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10.2.12

Nova resenha das Aventuras Secretas

A primeira coletânea nacional de contos baseados no mais famoso personagem de Arthur Conan Doyle ganhou nova avaliação crítica ontem, desta vez pelo jornalista e escritor Antonio Luiz M.C. Costa, em seu blog no site da revista CartaCapital. Seguindo a tradição desta página, reproduzo o início do texto, o trecho que se refere ao meu conto e deixo os leitores ao final com o link para o texto completo.

Desde o início, o detetive da Baker Street se fez notar como um personagem capaz de ganhar vida própria, para além da vontade do autor. Em 1893, quando Conan Doyle quis livrar-se dele para se concentrar em romances históricos mais sérios e o matou em O Problema Final, fãs e editores indignados o obrigaram a ressuscitá-lo e a continuar escrevendo suas histórias. Muitos acreditaram que seus personagens realmente existiam e escreveram cartas para o inexistente endereço da Baker Street 221B.
Escrever histórias apócrifas sobre Holmes é uma tradição inaugurada em 1907, vinte anos antes da morte de Conan Doyle. Os pioneiros foram um time de escritores alemães dentro de uma série chamada Arquivos secretos de Sherlock Holmes, traduzida em francês. E desde que Holmes caiu oficialmente em domínio público, a tentação de reinventar o personagem e suas histórias tornou-se irresistível para seus fãs em todo o mundo. Inclusive no Brasil, onde a Editora Draco acaba de lançar Sherlock Holmes – Aventuras Secretas (264 págs., R$ 46,90), organizada por Marcelo Galvão, cujos contos, na maioria, valem a leitura.
A introdução, de Carlos Orsi, lembra como, em 1911, o padre anglicano Ronald Knox fez uma palestra intitulada Um estudo da literatura de Sherlock Holmes, no qual aplicava aos romances e contos publicados até então por Conan Doyle os mesmos métodos aplicados pela Alta Crítica aos Evangelhos, tratando o detetive como realmente existente e procurando, pela primeira vez, atar as pontas soltas deixadas por Doyle.

Na verdade, como está bem sinalizado ao longo do livro, a coletânea foi organizada por Marcelo Augusto Galvão em parceria com Carlos Orsi. Segue abaixo a parte da resenha que registra opiniões e informações sobre meu conto:

O caso do desconhecido íntimo, de Romeu Martins, mantém Sherlock Holmes e John Watson, mas lhes dá destinos completamente diferentes. Em vez de ser um brilhante detetive, Holmes industrializa o reagente para hemoglobina cuja invenção anunciara no primeiro romance, Um estudo em vermelho e se torna um próspero empresário. Quanto a Watson, enlouquece logo depois de conhecê-lo, delira com aventuras detetivescas que imagina viver em sua companhia e escreve os romances e contos que conhecemos até que, indigente e agonizante, é recolhido a um hospital.
Ao ler seus escritos, o médico que o atende avisa Holmes – protagonista e narrador – que visita o Watson já inconsciente, mas nada compreende. Infelizmente, nem o leitor. Nenhuma revelação interessante sobre a causa dos delírios, nenhum lampejo de inspiração sobre o relacionamento da dupla ou a natureza da loucuraem geral. Este Holmes, talvez o mais obtuso já imaginado, vê Watson como uma monstruosidade incompreensível e sem sentido. Compara-o ao homem-elefante Joseph Merrick, atendido no mesmo hospital e não mostra nem sombra da perspicácia que o tornou célebre na pena de Conan Doyle e que retorna na maioria dos contos desta antologia.
Desajeitado na forma e prosaico no conteúdo, o conto trivializa seus personagens e lhes rouba o encanto sem nada ter para dar em troca. Notam-se também alguns anacronismos: Watson recebe medicação intravenosa, prática criada só nos anos 1930 e Holmes dirige uma grande empresa de pesquisa especializada, décadas a frente do tempo. Amostra:

O jovem médico se aproximou de mim e tocou em meu ombro, fazendo o mesmo rosto que, presumo, deveria dedicar àqueles a quem era obrigado a dar notícias sobre a proximidade da morte.
– Seria tão fácil quanto falso eu dizer que posso imaginar o que sentiu ao ler aqueles textos. Creio que ninguém poderia se pôr no lugar do senhor, para saber o que se passa em seu espírito com toda esta situação tão inusitada.
Não posso negar o quanto estava confuso desde que, em meu escritório, recebera o baú repleto de papéis escritos com uma caligrafia que ficava mais errática com o tempo. Desvendar a forma, no entanto, não era mais difícil do que aceitar o conteúdo, com tudo o que dizia respeito a mim. Ou, pelo menos, a uma versão possível de mim, da minha vida, do meu passado, e até mesmo, do meu futuro…
Por isso tudo, com tamanha confusão, não me sentia à vontade para desabafar a respeito com o médico, que conheci superficialmente anos antes e de quem não ouvira falar desde então. A única coisa que me ocorreu responder foi:
– Esta parte do hospital é bem mais tranquila que o ponto onde entrei, não?
Vale dizer que, quanto aos anacronismos notados pelo autor do texto, eles são elementos próprios da ficção especulativa que permite fazer avançar situações como a criação de uma empresa especializada na área de química ou as pesquisas em relação a tratamentos intravenosos da mesma forma que ocorre com a descoberta antecipada em mais de meio século de um equivalente do nosso Luminol ou ainda a construção de toda uma ala fictícia do bem real London Hospital, onde o Homem Elefante de fato esteve internado na década de 80 do século XIX. Por falar nisso, ao contrário do que diz a resenha, no conto não é Holmes quem compara Watson àquela figura histórica, mas sim outro personagem que faz essa relação reiteradamente.

A íntegra de "Sherlock Holmes em oito reencarnações" pode ser lida aqui.

7.2.12

Primeira resenha das Aventuras Secretas

Recebi ontem por email a primeira resenha dedicada à coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, editada pela Draco. A autoria dos comentários é de Pedro Dobbin, resenhista regular deste blog e que me autorizou a postagem do texto a seguir, pelo qual já lhe deixo os meus agradecimentos e o convite a outros críticos para que também registrem suas opiniões:






Sherlock Holmes - Aventuras Secretas


Organizado por Carlos Orsi e Marcelo A. Galvão
Editora Draco, 2012, 264 páginas.

