29.11.10

Um passado fantástico para o Brasil

Caros amigos da malta do vapor, antes de começar o post em si, tenho que dizer que esta semana que marca o fim de novembro e o início de dezembro vai ser punk. Acabo de ser chamado para escrever um novo livro sobre inovação tecnológica, um trabalho que começa com a fase de cobertura de um evento internacional nesta quarta e que depois vai seguir avante com a redação do texto. Para quem se interessar, aqui vai o link para baixar meu livro anterior editado (há um outro, ainda inédito), escrito em parceria com o pesquisador Roberto Pacheco principal desenvolvedor da Plataforma Lattes: Conhecimento & Riqueza.

Isso quer dizer que vou dar uma sumida do blog e do twitter pelos próximos dias e que provavelmente diminuirei o ritmo das postagens nas próximas semanas. Agora há pouco, me dei conta também de que isso quase que certamente vai me impedir também de ao menos começar a escrever a noveleta dieselpunk que estava em fase de pesquisa e planejamento aqui, na minha cabeça... Veremos.

Mas o post em si não é para falar sobre isso, mas para anunciar novas iniciativas da editora Estronho, a qual já comentei aqui e aqui. Desta vez são duas novidades de uma vez, ambas relacionadas a eventos históricos brasileiros. Uma coleção chamada História Fantástica do Brasil. Segue a apresentação e as capas dos dois primeiros livros tiradas deste endereço:


Que tal se pudéssemos voltar no tempo e apimentar um pouco mais a história do nosso país? E se povoássemos as linhas de nossos livros didáticos, com lobisomens, vampiros, fantasmas, feras e criaturas vindas das florestas e dos cantos mais obscuros do Brasil?

A Editora Estronho convida você a soltar suas insanidades, misturá-las com a nossa história e brincar com nosso passado. E para começar nossos estudos, vamos dar uma volta pela Guerra dos Farrapos e Inconfidência Mineira. Escritores de todo o Brasil podem participar. Não são antologias essencialmente regionais. E como se trata de um trabalho que exigirá muita pesquisa por parte dos autores, o prazo de encerramento será bem extenso. Aos poucos também iremos liberar mais fatos históricos a serem trabalhados.

Até a volta, assim que possível.

25.11.10

Infiltração de vapor

Antes de mais nada, devo dizer que já estava querendo ler e resenhar esta coletânea desde que anunciei por aqui que haveria pelo menos um texto steampunk nela . Isso só não havia sido feito ainda porque a Saraiva, rede na qual encomendei o livro muitos meses atrás, vinha sem grandes justificativas adiando a data da entrega, até que minha paciência se esgotou e eles perderam de vez um cliente. Felizmente, o editor e organizador da obra, Erick Santos, acabou resolvendo o impasse, enviando-me um exemplar do terceiro volume da coleção de antologias mistas e sem temática fixa da Editora Draco: a Imaginários. Mesmo já sabendo do fato pelas resenhas que li, foi muito interessante encontrar não apenas uma, mas três histórias retrofuturistas naquelas páginas, exatamente 30% dos dez contos da publicação.

Outra coisa que quero dizer antes de comentar sobre esses textos é o quanto acho positivo que o steampunk e derivados se infiltrem dessa forma em obras que, à primeira vista, não são destinadas apenas aos entusiastas do subgênero. Mesmo com duas coletâneas steamers já lançadas e alguns romances anunciados (fora uma novidade que espero poder contar em breve), acredito que a presença do retrofuturismo em tomos mistos é um sintoma muito mais claro da aceitação dessa forma de contar ficção científica no país. Seria na prática um processo de naturalização do tema por parte dos escritores, leitores e editores, que passam a encarar o futuro do passado em pé de igualdade com o cyberpunk, a space opera, a fantasia histórica, o terror psicológico, para citar temáticas exploradas neste mesmo livro. Mas chega de nariz de cera e vamos falar da trinca de contos que são o foco deste blog.



O primeiro deles é justamente o que havia sido anunciado naquele post que citei antes, “Bonifrate”, do escritor e quadrinista Douglas MCT. Mesmo tendo sido antecipado neste blog e em outras resenhas que li, não deixou de ser uma surpresa. O próprio autor deixou registrado por aqui que buscaria a estranheza e inspiração em Watchmen e em Matrix para fazer uma espécie de releitura de Pinóquio. O resultado me lembrou bastante uma outra obra, mais recente, mais ligada ao gênero e que foi comentada em postagem anterior: Whitechapel Gods, de S. M. Peters. Há muito do romance daquele canadense neste conto do brasileiro, mesmo que as coincidências sejam apenas isso, coincidências. Reconheci bastante dos mecanizados Boiler Men nos dilemas do protagonista da história de Douglas, e algo do Grandfather Clock na passagem final. O conto é muito interessante, uma narrativa steampunk inusitada, contada de um modo como poucas vezes eu havia visto ser feito em português.

Já que falei em Whitechapel Gods, o conto seguinte é do escritor e advogado que justamente me presenteou com aquele livro (que ainda vai ser resenhado por aqui). Marcelo Galvão escreveu o único texto que eu já havia lido antes de ter em mãos o Imaginários 3: “Vida e morte do último astro pornô da Terra”. Aliás, mais do que ler, votei nele quando este conto concorreu em um concurso literário promovido na maior comunidade em português dedicada à FC do orkut, ocasião em que o autor concorreu com o pseudônimo XXX.  Então, me sinto à vontade para elogiar esse conto e afirmar que, se fosse o caso, levaria meu voto novamente como o melhor do livro. A ideia é a de que, nos anos 70, no auge da popularidade do mercado de cinema pornográfico, robôs inventados no Japão passaram a substituir com muitas vantagens os atores humanos em tais produções, o que leva a crise enfrentada, já na década seguinte, por nosso herói, Nick Dick. Uma excelente mistura de boa trama, ação de primeira, diálogos inspirados e especulação histórica, este conto poderia ser classificado como um exemplar de transistorpunk, conforme artigo que traduzi e comentei por aqui

O conto que fecha a trinca de retrofuturismo do livro é de um velho conhecido deste blog, Fábio Fernandes. “O primmeiro contacto”, como o próprio título já entrega, oferece a seus leitores uma viagem temporal e ortográfica ao início do século XX. Há algum tempo eu estava especulando no twitter o que teria acontecido se, ao invés de ter usado o cyberpunk como referencial na hora de batizar o gênero steamer, K. W. Jeter tivesse se inspirado na space opera. Isso provavelmente nos levaria a chamar tais histórias de steam opera, deixando de lado o polêmico sufixo punk. E o conto de FF é exatamente o que mereceria ser conhecido pelo termo hipotético: usando como subterfúgio narrativo um texto que ele teria encontrado em uma antiga revista literária de 1929, o carioca nos mergulha no clima da época, em um mundo no qual a tecnologia de aviação avançou tanto e tão mais rápido que ocorre o tal “primmeiro contacto” com seres alienígenas e hostis. Um extra muito bem-vindo é identificar as várias referências a personagens históricos no texto, como nesta passagem: “A frota da Terra seria enviada para duas frentes: a primeira, em órbita geo-estacionária (calculada por um jovem scientista britannico que fazia parte da Equipe de Deffesa, um rapaz tímido de óculos chamado Clarke), formando hum annel de protecção ao longo da linha do Equador”.

