das frases próximas a costura. Quanto a diagramação, tanto interna quanto externa, a editora merece muitos elogios, pois oferece um livro de qualidade gráfica bem superior ao que muitas das editoras. (...)
“Domingo, sangrento domingo” de Romeu Martins foi uma das surpresas dentre os contos que fazem parte de Cursed City. O primeiro ponto é a presença do diálogo bem coloquial entre os personagens que consegue trazer a narrativa para mais perto do leitor e em seguida o desenrolar da trama, e suas reviravoltas, que tornam o desfecho do conto bem interessante e diferente. Além do título que é muito mais profundo em sua origem do que se esperar ao deparar-se com ele. (...)
Ana Cristina Rodrigues merece destaque por conta de seu ótimo conto “Aquele que vendia vidas”. Embora nos tenhamos outros contos elementos bem exóticos este em particular me chamou a intenção por aproveitar-se de outro elemento sobrenatural muito conhecido da cultura americana. Valendo-se disto a autora foi capaz de criar um conto dentro da temática da antologia, porém distinto dos outros em seu cerne, o que torna sua leitura ainda mais atraente.

Para ler mais, clique aqui

A nova geração de Perdedores

Escrevi a resenha abaixo para ser publicada hoje no UniversoHQ, mas por desatenção minha não percebi que ela já constava nos arquivos do site - que é um dos maiores, talvez o maior, banco de resenhas de HQs do mundo. Então, para não perder a oportunidade, vou publicá-la por aqui, mesmo não sendo um material ligado ao steampunk. Mas, afinal, a temática da série, sobre teorias da conspiração e jogadas políticas, é uma das minhas favoritas, como sabe quem acompanhava meu outro blog, o dos Terroristas da Conspiração. Boa leitura!

Título: Os Perdedores – Hora do troco

Por Romeu Martins, responsável pelo blog Cidade Phantástica

Editora: Panini

Autores: Andy Diggle (texto), Jock (arte), Lee Loughridge (cores) – Originalmente em The Losers #1 a #6


Preço: R$ 22,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento Abril de 2010

Sinopse

Os Perdedores formavam um grupo secreto do governo americano envolvido nas diversas guerras que o país articula mundo a fora. Em uma missão no Oriente Médio, os cinco agentes são abandonados pela CIA para morrer na explosão de um helicóptero. Agora, aliados a uma sexta integrante, ainda ligada àquela agência, eles se preparam para a vingança contra as instituições que os traíram.

Positivo/Negativo

Este encadernado lançado pela Panini não traz o primeiro grupo da DC Comics a levar o nome de Os Perdedores. Originalmente, personagens assim chamados surgiram no final dos anos 60, pelas mãos do autor Rober Kanigher, vivendo histórias durante a II Guerra Mundial.

Eram tempos de um novo tipo de guerra, travada tanto no Vietnã quanto na opinião pública, que levavam artistas de todas as mídias, literatura, cinema, teatro e quadrinhos, a repensarem a participação dos Estados Unidos em outros eventos históricos. Mesmo a participação em um evento tão importante quanto a maior de todas as guerras.

Nada mais era sagrado neste campo. A contestação da contracultura fazia as pessoas reverem antigas verdades absolutas.

Algo semelhante passou a acontecer após o clima de consternação geral do 11 de Setembro, tão logo os EUA se voltaram para aquilo que foi chamado de Guerra ao Terror. Era o clima ideal para um novo time de Perdedores entrar em ação, agora em uma realidade ainda mais midiática e com a contestação à superpotência americana atingindo todas as partes do mundo.

Não é de se admirar que a proposta tenha sido levada para o selo de quadrinhos adultos da editora. E menos ainda que o projeto tenha sido realizado por autores britânicos, conterrâneos daquela geração de Alan Moore, Neil Gaiman, Garth Ennis que fizeram história na Vertigo.

A partir de 2003, quando os acontecimentos em países como Afeganistão e Iraque começavam a invadir o café-da-manhã da população americana, e até 2006, por 32 edições, a nova série ficou por conta dos roteiros de Andy Diggle e seu antigo colega de 2000AD Jock.

As seis primeiras histórias reunidas nesta edição especial mostram o novo grupo em ação, agentes secretos traídos pelo governo e que eram apenas inspirados pelos soldados anteriores. Clay, Roque, Vira-Latas, Jensen, Cougar eram os homens em busca de vingança contra a CIA e, especialmente, a um certo agente de nome (ou codinome?) Max. A eles se junta Aisha, vinda do Oriente Médio e ainda na ativa na Companhia.

Em “Ação entre mortos”, a HQ que abre o álbum, uma boa medida da ação ininterrupta que se poderia esperar da série. Tanta que nem dá tempo de apresentar todos os personagens pelo nome, enquanto eles roubam um helicóptero, e com ele um carro-forte, Aisha desembarca em Nova Iorque, e o básico da motivação do grupo é explicado nas entrelinhas.

O arco seguinte, formado de cinco histórias, mostra uma ação ainda mais ousada dos ex-operativos em solo americano. “Golias” é o título em comum das histórias e o nome da megacorporação que, com seu G maçônico estampado em tudo, está por trás de várias ações ilegais relacionadas com a exploração de petróleo.

Para quem acompanhou – e ainda acompanha – o noticiário a respeito das operações de reconstrução iraquiana, não é difícil descobrir que companhias reais estão representadas por aquela empresa fictícia. Vale o mesmo para o PAR-SEG, grupo de mercenários terceirizados pelos EUA em missões na América Latina e no Oriente Médio.

