31.8.10

Um presente inesperado

Olhem só o que o carteiro me entregou no meio da tarde:



Trata-se do livro de estreia S.M. Peters, declaradamente inspirado e dedicado a um dos favoritos desta casa, Alan Moore. Whitechapel Gods, pelo que pude ler rapidamente hoje, é um autêntico romance steampunk, misturando à realidade vitoriana do bairro onde agiu Jack, o Estripador estranhas entidades, como Mama Engine e Grandfather Clock. O livro chegou até mim graças ao advogado e escritor Marcelo Augusto Galvão, responsável por um blog que faz parte da Malta do Vapor, ali ao lado. E de quem pretendo voltar a falar aqui quando o carteiro me trouxer a coletânea Imaginários 3 - que encomendei na Saraiva no final de julho - onde foi publicado um conto dele (que já li, em 2008, e recomendo). Mas falo mais a respeito quando tiver a obra em mãos. Obrigadão, Galvão!

FC, não futurismo

Eu tinha comentado a inauguração da Loja Goiás do Conselho Steampunk mas tinha me faltado tempo para acessar o site dela. Felizmente reparei essa falta hoje e pude encontrar lá um artigo de Rafael Camargo que me fez lembrar de uma frase do escritor - inclusive de FC - Braulio Tavares, citada numa reportagem da revista das Livrarias Cultura em 2008: “O objetivo da ficção científica não é prever o futuro, assim como o objetivo da literatura policial não é provar que o crime não compensa”. Bem pertinente para quem aprecia o retrofuturismo.


As famosas cartas de tarô compõem um baralho de 78 cartas e faziam parte de um antigo jogo criado no norte da Itália entre os séculos XV e XVI. Os tarôs passaram a ser utilizados na previsão do futuro a partir do século XVIII. Aparentemente, os tarôs não possuem nenhuma ligação com a ficção científica, porém, não é o que dizem os cientistas…

Em 2001, a revista Galileu publicou uma matéria um tanto curiosa. Tratava-se nada mais nada menos que uma discussão sobre o fim da ficção científica. E explicações foi o que não faltaram aos cientistas, os reais defensores deste pensamento. Segundo estes pesquisadores, a ficção científica está perdendo seu fôlego, pois não é mais possível prever o futuro como se fazia antigamente. Isaac Asimov falava de uma espécie de biblioteca mundial onde todos poderiam contribuir para a formação de seu conteúdo. Asimov acertadamente previu o que hoje conhecemos como Wikipédia. Com o passar dos anos essas previsões foram acabando e de acordo com os cientistas a ficção científica não será mais capaz de prever o futuro. Afinal, um escritor pensa em uma idéia sobre a existência de uma sociedade com tecnologia “X” nos computadores. Em seguida, o autor começar a desenvolver a sua história e personagens e, ao seu término, procura uma editora para avaliar e decidir se publicará sua obra. Até que todo esse processo citado ocorra, os cientistas ao descobrirem a tecnologia “X” existente nos computadores isto chegará em questão de segundos ao público devida a velocidade dos meios de comunicação. O exemplo citado prova nos dias de hoje é impossível a ficção científica prever o futuro. A pergunta que fica é: estaria realmente a ficção científica com seus dias contados? Continua

30.8.10

Convescotes pelo país

Camaradas, virou uma tendência! Estou sabendo de três convescotes vitorianos a serem realizados nos próximos dias em nosso país.

Em Florianópolis, no feriado de 7 de Setembro



Em Curitiba, no dia 10 de outubro



No Rio de Janeiro,  no dia 16 de outubro.


Boas festas!