Uma coletânea de contos de Sherlock Holmes escrita por autores brasileiros. Com uma introdução ao que se chama de Grande Jogo escrita por Carlos Orsi, onde este explica de forma clara esse esporte intelectual que une pessoas do mundo inteiro na busca da “verdade” que se esconde em cada história do famoso detetive. Só essa introdução já vale a pena o livro e aqueles pouco familiarizados com a obra de Conan Doyle terão oportunidade de conhecê-la um pouco mais.

Ao final temos uma apresentação dos autores, com um desenho de cada um deles. Recomendo a leitura antes de iniciar o mergulho no restante, assim temos a oportunidade de saber um pouco sobre quem são e o que fazem cada um deles.

A aventura do americano audaz - um relato póstumo de John H. Watson, MD.
Octávio Aragão

A descoberta de documentos da família do autor trazem à luz uma história fascinante em que Watson narra uma aventura de Holmes desconhecida até o momento. Nesta aventura, Holmes tem a oportunidade de lidar com outra criação literária, dos clássicos da literatura de horror, e a forma com que a ação se desenrola é no mínimo surpreendente.

Destacam-se as referências ao cânone sherlockiano e o tom realista que o autor imprime à história. Embora pessoalmente eu tenha me surpreendido, pois os outros contos do autor que tive oportunidade de ler tinham uma ação vertiginosa e de tirar o folêgo, nesta história ele avança de outra forma, criando um clima de suspense e nos transportando ao ambiente sherlockiano com bastante realismo.

Excelente história, enredo bastante criativo e original.

Das reminiscências do Dr. Ormond Sacker, Clínico Geral
Marcelo A. Galvão

Numa realidade alternativa, Holmes irá investigar o assassinato de Watson junto com seu parceiro Sacker. Uma trama bem feita, com alguns toques de erotismo.

A aventura do falso Dr. Watson
Carlos Orsi


Para investigar a morte da esposa de Watson, Holmes se disfarça de...Watson!. Explorando a crença de Doyle no espiritismo o autor conseguiu montar uma trama envolvente e original. Excelente conto.

O caso do detetive morto
Cirilo S. Lemos


O Doutor Joseph Bell e Arthur Conan Doyle vão a Paris investigar a morte do famoso detetive Dupin. Para quem não sabe, o Doutor Joseph Bell foi professor de Doyle na vida real e muito se comenta sobre ter sido ele a inspiração para a criação de Sherlock Holmes. Quando ao detetive Dupin, trata-se da criação de Edgar Allan Poe. Muito boa história e o final é bastante surpreendente.

O caso do desconhecido íntimo
Romeu Martins

Um Holmes que não é um detetive famoso, mas um inventor, visita no sanatório ninguém menos que John Watson. Embora este não possa mais se comunicar, estando às portas da morte, a descoberta de escritos que mostram uma parceria entre os dois e sua pessoa como um famoso detetive deixam Holmes pensativo. Excelente conto, mostrando o que poderia ter acontecido se, por um motivo qualquer, a famosa dupla não tivesse tido oportunidade de se formar. Destaque para o momento em que Holmes tem uma intuição de que as histórias de Watson acontecem em outra realidade.

A aventura do penhasco dos suicidas
Alexandre Mandarino

Na primavera de 1944, ao investigar uma morte no Penhasco dos suicidas o inspetor Wells conta com a ajuda de um misterioso senhor que com seu método as vezes estranho acaba por elucidar o que de início parecia um suicídio. Destaque para as revelações ao final do conto.

Um estudo em Azul
Rosana Rios

Uma estagiária de uma delegacia paulista e seu colega de apartamento investigam uma ossada descoberta após a demolição de uma casa antiga. A estagiária parece-se, a cada parágrafo do conto, mais e mais com o nosso famoso detetive enquanto as investigações sobre a ossada levam a hipóteses que são no mínimo surpreendentes. A única participação feminina do livro é também um dos seus pontos altos. O conto é excelente e muito gostoso de ler.

O punhal adamantino do vazio
Lúcio Manfredi

Sherlock Holmes enfrenta seu pior inimigo numa aventura que parece de início ser um delírio a que foi levado nosso grande detetive, mas que acaba por mostrar algo totalmente inesperado. Nota-se a sequência de aparecimento de inimigos/amigos e a descrição dos raciocínios que, a meu ver, mais se aproxima do pensamento de Holmes no livro.

Conclusão


Oito contos, todos de excelente qualidade, os autores conhecem bem a obra do Conan Doyle e conseguiram criar histórias muito interessantes. Acredito que qualquer um que se interesse pelas histórias de Sherlock Holmes encontrará no livro uma fonte de entretenimento e prazer, os que não conhecem podem aproveitar para iniciar um primeiro contato. Não encontrei pontos negativos, exceto, uma falha de revisão na página 134 onde dois “que” aparentemente foram suprimidos.

3.2.12

Sherlock Holmes - Aventuras Secretas no Notícias do Dia

Nesta sexta-feira saiu uma matéria no jornal Notícias do Dia, ligado ao grupo RIC Record, divulgando a coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, da editora Draco. O livro que terá lançamento oficial amanhã, em São Paulo, ganhou o destaque principal do caderno de cultura do jornal, o Plural. Devo esta postagem a um quarteto de queridas profissionais: Carol Macário, que me entrevistou; Débora Klempous, que cuidou das fotos; Dariene Pasternak, que edita o caderno e pautou a matéria; e Naiara Lima, a designer que gentilmente me escaneou a página do jornal para eu poder postar aqui a reportagem "Elementar, meu caro Watson". Beijão a todas!

É só clicar na imagem abaixo ou neste link para ler.

23.1.12

Elementar, não tem?!

O título acima, que mistura o bordão mais conhecido do Grande Detetive criado por Arthur Conan Doyle com o sotaque manezinho é o mesmo da principal nota de hoje na concorrida Contracapa do caderno de cultura do maior jornal do meu estado, o Diário Catarinense. Com ela, o jornalista Marcos Espíndola divulga a coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, da editora Draco. Abaixo reproduzo na íntegra a nota que saiu com a ilustração dos contistas feita pelo editor Erick Sama.