O texto de Diggle é de uma agilidade impressionante, combinando muitas informações técnicas sobre equipamentos, armas e bastidores do mundo da espionagem com ação e humor bem dosados. É bem verdade que alguns clichês escapam, mas no geral a qualidade é alta

Já a arte de Jock, cujo nome real é Mark Simpson, é mais conhecida pelas capas que faz para a série Escalpo , publicada todos os meses na revista Vertigo . Mais estilizado que realista, ele abusa um pouco das cenas em que os personagens parecem posar para fotos, mas consegue efeitos muito bons com seus ângulos ousados. Em uma grande cena de explosão, por exemplo, imita o efeito de distorção de uma lente de grande ocular, como se estivéssemos vendo tudo por uma câmera de cinema.

Não é à toa que o material chamou a atenção de Hollywood, pois as histórias pareciam mesmo storyboards prontos para serem filmados. Infelizmente, o filme lançado em 2010 foi mal nas bilheterias americanas e foi lançado diretamente em DVD no Brasil. Talvez a concorrência com um material semelhante mas baseado em produto mais conhecido tenha alguma responsabilidade nisso: a adaptação do seriado dos anos 80 Esquadrão Classe A foi produzida no mesmo período de Os Perdedores

Com isso, muitos perderam a chance de ver Chris Evans, o Tocha Humana dos filmes do Quarteto Fantástico, e o atual Capitão América, vivendo outro personagem dos quadrinhos: o falastrão Jensen.

Foi na esperança de que a película ajudasse na divulgação do encadernado que a Panini lançou a série por aqui na mesma época e com chamada na capa: “A história em quadrinhos que inspirou o filme”. Antes dela, a extinta editora Opera Graphica já havia traduzido as mesmas histórias e lançado por aqui com um preço bem mais alto.

Seria uma pena se o fraco desempenho dos cinemas levassem a editora a desistir de publicar as outras 26 HQs de Os Perdedores que ainda restam inéditas no país.

Por ironia, na última página desta revista, a Panini estampou uma publicidade de outra série da Vertigo, Loveless – Terra Sem Lei. Ela estava publicando naquele mesmo mês o primeiro de quatro encadernados que fizeram com que aquele western de Brian Azzarelo fosse o primeiro material do selo a ser inteiramente lançado no Brasil pela editora.

Os Perdedores bem poderiam entrar para esta seleta lista caso os leitores mostrassem mais interesse pelos personagens que os cinéfilos.

Classificação: 4

13.10.11

O dieselpunk é nosso

Em um dos posts mais visitados deste blog pode ser lido o seguinte: “Este termo, cunhado pelos game designers Lewis Pollak e Dan Ross para o RPG Children of the Sun, indica uma civilização da era industrial com futurística tecnologia à base de petróleo”. O termo em questão que servia para batizar o gênero de um videogame de 2002 é o mesmo a batizar uma obra literária de 2011, que não apenas dá continuidade à bem sucedida saga nacional de especulação retrofuturista como é, até onde sei, a pioneira do mundo em sua categoria. Dieselpunk – Arquivos confidenciais de uma bela época é a segunda coletânea de uma anunciada trilogia de livros da editora Draco, sempre organizados pelo escritor carioca Gerson Lodi-Ribeiro, a trazer para ambientações lusobrasileiras os conceitos dessas diferentes formas de imaginar o mundo a partir da adoção de tecnologias revolucionárias. O primeiro deles foi Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Sua Majestade, um legítimo exemplar da cultura steamer a que mais tem se desenvolvido no Brasil e no exterior; o terceiro vai se chamar Solarpunk e já teve suas regras para participação dos escritores divulgadas. Este novo livro é de fato uma contribuição e tanto, com seu ineditismo em compilar em um mesmo livro noveletas dentro daquele cenário que une a era industrial da primeira metade do século XX com as tais tecnologias futurísticas a base de combustíveis fósseis. Ponto para o Brasil, para a editora Draco e para os autores reunidos nestas 384 páginas.



Da mesma forma que na resenha que escrevi para o primeiro livro desta trilogia, acho que o melhor é começar os comentários pela capa, mais uma vez a cargo do dono da editora, Erick Santos Cardoso ou, como ele assina seus trabalhos gráficos, Ericksama. Ele conseguiu o feito de ao mesmo tempo manter uma coerência com a obra anterior e o de dar uma identidade toda própria e adequada à nova proposta. Desta forma, está mantida a ideia básica de uma espécie de tela na qual se visualiza uma paisagem típica dos mundos que encontraremos no interior do livro; tela esta emoldurada por vários elementos condizentes com a estética do gênero em questão. A parte da atualização surge logo de cara na alteração de tais elementos: saem as letras serifadas, as engrenagens e o cobre de Vaporpunk para em seu lugar entrar uma elegante fonte de linhas verticalmente alongadas, tudo em um cinza marmóreo e cheio de padrões geométricos. Já naquela tela, no lugar do Rio de Janeiro do século XIX, podemos ver os espigões de uma São Paulo da primeira metade do século seguinte, com aviões mais pesados que o ar voando sobre eles e disparando as luzes perscrutadoras de holofotes. A embalagem já evoca um clima que vai desde o de outro viedogame, este mais recente, Bioshock (a partir de 2006); o de um clássico do cinema daquele mesmo período histórico retratado ali, Metrópolis, de Fritz Lang; ou ainda de Batman, the animated series, de fins dos anos 80. Mais um ponto para editora.