Esses três contos fazem valer, sem dúvida, a compra de Imaginários volume 3 por qualquer um que tenha o steampunk e afins entre suas predileções na literatura fantástica. Porém, não podemos deixar de comentar que há outros sete contos naquelas 130 páginas. Falando rapidamente de cada um pela ordem do índice:

“A Torre das Almas”, de Eduardo Spohr, o novo best seller da fantasia brasileira, autor do romance A batalha do Apocalipse. O conto é justamente um spin-off daquele livro e é muito bem escrito, mas seus personagens parecem ter saído diretamente de uma partida de RPG.

“Breve relato da ascensão do Papa Alexandre IX”, de Marcelo Ferlin Assami, é o conto mais experimental do livro, muitos passos além do que fez Fábio Fernandes, por exemplo. E, na minha opinião, passou do ponto.

“As noivas brancas”, de Rober Pinheiro, por outro lado, é uma space opera bem tradicional. A inovação ocorre em alguns pontos da personalidade e nos hábitos de consumo do protagonista da história.

“Dies Irae”, de Lídia Zuin, também aposta num cenário muito reconhecível pelos fãs do gênero, no caso, o cyberpunk. Na verdade, é reconhecível a ponto de, acredito, ser mais bem classificado como nowpunk, tamanha é a sensação de contemporaneidade do texto (muito bem escrito).

“Corre, João, corre”, de Cirilo Lemos, para voltar a arriscar classificações, eu chamaria de fantasia suburbana. Uma história muito bem contada – entre minhas três favoritas do livro – sobre o sujeito pacato até demais que se vê obrigado a agir para tentar salvar corpo e alma do filho recém-nascido.

“Uma segunda opinião”, de Fernando Santos Oliveira, é um conto bem simples e que seria bem mais eficiente se fosse mais sucinto. Com menos páginas e mais objetividade, daria menos tempo para o leitor deduzir o final, por exemplo.

“Maria e a fada”, de Ana Cristina Rodrigues, foi o conto que gerou um artigo sobre fantasia histórica comentado por aqui. Misturando dados históricos com uma lenda a respeito de seres mitológicos, o resultado é uma narrativa com jeito de crônica de época. Um belo conto.

23.11.10

Novidades à vista em aoLimiar

O empresário Bruno Accioly, um dos fundadores do Conselho Steampunk, anunciou em seu site pessoal novidades relacionadas à principal rede social dirigida aos produtores e consumidores de ficção fantástica no Brasil. Reproduzo abaixo a íntegra da nota postada no dia 21 de novembro.




aoLimiar . Público, Profissionais e Canais



Quando o aoLimiar foi concebido como Rede Social de Editoras, Escritores e Leitores de Literatura Fantástica, e após a iniciativa do Conselho SteamPunk, sabíamos que apoio tecnológico da dotweb não seria suficiente para manter o interesse de leitores, escritores e editoras no projeto.

Uma iniciativa sem fins lucrativos tem suas limitações no sentido de veicular a si mesma pelos meios de comunicação e tem de contar com a criatividade e com meios mais democráticos como a Internet e o boca a boca.

Os colaboradores, hoje cadastrados no aoLimiar, são uma fração do que comunidades com fins lucrativos conseguem arrebanhar graças ao seu acesso a meios de comunicação, muitos dos quais são os próprios fundadores de tais iniciativas.

Acreditamos que toda e qualquer iniciativas hoje presentes na Internet são esforços importantes para promover a cultura literária no país, seja lá qual for o modelo de negócios, o tamanho da operação ou as boas intenções por detrás destes projetos.

O aoLimiar foi projetado com um Primeiro Movimento composto de três fases iniciais que, dentro de suas limitações, acreditamos, atingiram seus objetivos:

Primeiro Movimento

Primeira Fase

Fornecer um serviço gratuito de publicação de Livros Virtuais dedicados a Literatura Fantástica, oferecendo um espaço onde a comunidade poderia publicar amostras, teasers e trabalhos inteiros para a comunidade editorial, leitores em potencial e outros autores.

Segunda Fase

Fornecer um serviço gratuito de publicação de Portais de Conteúdo dedicados a Literatura Fantástica, como o Omega Point Universo Alternativo e o Ficção Científica e Afins, todos produzindo conteúdo relevante e diversificado sobre Literatura Fantástica.

Terceira Fase

Fornecer Ferramentas de Comunicação gratuitas para Editoras, Autores e Leitores poderem estabelecer relações de forma facilitada com o objetivo de permitir às Editoras identificar novos talentos, veicular concursos literários e perceber os interesses dos leitores.

Sistemas de Mensagens Privadas, Mural de Atividades, Comunidades, Fóruns, Salas de Bate-Papo e até mesmo um mecanismo de Mensagens Instantâneas foram implementados ou adquiridos para benefício da comunidade literária.

A Próxima Etapa

É chegada a hora de darmos mais um passo na direção da comunidade nacional de Literatura Fantástica e empreender um novo movimento… um Segundo Movimento.

No mês de Dezembro estarei, com ajuda do Conselho SteamPunk e apoio da dotweb, divulgando o Segundo Movimento do aoLimiar.

Para esclarecer de ante-mão quais os alvos deste novo movimento sem estragar surpresas ou interferir no andamento de negociações e parcerias, pode-se dizer que este Segundo Movimento endereça: (1) a opinião do público sobre a produção editorial do cenário literário em questão; (2) aos demais envolvidos nos processos produtivos literários da comunidade de Literatura Fantástica; e (3) a real necessidade de criação de canais de publicação independentes e mais devotados a produção, divulgação cultural e nos benefícios sociais deste substrato que em qualquer outra coisa.

A iniciativa aoLimiar ainda é profundamente dependente da propaganda boca-a-boca e, por isso, contamos com cada um dos leitores, escritores e editoras envolvidos e não envolvidos, para divulgar para outros leitores, escritores e editoras ligadas a Literatura Fantástica, para propalar o trabalho que vem sendo desenvolvido até agora e o constante interesse do aoLimiar em oferecer um melhor serviço para promover a cultura literaria nacional.

Existem algumas formas de dar apoio a esta iniciativa efetuar seu cadastro no aoLimiar.com.br, sugerir que leitores, autores e editoras efetuem seu cadastro e divulgar através de meios eletrônicos como o Twitter, o Orkut, o Facebook e pelo seu website.