Espaço para o Cyberpunk, também

Se há alguma coisa melhor que ser publicado em um fanzine ao lado de fotos de modelos trajando apenas máscaras de gás esqueceram de me avisar. E é exatamente isso o que aconteceu comigo ao participar da mais recente edição do zine Overclock, sobre música, cybercultura, HQ, fotografia e ficção científica. No número 5 da publicação, divido páginas muita gente boa do cenário brasileiro - e até internacional - do cyberpunk. Minha parte foi uma resenha do romance Cyber Brasiliana de Richard Diegues, um ótimo exemplar nacional do chamado pós-cyber, e a republicação atualizada de meu primeiro conto, "A teoria na prática", narrativa que pode ser classificada como nowpunk. Fábio Fernandes traduz um conto até então inédito em português de Richard Kadrey, "O jardim magnético"; Rodolfo Londero faz o mesmo com uma entrevista ficcional de Bruce Sterling com Raymond Chandler (1889 -1959) e ainda registra uma conversa não-ficcional que teve com Fausto Fawcett. Outro escritor e tradutor, Alexandre Mandarino - que vai ser o responsável pela versão em português de Perdido Street Station - anunciou seu projeto de revista trimestral bilíngue a Hyperpulp (já mandei minha colaboração para ser avaliada).



Ainda em termos de ficção, Dionea Sig Sauer colabora com "Sexus 6", um miniconto classificado como ponopunk, e Max e Edson F. com a HQ "Tour de France". O editor Wandeclayt M. participa com notícias sobre a cena musical, a resenha de Os dias da peste, do já citado Fábio Fernandes, e, claro, as tentadoras fotografias fetichistas de suas musas. Tudo isso pode ser acessado em vários formatos, da leitura on line ao .PDF, pelo blog do zine. Edições anteriores também estão disponíveis, incluindo a número quatro, que também conta com uma resenha minha (e outras fotos de gaúchas usando apenas suas inseparáveis máscaras de gás).

29.8.10

Vem Dieselpunk por aí

Este final de semana ocorre em São Paulo a quarta edição da Fantasticon, o maior encontro nacional de escritores e fãs de ficção fantástica. Infelizmente não pude ir à capital paulista para participar do evento, mas graças ao twitter estou me sentindo um pouco mais próximo dos acontecimentos, já que Edgard Refinetti faz uma competente twittagem ao vivo das palestras e mesas-redondas. Graças a ele, fiquei sabendo de duas interessantíssimas declarações de Gerson Lodi-Ribeiro em sua apresntação sobre História Alternativa. O escritor e organizador da coletânea Vaporpunk, que teve seu lançamento oficial hoje, durante aquele encontro, se referiu à noveleta "Cidade Phantástica" e ainda anunciou uma ótima novidade para o próximo ano.

EdgardSFp .@fantasticon - Ele acredita que "Cidade Phantástica" de @romeumartins é a história steampunk brasileira com mais características de HA.

EdgardSFp .@fantasticon - Gérson anuncia para 2011 o lançamento de "Dieselpunk - porque o vapor não é sujo o bastante" pela @editoradraco.

Será 2011 o Ano do Diesel? Quem viver, verá!


Upgrade: Gerson Lodi-Ribeiro escreveu sobre sua participação em dois dos três dias do Fantasticon em seu blog.

Upgrade 2: Ele também avisou que em breve saem as guidelines da coletânea e divulgou, nos comentários do blog, um endereço para baixar a apresentação em PowerPoint que teria feito no encontro, caso não tivesse dado um problema técnico na hora. Fiquei feliz ao constatar que Lodi-Ribeiro registrou minha noveleta "Cidade Phantástica" entre uma das grandes tendências de História Alternativa brasileira: a de Impérios Alternativos.

Meu texto aparece ao lado de "Não Mais", de Carlos Orsi; "Folha Imperial", de Ataíde Tartari; "Primos d'além mar", dele próprio no livro A República nunca existiu!; "A Fazenda-Relógio", de Octavio Aragão; e "O dia da besta", de Eric Novello, estes presentes na recém-lançada Vaporpunk. Estou bem acompanhado, ou não?