Agora, de nada adiantariam propostas inovadoras e um formato adequado se o conteúdo não fosse trabalhado com o mesmo cuidado. Felizmente, como é próprio das obras organizadas por Lodi-Ribeiro, este é um motivo para um terceiro ponto, pois quase todos os trabalhos que fazem parte do livro são de alta qualidade. Isso já pode ser visto logo desde o início pela noveleta que abre Dieselpunk, de autoria do jornalista Carlos Orsi, que também estava presente em Vaporpunk. “Fúria do Escorpião Azul” parece ter sido que mais inspirou aquela cena paulistana da capa da antologia, descrita no parágrafo anterior. Historicamente alterada por uma revolução de moldes stalinistas, a São Paulo reinventada por esse paulista de Jundiaí tem aquele mesmo ar opressor, estranho e reconhecível que embala o livro. Da mesma maneira que os autores do mais velho dos gêneros punk, o cyber, viam com descrença um futuro inspirado pelas ideias políticas e econômicas ultraliberais de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, este brasileiro dieselpunker volta sua crítica à burocracia das economias planificadas, à violência das ditaduras do proletariado e à corrupção da nomenklatura do partido único.

Assumidamente inspirado nas histórias que Novell Page escreveu para o herói pulp Spider, Orsi criou seu próprio vigilante mascarado que, utilizando muita tecnologia retrofuturista, rebela-se contra o sistema que tomou conta do país. O Escorpião Azul do título enfrenta os homens armados da DPE, a famigerada Diretoria Política do Estado, usando dardos envenenados, lentes de visão noturna, seu próprio dirigível negro. Tudo descrito na prosa de um dos melhores escritores da literatura especulativa nacional, que nesta sua noveleta (cujo cenário espero ver sendo explorado mais vezes no futuro) emprega uma narrativa bastante entrecortada, saltando e voltando no tempo sempre que a trama agitada pede. O único momento em que ele acelera demais é justamente no final, quando encerra todos os subplots muito rapidamente, quase atropelando o leitor com tantas informações nas últimas páginas. A revelação da identidade do protagonista, por exemplo, é tão pouco surpreendente que poderia ter sido dada logo de início sem prejuízo algum para o resultado final do texto.

O steampunk tem um subgênero erótico conhecido como steamypunk. O conto seguinte do livro, “Grande G”, do também paulista, e publicitário, Tibor Moricz poderia inaugurar algo semelhante dentro da estética dieselpunk (para ficar nos trocadilhos, talvez algo com “trocando o óleo” fosse adequado). Mas há bem pouco de dieselpunk no texto que trocou as possibilidades da especulação próprias da FC pelas alegóricas cidades rivais de Smoke City e Steam City, e por um motor que, de algum modo não explicado, alia as mecânicas tradicional e a quântica. Sim, Smoke City, Steam City, o autor foi o único a dispensar a proposta da obra de se utilizar de cenários nacionais para voltar a insistir em localidades com nomes assim, de tamanha obviedade, exatamente da mesma forma que fez em seu romance mais recente, também publicado pela Draco. Em O Peregrino já havia o trio Downtown, Middletown e Uptown emprestando a mesma consistência de isopor e papelão ao cenário que pode ser vista aqui. E quanto ao sexo, é tudo feito de maneira de tal sorte hiperbólica e ao mesmo tempo com tão pouca profundidade que não causa impacto algum, diferentemente de um romance anterior de Moricz, construído por contos compartilhando a mesma ambientação, Fome, lançado pela Tarja Editorial. Com personagens príapicos e ninfomaníacas, que não se inibem em conjugar o verbo foder mas fazem questão de usar palavras como vagina e ânus mesmo nos momentos de maior tensão, o resultado empata em termos de constrangimento com alguma pornochanchada. Estou exagerando? O que dizer do seguinte trecho de diálogo: “a vagabunda tinha uma vagina quente e apertada, tão apertada quanto o ânus de ambas”?

Se ao menos a linguagem empregada no texto fosse mais cuidadosa poderia ser perdoada a falta que fazem uma especulação consistente, um cenário interessante, personagens relevantes e uma trama menos previsível. Mas não é bem o caso, como já entrega aquela quadruplamente redundante frase da primeira página do conto (e a 57 do livro): “Pináculos gigantes se alongavam em direção ao céu”. Entre expressões clichês como o “olhar repleto de significado” da página 73 que volta como “olhares cheios de significado” na 83 (a última do conto), a esperança de que pelo menos a forma se sobreponha ao conteúdo acaba perdida de vez. Se fosse para usar uma expressão emprestada dos meios automobilísticos para descrever o resultado final da leitura seria “perda total”; ou, se for para citar a expressão que o próprio autor criou para criticar contos tão equivocados quanto este em seu blog, “triplo eca”. É uma pena que um escritor que começou de forma tão promissora em seu primeiro romance, Síndrome de Cérbero – apesar de um brutal erro de lógica interna já naquele trabalho de estreia – tenha se perdido em um caso aparente de autoparódia e de preguiça estilística como este.

Felizmente o nível volta a subir dali para frente e se mantém ao longo de todo o livro. Em particular com o texto seguinte que, se não é o maior em termos de páginas, é o recordista no tamanho do título com folga. “O dia em que Virgulino cortou o rabo da cobra sem fim com o chuço excomungado” é a contribuição do designer carioca Octavio Aragão para o livro, outro que também esteve presente na Vaporpunk. O Virgulino que aparece ali é ele mesmo, o cangaceiro Lampião, que nesta recriação não apenas aceita uma missão que lhe propuseram mesmo em nossa realidade – a de combater a Coluna Prestes em sua passagem pelo Nordeste, na década de 20 –, como ainda faz isso usando armamento inimaginavelmente avançado. Acontece que o mesmo arsenal, uma forma bastante radical de nanotecnologia, é oferecido aos revolucionários em marcha, o que por um lado serve para equilibrar a peleja, por outro pode trazer consequências drásticas àquele mundo alternativo. Os destaques ficam por conta da linguagem empregada na narrativa, emulando a fala nordestina com muita cor local, e na misteriosa origem dos artefatos extemporâneos que surgem na história. Sendo o autor natural do Rio de Janeiro e criador de um universo ficcional sobre viagens no tempo, a Intempol, fica a impressão de que há ali uma brincadeira particular dele com o personagem denominado Carioca.

