Ao conto, primeiro. Trata-se da continuação de "Harold Spencer, o homem que nunca chegou ao front", de Heitor Serpa, dentro do cenário de Steamage:
–Chegamos, finalmente – polido em sua seriedade, Wesley se empertigava antes de dar ordens ao grupo. Por dentro, impossível descrever seu alívio – Asher, esta missão é sua. Eu e o ministro Faber temos de explicar melhor os nossos motivos para a Casa...
A moça oculta pelo capuz ia avisar algo, mas foi barrada a meio caminho pelo corpo do secretário sênior:
–Que tal irmos aos seus superiores? Meu novo soldado vai precisar de alta.
***
No interior mais profundo do asilo, numa ala onde poucos desejariam caminhar, havia um quarto tingido de azul, composto de duas camas e nada mais. Quaisquer suportes ou aparelhos que pudessem afirmá-lo como um ambiente hospitalar inexistiam, exceto uma bandeja móvel na qual se observava uma refeição ainda não tocada. O local, como o resto de todo aquele setor, era apenas luz e silêncio. Luz, dos janelões escancarados e corredores abertos para jardins de flores brancas, e o silêncio dos que nada tinham a dizer. Luz e silêncio, para os moribundos que aguardavam a morte sem a chance de lutar.
Uma das camas foi desocupada na última semana, esperando seu novo cadáver em potencial com a sede estampada nos lençóis; a outra continuava a guardar um homem delirante, deformado de tão magro, cabelos desgrenhados em um tom sujo e com um odor putrefato exalando dos poros. Quem o visse naquele estado, de olhos fechados e sem respiração aparente, o julgaria como morto... No entanto, bastou a sombra de alguém entrando no quarto para despertá-lo. Do outro lado, encarando a figura decrépita de Harold Spencer, Asher suspirava de alívio. As coisas que vira no caminho o fizeram temer pelo pior...
Continua.
E o artigo de Alexandre Lancaster dá aos interessados uma ambientação relacionada ao tema de seu mangá Expresso!, em vias de produção para o almanaque Ação Magazine: o mundo dos jovens inventores, um autêntico subgênero dentro do steampunk:
Trens, rádios, iluminação artificial. Barcos a vapor, dirigíveis, carros. A tecnologia abriu novos caminhos ao ser humano durante a segunda metade do século dezenove – e mudaria não só a vida, mas o comportamento das pessoas que se deixaram envolver com ela. Uma máquina não era mais apenas uma geringonça. Era uma revolução na vida de todos os que a tinham ao seu alcance. Nada mais seria o mesmo. Em nenhum campo.
Para que ir à ópera se você pode trazer a ópera para dentro de casa? Para que fustigar um cavalo para uma viagem de dias quando os trens fazem o mesmo em poucas horas? Por que percorrer o oceano através de correntes marítimas quando se pode voar em linha reta? Isso tornou a ciência e tecnologia – e aqueles que as dominam – populares e de ponta. O casal Curie passaria a ser convidado para grandes eventos sociais graças à descoberta da Radioatividade. Santos Dumont era parte do grande círculo social da Paris na Belle Époque. As invenções pareciam se suceder em massa, da mais revolucionária à mais fútil, e todos os jornais pareciam documentar as novas criações que mudariam a vida da humanidade.
Inventores se tornaram figuras pop no imaginário do seu tempo, e não à toa, setores conservadores tentaram de todas as formas deter os avanços do pensamento racional e científico na forma em que as pessoas enxergavam o mundo. Um livro como A Origem das Espécies, de Charles Darwin, apresentando a vida como uma grande luta por evolução e sobrevivência, e desafiando os cânones religiosos, era exatamente aquilo que os mais conservadores não gostariam de ver como influência para os seus filhos. Mas foi isso o que ocorreu: essa postura atrairia a juventude com força, e lhes deu a certeza de que o futuro poderia ser feito por suas mãos. Era a evolução da humanidade, feita pelos que não aceitavam um discurso bovino de humildade – nas mãos de uma nova geração que tinha as armas para essa mudança e crescimento em suas mãos. Conhecimento. Técnica. Máquinas.
Os Jovens Inventores surgiram – e lançaram seu desafio para o mundo.
Continua.
E por enquanto é isso, volto assim que puder, ao meu PC - o popular HAL 1,99 - e ao meu blog. Boas leituras!