Peço, portanto, que divulguem como puderem esta carta de intenções em meu nome, em nome do Conselho SteamPunk e em nome da dotweb.

Muito Obrigado,
Bruno Accioly

22.11.10

Torre de Vigia 37

Nova resenha da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Desta vez, a avaliação foi feita por Fernando Salvaterra em seu blog Contorno. Como de hábito, vou republicar aqui o início do texto e a parte em que o resenhista se refere ao meu conto, deixando com os leitores o link para o material completo:


Steampunk, Histórias de um Passado Extraordinário brilha nas estantes como a primeira incursão brasileira publicada no gênero. Por economia de tempo e espaço, meu e do eventual leitor, essa entrada fica sem uma introdução satisfatória ao gênero. Creio que todos já toparam com essa estética que por aí abunda, em filmes e peças de arte. Qualquer curioso já foi verificar a fonte de inspiração desse movimento. Basta dizer (perdão se é a milésima vez que lê isso) que se trata de um ramo da ficção científica que lida com um passado hipotético onde a tecnologia do século XIX, alimentada por máquinas a vapor, é mais fantástica do que foi. É comum o uso de personagens clássicos da literatura daquele tempo, que já estão em domínio público. (...)

“Cidade Phantástica”, de Romeu Martins utiliza personagens de diversos autores, como Julio Verne, Sir Arthur Conan Doyle e Bernardo Guimarães. O enredo, envolvendo um prédio gigantesco, um canhão igualmente grande e uma cidade submersa na fuligem é bastante interessante. O início cheio de ação é ótimo. Só não gostei muito dos diálogos expositivos, meio artificiais, que decorrem depois.

Entrevista para a Cásper Líbero

Conforme comentei no post anterior, vou publicar aqui a íntegra da entrevista que fizeram comigo para a revista Esquinas, do curso de Jornalismo da Cásper Líbero. As perguntas foram feitas por Roberto Francisco Causo.




Como você começou a fazer parte do movimento steampunk no Brasil?


Comecei a me interessar pela produção brasileira de ficção científica em geral em 2007, quando conheci o site de fanfics www.hyperfan.com.br e descobri que entre os autores havia contistas, romancistas e dramaturgos do porte de Fábio Fernandes, Octavio Aragão, Carlos Orsi, entre outros. Até então, eu já apreciava bastante FC estrangeira, porém o que eu conhecia do gênero no país se restringia aos textos de escritores de gerações anteriores, como JJ Veiga e Ignácio de Loyola Brandão. Então fui procurar o que esse pessoal totalmente novo para mim estava produzindo, além dos contos disponíveis naquela página, e vim a encontrar as comunidades do Orkut em que eles se reuniam. Logo, passei a ler e a resenhar as obras desse pessoal para o portal www.overmundo.com.br, o que fiz durante todo o ano de 2008. No finalzinho daquele mesmo ano, entrei em outras comunidades, justamente as que faziam parte da iniciativa de divulgação da cultura steamer do Conselho Steampunk.


Como foi fazer parte da coletânea Steampunk? O que lhe fez começar a escrever steampunk?


FC tem uma capacidade de contaminação terrível, é um típico vírus memético: quem começa a ler muito, acaba querendo escrever também. Eu já havia escrito sobre FC, naquela série de resenhas que foram republicadas em meu blog www.romeumartins.blogspot.com, mas acabei também escrevendo FC de fato em algumas experiências com contos feitos despretensiosamente para outra página minha, a www.terrorcon.blogspot.com. O primeiro desses contos acabou sendo publicado na edição de estreia de um projeto de coletâneas sem temática fixa da Tarja Editorial, a coleção Paradigmas. Foi minha introdução formal nesse mundo dos escritores de ficção científica, com um conto que pode ser classificado como nowpunk, “A teoria na prática”, em 2009, menos de um semestre depois de eu ter começado a escrever ficção.

Acabou que um dos sócios daquela mesma editora, Gianpaolo Celli, entrou numa daquelas comunidades steampunk e perguntou quem ali escrevia algo do gênero. Fui dos que respondeu dizendo ter algumas ideias a respeito, apesar de não ter escrito na época ainda nada formalmente dentro do estilo. Mesmo assim, ele me convidou poucas semanas depois, bem no finalzinho de 2008, para fazer parte daquela que veio a ser coletânea pioneira do país: Steampunk – Histórias de um passado extraordinário. Receber esse convite foi uma surpresa e tanto, sem dúvida um desafio para um cara que mal tinha começado a se dar conta de que estava escrevendo textos ficcionais ter a possibilidade de ser publicado ao lado de gente consagrada, incluindo um daqueles autores que descobri via Hyperfan, o Fábio Fernandes. Para minha sorte, o processo inteiro foi muito profissional por parte da editora e do organizador e pude ainda contar com beta readers que me ajudaram bastante nesse desafio. Terminei o texto em fevereiro e em julho de 2009 o livro já estava sendo lançado.

Como entrou em contato pela primeira vez, com o steampunk?

Foi pelos quadrinhos. A primeira vez que tive a sensação de uau lendo algo a respeito foi pelas páginas da primeira edição da Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O’Neill, quando eles mostram sua versão de uma Londres Vitoriana retrofuturista. Isso foi pelas edições importadas, via Amazon, em 1999, quando havia uma saudável paridade do real com o dólar facilitando aquisições de material importado. Aquilo mexeu muito comigo, a ponto de até hoje a Liga Extraordinária estar entre os trabalhos do Moore dos quais mais gosto. E em termos nacionais, a primeira obra do tipo que li foi uma descoberta que fiz naquele citado site de fanfics, o Hypefan, e que acabou virando um romance: A mão que cria, de Octavio Aragão. Livro com fortes elementos steampunk, ele foi o primeiro da FC nacional que resenhei, na época para o site www.omelete.com.br. 

Quais você acha, que são as maiores dificuldades que tal movimento enfrenta no Brasil, atualmente, especialmente em termos de distribuição, etc?

Bem, acho que comparativamente com outros subgêneros ligados à FC o steampunk até que está bem no contexto geral. Afinal, aquela primeira coletânea não só é relativamente fácil de se encontrar em boa parte do país, pela rede de livrarias Cultura e Saraiva, incluindo suas lojas on-line, como esgotou a primeira edição em menos de um ano. Na minha opinião, a maior dificuldade está em alcançar um público ainda maior por sofrer da mesma falta de divulgação entre grandes veículos de imprensa nacionais, jornais, revistas, programas de TV, e mesmo de portais voltados ao entretenimento, como o já mencionado Omelete, que qualquer outro tipo de ficção científica feita por brasileiros.