No quarto texto da coletânea temos o Barão de Mauá, a serviço de Pedro, o Imperador do Brasil, usando tecnologia avançada financiada por sua fortuna para defender o país em uma guerra territorial com a Argentina. A sinopse de “Impávido Colosso”, do também publicitário e escritor paulista Hugo Vera, pode soar mais como um representante do punk a vapor do que como um movido a gasolina; e essa é mesmo a impressão que persiste até o final da noveleta. Como um carro que passa por uma lanternagem completa para aparentar ser de um modelo mais recente que sua estrutura interna realmente é, elementos mais apropriados ao imaginário steamer foram jogados literalmente duas gerações adiante, para os anos 40 do século XX, de forma a se adequarem ao período histórico e à temática do livro. Tanto o Barão de Mauá quanto o Imperador em questão são netos daqueles conhecidos da história real (no caso, o jovem Pedro III que aparece aqui é apenas o primeiro de uma sequência a surgir nesta coletânea). Apesar disso e de um elemento que pode deixar a narrativa datada dentro de pouco tempo – o nome escolhido para a agente paraguaia, aliada do império brasileiro na guerra contra os argentinos, que se trata de uma piada com a musa da última Copa do Mundo – a noveleta é muito boa, com seus autômatos portenhos e um gigante de metal saído da Mauá Indústria e Tecnologia (creio que a sigla possível desta empresa não seja mera obra do acaso). E isso é o que realmente interessa no fim das contas, como definiu o compilador no prefácio da obra: “na seleção das noveletas que compõem a Dieselpunk, levou-se em conta dois critérios principais: qualidade literária e de elementos típicos das temáticas steampunk e dieselpunk”.

E quem escreveu estas palavras, o organizador desta trilogia de antologias, ressurge como contista a seguir. Gerson Lodi-Ribeiro igualmente usa um ponto de divergência que também é mais próprio do steampunk em sua história alternativa “País da aviação”. O inventor americano Robert Fulton, pioneiro da navegação a vapor do final do século XVIII, ajuda o imperador Napoleão Bonaparte a reequipar a esquadra francesa de tal maneira que nem mesmo a Royal Navy comandada pelo almirante Nelson resiste ao embate do aço contra a madeira. Porém, aquele é apenas o ponto de partida, e após uma elipse (com o tempo contado segundo o calendário revolucionário dos gauleses) um outro Napoleão, bisneto do original, recebe mais inventores americanos na alvorada de um novo século para garantir a hegemonia agora dos céus. Em tempo: Napoleão deixou de ser apenas um nome próprio, e passou a ser empregado como um título honorífico, tal qual ocorrera com os Césares romanos. E da mesma forma, o Bonaparte do turno não é apenas o Imperador de um país, pois a era dos mandatários autocráticos ficou para trás, mas o responsável por uma estrutura administrativa internacional bem mais complexa em um dos melhores cenários já elaborados neste gênero no Brasil. Sem o recurso de elementos exteriores - como aquele vampiro da noveleta que ele publicou em Vaporpunk, por exemplo -, para os apreciadores mais puristas de HA esta nova noveleta de Lodi-Ribeiro, com suas divisões de tempo bem demarcadas, é um banquete, com entrada, prato principal e sobremesa. Se o romance Xochiquetzal – Uma princesa asteca entre os incas que ele lançou em 2009 inaugurando a editora mereceria ser traduzido para o espanhol, “País da aviação” deveria ser publicada em língua francesa sem demora, de preferência na forma de um novo romance ampliando os detalhes aqui delineados.

A sexta contribuição do livro, “Ao perdedor as baratas”, de autoria do jornalista paulista Antônio Luiz M.C. Costa, também é um cenário de história alternativa que já havia sido explorado anteriormente em outra coletânea, a Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, da Tarja Editorial. Mas o conto de 2009 não foi a primeira incursão neste universo que o escritor chama de “Outros 500”: nove anos antes o cenário básico havia surgido em um ensaio para a revista onde ele trabalha, a CartaCapital, imaginando como seria o Brasil e o mundo caso Dom Sebastião não houvesse desaparecido no Marrocos em 1578, deixando para trás o trono português vago e uma crise dinástica que levou ao processo de decadência daquele reino. Um segundo conto na mesma ambientação foi publicado de forma on line e já recebeu comentários neste blog. Em Dieselpunk, por sua vez, vemos como seria o século XX daquele mundo em uma disputa eleitoral na república brasileira alternativa. Se em “A flor do estrume”, o texto de 2009, havia uma interação de diferentes personagens de Machado de Assis, nesta noveleta, apesar de o título ser uma paráfrase da expressão machadiana “ao vencedor, as batatas”, as criaturas literárias são de outros autores, entre eles, mais notadamente Clarice Lispector e Franz Kafka, convivendo com algumas personalidades históricas.