A editora Draco encomendou a um grupo de oito notáveis autores nacionais, dentre eles o jornalista catarinense Romeu Martins, a primeira coletânea de contos brasileiros sobre o grande detetive inglês, intitulada Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. O lançamento será no dia 4 de fevereiro, durante um balacobaco em São Paulo, mas a editora abriu pré-venda em seu site (www.editoradraco.com). A publicação coincide com a estreia nos cinemas da sequência do longa-metragem Sherlock Holmes, estrelado por Robert Downey Jr. e dirigido por Guy Ritchie. Mas qualquer semelhança com a adaptação cinematográfica do personagem de Arthur Conan Doyle para por aí. Romeu Martins colabora com o conto "O caso do Desconhecido Íntimo", sendo que a organização do volume foi de Carlos Orsi Martinho (ex-editor de Ciência e Tecnologia do Estadão) e Marcelo Augusto Galvão. A ilustração em destaque apresenta os cronistas convidados, no melhor estilo steampunk.

17.1.12

Feliz aniversário, envelheço na cidade 3

Dia 17 de janeiro já é uma das pequenas tradições desta página fazer um post especial celebrando o aniversário de criação do blog. O de hoje, em comemoração do terceiro ano de atividade do Cidade Phantástica, vou dedicar ao próximo livro que vai trazer um conto meu, um projeto que me senti realmente privilegiado em poder participar. Sherlock Holmes - Aventuras secretas é a primeira coletânea nacional a trazer contos inspirados na criação mais importante de Arthur Conan Doyle, o personagem que fundamentou nosso imaginário da Era Vitoriana e que é um pioneiro nas fórmulas consagradas até hoje na indústria do entretenimento. Editada pela Draco, com capa e projeto gráfico de Erick Sama e organizada por Carlos Orsi Martinho e Marcelo Augusto Galvão, a obra traz contos de Alexandre Mandarino, Cirilo Lemos, Lúcio Manfredi, Octavio Aragão, Rosana Rios e deste blogueiro. O lançamento vai ser no dia 4 de fevereiro, na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, mas a coletânea já se encontra em pré-venda e com um belo desconto aos interessados. Reproduzo para marcar esta data, que é bem especial para mim, o trecho inicial do meu conto "O Caso do Desconhecido Íntimo", que já havia aparecido por aqui anteriormente, mas agora surge em uma versão um pouco maior. Boa leitura, obrigado pela companhia nestes três anos de blogagem.






O caso do desconhecido íntimo

Foi com ar melancólico que dispensei o cabriolé alugado, diante do hospital onde iria encontrar um homem que, esta era minha impressão naquele momento, poderia ter sido o amigo mais íntimo que jamais tive. A melancolia não dizia respeito à proximidade das festas natalinas, que se misturava ao frio enregelante do fim de tarde. Não eram as cobranças familiares, nem as movimentações das compras de fim de ano que me ocupavam a mente naquele dia. Também não era a pobreza ao meu redor, no bairro mais mal afamado de Londres. Nada disso. As sombras que me caíam sobre a cabeça nada tinham a ver com preocupações cotidianas da grande maioria das pessoas que eu conhecia.

A angústia que sentia, enquanto me encolhia dentro de meu casacão e caminhava por uma trilha até a portaria do prédio centenário, não dizia respeito ao mundo em que eu vivia, mas sim a outro, que poderia ter havido.

Passei pelo pórtico e quase fui pisoteado pelos médicos e enfermeiras que davam plantão no Hospital de Londres, em uma correria aparentemente desorganizada para atender uma ainda maior multidão de pacientes. Ali, na zona sul de Whitechapel Road, entre as explosões de violência que acometem prostitutas e marinheiros bêbados, o que não faltavam eram pessoas a serem remendadas. Já havia tido minha experiência em hospitais, mas nada que se comparasse àquilo. Por isso mesmo, tratei de ficar o mais longe possível do trajeto dos profissionais e, ao mesmo tempo, erguia a cabeça à procura de um rosto vagamente conhecido.

Preciso fazer justiça: o médico esperado não demorou a aparecer. Ele reconheceu meu sem-jeito de longe e veio em minha direção com o braço erguido, o que me fez pular do canto onde estava para saudá-lo, como faria a alguém que me trouxesse uma corda em caso de afogamento:

– Doutor Stamford, há quanto tempo não nos víamos? Desde meus dias estudando, por conta própria, nos laboratórios do primeiro hospital em que o senhor trabalhava, não?

Ele parou diante de mim antes de me responder à saudação. Por certo, estava examinando minha aparência, determinando o quanto eu havia mudado nos quase sete anos que separavam o momento da última vez em que havíamos nos encontrado. Certamente já não era mais tão magro quanto ele se lembrava de mim, minha barriga havia crescido desde que contraí matrimônio, sei bem disso.

– Muito tempo, meu caro. Pode me chamar de Phil, por favor. Como deve imaginar, passei as últimas semanas relembrando em detalhes a derradeira vez em que nos vimos.

Apertamos as mãos com força. Stamford não havia mudado tanto quanto eu, notei.

– Percebo o porquê, claro. Também não tenho pensado em outra coisa nestes dias, desde que recebi sua correspondência, Phil. Curiosamente, aquela ocasião em que nos vimos já era especial para mim de qualquer maneira, antes mesmo de eu ficar sabendo dos inesperados eventos que nosso encontro rápido provocou em seu paciente.

O doutor pareceu não entender do que eu falava à primeira vista, mas logo a compreensão surgiu em seu olhar.

14.1.12

O maior dos problemas

O ano em que mais vai se lançar material steampunk no Brasil não poderia começar melhor do que com a exibição da segunda aventura sherlockeana dirigida por Guy Ritchie; Se na época do primeiro filme, resenhado aqui, houve quem pusesse em dúvida se se tratava mesmo de um filme do gênero (ignorando, essas pessoas, a clara retrotecnologia que aparecia na obra), nesta segunda produção os personagens principais, vividos por Robert Downey Jr. e Jude Law, até mesmo usam em certo momento googles, aqueles óculos protetores que são verdadeiros ícones do estilo. Sherlock Holmes - O jogo de sombras apresenta ainda mais invenções tecnológicas a frente do tempo em que se passa a história (1891), ao mostrar a tentativa do Grande Detetive vitoriano de desbaratar os planos de seu nêmesis, o Napoleão do Crime, para antecipar a Primeira Guerra Mundial em uma geração.

O filme nada mais é que uma versão estendida e muito mais explosiva daquele conto que deveria ser o último que Arthur Conan Doyle escreveria sobre seu maior personagem. "O problema final" ao mesmo tempo introduzia o professor Moriarty como o único vilão a se ombrear com Holmes nos dotes intelectuais e mostrava a morte da dupla de opositores, despencando do alto de uma catarata suíça, para livrar o escritor do ônus de ser eclipsado por sua criação. Como todos sabemos, a reação do público e dos editores foi tamanha que não restou alternativa a não ser promover a volta do detetive consultor às páginas das revistas de contos e dos livros. Esta é a base da narrativa escolhida pelo diretor britânico para voltar a se aventurar em sua recriação do maior dos mitos da Era Vitoriana nas telas de cinema.