28.8.10

Damas e Cavalheiros: a Steampunk Bible

Com um prazer incomensurável eu anuncio por aqui uma novidade que me enche de orgulho e alegria. Jeff VanderMeer teve a primazia da notícia em seu blog, o Ecstatic Days. Nada mais justo. Afinal, ele é o grande responsável pela obra em questão. O escritor e editor americano, organizador de coletâneas de repercussão internacional sobre Steampunk e New Weird, acaba de mostrar ao público as provas de seu mais novo projeto, um autêntico e luxuoso livro de arte. E, sim tenho a honra de estar naquelas páginas ao lado dos escritores Fábio Fernandes e Jacques Barcia, com quem já havia dividido espaço na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, e ainda com criadores do porte de Jess Nevins, Libby Bulloff, Bruce Sterling, Desirina Boskovich, Jake von Slatt, Rick Klaw entre muitos outros.

A obra em questão é a Steampunk Bible, um tomo que foi planejado para ser uma referência à cultura steamer em diversas vertentes, da moda à literatura. Escrita por VanderMeer em parceria com S. J. Chambers, o livro deverá ser oficialmente lançado em maio de 2011 pela prestigiada editora Abrams Image, especializada em livros de arte desde 1949. O anúncio de que o projeto estava em andamento surgiu há exatamente um ano, numa nota do dia 27 de agosto de  2009. O que foi postado hoje ainda é um material sujeito à aprovação, com algumas fotos em baixa resolução e detalhes a serem modificados. Mas já dá para se ter uma excelente ideia do que está por vir.

E entre as atrações da Bíblia Steampunk há o já comentado material brasileiro. Tanto o carioca Fábio Fernandes quanto o pernambucano Jacques Barcia foram entrevistados por Jeff VanderMeer e o resultado dessas conversas estará registrado na obra. Bem como um excerto de minha noveleta de mesmo nome deste blog. Com a tradução de Fábio Fernandes, os leitores vão poder conferir um trecho da rebatizada "Phantastic City". Este fato foi destacado pelo próprio organizador com a foto abaixo e o seguinte comentário:

Fãs brasileiros de steampunk ficarão excitados com o capítulo sobre o Futuro do gênero, que não só apresenta a capa da antologia steampunk brasileira, como traz ainda um trecho exclusivo e traduzido de uma das histórias publicadas nela (obrigado, Fábio Fernandes!).


Amigos, sejam sinceros: o que eu posso dizer além de repetir essas últimas palavras? Thanks, Fábio Fernandes! Thanks, Jeff  VanderMeer!

26.8.10

Novo projeto de HQ steampunk

A torcida por boas novas pelo jeito deu certo. No dia 13 de julho escrevi por aqui:

Nem sempre é possível dar boas notícias por aqui e é o caso desta nota. Estevão Ribeiro, quadrinista criador da tira Os Passarinhos, anunciou em seu blog o adiamento de um projeto steampunk ligado àqueles personagens emplumados. Eu havia comentado sobre a graphic novel A peça que move o mundo por aqui, mas o autor decidiu deixar o conceito em hibernação (...)

Aquele projeto ainda está hibernando, esperando o momento certo de vir à tona. Mas há sim uma boa nova, conforme ficamos sabendo pelo blog de uma ótima desenhista que, como vocês vão ver, acompanho há tempos, a Dandi. Ontem, ela publicou por lá a seguinte nota e ilustração:

Fui convidada pelo Estevão Ribeiro a participar de um novo projeto, onde eu desenharei tirinhas para seus roteiros de uma história Steampunk, e já sou familiarizada há alguns anos com o gênero...

Este é apenas o rascunho de uma das personagens, Nicolette Thierry, a francesa negra que entende de máquinas a vapor e armas.


Ainda tenho outras personagens a trabalhar, mas só Nicolette nasceu no momento que a conheci XD Acho que é porque acho muito mais legal criar mulheres de largos quadris e muitas curvas... rsrs

Legal, não? E ela não está exagerando quando diz que é familiarizada com a cultura steamer. Veja este post do ano passado que Dandi publicou no mesmo blog


Eu admito, tenho muita coisa aidna pra incluir neste blog, mas acredito que estou mais preocupada em criar mais coisas novas agora.