“Ao perdedor, as baratas” é quase uma visão em negativo do texto de Carlos Orsi que abre a coletânea. O que era visto com ceticismo pelo primeiro, um governo de moldes comunistas no Brasil, é apresentado mais do que de forma utópica, praticamente com caráter publicitário aqui. Com personagens discursando a cada oportunidade sobre as vantagens de tal regime; cenas como a do garoto pobre que recusa uma gorjeta e mais tarde se forma um profissional médico; ou ainda na nomenclatura de órgãos como os conselhos de Solidariedade Mútua, de Ajuda Econômica Mútua, de Amizade e Segurança Comum e de Cooperação Científica e Cultural, o texto chega em alguns pontos bem perto de se igualar à utopia de João Ventura que fechou Vaporpunk. E isso não é um elogio. Além disso, este texto também parece um reflexo invertido em relação a do de seu colega jornalista em outro ponto. Se Orsi acelerou demais perto do fim, Costa ao contrário alonga demais uma situação ao final, quando a trama em si já estava encerrada, de um modo bastante angustiante para o leitor. Parece que o autor não quis deixar passar a oportunidade de fazer uma última interação literária e usa espaço demais nisso, explicando excessivamente o que deveria ser apenas um detalhe. Espaço que poderia ser empregado em mais tecnologias de caráter retrofuturista, por exemplo, que tiveram pouca participação na história.

Explicar demais não é um problema da noveleta seguinte, “Auto do extermínio”, de Cirilo Lemos, professor de história do Rio de Janeiro que, aos 29 anos, é o mais jovem dos escritores reunidos neste livro. Aqui também há um conflito envolvendo a transição do poder no Brasil, mas não uma eleição, pois voltamos a ver um país monárquico nestas páginas. Mais do que isso, é o segundo D. Pedo III da coletânea, desta vez um monarca muito idoso e que pode morrer antes de deixar um herdeiro oficial para usar sua coroa. Novamente, forças externas (e internas) intervêm nos acontecimentos para tentar influenciar o rumo de um Império no qual grupos integralistas e comunistas ameaçam tomar o poder. Manipulado pelos acontecimentos, um homem que divide seu tempo tentando criar o filho e agindo como um matador profissional, se envolve num atentado político que tumultua ainda mais a situação. Para deixar as coisas ainda mais interessantes, tanto ele quanto seu garoto são assombrados por estranhas visões: o adulto pelas de uma santa, o jovem por um super-herói de revistas pulp, o que empresta um ar de fantasia urbana misturada com elementos de alta tecnologia. Sem dúvida, o texto com a pegada mais exótica da coleção.

A penúltima noveleta é a terceira a contar com um D. Pedro III em todo o livro, dando conta de como histórias sobre impérios brasileiros alternativos fazem mesmo parte do imaginário de nossos escritores. “Cobra de Fogo”, do editor gráfico de São Paulo Sid Castro, é a história mais empolgante e divertida do livro e a que melhor emprega as possibilidades do gênero quando se pensa no básico do dieselpunk: enormes veículos movidos a óleo diesel em um mundo vagamente semelhante ao do início do século XX. O autor oferece exatamente isso, uma corrida maluca entre gigantescas locomotivas que correm fora de trilhos, por terra, céu e mar, se preciso for. Na disputa, que ocorre em torno do globo, a posse territorial da Amazônia. Tal corrida é a forma que a Liga das Nações encontrou para decidir conflitos entre as diversas potências de uma realidade em que a posse de artefatos nucleares levou a um impasse conhecido como Pax Atomica. Neste mundo, o “Grande Crack de 29” não foi apenas uma crise econômica, como no nosso, ele dá nome ao início de um ataque que começou por Manhattam e no qual Hiroshima, numa ironia cruel, foi a última das cidades bombardeadas com aquele tipo de armamento.

Sid Castro criou uma história que é bastante leve, mas sem descuidar em nenhum momento na motivação dos personagens e na dos países e impérios que eles representam. Por trás de cada um dos pilotos incríveis e de suas máquinas extraordinárias – às vezes até mesmo na ambientação e nos intertítulos engraçadinhos –, um festival de referências, quase sempre cinematográficas, aguarda os leitores. Vamos unir agora dois fatos. Primeiro: na lista de antigas atividades do autor publicada ao final do livro estão incluídas as de ex-chargista e de ex-quadrinista (ele produziu roteiros e desenhos para revistas nacionais como Calafrio e Mestres do Terror); e segundo: a Draco vai estrear brevemente um selo dedicado às HQs com um álbum do citado Octavio Aragão e sua Intempol. Fica aqui uma sugestão, pois seria ótimo ver as locomotivas M’Boitatá, do Império do Brazil, General Lee, do Estados Confederados da América, Potenkim, da União Soviética, Yamato, do Japão, e todas as outras em uma graphic novel com o selo do dragão na capa.

Para encerrar a antologia, a presença internacional que também fez parte de Vaporpunk (e não apenas parte, pois foi o autor da melhor peça daquele primeiro livro). Jorge Candeias é um tradutor português que se tornou recentemente best seller no Brasil com suas versões para os livros da série de fantasia Game of Thrones. Nesta nova oportunidade, ele retoma o universo da noveleta anterior, “Unidade em chamas”, no qual as invenções aladas do padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão foram adotadas em Portugal revolucionando a maneira daquele país guerrear contra seus adversários. Em “Só a morte te resgata” as passarolas não apenas estão mais evoluídas com o passar dos anos decorridos entre uma história e outra; agora elas são acompanhadas de veículos aéreos mais rápidos e mais ágeis, chamados de albatrozes. O protagonista agora é o piloto de um desses últimos - um brasileiro que, apesar da descendência lusitana, luta pelo lado inimigo, uma confederação de países como França e Alemanha. Jeferson é o nome do rapaz, não que ele deixe de usar outras identidades ao longo da trama, que faz a opção de combater o país de seus antepassados motivado basicamente por racismo.