A escolha do antagonista, que aparecia apenas parcialmente no primeiro filme, depois de muita especulação acabou recaindo em Jarred Harris, ator conhecido por seu papel no seriado de TV Mad Men, e que consegue ficar à altura de contracenar com Downey Jr. inspirado como sempre. A interação da dupla só não é mesmo maior que a existente entre o protagonista e seu coadjuvante de luxo. Jude Law revive seu John H. Watson (agora homem casado e com o enigmático significado da inicial do meio revelado) com a química perfeita com seu colega de cena. Nas cenas que se passam em um trem metralhado, a quantidade de alusões homoeróticas entre os dois parceiros é tão grande quanto as que haviam entre Batman e Robin nos gibis pré-Era de Prata do Morcego, no típico humor escrachado das produções de Guy Ritchie.

Aquele recurso unindo flashbacks e flashfowards que tenta reproduzir a velocidade das deduções de Holmes - e agora também de Moriarty - a que chamei de thought time na resenha anterior, está de volta em grande estilo. Assim como uma versão atualizada de seu ancestral, o bullet time visto pela primeira vez na trilogia Matrix. Na sequência em que Holmes, Watson e seus informantes ciganos são alvejados em uma floresta, a equipe do filme empregou novas câmeras capazes de captar movimentos com uma precisão de experimento científico. O resultado é bem operístico, assim como o filme como um todo. Um filme ainda melhor que o primeiro e que já prenuncia um terceiro que deverá formar a melhor trilogia steamer a chegar aos cinemas.



2.1.12

Os Cronistas Sherlockianos

Para começar bem o ano, Erick Sama, da editora Draco, liberou um extra que estará presente na edição de Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Feitas pelo próprio editor, são ilustrações de cada um dos oito escritores presentes na coletânea, incluindo os organizadores Carlos Orsi e Marcelo Augusto Galvão. Estou ali, usando o meu chapéu importado de Forquilhinhas.


Legal, hein? O livro terá lançamento em São Paulo no dia 4 de fevereiro. Não percam, meus caros.

6.12.11

Sherlock Begins

Antes do recente filme de Guy Ritchie com Robert Downey Jr. no papel principal, a obra cinematográfica que apresentou as aventuras do Grande Detetive a um novo e grande público foi O enigma da pirâmide, título nacional de Young Sherlock Holmes, de 1985. Duas décadas e meia depois daquela película - que já virou um clássico nas reprises da TV aberta - chegou às nossas livrarias o primeiro livro de uma série com o mesmo nome original e a mesma proposta de mostrar os anos de formação do personagem de Conan Doyle. O Jovem Sherlock Holmes - Nuvem da morte foi lançado no Brasil este ano pela editora Intrínseca que já promete publicar também a continuação, Parasita Vermelho, e, a depender do sucesso, quem sabe as duas outras obras da série, já circulando pela Inglaterra, país natal tanto do personagem quanto do autor, Andrew Lane.

Em certos momentos tão divertido quanto o filme oitentista, a vantagem inicial deste livro que abre a série é seguir mais de perto o cânone legado pelo criador do personagem. Tanto é verdade, que Lane conseguiu as bênçãos dos descendentes de Conan Doyle para escrever sua própria versão da adolescência de um dos personagens mais conhecidos e visados do mundo. Em Nuvem da morte, vemos Holmes aos 14 anos, na década de 60 do século XIX, ainda dando os primeiros passos para domar seu cérebro privilegiado, adquirindo a gama de conhecimentos que serão tão úteis para quando ele for morar em Baker Street e se tornar um detetive consultor, vinte anos mais tarde. Para tanto, Lane criou a figura de um tutor para o jovem, controvertidamente - e, por certo, com a intenção de tornar mais viável uma possível adaptação cinematográfica de seu texto - na figura de um personagem americano. Amyus Crowe, ex-caçador de recompensas em Albuquerque, foi a quem coube tal honraria.

Do material canônico, além do protagonista, apenas seu irmão Mycroft faz uma ponta. Outros personagens estão lá para cumprir funções de criações originais de Conan Doyle. Virginia, a filha de Crowe, seria A Garota, uma espécie de prévia de Irene Adler. Matty Arnatt, que abre o livro no prólogo, mas não é o narrador (o livro é em terceira pessoa), faz às vezes de Watson. Quanto ao vilão, uma espécie de antecessor de Moriarty, prefiro não revelar o nome e estragar alguma surpresa. Mas digo que, em caso de uma bem provável adaptação para o cinema, este antagonista poderia resultar em efeitos especiais tão memoráveis quanto os utilizados em O enigma da pirâmide, filme pioneiro no uso da computação gráfica, com seus doces ambulantes e um espadachim saído de um vitral.

O plano encabeçado pelo vilão é que não é lá grandes coisas na trama. Tanto que a partir do momento em que o jovem Sherlock deduz seus detalhes, o estrategema passa a ser contestado em sua viabilidade por todos os personagens coadjuvantes. Parece mais que a ideia surgiu mais para Lane fazer uma ponte entre esta estreia não-oficial do personagem e o interesse que o criador dele imaginou que Holmes teria ao final da vida, após se retirar das grandes aventuras. E mais não digo. Porém, mesmo inconsistente, o pano de fundo serve para divertir e para mostrar como o futuro ícone da lógica se virava no início da carreira. Segundo podemos ver na interpretação de Andrew Lane, enquanto não desenvolvia plenamente seu lado Spock, o rapazinho sabia lutar tão sujo quanto Kirk.

23.11.11

Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, a capa

Acaba de ser divulgada a capa da coletânea sherlockeana organizada pelos escritores Carlos Orsi e Marcelo Augusto Galvão que é, na medida certa, linda e misteriosa. Vejam abaixo se concordam comigo:


De autoria do editor Erick Sama, esta apresentação gráfica de primeira vai embalar minha estreia como contista na Draco, pois o livro vai trazer meu texto "O caso do desconhecido íntimo". Ansioso desde já para ter o material em mãos, antecipo aos leitores que já estou sabendo que a antologia deve ganhar em breve uma resenha internacional em um importante e prestigiado site de divulgação de ficção fantástica.