O trabalho a seguir foi criado para o concurso Myths and Legends da CGSociety, com o tema Steampunk. Não cheguei perto de vencer, mas ao ver os vencedores pude visualizar onde quero chegar em qualidade de trabalho... no entanto gostei do resultado de meu trabalho também. Como sempre, para o alto e avante!


Bem legal, também, né? Clicando no link vocês vão poder notar que eu já havia comentando a ilustração na época em que foi postada por lá. Parabéns a Dandi e ao Estevão e que venham mais quadrinhos steampunk por aí!

25.8.10

João Fumaça saiu do papel

Caros amigos da Malta do Vapor, estou muito feliz! A conversa com um chapa meu durante a HQCon rendeu um bônus inesperado e realizou algo que, imagino, deva ser um dos desejos de todo mundo que já descreveu algum personagem na literatura: ver sua criação tomar forma bem na sua frente. O publicitário Fernando Pascale foi convidado pela organização daquele evento para expor aos fãs de quadrinhos suas criações, os minibonecos artesanais Superfakes. Como vocês podem conferir no site dele, as miniaturas são inspiradas em diversas fontes, na música, no cinema, na história e, claro, nos gibis. Perguntei a ele se não haveria no catálogo algum personagem steampunk, ou que remetesse ao século XIX. Foi daí que veio a proposta: por que eu não sugeria um personagem? Afinal, ele também aceita encomendas e faz minibonecos de acordo com as especificações da freguesia. Em troca, Pascale me cederia o resultado para sortear por aqui.



Bem, não tive como resistir à tentação. Como eu poderia perder a chance de ver o protagonista da noveleta "Cidade Phantástica" sair do papel? Então voltei a entrar em contato com o Pascale e passei uma descrição do meu agente da Polícia dos Caminhos de Ferro, João Octavio Ribeiro, vulgo João Fumaça. Para minha sorte, de modo a ajudar o rei dos minibonecos a visualizar o dito cujo, eu contava com o desenho feito pelo Tiburcio para ilustrar o conto "Modelo B" - ainda inédito, mas que em breve deve sair em  uma revista on line steampunk:



Tendo a arte do Tiburcio como exemplo, Pascale passou a planejar o Superfake exclusivo, projeto pioneiro dele neste mundo steamer. O primeiro passo foi fazer um rascunho. Como podem deduzir, vendo o material que ele me mandou, eu ainda não tinha muitos motivos para ficar entusiasmado com as possibilidades do projeto.


Felizmente, o cara é bem melhor de escultura que de desenho. Então, a remessa seguinte de fotos já voltou a me trazer esperanças. Abaixo, ainda inacabado, um flagrante do Mr. John Steam no ateliê do Pascale, em Florianópolis.



Se eu já estava de novo feliz e empolgado com um Superfake exclusivo e baseado no meu personagem, tentem imaginar o que eu senti quando vi a criatura finalizada, com todos os detalhes e ainda a mais que massa embalagem que é um espetáculo à parte. Percebam a ilustração do Tiburcio na lateral da caixa e a capa da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário ao fundo.



Vontade de deixar o Mini João Fumaça em minha estante... Mas promessa é dívida. Então daqui a um mês, no dia 25 de setembro, vou sortear essa belezura para um dos leitores do blog Cidade Phantástica. A ideia é que os interessados me ajudem a divulgar o sorteio pelo Twitter repassando a frase a seguir:

Para ganhar o @superfakes que o @romeumartins está sorteando, dê RT e deixe um comentário com sua identificação aqui http://bit.ly/bPSoeM

Sim, cada comentário - ou melhor, cada comentarista -  neste post vai virar um papelzinho que será inserido num chapéu e o felizardo que eu sortear vai receber, em qualquer lugar do Brasil, o Mini João Fumaça em sua embalagem artesanal. Não se esqueça de deixar um contato para que eu possa avisá-lo se você for o vencedor e poder pegar seu endereço. Boa sorte a todos e, mais uma vez, obrigadão ao Fernando Pascale!