É na mente de um personagem de tal sorte controverso que Candeias nos faz mergulhar ao longo de toda sua história. Desde os momentos iniciais, quando Jeferson aparece em suas missões de voo, até a longa jornada de retorno ao Brasil, feita de maneira clandestina, envolvendo situações típicas de contos de espionagem, logo após ele receber uma misteriosa correspondência capaz de obrigá-lo a refazer todos os seus planos. Escrita de forma esmerada, com cuidado especial para os aspectos emocionais porém sem cair nas armadilhas da pieguice, a noveleta é um dos pontos altos do livro, deixando quem acompanhou esta e a história anterior ansioso por saber ainda mais deste mundo de Candeias. Numa nota à margem, não posso deixar de comentar o quanto o fato de ver pela primeira vez minha Florianópolis natal – aqui ainda chamada pelo nome antigo de Nossa Senhora do Desterro – em uma obra retrofuturista, e isto se dar pelas mãos de um autor estrangeiro, me faz pensar no quanto tem sido de fato enriquecedora a experiência que a cultura steamer tem alcançado em terras lusófonas nos últimos anos. Que tal experiência não pare por aqui e continue dando um resultado tão bom quanto este.

Revisitando mais uma vez a minha resenha de Vaporpunk, afirmei algo na ocasião que se era verdade para aquele livro, passa a ser para este. Eu disse que o primeiro, com seus oito textos, já havia sido a coletânea nacional – ou binacional, no caso – mais equilibrada que tivera a chance de ler. Pois eis que Dieselpunk – Arquivos confidenciais de uma bela época a supera neste quesito: a qualidade geral das nove narrativas reunidas neste segundo momento é ainda mais elevada e mais bem dosada. Mais não fosse, o pior conto daquela primeira antologia era bem maior, nesta, é o menor de todos, e os demais estão, na média, ainda melhores que seus antecessores. Um outro ponto a se acrescentar naquele placar. O sucesso das duas empreitadas aumenta a expectativa em relação a Solarpunk, o livro a sair em meados de 2012 e que encerrará este ciclo, desde a curiosidade em relação à cidade que estampará a capa – Manaus? Brasília? Lisboa? – até a qualidade e a imaginação das noveletas que deverão traduzir para nosso contexto o greenpunk.

11.10.11

Brasil Fantástico

Fui convidado pelo jornalista, escritor e atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, Clinton Davisson, a ajudar na organização do seguinte projeto:

O Clube de Leitores de Ficção Científica e a Editora Draco lançam a coletânea Brasil Fantástico!

Desde os tempos de José de Anchieta, no século XV, as lendas e mitologias do Brasil vem despertando curiosidade e interesse. Seres como o curupira, o saci, o Boi-Tatá, o Capelobo, a cobra grande e muitos outros parecem ter inspirações das mais diversas.
Embora o trabalho de Monteiro Lobato em sua série, O Sítio do Pica-pau amarelo tenha contribuído para preservar e divulgar essa mitologia brasileira, a exploração desses mitos por outros autores e gêneros, como o terror, ainda é tímida no Brasil, se compararmos ao grande volume de histórias que americanos, europeus e asiáticos fazem de suas próprias lendas e mitologias.
O potencial dos seres fantásticos brasileiros é inegável para gerar obras de qualidade e apelo popular e as experiências recentes de autores como Roberto Causo, André Vianco e Christopher Kastensmidt tem conseguido reconhecimento de público e crítica inclusive fora do Brasil.
O preconceito no passado por obras que adotaram essa proposta é perfeitamente compreensível dentro de uma lógica de mercado um pouco explorado. Vamos lembrar que há apenas 20 anos cinema nacional era considerado reduto de Trapalhões e pornochanchada.
Assim, partindo do pressuposto que a função de um Clube de Leitores é abrir espaço para inovações literárias e formar novos leitores, estamos abrindo inscrições para a Coletânea Brasil Fantástico em parceria com a Editora Draco. A comissão organizadora será formada por Clinton Davisson, Daniel Borba, Hugo Vera e Romeu Martins.
Os interessados em se inscrever devem mandar seus contos para coletaneabrasilfantastico@gmail.com com cópia de segurança para fafia7@gmail.com.A submissão deve ser mandada somente em versão eletrônica, formato rich textfile (.RTF).
Os participantes devem se inscrever com pseudônimo para manter a imparcialidade do julgamento.
Nossa deadline é 31 de março de 2012, uma vez que o objetivo primário é lançar a antologia na Fantasticon 2012, no início do segundo semestre do ano que vem.
Confirmaremos a recepção de cada trabalho submetido. Em caso de dúvida, não hesite em nos contatar.
Fixamos os limites das submissões entre 4.000 e 10.000 palavras. Isto não quer dizer, em absoluto, que submissões fora deste intervalo serão sumariamente rejeitadas. Se o trabalho submetido possuir qualidade literária e se enquadrar na temática proposta, essa qualidade pesará muito em nossa apreciação, ainda que o texto seja menor ou maior do que o limite proposto. No entanto, cumpre esclarecer de antemão que olharemos com mais simpatia trabalhos dentro do intervalo citado.
Os contos terão que se passar no Brasil em qualquer época ou talvez em alguma colônia espacial habitada por brasileiros, ou mesmo em algum lugar que tenha uma referência mínima de nossa pátria amada (Portugal é bem aceitável); terá que conter algum elemento ou elementos da mitologia nacional e, claro, algum elemento de fantasia e/ou, ficção científica e/ou terror. Mitologias que não são de origem nacional, mas tiveram repercussão notável no Brasil como A Loura do Banheiro, o Chupa-cabras ou a Cuca, serão considerados.
Se julgar necessário discutir determinada trama ou certa linha de enredo conosco, sinta-se à vontade.