11.8.11

Sherlock Holmes no rádio

Demorou, mas saiu! Marcelo Fernandes, o repórter que me entrevistou na Rádio Guarujá sobre o personagem mais famoso de Arthur Conan Doyle postou o material em seu canal no YouTube. Na oportunidade, falei sobre um evento promovido pela Sociedade História Desterrense, sobre curiosidades a respeito da criação do detetive símbolo da Era Vitoriana e também antecipei a divulgação de Sherlock Holmes - Aventuras Secretas, a coletânea que será publicada ainda este ano pela Editora Draco reunindo contos nacionais, incluindo o meu "O Caso do Desconhecido Íntimo". Ficam os links para a conversa, que foi bastante agradável: a primeira e a segunda parte.

9.7.11

Semana Sherlockiana - Final: A Sociedade

Agora a tarde estou indo para o evento que encerra esta semana temática do blog, a conversa promovida pela Sociedade Histórica Desterrense e seu Círculo Literário Cruz e Sousa a respeito de Um estudo em vermelho. Antes disso, deixo aqui um último post, com o estatuto de uma iniciativa promovida por um trio de escritores que estará presente na coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Ao publicar seu artigo sobre as vilãs brasileiras presentes no Cânone no prestigiado Baker Street Journal, Carlos Orsi Martinho foi incentivado a criar um grupo de estudos da obra de Arthur Conan Doyle no Brasil. Foi exatamente isso o que ele fez, em parceria com o outro organizador daquele livro de contos, Marcelo Augusto Galvão, e com o autor da ideia da antologia, Octavio Aragão (por sua vez, inspirado em um comentário feito anos antes por Braulio Tavares).

Então, por iniciativa dos três escritores, nasceu The Isadora Klein Amateur Mendicant Society, nome inspirado justamente em uma das vilãs brasileiras citadas, que foi apresentada ao mundo no caso "As três empenas". Adiante, reproduzo em primeírissima mão os estatutos desta honorável Sociedade, na qual, tenho a honra de anunciar, meu ingresso foi aprovado, juntamente com uma ilustração de sua patronesse, desenho de autoria de  Howard K. Elcock:


ARTIGO I

A sociedade chamar-se-á The Isadora Klein Amateur Mendicant Society. Quando conveniente, seu augusto nome poderá ser representado pela sigla IKS

ARTIGO II

Seu objetivo é discutir os textos atribuídos a James H. Watson, tratando da biografia do Sr. Sherlock Holmes, e obras de outros autores e em outros meios que porventura possam lançar luz sobre os supracitados senhores Holmes e Watson.


ARTIGO III

A direção da sociedade será exercida pelo Círculo Vermelho, composto inicialmente pelos membros fundadores. Essa atribuição é vitalícia, e só se encerra em caso de renúncia.

PARÁGRAFO ÚNICO: Os membros do Círculo poderão, à sua própria discrição e ao assinar documentos de caráter sherlockiano, sufixar seus nomes com a sigla CV. Exemplo: João Fulano, CV.

ARTIGO IV

Novos membros poderão ser aceitos, mas apenas após aprovação unânime do Círculo.

ARTIGO V

O Círculo Vermelho reunir-se-á (pelo menos) uma vez ao ano, para realizar libações em homenagem ao ilustre senhor Sherlock Holmes e a seu digníssimo biógrafo.

ARTIGO VI

Este estatuto poderá ser emendado por meio do voto unânime do Círculo Vermelho.


NOTA: Os membros-fundadores são Carlos Orsi, Marcelo Augusto Galvão e Octavio Aragão

8.7.11

Semana Sherlockiana - Parte V: O artigo

Dando prosseguimento à semana dedicada ao personagem mais emblemático da Era Vitoriana faço a chamada para um artigo que publiquei no blog da mesma editora que vai lançar ainda este ano a coletânea Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Minha segunda colaboração para aquele espaço, sendo que a primeira também dizia respeito à criação de Sir Arthur Conan Doyle (a tradução do artigo sobre as vilãs brasileiras do Cânone, escrito pelo organizador do livro de contos, Carlos Orsi Martinho), este texto veio com a intenção de esclarecer alguns pontos que volta e mexe aparecem sempre que se menciona ficção alternativa.

Este subgênero da ficção científica toma de empréstimo criações de outros autores, sempre que possível em domínio público, para dar a elas novos direcionamentos, rumos diferentes dos que os originalmente imaginados para aqueles personagens. Holmes é uma das maiores fontes para tais exercícios de reimaginação, sendo que no Brasil há pelo menos três romances em que conterrâneos nossos o utilizaram em novas aventuras passadas em nossas terras. O mais famoso deles, sem a menor dúvida, foi o do primeiro livro do humorista e apresentador Jô Soares, O Xangô de Baker Street, um de nossos raros bestsellers. Entre os aficionados da FC, também é célebre a obra O Relógio Belisário, do pioneiro do fantástico em nossas terras José J. Veiga (1915-1999). Caso menos conhecido, infelizemente, é o do livro do catarinense Raimundo Caruso, escrito ainda nos anos 80, com reedição em 1996: Noturno, 1894 - Paixões e guerra em Desterro e a primeira aventura de Sherlock Holmes no Brasil. A obra em produção pela Editora Draco inova por ser, até onde tenho conhecimento, a primeira de nosso país a trazer contos de vários autores com o personagem, prática já usual em diversos outros mercados editoriais.



Por algum desconhecimento sobre a legitimidade de tal gênero da FC, é normal ver pessoas, até mesmo dentro do fandom, onde imagina-se deveria haver pessoas mais bem informadas, contestando tal prática da reutilização de personagens alheios. Ainda mais no caso de um mito cujas histórias originais são agrupadas em um Cânone praticamente intocável na visão dos mais puristas: os mitológicos 60 textos de Conan Doyle escritos entre 1887 e 1927. Por isso mesmo, tentei escrever um artigo que questiona as obras canônicas a partir de uma dúvida que levando sobra a produção do próprio criador. Segue o trecho inicial:

Um dos personagens mais famosos de toda a história da ficção, dos mais debatidos, dos mais reinterpretados, Sherlock Holmes é um daqueles casos em que a cria superou o criador. Até mesmo contra a vontade de seu autor, sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), que tentou encerrar a carreira do detetive vitoriano com o conto “The Adventure of the Final Problem”, escrito em 1893 para a Strand Magazine, por achar seus demais escritos eclipsados pela popularidade do personagem. Como registra a história, a tentativa foi vã e Doyle se viu obrigado a atender a demanda de editores e leitores, resgatando Holmes e o restabelecendo para novas aventuras por mais uma década e meia, até bem perto de sua própria morte. Porém, o mais famoso morador do 221-B de Baker Street superou não apenas esse ato em vida do escritor, ele também continuou existindo pela pena de muitos outros autores bem além daquele que foi oficialmente o seu último romance, O Vale do Terror, de 1915.