24.8.10

Bronze no lugar do silício

Falei do evento Invisibilidades, que ocorreu no último final de semana na capital paulista, lá no início do mês.

Adriana Amaral acaba de divulgar a programação do principal ciclo de debates sobre literatura de gênero do país: o Invisibilidades, já em sua terceira edição. Em pelo menos uma das mesas do encontro, estará em discussão a cultura steamer.

Hoje, a mesma Adriana Amaral postou em seu blog um resumo dos debates e, o que é melhor para os entusiastas do steampunk, o material de PowerPoint que ela utilizou em sua participação na mesa Ficção científica e Estudos Culturais: Uma história sem fim, que a pesquisadora compartilhou com Cristiane Busato Smith e que contou com a mediação de Fábio Fernandes, curador do evento patrocinado pelo Itaú Cultural. "Perfomance e estética steampunk" foi o nome da apresentação que Adriana fez à plateia do Invisibilidades. Entre as hipóteses que levantou, há um interessante questionamento, que bem define o subgênero: "E se a cibercultura tivesse sido feita de bronze e não de silício?" Via Twitter ela me adiantou que os tópicos listados no evento deverão ser reunidos mais tarde em um paper, algo que eu já havia anunciado por aqui.

Fiquem com as impressões de Adriana Amaral sobre a terceira edição de Invisibilidades e sobre a mesa da qual participou e não deixem de conferir a íntegra de seu post.



Conforme prometido meu resumo e breves comentários sobre o Invisibilidades III evento que ocorreu dias 21 e 22 de agosto no Itaú Cultural em São Paulo e reuniu pesquisadores, escritores, artistas, músicos, críticos, jornalistas em torno da temática da ficção-científica sob curadoria do Dom Corleone da sci-fi brazuca, Fábio Fernandes (...)

Domingo Mesa Ficção Científica e Estudos Culturais: Uma História Sem Fim


com Adriana Amaral e Cristiane Busato Smith

mediação Fábio Fernandes



Cris apresentou sua análise sobre elementos de Ficção Científica em Império do Sol de JG Ballard, apontando as questões de gênero entre novel e romance e as indefinições entre FC e autobiografia nessa obra a partir do conceito de Inner Space. Eu apresentei algumas hipóteses acerca da adoção do subgênero steampunk por uma geração mais nova e de como essa subcultura está calcada na questão da performance – a partir dos conceitos de engajamento do corpo de Paul Zumthor – em sua recepção. Pena que falamos tanto que acabamos sem tempo para as perguntas (...)
No geral o evento foi muito bem pensado, planejado e executado. As mesas e discussões foram de alto nível e o público estava qualificadíssimo e compareceu aos debates. Deu para trocar ideias, conversar, sem coisas fora do tom ou briguinhas de fandom. Acho que isso demonstra a maturidade e o crescimento dessa área no Brasil, além da super-curadoria do Fábio que reuniu diversidade, multiculturalismo e perspectivas distintas dando um sabor todo especial ao evento, que foi bem vanguardista em sua proposta. Por fim, foi ótimo reencontrar os amigos de sempre e conhecer outras pessoas que têm poucas oportunidades de se ver por estarem espalhadas por regiões diferentes do país. Agradeço também a Aline Naomi, o Caue e a Lidia Zuin que apareceram por lá. E que venha o Invisibilidades IV em 2012 antes do fim do mundo!

Em tempo: Uma notícia divulgada durante o evento agitou com justiça a comunidade de fãs de ficção científica brasileira na twittesfera. A Tarja Editorial revelou que vai lançar no país o romance mais prestigiado da New Weird: Perdido Street Station, do inglês China Miéville. Faço questão de registrar minhas congratulações aos sócios Richard Diegues e Gian Celli por mais essa vitória de sua editora.