Desde já, conto com a participação de todos os colegas escritores interessados no tema.

10.10.11

Arsenal steampunk

Na entrevista que Bruno Accioly concedeu a Fábio Fernandes na mais recente semana dedicada ao steampunk da TordotCom, fiquei conhecendo o trabalho em esculturas de um artista paranaense. Jorge Pedro, natural de Peabirú, atualmente cursando o mestrado em Jornalismo na Universidade Estadual de Maringá. Em seu site pessoal, o escultor tem uma amostra de um verdadeiro arsenal em ferro com clara influência steamer. Em alguns modelos, reconheci o que poderia ser o fuzil mecanizado de tiro fixo Guarany que João Fumaça e a Polícia dos Caminhos de Ferro usam.





9.10.11

No National Museum de Ottawa

Um muito querido e chique casal de amigos meus está em viagem pelo lado civilizado da América e me mandou uma foto tirada em um museu canadense. É ou não é para se ter orgulho (dos amigos e da participação na Steampunk Bible)?


Brigadão, Telli, Juju. Divirtam-se aí!

Resenha de Deus Ex Machina

Uma ótima resenha conto a conto da coletânea Deus Ex Machina pode ser lida no Blog do Pai Nerd. O autor analisou não apenas os textos mas também vários outros elementos editoriais do livro lançado este ano pela editora Estronho. Vou destacar o início do comentário até chegar a meu conto e deixar o link para a leitura completa ao final:


Deus ex machina – Anjos e Demônios na era do vapor.  Organizadores: Candido Ruiz, Tatiana Ruiz, M. D. AmadoAutores: Alex Nery, Alliah, Carlos Machado, Daniel I. Dutra, Davi M. Gonzales, Davi M. Gonzales, Georgette Silen, Leonilson Lopes, Norberto Silva, O. S. Berquó, Paulo Fodra, Rebeca Bacin, Yuri W. Cortez  
Editora: EstronhoAno: 2011208 páginas

Sinopse: A expressão latina Deus ex machinapode ser interpretada como Deus é a causa e é usada em literatura quando uma situação insolúvel é resolvida com um elemento inesperado e fora do contexto, uma “forçada” de mão do autor que é o Deus da história. No caso aqui os organizadores resolveram dar o sentido que o senso comum dá à expressão: Deus é a  máquina, já que reúne Deus e máquina na mesma frase e é justamente isto que a coletânea se propõe. Uma mistura de gêneros terror com anjos e demônios e steampunk.
Um dos riscos quando se mistura gêneros é a falta de equilíbrio entre eles, acabando por um deles prevalecer e outro ficar forçado, apenas para cumprir tabela. Neste quesito, os organizadores conseguiram harmonizar o conjunto, com um bom resultado.
A capa esta boa, como tem sido as capas da Estronho, e as ilustrações do interior também, onde a editora continua buscando originalidade. Cada conto é precedido por uma ilustração em uma apresentação do autor e está numa “caldeira”, numerada com o número da página de início e o autor identificado como seu operador.
Há um senão: a combinação do papel sem tratamento (atualmente sendo chamado de “ecologicamente correto”) e desenhos e letras escuras acabou prejudicando a leitura da apresentação dos autores e, em alguns casos, até do nome do conto.
A Diabólica Comédia  - A Conquista dos Mares
Operador: Romeu Martins
O título é uma paráfrase de a Divina Comédia. Um submarino, comandado por um demônio enfrenta hordas de anjos em máquinas voadoras. Emocionante. Em alguns momentos chegamos a torcer pelo demônio.
Alerta de Spoiler!O que está em jogo? O domínio dos mares, já que o inferno é de Lúcifer e o céu de Deus. Uma boa sacada.
Continua

5.10.11

Torre de Vigia 39

Eppur si muove. Fazia tempo que eu não tinha a oportunidade de atualizar a sessão de clipagem de resenhas da primeira coletânea steampunk brasileira. A última vez, foi em dezembro do ano passado. Mas mesmo tanto tempo depois de seu lançamento, o livro continua colhendo análises dos leitores, sendo um dos mais avaliados da safra recente de literatura especulativa nacional. Quem fez a resenha mais recente em seu blog foi a escritora, artista plástica e moradora de Niterói Alliah - que é minha colega em outra coletânea steamer, a Deus Ex Machina, diga-se de passagem. Ela começou seu escrutínio pelo trabalho da capa, de autoria de Marcelo Tonidandel e Verena Peres, que acabou sendo o melhor e mais completo comentário sobre aquele belo trabalho gráfico:

O livro “Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário” foi lançado pela Tarja Editorial em 2009 e reuniu uma excelente trupe de escritores. Como a obra já foi resenhada por vários blogueiros interwebz afora, minha resenha vai ser um pouquinho diferente do comum. Aquele típico resuminho explicativo sobre o conteúdo de cada história que vem antes das opiniões/críticas de cada resenhista não vai aparecer aqui. Se você tá chegando agora meio perdido nesse estranho mundo chamado fandom e não conhece nenhum dos contos desse livro (shame on you!), vai dar uma googlada por aí e se inteirar.
Vamos começar pela capa, de Marcelo Tonidandel e Verena Peres. (Como já farei a resenha dos contos aqui, a resenha da capa vai ser bem breve e objetiva e não vai pro 
Resenhando Capas.. Mas depois dá um pulinho lá e se inscreva pra receber as atualizações.)