Neil Gaiman, Michael Chabon, Henry Turtledove, Jô Soares, JJ Veiga, são apenas alguns dos inúmeros escritores que continuaram a saga do excêntrico detetive consultor para bem além do que foi originalmente imaginado por aquele que o criou, em 1887, no livro Um Estudo em Vermelho. A lenda de Sherlock Holmes está bem viva, como atestam as páginas trimestrais de The Baker Street Journal, o mais famoso periódico de estudos dedicado ao personagem e que faz uma compilação das muitas dezenas de obras que todos os anos dão continuidade àquele legado de Arthur Conan Doyle para além das mitológicas 60 histórias originalmente criadas por ele. Mas, a pergunta que eu faço é: você tem mesmo certeza de que foram apenas seis dezenas de aventuras, quatro romances e 56 contos, as imaginadas por Doyle para seu personagem mais conhecido?

Continua

6.7.11

Semana Sherlockiana - Parte III: O conto

Tive o prazer de receber o convite para participar da primeira coletânea nacional dedicada àquele que deve ser o personagem mais marcante do período vitoriano; só superado pelo prazer ainda maior de ter o conto escrito para a ocasião selecionado para fazer parte de Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. "O Caso do Desconhecido Íntimo" é, por vários motivos, um conto bem distinto daqueles cometidos por mim anteriormente, feito sem os meus truques usuais de humor, cinismo ou ação. Tão diferente que foi chamado de melancólico por um beta reader e de profundo por outra, bem escolados nas minhas histórias curtas. Dá para apontar influências claras no texto, que com menos de 5 mil palavras deve ser um dos mais curtos do livro.

Uma delas rendeu uma homenagem a um autor americano e deve ser facilmente reconhecível; outros escritores mesmo sem a citação explícita talvez possam ser percebidos, como Nicholas Meyer, outro americano; o escocês Grant Morrison; o inglês Alan Moore; o espanhol Félix J. Palma; e outros mais. Acredito que a influência mais forte mesmo para o tom assumido no conto foi o fim de um namoro, mas aí já é especulação demais e que ultrapassa as finalidades deste post. O que quero registrar é o fato de ser um texto sui generis da minha coleção e que estou verdadeiramente curioso para saber como ele vai ser recebido fora do círculo sempre confiável dos meus leitores-cobaia. Ainda mais por ele estar posicionado ao lado de escritores todos bem mais experientes que este blogueiro, dotados de um ferramental ficcional bem mais azeitado e diversificado. Para o meio desta Semana Sherlockiana, separei o trecho inicial do conto para postar por aqui.



O caso do desconhecido íntimo

Foi com ar melancólico que dispensei o cabriolé alugado, diante do hospital onde iria encontrar um homem que, esta era minha impressão naquele momento, poderia ter sido o amigo mais íntimo que jamais tive. A melancolia não dizia respeito à proximidade das festas natalinas, que se misturava ao frio enregelante do fim de tarde. Não eram as cobranças familiares, nem as movimentações das compras de fim de ano que me ocupavam a mente naquele dia. Também não era a pobreza ao meu redor, no bairro mais mal afamado de Londres. Nada disso. As sombras que me caíam sobre a cabeça nada tinham a ver com preocupações cotidianas da grande maioria das pessoas que eu conhecia.

A angústia que sentia, enquanto me encolhia dentro de meu casacão e caminhava por uma trilha até a portaria do prédio centenário, não dizia respeito ao mundo em que eu vivia, mas sim a outro, que poderia ter havido.

Passei pelo pórtico e quase fui pisoteado pelos médicos e enfermeiras que davam plantão no Hospital de Londres, em uma correria aparentemente desorganizada para atender uma ainda maior multidão de pacientes. Ali, na zona sul de Whitechapel Road, entre as explosões de violência que acometem prostitutas e marinheiros bêbados, o que não faltavam eram pessoas a serem remendadas. Já havia tido minha experiência em hospitais, mas nada que se comparasse àquilo. Por isso mesmo, tratei de ficar o mais longe possível do trajeto dos profissionais e, ao mesmo tempo, erguia a cabeça à procura de um rosto vagamente conhecido.

Preciso fazer justiça: o médico esperado não demorou a aparecer. Ele reconheceu meu sem-jeito de longe e veio em minha direção com o braço erguido, o que me fez pular do canto onde estava para saudá-lo, como faria a alguém que me trouxesse uma corda em caso de afogamento:

– Doutor Stamford, há quanto tempo não nos víamos? Desde meus dias estudando, por conta própria, nos laboratórios do primeiro hospital em que o senhor trabalhava, não?

5.7.11

Semana Sherlockiana - Parte II: A coletânea

A divulgação se deu de modo simultâneo nos blogs dos dois organizadores da coletânea, o jornalista Carlos Orsi Martinho e o advogado Marcelo Augusto Galvão: Sherlock Holmes - Aventuras Secretas. Esse vai ser o nome do livro a ser lançado pela Editora Draco reunindo contos de oito escritores - eu, incluso - dando novas interpretações à mitológica criação de sir Arthur Conan Doyle. Reproduzo parte da chamada escrita a quatro mãos pela dupla Martinho/Galvão:


Com trabalhos de Octavio Aragão (expandindo o conto apresentado na coletânea Ficção de Polpa: Crime!, da Não Editora), Alexandre Mandarino, Rosana Rios, Cirilo Lemos, Lúcio Manfredi e Romeu Martins, além de um conto de cada um dos organizadores, Aventuras Secretas expande o universo sherlockiano, aprofundando o olhar brasileiro sobre o personagem, seu criador e seu lugar na história.

Os contos vão desde mistérios ao estilo vitoriano à investigação de o que poderia ter acontecido se Holmes e Watson jamais tivessem ido morar juntos, passando pela última aventura de Holmes e a revelação de o que, afinal, o detetive conversou com o dalai-lama em sua visita ao Tibete.