21.8.10

Evento lança nova Loja em Goiás

O Conselho Steampunk vai se expandir ainda mais pelo Brasil amanhã, quando durante a Revirada Cultural de Goiânia será lançada a Loja Goiás Upgrade: e ela já conta com seu próprio site. Minhas boas vindas aos novos integrantes do melhor, mais organizado e mais participativo fandom da história da ficção científica brasileira! Assim que tiverem inaugurado o site do grupo o lik entra para Malta do Vapor, aqui ao lado. Segue o texto de apresentação do evento postado no SteamCon:


A Revirada Cultural é um evento[bb] elaborado para provocar a efervescência cultural com efetiva participação do poder público no sentido de dar origem a estratégias de incentivo a produção cultural e artística.

O evento tem também como meta tornar possível um intercâmbio efetivo entre os atores do cenário cultural de forma a gerar ações nos diversos processos de produção cultural.

Ambicioso, o projeto[bb] vem, entre outras coisas, para transformar a relação entre a cultura, os agentes culturais e o grande público. O encontro de produtores musicais, literários, recreativos, didáticos e informativos com a comunidade.

A Revirada Cultural está acontecendo durante todo o mês de Agosto e cada dia é preenchido com um tema diferente. Para domingo ficou reservado um dia nerd, voltado para literatura, filmes, quadrinhos e outras manifestações culturais.

Em meio a execução do magnífico projeto, será também inaugurada a Loja Goiás do Conselho SteamPunk, cujo fundador Rafael Camargo e grande elenco lá estarão para receber todos os interessados e para ministrar uma palestra sobre a cultura SteamPunk, desde a literatura até a moda.

O evento é profundamente significativo não só para o SteamPunk no país, mas para a Cultura Nerd de um modo geral.

Revirada Cultural

Palestra da Loja Goiás do Conselho SteamPunk

Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro
Rua 3, esquina com a Rua 9, nº 1016 – Centro/Goiânia-GO

O local possui um teatro com capacidade para 291 pessoas, um cinema com capacidade para 217 pessoas, um café cultural, uma loja e um espaço para prosa e verso (aparelhada com Lan House e uma biblioteca).

Data: 22 de Agosto de 2010 – Domingo

20.8.10

Torre de Vigia 32

Ufa! Esta deve ser a última atualização do dia. Bruce Sterling continua interessado no Brazilian steampunk pelo jeito. Ao caçar referências no Google, chegou ao blog do escritor Tibor Moricz - o que, obviamente, significa que segundo o algoritmo usado pelo buscador, ele anda bem posicionado - e acabou descobrindo a próxima coletânea do gênero a ser lançada no Brasil. Como o escritor americano usou o tradutor daquele mesmo site, acabei virando Romeo Martin e este blog, o City Phantastica, no post publicado em seu blog na Wired.




(((This Brazilian stuff kills me. Could it be their air is naturally steamy? Have at it, Google Translator:)))

It was with great surprise I saw this cover, published in the City Phantastica of Romeo Martin. I was mesmerized with the quality of it and sure it take to see a cover of this genre better than this, so soon. I do not know the stories that rechearão editing this show, but they are so amazing, we have a work to remember for a long time.

Torre de Vigia 31 - Censurada

Mal tinha acabado de postar o texto anterior, fiquei sabendo pelo Richard Diegues, via twitter, a respeito de uma nova resenha da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Achei uma das melhores resenhas que já li a respeito da obra, de autoria de Moziel T. Monk para o blog Blodega. Meu único senão é que o resenhador acabou entregando um pouco demais no resumo que fez da minha noveleta. Bem, segue o trecho da abertura e, como sempre faço, o que se refere à "Cidade Phantástica" - mas, desta vez, com asteriscos no lugar das revelações. O texto completo pode ser lido aqui.