Começando pelas cores. O clássico café envelhecido oscilando entre tons de amarelo e marrom caiu bem. Cheira a antiguidade sem soar precário. O fundo manchado é bonito, porém a textura rugosa que aparece no topo e na base poderia ter sido mais bem trabalhada (ou até mesmo eliminada por outros padrões de mancha. Um papel enrugado seria mais adequado). O mesmo vale para a arte do título. As cores estão fortes e funcionam, mas a iluminação falhou. A máquina em destaque no canto inferior esquerda é o ponto alto. A nitidez detalhada do desenho em sépia escuro acinzentado formou uma combinação que poderia ter sido aproveitada para outras ilustrações, ou numa única ilustração central e mais detalhada ainda. É minha parte favorita da capa. Os três personagens no centro possuem traços suaves demais, como se alguém tivesse exagerado no esfuminho. O sombreamento parece desfocado. Faltou dureza. O dirigível no topo está bem feito e bem posicionado. No conjunto a capa funciona e vende o que promete, mas os detalhes mencionados poderiam ter sido melhor trabalhados.

Em seguida, ela começa sua avaliação de cada um dos nove contos que compõem a obra. Como costumo fazer, copiarei abaixo o comentário a respeito de minha noveleta e deixo os leitores com o endereço para a leitura completa aqui.

Em seguida vem o conto “Cidade Phantástica”, de Romeu Martins, que prova que Niterói só consegue ser um lugar interessante quando retratada numa ficção. João Fumaça é um dos melhores personagens do livro. Btw, o nome simples, objetivo e bem brasileiro é perfeito. (Também não dá pra esquecer a fofura daquele boneco do personagem que foi sorteado uns tempos atrás no blog do Romeu, de mesmo nome desse conto). Aqui, assim como no conto do Gian, os diálogos se destacam. E devo dizer que as palavras, expressões e pequenas frases em inglês foram cuidadosamente encaixadas sem que soasse pedante ou supérfluo. Mas como eu adoro um desastre, fico imaginando a dimensão dos danos que a arma (mais perigosa do mundo) teria causado se nosso herói João Fumaça não tivesse impedido…

(não resisto a um comentário final: eu que sou morador da Niterói catarinense - já que São José é a cidade do outro lado da ponte de Floripa - usei a Niterói original em dois outros contos. A cidade onde mora a resenhista aparece na continuação de "Cidade Phantástica" chamada "Modelo B", que foi publicada na revista Vapor Marginal  e, se tudo der certo, ganhará nova versão em 2012. Da mesma forma ela surge já no título de um conto que sairá no livro Soberba - Lúcifer, da coleção VII Demônios da editora Estronho: "Algo baixou em Niterói")

Anunciados os Consulados do Conselho Steampunk

Como já é tradição, periodicamente a Tor dot Com dedica semanas no ano à cultura steamer. E também já está ficando tradicional a participação de Fábio Fernandes falando do cenário brasileiro em tais ocasiões. Nesta terça-feira, o escritor e tradutor carioca entrevistou seu conterrâneo, o empresário e agitador cultural Bruno Accioly para falar das novidades do Conselho Steampunk nacional. Na conversa, além da divulgação das novidades em relação à nossa produção literária, foi anunciada uma informação em primeira mão e que deverá estender ainda mais a influência do Brazilian Steampunk pelo mundo ao mesmo tempo em que os entusiastas locais do gênero poderão ser ainda mais favorecidos com um maior intercâmbio cultural internacional. Segue a tradução do trecho em que são mencionados os futuros Consulados Steampunk:


Para onde você vê o steampunk indo por sua comunidade? Até onde vocês pretendem ir?
O Conselho Steampunk juntou-se à Sociedade Retrofuturista que usará o mesmo modelo adotado por nós para promover outros gêneros, como Dieselpunk e Cyberpunk. Acreditamos que este processo é importante para um intercâmbio entre os gêneros e que todos podem se beneficiar do formato de sucesso que fomos fortuitos o suficiente em desenvolver.
Mas, em relação ao steampunk propriamente, a notícia é promissora, e vemos o futuro de forma ambiciosa.
Nós, obviamente, esperamos ver uma Loja em cada estado do nosso país, mas recebemos comentários de colegas americanos e europeus sobre como seria possível exportar o Conselho Steampunk.
Recentemente, houve um interesse vindo do exterior em, de alguma forma, importar o nosso modelo de expansão. Isso acabou nos ajudando a criar um conceito interessante que, acredito, pode beneficiar muito o steampunk no Brasil e talvez em todo o mundo.
Nossa visão é que forçar a entrada de uma organização essencialmente brasileira em outro país é algo intrusivo demais para realmente beneficiar o movimento steampunk. É por isso que, depois de algumas discussões, chegamos a uma solução enriquecedora para expandir a nossa influência de uma forma que pode interessar outras organizações de cultura steamer.
Atualmente, estamos trabalhando para a fundação do primeiro Consulado do Conselho Steampunk, cuja função será exatamente o intercâmbio de informações sobre a produção da cultura steamer nos países em que estaremos presentes. O papel de um Consulado será o de oferecer naquele local informações sobre a produção brasileira e o de transmitir para o Brasil informações sobre a produção daquele país. O Consulado também irá funcionar como um meio de troca de informações históricas do século XIX do país em que serão alojados e sobre a história recente brasileira, que, acreditamos, irá enriquecer consideravelmente a qualidade da informação disponível sobre o período.
Esta ainda é uma ideia nova, e nós estamos estabelecendo as bases teóricas de tudo, mas o primeiro Consulado será fundada no país cuja tecnologia naval foi responsável pela nossa descoberta: Portugal.