A coletânea Steampunk recebeu uma divulgação imensa entre seus leitores que procurei registrar em um blog que tem o mesmo título de minha noveleta publicada naquele livro o www.cidadephantastica.blogspot.com. Foram dezenas de citações que saíram em páginas pessoais, redes sociais e podcasts, de forma espontânea, e resenhas feitas no exterior, por críticos do porte do americano Larry Nolen e da portuguesa Cristina Alves; além de menções no blog do escritor americano Bruce Sterling - no portal da Wired - e no blog e na versão impresa da Locus Magazine. Foi um autêntico fenômeno, comparado a qualquer outro livro de FC publicado recentemente no país. Mesmo assim, não houve espaço similar em jornais e em revistas nacionais. Em relação à TV, quando surgem matérias em programas de auditório, estão mais interessados em discutir o tipo de roupa que os fãs do gênero costumam usar em encontros do que a literatura envolvida. Acho que virar pauta na imprensa é uma das maiores dificuldades não só do steampunk, mas da literatura de ficção científica em geral. Talvez isso ocorra quando novas gerações de jornalistas, que hoje estão cursando a faculdade, cheguarem às redações.


Em contraponto, à pergunta anterior, por que acha que o movimento Steampunk está indo tão bem no Brasil e no mundo atualmente?

Naquele meu blog, eu também costumo publicar reflexões de pessoas que procuram entender esse fato. Em geral, concordo com a abordagem que no mundo hipertecnológico em que vivemos é irresistível reimaginar um tempo em que os apetrechos eram mais compreensíveis aos mortais comuns, quando engrenagens aparentes faziam acontecer a mágica que hoje se dá de modo invisível em chips. Além do que, há um charme todo especial na estética do gênero que pode ser apreciado mesmo por quem nem mesmo faz ideia de que há literatura por trás daquilo.

No mundo e em termos literários, a atual onda começou com uma coletânea organizada por Jeff VanderMeer chamada apenas de Steampunk, e foi reconquistando um espaço que parecia ter perdido entre os fãs. Isso deu fôlego para novos livros, novos filmes. No Brasil, a onda finalmente chegou para valer e encontrou uma diversidade de escritores interessados no gênero, como os reunidos na coletânea Steampunk, na mais recente Vaporpunk – da editora Draco, que traz também portugueses – e vários outros que preparam seus projetos para os próximos meses. Aconteceu então um fato muito raro: algo produzido por aqui em termos de FC encontrou ressonância com o que estava sendo consumido lá fora.

Tanto isso é verdade que as duas ondas acabaram se topando e nos dois próximos projetos de VanderMeer ligados ao gênero vai haver a presença de brasileiros que foram publicados na Histórias de um passado extraordinário. Na nova coletânea Steampunk Reloaded, ele vai apresentar aos leitores anglófonos trechos em inglês das noveletas “Breve história da Maquinidade”, do carioca radicado em São Paulo Fábio Fernandes, e “Uma vida possível atrás das barricadas”, do pernambucano Jacques Barcia. E no segundo projeto – um livro de arte que deve ser referência sobre o assunto quando for publicado em maio de 2011, a Steampunk Bible – além de entrevistas com esses dois, haverá um trecho da noveleta deste catarinense rebatizada como “Phantastic City”, em uma tradução de primeira providenciada por Fábio Fernandes. Uma honra mais do que inesperada, devo dizer.

Quais são suas maiores influências Steampunk?

Como não poderia deixa de ser, Alan Moore, em primeiro lugar. Fora do mundo das HQs, a influência vem dos diversos escritores que cito explicitamente na noveleta “Cidade Phantástica”, ou seja, o francês Jules Verne, o inglês Conan Doyle, o americano Philip José Farmer e os cariocas Octavio Aragão e Gerson Lodi-Ribeiro.

Planos para o futuro? Quais?

Tenho algumas outras histórias escritas naquele mesmo universo. O miniconto “Uderground Amazon” já foi publicado no blog de um artista plástico steamer californiano e deve ser republicado, em nova versão, em um zine. Um conto ilustrado chamado “Modelo B” deve sair numa revista on-line que está sendo preparada pelo Conselho Steampunk. E uma segunda noveleta, “Tridente de Cristo”, foi encomendada para uma nova coletânea que deve sair em 2011. Ainda no gênero, estou tentando viabilizar uma versão em quadrinhos da história que deu origem a isso tudo, a noveleta “Cidade Phantástica”, também para o próximo ano. Recebi, mais recentemente, um convite inusitado para mais uma coletânea que deve misturar steampunk com elementos de fantasia e estou, neste momento, trabalhando no texto. Fora desse mundo a vapor, há alguns outros texto ficcionais que estão sendo avaliados para outras duas coletâneas, de gêneros distintos, além de um novo livro de não-ficção sobre inovação tecnológica. 

Por favor, um pequeno currículo com seu nome completo, idade, formação, profissão e se possível, uma foto em alta resolução, por favor.

Meu nome é Romeu Manoel Coelho Martins, tenho 34 anos, sou jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Catarina. Minha especialidade é a área de ciência e tecnologia sobre a qual já publiquei um livro chamado Conhecimento & Riqueza, em coautoria com Roberto Pacheco, principal desenvolvedor da Plataforma Lattes, pela editora Instituto Stela. Na ficção, tenho contos publicados nos livros Paradigmas 1, Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, da Tarja Editorial, e vou ser um dos brasileiros presentes na Steampunk Bible da Abrams Image.

20.11.10

Torre de Vigia 36

Está no ar uma nova matéria sobre a cultura steamer que cita a coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Desta vez, a referência é na revista laboratório do curso de Jornalismo da Cásper Líbero, Esquinas. A edição número 48 dessa publicação semestral tem como tema "Arte", analisado em várias vertentes, e a atual onda steampunk acabou sendo lembrada por sua produção literária, cinematográfica e quadrinística. Neste endereço, a revista pode ser lida na íntegra, incluindo a matéria "De volta para o passado", na página 56. O artigo foi feito em parceria por Lídia Zuin, já chamada de musa do steampunk por este blog, e por Roberto Francisco Causo, filho de Roberto de Sousa Causo, um dos contistas daquela coletânea. Entre os entrevistados, estão membros do Conselho Steampunk, como Bruno Aciolly e Cândido Ruiz, o escritor americano Bruce Sterling e eu. Num próximo post devo publicar a íntegra da entrevista que enviei por email para a revista.

Tietagem a distância 2

A prova do crime, com direito ao contorno da mão do escritor e tudo. Ana Carol publicou em seu twitpic a foto abaixo, do autógrafo que Bruce Sterling deu em meu exemplar de Piratas de dados:




Além de me sacanear graças ao meu xará shakesperiano, o texano ainda deixou o contorno de sua mão junto com a assinatura no livro. Cool, man!

