A ficção científica do século 19 e o século 19 na ficção científica fizeram parte de uma das principais tendências do gênero em 2009. (...) O outro lado dessa tendência bastante atual é a de refletir a estética e a imagética da FC do século 19, na FC do século 21. Eu falo da corrente steampunk, um tipo de ficção científica recursiva com alguma ocorrência anterior no Brasil, mas que teve a bandeira levantada com a publicação da antologia Steampunk: Histórias de um Passado Extraordinário (Tarja Editorial), organizada por Gianpaolo Celli. O livro traz histórias de Celli, Claudio Villa, Jacques Barcia, Romeu Martins, Flávio Medeiros, Fábio Fernandes, Alexandre Lancaster, Roberto de Sousa Causo e Antonio Luiz M. C. Costa, além de uma capa muito boa de Marcelo Tonidandel. Antologia pioneira, tem despertado bons comentários de blogs e da comunidade steampunk nacional e internacional.
No segundo texto, Causo resenha uma outra antologia, já comentada por aqui: a organizada pelo casal americano Ann e Jeff VanderMeer.
No mundo de língua inglesa, o steampunk existe em diferentes estágios desde fins da década de 1960, mas há poucos anos é que foram publicadas as primeiras antologias montadas para chamar a atenção sobre o subgênero. Steampunk, pelo casal VanderMeer, é uma de duas dessas antologias. A outra é Extraordinary Engines, editada por Nick Givers, também de 2008, mas com histórias originais.
A antologia dos VanderMeer é retrospectiva e didática, incluindo três ensaios. O melhor deles é de longe o de Jess Nevins, altamente recomendado. Nevins afirma que "uma história correta do steampunk deve começar com os dime novels do século 19, pois é lá que estão as raízes do steampunk, e é contra os dime novels que a primeira geração de escritores steampunk reagia". Assim, ele puxa essa tradição para os Estados Unidos, quando antes o subgênero era mais associado à Inglaterra e França.
Por fim, o especial se fecha com uma segunda resenha, de um livro que é fundamental para este blog e sua noveleta homônima. Em "Atirando para a Lua" é feita a análise da obra Da Terra à Lua, de 1865.
Neste que foi um dos mais interessantes romances de viagem interplanetária do século 19, Verne imagina que, sem ter muito o que fazer depois do fim da Guerra da Secessão (1861-1865), os membros do Gun Club de Baltimore, liderados pelo industrioso Impey Barbicane, decidem construir um supercanhão e disparar um projétil contra a Lua.
Como na maior parte da venerada coleção Voyages Extraordinaires desenvolvida por Verne para o editor Pierre-Jules Hetzel (1814-1886) e publicados como folhetins na revista de Hetzel, Magasin déducation et de récréation (e depois em livro), neste romance há uma evidente preocupação didática. "Educação e diversão", constavam do nome da revista, e além de incorporar o didatismo sobre a Lua, sobre balística e geografia, De la Terre à la Lune é uma divertida comédia. Os membros do Gun Club são descritos como um bando de obcecados industriais e artilheiros sobreviventes da guerra civil, a maioria faltando uma perna, mão, olhou ou braço. Há humor também no modo como o projeto de construir o canhão e dispará-lo contra a Lua galvaniza a população americana e leva os estados do Texas e da Flórida a uma disputa pelo local da construção.
2 comentários:
Obrigado pela divulgação e pelos comentários, Romeu.
Não há de quê, Causo. E parabéns pelas análises dos textos.
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