O livro, projeto nascido de uma ideia original de Octavio Aragão, também marca a primeira iniciativa “oficial” do grupo de entusiastas sherlockianos Isadora Klein Amateur Mendicant Society (ou IKS, para encurtar).

E prova que, no mundo de hoje, é mais fácil organizar e publicar uma coletânea de contos de primeira linha do que reunir um grupo de amigos para tomar vinho e discutir literatura — o principal objetivo estatutário da IKS, que continua sem ser atingido.

Mas temos esperanças: quem sabe, no lançamento? Esperamos vocês lá!

4.7.11

Semana Sherlockiana - Parte I: O evento

Os próximos dias do blog devem ser dedicados ao Grande Detetive, um personagem símbolo do período vitoriano. Para começar, relembro aqui um compromisso que teremos no próximo sábado, a partir das 14h, nas Livrarias Catarinense do Centro de Florianópolis. Será um papo a respeito do primeiro romance com Sherlock Holmes, Um estudo em vermelho, de 1887, de autoria de sir Arthur Conan Doyle (1859-1930). A atividade dá a largada nos eventos promovidos pelo Círculo Literário Cruz e Sousa, da Sociedade Histórica Desterrense.



26.6.11

E por falar em Holmes...

...saiu a confirmação no site das Livrarias Curitiba/Catarinense do evento comentado aqui anteriormente:


Aproveito a oportunidade para assinar este post com iniciais que passei recentemente a ter o direito de usar e cujo elementar significado explicarei no momento adequado,

Romeu Martins, IKS

As vilãs brasileiras de Sherlock Holmes 2

Eu havia dado o toque a respeito neste post:

Vai haver um texto de brasileiro na edição de inverno de um dos periódicos mais renomados quanto à divulgação e ao estudo da obra de Arthur Conan Doyle (1859-1930). Carlos Orsi, jornalista especializado em C&T e um dos melhores escritores de FC do país, é o articulista que teve um texto aprovado pelos Baker Street Irregulars para figurar no The Baker Street Journal. O tema do artigo do paulista é, como vai se ver, do meu maior interesse: The Brazilian Villainesses  of the Canon ("As Vilãs Brasileiras do Cânone"). O Cânone, no caso, são as histórias escritas pelo criador do detetive mais famoso da literarura.


O jundiaiense fez a gentileza de me enviar o exemplar daquele periódico (que eu tive de recuperar após uma investigação sherlockiana e uma caminhada de alguns quilômetros, pois passei o número da minha casa errado para ele e o journal foi parar no outro extremo da minha rua) e eu traduzi o artigo em que ele especula sobre o passado e as reais motivações de Isadora Klein (de "As três empenas") e Maria Pinto (de "A ponte de Thor" e, por empréstimo, "Cidade Phantástica") para o recém-inaugurado blog da Editora Draco. Segue o início do texto, revisado pelo autor:


No início do século XX, Sherlock Holmes cruzou espadas, por assim dizer, com duas vilãs do Brasil: Isadora Klein, a notória femme fatale de  "As três empenas", e Maria Pinto, uma vingativa suicida e aspirante a assassina de  "A ponte de Thor". Ambas são descritas como mulheres latinas de sangue quente e foram esposas – no caso de Isadora Klein, a viúva – de ricos e poderosos homens vindos de climas mais temperados. Pouca atenção foi dada à origem de seus pares, e às circunstâncias que as levaram primeiro à Inglaterra e, de lá, ao mundo do crime.


Para ler a íntegra da tradução de "The Brazilian villainesses of the Canon", basta clicar aqui. Para conhecer minha versão do envolvimento da manauense Maria Pinto e o multimilionário americano J. Neil Gibson, só lendo a noveleta "Cidade Phantástica". Ou, quem sabe, em um futuro próximo, uma versão dela para outra mídia.

15.6.11

Círculo Literário Cruz e Sousa

No dia 9 de julho, teremos aqui em Santa Catarina um evento para celebrar a maior criação de um dos autores favoritos deste blog: Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930). A Sociedade Histórica Desterrense vai promover a estreia de seu Círculo Literário, batizado em homenagem a Cruz e Sousa (1861-1889), o simbolista que é o maior poeta de todos os tempos de Santa Catarina, com uma apresentação sobre o livro Um estudo em vermelho. Escrito em 1887, a obra apresentou aos ingleses e ao mundo um dos personagens mais conhecidos, lidos, interpretados e reinterpretados da história: o detetive consultor Sherlock Holmes. Talvez, nesse encontro, eu já esteja autorizado a divulgar alguns detalhes de um projeto da Editora Draco, a respeito desse mito literário vitoriano. Abaixo, o convite para o evento, que vai reunir os leitores interessados na livraria Catarinense, da rua Felipe Schmidt. Aguardo os amigos por lá:

4.4.11

O lado mais punk do steam

Vou citar um post aqui que chegou até mim por uma dica do divulgador de ciência Daniel Bezerra via twitter. O assunto vem bem a calhar após o incidente nuclear que atingiu o Japão após o terremoto seguido de tsunami no mês passado. Vale como reflexão a respeito de como não existem respostas fáceis quando o assunto é atender a necessidade humana de geração de energia. Em tempo, como comentei com Bezerra, este assunto me lembrou um conto envolvendo Sherlock Holmes sobre o qual comentei em outro blog: "O caso do ácido carbônico" ("The carbon papers"), escrito pelo inglês John Gribbin, publicado no Brasil pela saudosa Isaac Asimov Magazine (o exemplar pode ser baixado aqui, e eu considero esta uma autência aventura steampunk do famoso detetive criado por Conan Doyle).


Mas vamos ao citado post, escrito por Kentaro Mori do blog 100 Nexos:


smog-policeman-with-mask

Como você deve saber, há neste momento uma usina de energia no oriente lançando partículas nocivas na atmosfera, incluindo elementos radioativos, que podem causar doenças e mortes. O que todos deveriam saber é que em conjunto estas usinas já matam centenas de milhares de pessoas todo o ano. E o que todos deveriam realmente saber é que estamos falando de usinas movidas por inofensivos pedaços de carvão.