19.11.10

Tietagem a distância

Bruce Sterling, o homem, o mito, esteve hoje em Belo Horizonte, dando uma palestra em um evento de artes digitais. Um dos meus escritores favoritos - e não falo apenas de FC - ele, ao lado de Wiliam Gibson, é uma referência do steampunk, como tantas vezes já escrevi por aqui, por terem escrito a quatro mãos The difference engine. É também autor do meu livro cyberpunk favorito, Piratas de dados (Islands in the net), obra publicada no Brasil em uma encarnação anterior da editora Aleph.

Não resisti em tietar o cara mesmo a distância. Gostaria de ter em mãos aquele romance steampunk para lhe pedir um autógrafo, mas a mesma Aleph avisa que a produção da versão nacional está atrasada e o lançamento foi adiado para fevereiro ou março de 2011. Assim sendo, me restava tentar conseguir a assinatura dele naquele outro livro. E graças a escritora e advogada mineira Ana Carolina Silveira,  eu consegui! Ela gentilmente me conseguiu o autógrafo, como comentou em seu blog - no qual também fez um resumo da palestra, recomendo a leitura completa aqui:

Com muita vergonha (e quando eu fico envergonhada nem português consigo falar direito, quanto mais inglês) fui pedir autógrafos para meu livro e para o livro do Romeu Martins.

Expliquei para ele que tinha um amigo que morava em Florianópolis que mandou o livro para ser autografado e coisital. Ele achou interessante, autografou e dei o meu (que era um Pirata de Dados que o Romeu me presenteou pela gentileza). Ele autografou o livro e me entregou. No autógrafo, literalmente: “Might even be readable!” – Ou que faça algum sentido hoje. Eu disse que gostava mais de steampunk do que de cyberpunk, ele respondeu que o cyber tem um viés mais político. Disse ainda que a protagonista é uma mulher e que talvez eu goste por isso e que é para eu mandar um e-mail depois dizendo o que eu achei do livro :P Achei bem legal!

É bom ver que o artista não precisa prender-se à arte, pode pesquisar e desenvolver muito além dela.



Brigadão, Ana Carol! Fico te devendo essa e, assim como Mr. Sterling, espero que você aprecie o livro - que, sim, considero ainda fazer bastante sentido e talvez ainda mais depois do 11 de Setembro - tanto quanto eu.

Vapor com aroma de café 2

O primeiro evento eu anunciei aqui. Agora, meu vizinhos paranaenses realizam o segundo, no dia 11 de dezembro, dedicado ao aniversário de uma personalidade histórica muito importante para a noveleta que inspirou este blog. Vejam o cartaz, acessem o site:

18.11.10

Origami 3 - Medalhas

Vamos a mais um exemplo de dobraduras japas enviado pela Gi. Desta vez, um bom acessórios para os steamers mais militaristas. Tiradas deste site, primeiro temos uma foto do origami pronto:



E em seguida do diagrama com as dobras certas para se conseguir o efeito:



E este, também:

17.11.10

Origami 2 - Botas

Adoro quando os leitores do blog participam. No post anterior, comentei que seria legal ver mais exemplos de origami com atmosfera steamer, certo? Pois minha querida Giseli Ramos, a Cyberdecker no Twitter, outra entusiasta das dobraduras orientais, me mandou vários exemplos, que pretendo publicar aos poucos. O primeiro deles, é uma bota que serve perfeitamente para acompanhar os corset de papel de ontem. Seguem as imagens tiradas desta página.





E o diagrama:

16.11.10

Corset de origami

A dica de hoje foi capturada do twitter de Débora Aquino - quem eu conheci quando ela usava um hipnótico corset preto, aliás. Sabem aquelas dobraduras de papel, os origamis? Pois aquela técnica pode ser empregada para se fazer belezuras como as que vão abaixo:






Olívia Wolff, a dona do blog de onde tirei essas amostras de espartilhos de papel, sugeriu que eles seriam ótimos para se produzir convites de um chá de lingerie. Sem dúvida, mas conconcordam comigo que essas dobraduras também são perfeitas para um evento steampunk? Não importado o uso que se queira dar a elas, segue o diagrama postado por Olívia com o passo a passo do origami.



Alguém tem mais alguma dica legal de origami com essa mesma atmosfera steamer? Vamos ver se emplaca uma nova tag no blog sobre esse assunto.

15.11.10

O luto na Era Vitoriana

Você gosta da estética steampunk mas acha que tem marrom demais para todo lado? Acharia mais interessante se as roupas e acessórios investissem mais no preto? Pois uma boa oportunidade para compor um personagem com trajes escuros - principalmente para as damas - está dada pelas dicas elaboradas por Pauline Kisner, a Mme. Mean, em seu blog Sombria Elegância. A professora de História e maior batalhadora pelo Reconstitucionismo do século XIX - e aquém - em Santa Catarina, fez uma abrangente pesquisa sobre o luto na sociedade vitoriana. Segue um trecho do artigo e uma das ilustrações, mas a íntegra você lê aqui.


Os trajes de luto vitorianos eram dirigidos mormente às mulheres, viúvas em particular. A moda era uma maneira de isolá-las em seu momento de tristeza, como a Rainha Victoria fizera. No primeiro ano, uma mulher de luto não tinha permissão para sair de casa sem um traje completamente negro e um véu da mesma cor (weeping veil). Suas atividades se restringiam, inicialmente, à igreja. No entanto, o traje de luto era também um mecanismo de demonstrar a riqueza e a respeitabilidade de uma mulher. Algumas chegavam até a vestir os criados de luto quando o chefe da família morria. As mulheres de classe média e baixa empreenderiam grandes gastos para se adequar a esta moda. Tingir as roupas de preto e depois clareá-las novamente era algo comum. A indústria do luto se tornou tão vital para os alfaiates, que boatos eram espalhados sobre a má sorte que essa reciclagem de trajes poderia trazer. A “arte capilar” também se desenvolveu na Era Vitoriana, principalmente para permitir que os membros da família pudessem manter mementos (recordações) de seus entes queridos. Os trajes de luto eram uma parte indissociável da vida no século XIX.

Os Estágios do Luto
Na Inglaterra Vitoriana, esperava-se da viúva que permanecesse de luto por pelo menos dois anos. Essas regras eram um pouco mais flexíveis nos Estados Unidos. O luto feminino possuía uma série de estágios progressivos.

Full Morning/Luto Fechado
Durava exatamente um ano e um dia, período durante o qual a mulher usaria um traje completamente preto, liso e sem ornamentos. O ícone desse estágio era o weeping veil feito de crepe negro. Se a mulher não possuía renda própria e tinha crianças pequenas, era permitido que se casasse após esse período. Há relatos de mulheres que retomaram o preto logo no dia seguinte ao segundo casamento.

