Antes de mais nada, devo dizer que meu contato inicial com a obra de Alexandre Dumas - e uma de minhas memórias televisivas mais antigas - foi com uma animação do início dos anos 80 na qual D'Artagnan, Athos, Portos e Aramis eram cães de diferentes raças. Então, apesar de muito gostar da prosa do autor francês não tenho o mesmo apego purista que o de vários outros de seus fãs. Sendo assim, a mais nova superprodução a levar Os três Mosqueteiros ao cinema repleta de liberdades e modernizações, não me desagradou a princípio. E depois de ver o filme, em que parece que a intenção foi fazer um mashup com o outro escritor gaulês a concorrer em termos de popularidade com Dumas, Jules Verne, devo dizer que sai bem mais satisfeito da sala escura do que esperava. Gostei bastante da reinterpretação retrofuturista feita pelo diretor Paul W. S. Anderson e encabeçada pelos atores Logan Lerman, Milla Jovovich, Matthew Macfadyen, Ray Stevenson, Luke Evans, Mads Mikkelsen, James Corden, Juno Temple, Orlando Bloom, Christoph Waltz.
Só pela listagem dos profissionais envolvidos já dá para se ter uma ideia de quais as intenções por trás de mais esta transposição cinematográfica do clássico da ficção histórica. Com tanta gente vinda de franquias estabelecidas (ou que tentaram se estabelecer) como Resident Evil, Percy Jackson, 007, Piratas do Caribe, Besouro Verde é bastante evidente que a aposta é dar início a uma nova série de filmes unindo ação, aventura, humor, romance para toda a família. E como aconteceu com o recente Sherlock Holmes de Guy Ritchie, tal aposta passa por um investimento no tema que é mais caro a este blog: invenções tecnologicamente avançadas no passado que dão novos rumos à vida de personagens conhecidos. No caso deste filme, a retrotecnologia remete diretamente à quintessência do clockpunk, pois aquele dirigível já visto por todos nos trailers parte de ideias resgatadas dos arquivos de Leonardo da Vinci. A sequência inicial é justamente em Veneza, na ocasião em que os Mosqueteiros, então ainda em número de três, tentam chegar aos projetos do mestre renascentista em nome da França antes que o Duque de Buckingham o faça pela bandeira da rival Inglaterra.
Quando mais tarde o jovem gascão D'Artagnan se reunir ao grupo os acontecimentos já estarão alterados por essa corrida armamentista encabeçada pelos coroados Luis XIII e Jaime. Tanto que da obra literária original pouco resta, apenas alguma semelhança na sequência em que o novato interiorano chega a Paris e logo vai desafiando um a um os Mosqueteiros, sem saber quem de fato eram, para duelos no mesmo dia. A recriação, portanto, é bem radical, devendo afastar os mais fieis ao texto de Dumas, mas talvez com potencial para agradar novas audiências para um filme que se pretende explicitamente ser apenas o primeiro de uma série. Mais não fosse pela dica do diretor e do elenco, a cena final é bem clara a respeito disso. E essa ânsia acaba cobrando um preço no ritmo do primeiro filme que não apresenta por completo todos os personagens que são nominalmente protagonistas (apenas Athos e D'Artagnan têm algum destaque). Na verdade, os vilões recebem bem mais destaque na trama escrita por Andrew Davies e Alex Litvak, sendo que eles são bem numerosos, um para cada membro do quarteto dos mosquetes.
Outro problema básico no roteiro da dupla acontece em uma das batalhas aéreas. Difícil de acreditar que soldados experientes não desconfiem que, em relação ao citado dirigível, basicamente um navio de madeira elevado aos céus por um balão, o alvo principal da artilharia deve ser justamente aquele que também é o mais fácil de acertar. Ou seja, mirem os canhões no frágil, desprotegido, inflamável e enorme balão, meus caros.
Sendo vendido já no título pelo uso da tecnologia 3d, esta nova produção tem um capricho maior que o da maioria dos filmes com atores que utilizaram o recurso desde o lançamento de Avatar por James Cameron. Não que Anderson ouse muito neste aspecto, pois novamente a tridimensionalidade se resume aos objetos jogados na direção do público. Porém, o problema com a iluminação, grande alvo de crítica em relação a esse modismo, parece ter sido resolvido. Nada de imagens escuras aqui, ao contrário. Há exuberância nos detalhes das roupas e da recriação arquitetônica nos cenários que estão tão nítidos para os olhos de todos que dificilmente a Academia deixará de premiar a obra com alguns Oscar técnicos em categorias como figurino e desenho de produção.
2 comentários:
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Que pena não termos tido a oportunidade de ver os bravos franceses desesperadamente defendendo sua terra natal contra os invasores ingleses :(
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