Surpreendentemente usinas movidas a carvão chegam a lançar mais radioatividade ao ambiente que usinas nucleares pela mesma quantidade de energia produzida. Inofensivos pedaços de carvão mineral contêm quantidades naturais e usualmente desprezíveis de elementos radioativos como urânio e tório. Queime o carvão transformando-o em uma fina fuligem, e a concentração destes elementos radioativos pode aumentar em até dez vezes. Multiplique isto pelas quantidades gigantescas de carvão que devem ser queimadas para produzir energia – apenas a China consumiu 3,2 bilhões de toneladas no ano passado – e ao final as doses estimadas de radiação recebidas por pessoas vivendo nas proximidades de usinas movidas a carvão são iguais ou maiores do que aquelas que vivem ao lado de usinas nucleares.

E ainda assim, tais doses são essencialmente inofensivas. O que sim mata são poluentes muito mais tradicionais.

Em 1952, uma espessa cortina de fumaça cobriu a cidade de Londres e matou 4.000 pessoas em quatro dias. Outras 8.000 vítimas morreriam nas semanas e meses seguintes. A causa não foi uma violenta catástrofe natural sem precedentes. A causa foi a fortuita confluência de eventos meteorológicos – como as familiares camadas de inversão – que fizeram com que poluentes atmosféricos fossem concentrados sobre a cidade.
Enquanto milhares de pessoas morriam, não houve pânico. A cidade que conheceu primeiro tantos dos problemas de megalópoles modernas já havia sofrido com “smogs” anteriores, ainda que este fosse particularmente intenso e incômodo. As vítimas fatais foram indivíduos já fragilizados, como bebês e idosos, ou pacientes que já possuíam problemas respiratórios. Foi apenas ao compilar estatísticas que esta tragédia silenciosa tornou-se clara, motivando legislações como os Clean Air Acts em 1956 que restringiriam a poluição atmosférica.

Tragédias similares deixaram de ocorrer em Londres, mas a poluição atmosférica ainda é uma das principais causas de morte no mundo. Estima-se que tenha sido a causa de morte de meio milhão de pessoas na China apenas no ano passado.

Enquanto milhões morrem, não há pânico.
É assim que o mundo acaba. Não com uma explosão, mas com um suspiro”TS Elliot

25.1.11

As vilãs brasileiras de Sherlock Holmes

Vai haver um texto de brasileiro na edição de inverno de um dos periódicos mais renomados quanto à divulgação e ao estudo da obra de Arthur Conan Doyle (1859-1930). Carlos Orsi, jornalista especializado em C&T e um dos melhores escritores de FC do país, é o articulista que teve um texto aprovado pelos Baker Street Irregulars para figurar no The Baker Street Journal. O tema do artigo do paulista é, como vai se ver, do meu maior interesse: The Brazilian Villainesses  of the Canon ("As Vilãs Brasileiras do Cânone"). O Cânone, no caso, são as histórias escritas pelo criador do detetive mais famoso da literarura. A análise de Orsi foi sobre a vilã descrita desta forma pelo inseparável Watson:



Apresentava um ar tão brejeiro, tão fora do comum, exibindo ali diante de nós seu sorriso de desafio, que me pareceu que, de todos os criminosos de Holmes, era aquele o que ele acharia mais difícil de enfrentar.

Vou citar o próprio Orsi em seu novo blog, dedicado principalmente à divulgação científica:

Meu artigo faz parte daquilo que os aficionados por Holmes chamam de "O Grande Jogo" -- uma espécie de Role Playing Game acadêmico onde os autores fingem que os 56 contos e quatro romances estrelados por Holmes não são fruto da imaginação de Sir Arthur Conan Doyle, mas sim fragmentos das memórias de um homem real, o médico John H. Watson, a respeito de outro ser humano de carne e osso, o Sr. Sherlock Holmes.

O que torna o "jogo" divertido é o fato de os textos de Doyle estarem repletos de contradições, erros e imprecisões. O ferimento à bala sofrido por Watson durante a guerra no Afeganistão, por exemplo, aparece às vezes no braço, às vezes  na perna; Holmes diz ter escapado da morte em 1891 usando uma arte marcial que só foi inventada em 1898;  as regras do turfe usadas no conto Estrela de Prata simplesmente não são as regras verdadeiras das corridas de cavalo; e assim por diante.

(Meu artigo trata de demonstrar, entre outras coisas, como Isadora Klein, a vilã brasileira de As Três Empenas, pode ser membro de uma família "de conquistadores espanhóis que são líderes de Pernambuco há séculos".)

Uma curiosidade para os leitores brasileiros é que, se dependesse apenas da tradução mais conhecida do conto por aqui, não seria possível saber que a personagem em questão é nossa conterrânea. Tudo por conta da intenção de corrigir aquela informação que virou tema do paper de Orsi. Se não, vejamos, no original está escrito:

Exactly! But does the name Isadora Klein convey nothing to you? She was, of course, the celebrated beauty. There was never a woman to touch her. She is pure Spanish, the real blood of the masterfui Conquistadors, and her people have been leaders in Pernambuco for generations. She married the aged German sugar king, Klein, and presently found herself the richest as well as the most lovely widow upon earth. Then there was an interval of adventure when she pleased her own tastes. She had several lovers, and Douglas Maberley, one of the most striking men in London, was one of them.

na tradução de Hamílcar de Garcia ficou assim:

Sem tirar nem pôr. Mas o nome de Isadora Klein não lhe sugere nada? Ela foi sem dúvida uma famosa beldade. Não havia mulher que com ela competisse. É espanhola da gema, do sangue real dos poderosos conquistadores que dominaram as Américas durante várias gerações. Isadora desposou o idoso alemão Klein, rei do açúcar, e pouco depois era, ao mesmo tempo, a mais rica e a mais linda viúva da terra. Houve então um intervalo de aventura durante o qual ela satisfazia todos os seus gostos. Teve vários amantes, e um deles foi Douglas Maberley, um dos homens mais belos de Londres.

Então, o artigo de Carlos Orsi  pode ter essa dupla função: apresentar a muitos leitores de Sherlock Holmes a verdadeira nacionalidade de uma personagem que o preciosismo editorial brasileiro ocultou e ainda dar uma explicação possível para um aparente erro de Conan Doyle. Por isso mesmo, ele merece parabéns duplos! Mas como falei no começo do post, este é um assunto que me interessa há tempos. O que pode ser demonstrado por este tópico no Orkut em que discutimos o tema em novembro de 2006. Foi exatamente ali que tive meu primeiro contato com os escritores brasileiros de ficção científica e, como deve notar quem leu a noveleta, foi onde surgiu pela primeira vez o embrião de "Cidade Phantástica", na qual me apropriei de outra brasileira criada pelo pai de Sherlock Holmes.