Anúncio de loja especializada em trajes de luto

Daguerreótipos em movimento

Ainda no clima do feriadão, com tempo sobrando para um bom filme? A escritora Cristina Lasaitis fez uma lista interessante de filmes de época, bastante apropriados para quem gosta da atmosfera carregada de vapor.


Espartilhos, leques, perucas, cachinhos, brocados, babados, rendas, veludos, rococós, borlas, filigranas, carruagens, castiçais, duques, condes, princesas, cortesãos, reis, ópera, pó de arroz, clavicórdios, violinos…
Para você que também é fascinado pela estética renascentista, ou simplesmente gosta de história, ou simplesmente sonha com a Madonna cantando Vogue de Maria Antonieta, ou pra você que gosta de desfrutar das mordomias audiovisuais da modernidade, elaborei esta lista top 9 de filmes da renascença:
Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988)
Direção: Stephen Frears
Baseado na obra Les Liaisons Dangereuses, de Pierre Choderlos, a versão cinematográfica com atuação brilhante de John Malkovich e Glenn Close traz uma bonita reconstrução da vida ociosa e frívola da nobreza francesa. Apresenta um duelo de sabotagem e sedução entre a Marquesa de Merteuil e o Visconde de Valmont, que não medem esforços em suas vinganças e conquistas. Um filme visualmente atraente, uma trama engenhosa e repleta de sutilezas.
*
 Continua

13.11.10

Bruce Sterling no Brasil

Já falei tanto dele neste blog, que o homem até virou uma tag por aqui. O novo motivo para voltar a escrever sobre Bruce Sterling é que o cocriador do movimento cyberpunk e do segmento literário do steampunk vai vir ao Brasil. Já no dia 19 de novembro, ele participa de um evento de arte e tecnologia na capital de Minas Gerais. Nos primeiros dias de dezembro, o compromisso é em São Paulo, em um encontro sobre design e ficção científica. Espero que o pessoal do punk cibernético e a vapor compareça para dar nossas boas-vindas ao mestre!

11.11.10

O Sr. Neves saiu do papel

Vou praticamente me repetir naquilo que escrevi no dia 25 de agosto:

Caros amigos da Malta do Vapor, estou muito feliz! A conversa com um chapa meu durante a HQCon rendeu um bônus inesperado e realizou algo que, imagino, deva ser um dos desejos de todo mundo que já descreveu algum personagem na literatura: ver sua criação tomar forma bem na sua frente. 

Pois bem, não é que o raio caiu uma segunda vez? Ou quase. Naquela oportunidade eu estava falando do protagonista da noveleta "Cidade Phantástica", o João Fumaça, que havia virado uma miniatura. Agora foi outro protagonista criado por mim, o Sr. Neves, da misteriosa organização Terroristas da Conspiração, quem saiu do papel, mas não exatamente para tomar forma na minha frente. É a voz dele que surgiu em uma adaptação radiofônica de um dos meus contos. E, caros amigos, a sensação é tão boa quanto aquela descrita acima!

Desta vez a proposta partiu de Paulo Elache, responsável pelo podcast PODespecular, sobre o qual já falei aqui mesmo, neste blog. Ele criou uma atração em seu programa muito interessante, chamada Podfiction: leituras dramatizadas de contos de literatura fantástica nacionais e internacionais. O primeiro programa da série foi dedicado à leitura de "Tempo é dinheiro", uma rara FC do escritor e quadrinista americano Lee Falk (1911-1999), curiosamente publicada na Playboy dos EUA do mês e ano em que nasci (em um conto steampunk que deve ser publicado em breve, fiz uma homenagem a esse autor, mais conhecido por ser o criador de O Fantasma). Meu conto "Apagão no tempo" é o oitavo Podfiction e pode ser ouvido aqui.

Abaixo, seguem as informações técnicas, os créditos, os links e a imagem promocional produzida para a leitura do meu conto que faz um crossover com o universo criado por Octavio Aragão. Agradeço muito a oportunidade que Elache e equipe me deram de ouvir pela primeira vez a voz de um personagem que criei em 2008! Aproveito para convidar os leitores deste espaço a fazerem o mesmo.




A leitura de hoje é do conto “APAGÃO NO TEMPO“, publicado no blog Terroristas da Conspiração, de 03 de junho de 2008.
DURAÇÃO:  ~11 minutos.



* Vitrine baseada no logotipo “PodEspecular” criado por Carlos Relva e nos logotipos “Intempol” e “BusTC”
* Apresentação: Paulo Elache
* Leitura: Tiago Andrade e Vinicius Schiavini, da Kombo Podcasts


Divirtam-se com esse crossover dos universos ficcionais “Terroristas da Conspiração” e “Intempol“.

Sobre o autor:
Segundo Romeu Martins, “uma das ideias era brincar com o Mundane Science Fiction, um movimento bastante restritivo em termos de especulações. ‘Apagão no Tempo’ deixa essa dúvida se aconteceu mesmo uma viagem no tempo – algo que os ‘mundanos‘ não acreditam ser possível de ocorrer – ou se foi apenas uma conversa de bêbado. E é, claro, uma homenagem minha ao Universo Intempol do Octavio Aragão.”
Para mais detalhes sobre o universo ficcional dos Terroristas da Conspiração, leia aqui.

10.11.10

E o ensaio virou fotonovela

No dia 13 de outubro fiz um post por aqui para comentar um ensaio steampunk realizado no Paraná:

Os daguerreótipos paranenses podem ser vistos nesta página de Miss Damballah, uma especialista em dança tribal que tive o prazer de conhecer - e a sua família - em um evento que ocorreu em Florianópolis. 



Pois os daguerreótipos em questão foram reunidos em uma fotonovela, a primeira dedicada ao steampunk do Brasil, e está disponível no YouTube, com direito a trilha sonora, ficha técnica e tudo o mais. Confira aqui Carnivale SteamPunk.

Uma coletânea de Weird West

Vamos por partes, um tiro de cada vez. Sobre a mais nova editora nacional dedicada à literatura fantástica eu falei neste post recente:

O Estronho é um site que há 15 anos, comandado por M.D. Amado, publica contos de escritores dedicados à ficção de gênero, com ênfase no fantástico. Como processo evolutivo, este espaço se tornou recentemente a mais nova editora do país, cujo slogam em sua página na internet é o provocativo "Tudo, até literatura". São várias obras já programadas e outras com chamadas para contos abertas, vale conferir.

E sobre o subgênero em questão, comentei em uma nota anterior, quando apresentei um conto republicado por aqui:

"San Juan Romero" é o que se pode classificar de Weird West, narrativa fantástica ambientada durante o período da expansão do território dos Estados Unidos rumo ao Oeste. No caso, Rita Maria optou por trabalhar com a vertente fantástica do terror neste conto que apresenta um membro de uma das famílias recorrentes em suas criações. O Weird West, assim como as Gaslight Novels, já comentadas anteriormente neste blog, formam um dos subgêneros que acabaram sendo fagocitados pelo steampunk, alimentando o imaginário dessas recriações do século XIX à luz do fantástico.

Então, da soma daquela editora com o gênero literário nasceu o projeto da coletânea Cursed City - Onde as almas não têm valor.


Para saber mais detalhes da chamada para os contos, a respeito do cenário e tudo o mais relacionado a esse livro, confira na página que foi feita especialmente para ele.

9.11.10

A Máquina Analítica de Babbage vai ser construída

Que o nosso mundo quase foi outro graças ao matemático britânico Charles Babbage (1791-1871) os leitores deste blog bem sabem. Ao projetar o primeiro computador do mundo, ainda movido ao vapor, ele esteve prestes a mudar a história dando origem a era da informática ainda no século XIX. Tanto foi assim, que a especulação sobre o sucesso daquele inventor inglês está por trás do romance escrito a quatro mãos que é considerado o principal marco do steampunk literário - e que deve sair traduzido no Brasil ainda este ano, segundo as últimas notícias que eu soube.

Mas literalmente além do papel - seja o do projeto, seja o da obra da ficção - a Máquina Diferencial Analítica de Babbage pode finalmente ter a chance de se tornar realidade. Quem me passou a notícia via twitter foi o escritor, tradutor e roteirista Sylvio Gonçalves. Uma completa reportagem do jornal português Público trouxe a notícia de que o cientista John Graham-Cummings está fazendo uma campanha para conseguir recursos e assim poder construir o projeto dos sonhos do seu conterrâneo do século retrasado. Segue abaixo o início do texto, mas vale a pena conferir a reportagem completa sobre esse inusitado caso de paleocomputação:

John Graham-Cumming não quer muito de cada um. "Peço às pessoas que assumam o compromisso de doar dez dólares / dez libras / dez euros para uma organização não lucrativa dedicada a construir a Máquina Analítica", escreveu o informático no seu blogue a 6 de Outubro. Em 29 dias, já 3691 pessoas tinham aderido à causa.

O prazo limite imposto pelo informático inglês para o sucesso deste pedido é 31 de Janeiro de 2011. Até lá, Graham-Cumming espera conseguir dez mil assinaturas e reunir 500 mil dólares para construir um computador mecânico movido a vapor, idealizado no século XIX pelo matemático e inventor inglês Charles Babbage (1791-1871). Um computador que nunca chegou a sair do papel.

Os passos da construção já estão delineados e, se o objectivo financeiro for cumprido, a obra terá que ser feita em pouco mais de uma década. "Tenho o prazo até 18 de Outubro de 2021 para terminar [a máquina]. Esse é o dia do 150.º aniversário da morte de Babbage", disse Graham-Cumming por email, ao P2. "Ele trabalhou nesta máquina até à morte, por isso seria um tributo adequado. Espero ter a máquina construída antes disso."

3.11.10

Uma coletânea de retrotecnologia medieval

Ia deixar para postar amanhã, mas a notícia é tão boa que adianto por aqui. Na verdade, são várias boas notícias. O Estronho é um site que há 15 anos, comandado por M.D. Amado, publica contos de escritores dedicados à ficção de gênero, com ênfase no fantástico. Como processo evolutivo, este espaço se tornou recentemente a mais nova editora do país, cujo slogam em sua página na internet é o provocativo "Tudo, até literatua". São várias obras já programadas e outras com chamadas para contos abertas, vale conferir.

Mas quero falar aqui de um caso específico que interessa ao gosto pelo passado fantástico deste blog. É um caso que lembra um post anterior "Um exemplo de retrotecnologia medieval" no qual comentei a respeito de um conto que envolvia ficção científica na corte do mítico Rei Arthur. Agora, temos aqui um livro inteiro dedicado a esse nicho, de uma coleção chamada Extraneus, cujo primeiro volume vem se chamar exatamente Medieval Sci-Fi. A capa é esta aqui embaixo.



No já citado site da editora, os leitores podem conferir um dos contos presentes na obra, "Dez lampejos do Muçulmano de Ferro", de autoria do fluminense Cirilo S. Lemos. O título já entrega algumas dicas: o texto foi escrito em curtos tópicos, dez ao todo, espalhados em seis páginas, verdadeiramente lampejos de uma história maior que está ocorrendo e da qual vemos apenas os fragmentos selecionados pelo seu criador. O cenário escolhido é o dos embates entre cristãos e islamitas no século XII, porém com o ingresso de um elemento fantástico que vai desequilibrar consideravelmente os rumos das batalhas. Recomendo a leitura, e caso o restante do livro mantenha tal qualidade, é uma excelente contribuição para os admiradores de obras retrofuturistas.

Damas e Cavalheiros: a Steampunk Bible 4

Meu queixo acaba de desabar. Foi com algum atraso que percebi que a coautora da Steampunk Bible, S. J. Chambers, divulgou em seu blog a capa da obra que ela organizou em parceria com Jeff  VanderMeer. Na falta de adjetivos, segue a imagem:


Como ela mesma observou, a grande inspiração obviamente veio dos livros do escritor clássico favorito deste blog, monsieur Jules Verne (1828-1905). Chambers também ressaltou que a obra deve chegar as livrarias a partir de maio de 2011 e que ela já se encontra em pré-venda pela Amazon "por um preço ridiculamente baixo". Nunca é demais lembrar que um trecho da noveleta "Cidade Phantástica" foi traduzida para o inglês por Fábio Fernandes e estará presente nas páginas por trás dessa maravilha acima.

Mais Brazilian steampunk na Tor

E a repercussão internacional do modo brasileiro de se escrever steampunk não para, agora com a inclusão de nossos patrícios, também. Em seu terceiro artigo para o site da editora Tor, na tradicional quinzena que ela dedica ao tema, Fábio Fernandes resenhou a coletânea lusobrasileira Vaporpunk, da editora Draco. No texto, o escritor e tradutor carioca ressaltou o ineditismo de o país ter gerado duas edições temáticas no prazo de um ano e ainda comentou um pouco dos bastidores daquela antologia e da sua precursora, a Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, publicada pela Tarja Editorial.

Segundo ele, os dois livros nasceram de forma independente devido a uma diferença de opinião entre os responsáveis por cada uma dessas obras. Gerson Lodi-Ribeiro, coorganizador de Vaporpunk ao lado do português Luís Filipe Silva, entende o subgênero como parta da História Altarnativa, exigindo histórias com um tamanho maior, que vai da noveleta à novela, para se desenvolver adequadamente. Já Richard Diegues, sócio da Tarja, não era tão taxativo na questão do tamanho das histórias, aceitando incluir material com a dimensão de contos no livro que pretendia lançar. Para exemplificar a divisão, Fábio Fernandes recorreu a um caso semelhante que ocorreu no mercado anglófono com duas outras antologias steamers: "Pense na Extraordinary Engines de Nick Gevers em relação à Steampunk de Ann e Jeff VanderMeer e você entenderá o que estou dizendo".

Por falar no casal VanderMeer, o artigo acaba, após feita a análise dos textos incluidos na Vaporpunk, com Fábio Fernandes lembrando seus leitores de uma notícia que já dei por aqui. O organizador da coletânea Steampunk, de sua sucessora Steampunk Reload e do livro de arte Steampunk Bible, fez o convite ao brasileiro e ao crítico e tradutor americano Larry Nolen para verter para o inglês os trechos iniciais de todas as oito histórias desta segunda coletânea nacional, de modo que eles estejam disponíveis on line para o público internacional. Uma oportunidade histórica para a ficção científica brasileira - e portuguesa - que a notoriedade do gênero steampunk trouxe.

2.11.10

Bruce Sterling e a trupe do samba de Jules Verne

Todo mundo lembrado daquele artigo de Fábio Fernandes sobre a cena steampunk brasileira que foi publicado no site da Tor e que eu traduzi por aqui, certo? Em um trecho o escritor e tradutor anotou:

Hoje, o Brasil tem nada menos que sete Lojas Steampunk algo ligeiramente semelhante na organização de lojas maçônicas - mas sem segredos e conspirações - em um país com 26 estados. O fato de todas essas lojas terem sido criadas nos últimos dois anos é um feito enorme. As Lojas não escaparam do olho sempre atento de Bruce Sterling, que tem agora e repetidamente escrito sobre elas em seu blog.

Pois os olhos de Sterling voltaram a mostrar que são atentos de verdade. O americano cocriador do steampunk como gênero literário fez um post rápido em seu citado blog chamando a atenção para o texto do brasileiro e destacando a presença de um certo escritor francês no Carnaval carioca.

Você está por dentro do steampunk, mas ainda, de alguma forma, não no Brasil? Você precisa dar uma olhada nisto.

http://www.tor.com/blogs/2010/10/from-brazil-with-steam

Especialmente a trupe do samba de Jules Verne.

Espada & Magia

Antes de mais nada, uma observação rápida: este post, escrito na manhã de um feriado, é o de número 400 do blog. Ele serve para saudar uma boa notícia: a publicação de uma coletânea dedicada ao subgênero de fantasia conhecido como Espada & Magia, uma edição que se pretende a primeira de uma série. Admito que do triunvirato fantástico, a fantasia é a que menos me atrai, ficando atrás da FC e do horror, respectivamente. Mas como leitor voraz, desde o início da adolescência, das quadrinizações que a Marvel fez do universo de Conan, criação máxima do precursor do gênero, o americano Robert E. Howard (1906-1936), este é um filão que muito me interessa. Então, feito o preâmbulo, deixem-me reproduzir um trecho da apresentação que o escritor Rober Pinheiro escreveu para o projeto do qual é um dos participantes:



Sagas, Volume 1 – Espada e Magia” é o primeiro livro de uma série de fantasia épico-medieval que a novíssima Editora Argonautas pretende lançar no mercado. A ideia do projeto é resgatar a aura dos contos e histórias fantásticas das velhas séries pulp, os famosos livros de bolso que fizeram sucesso nas décadas de 1960 e 1970. Tais histórias se tornaram conhecidas através dos trabalhos de autores como Robert E. Howard, pai das personagens Conan, Kull e Red Sonja, Michael Moorcock e o seu Elric de Melniboné e o ciclo de Lankhmar, de Fritz Leiber, só pra citar os exemplos mais recorrentes.

E para abrir esse primeiro número em grande estilo, eu e mais três autores — Georgette Silen, Duda Falcão e César Alcázar — assumimos a missão de criar histórias que evocassem esse universo de guerreiros audazes, lutas e feitiçarias. E, mesmo sendo suspeito pra falar, acho que o resultado ficou mais do que satisfatório!

Neste endereço, o leitor pode conhecer mais detalhes da obra, que deverá ser lançada no dia 20 de novembro, durante o próximo Jedicon, em São Paulo, e ainda ler um trecho do conto do escritor, "A dama da casa de Wassir". Abaixo, a capa do livro, de autoria do ilustrador americano Natham Milliner.

1.11.10

Torre de Vigia 35

Não há jeito melhor de começar um novo mês - o penúltimo do Ano do Vapor - do que com boas notícias. Como falei no tópico anterior, a equipe do site da editora Tor convidou Fábio Fernandes para colaborar com textos durante a quinzena dedicada ao steampunk que ela vem promovendo. Após o artigo anterior, o escritor e tradutor publicou ontem uma resenha completa da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, a primeira obra editada no Brasil totalmente dedicada àquele subgênero. Como passei o dia 31 de outubro praticamente todo off-line, só fiquei sabendo da boa nova nesta segunda-feira, ainda com alguns resquícios da ressaca pós-festa da democracia.

Como de hábito nesta seção do blog, vou reproduzir, com uma tradução ligeira, o início da análise e a parte em que ele se refere ao conto homônimo a este blog. Deixo com os leitores o link para ler integralmente a resenha aqui.



Desde 2008, parece que a FC brasileira finalmente começou a acompanhar a velocidade com que ela vem sendo escrita na esfera anglo-americana de ficção científica e fantasia. A culpa é do steampunk: a moda tornou-se aparentemente um estilo de vida para uma grande parcela do fandom brasileiro, e a maioria dos recém-chegados são antes de tudo steamers hardcore.


Escritores e editoras do Brasil não estavam cegos a esta tendência, apesar de todo aquele vapor: eles se adaptaram. O primeiro caso foi a coletânea  Steampunk: Histórias de um Passado Extraordinário (Steampunk: Stories from an Extraordinary Past), da Tarja Editorial, que foi publicada no ano passado e está perto de uma terceira edição. Oficialmente considerado a primeira antologia steampunk brasileira, este livro contém nove histórias curtas de autores novos e antigos do gênero no Brasil. O resultado, embora irregular, é muito interessante (...)

"Cidade Phantastica" ("Phantastic City"), de  Romeu Martins, é uma outra história da qual eu gostei muito e que vocês terão a oportunidade de ler um trecho, em breve, na Steampunk Bible, de S. J. Chambers e Jeff VanderMeer. Esta história, assim como a primeira, "O Assalto ao Trem Pagador", também começa com um assalto a trem, mas de natureza diferente: este aqui é weird steam westen, senhoras e senhores, com bala voando e muitos confrontos coloniais entre americanos, ingleses, brasileiros pelo fim da escravidão e o estabelecimento do Brasil como uma nação livre. 

 Confesso para vocês que adorei esta classificação do Fábio Fernandes: "weird steam western". Não tem jeito melhor de começar o mês e curar uma ressaca.