Steampunk seria uma variação em cima do gênero de ficção científica Cyberpunk. Ah, tá, em o que cazzo é cyberpunk? A pergunta é a sério mesmo? Bem, leiam “Neuromancer”, assistam a “Matrix”, vão a Wikipédia e estamos conversados. Grosso modo, o Steampunk é um movimento literário de ficção científica com histórias e temáticas ambientadas entre o século XIX e XX, adotando avanços tecnológicos compatíveis com a tecnologia então disponível, predominantemente as máquinas a vapor (daí o termo “steam”, vapor em inglês) e elétricas. O exemplo mais óbvio seriam as histórias de Júlio Verne, que com certeza inspiram a estética desse movimento. Mais sobre esse gênero e estética nessa matéria do Gurias Nerd e no próprio site brazuca Steampunk. Em suma, a estética e temática Steampunk dá muito pano pra manga, principalmente ao se usar a história como pano de fundo ou personagens reais e ficcionais desta época, algo bem fascinante.

Curioso, soube há algum tempo que a editora Tarja lançou uma coletânea de contos sobre a temática
Steampunk só com autores brazucas, e na medida do possível adquiri a coletânea. “Na medida do possível” porque, por ser lançamento de uma editora menor, não foi fácil encontrar um exemplar em lojas físicas, e tive que apelar para as poucas lojas on-line que dispunham de algum exemplar para venda. E, cá entre nós, achei um pouco salgado o valor de praticamente 40 paus para um livro de menos de 180 páginas. Mas imagino que se deva a uma tiragem menor e as próprias condições de uma editora que não seja uma das grandes do mercado nacional.

Mas isso é detalhe. Vamos ao que interessa. A proposta do livro da Tarja Editorial foi a de reunir contos de autores nacionais, que obviamente procuraram ambientar suas histórias e protagonistas com o tempero brasileiro, seja usando figuras históricas nacionais ou personagens de nossa ficção, um exercício de imaginação deveras interessante. Como uma coletânea de vários autores, o resultado é um tanto irregular, mas não deixo de registrar que o saldo é, de longe, positivo. (...)

“Cidade Phantástica” é um conto de ação e aventura, tendo como protagonista um agente da Polícia dos Caminhos de Ferro, João fumaça, bom com as palavras e com as armas, misturando elementos de faroeste e Julio Verne com personagens tirados de outras obras, como um casal saído direto de um dos contos de Sherlock Holmes, “A Ponte Thor”, tendo como vilões o *** de “Da Terra à Lua” e -pasmem – o ***, o algoz da *** e, certamente um dos mais lembrados vilões de nossa literatura.

Upgrade: Monk editou sua resenha para evitar os spoilers e, gentilmente, avisou aqui, no espaço de comentários. Agradeço novamente a ele e republico o novo parágrafo modificado.

“Cidade Phantástica” é um conto de ação e aventura, tendo como protagonista um agente da Polícia dos Caminhos de Ferro, João fumaça, bom com as palavras e com as armas, misturando elementos de faroeste e Julio Verne com personagens tirados de outras obras, como um casal saído direto de um dos contos de Sherlock Holmes, “A Ponte Thor”, tendo como vilões um personagem de Julio Verne e um vilão da literatura romântica brasileira, que conspiram para criar uma poderosa arma.

Torre de Vigia 30

O escritor Rober Pinheiro publicou uma das matérias mais completas já feitas sobre o movimento steampunk em nosso país. O mote foi o lançamento de Vaporpunk, que ocorrerá no próximo final de semana, mas também encontrou espaço para relembrar a coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário e para falar de vários outros livros e quadrinhos já agendados para saírem ainda em 2010, o Ano do Vapor. Com várias citações a este blog - as quais agradeço - o texto postado na revista on line Outra Coisa é obrigatório para quem deseja se manter atualizado a respeito do gênero no Brasil. Abaixo, vão apenas alguns trechos do artigo.

No Brasil, o universo steamer, embora recente, já conta com uma boa projeção e o grande impulso para sua expansão em terras tupiniquins se deu com a formação do Conselho Steampunk, em 2008. Com cerca de dois anos, o Conselho já tem Lojas (termo emprestado do conceito maçônico para unidade local – “Lodges”) em muitos estados do país, com uma considerável legião de admiradores e participantes.

Na literatura, o primeiro passo concreto dentro deste universo foi dado ano passado, com o lançamento do livro “Steampunk, Histórias de um passado Extraordinário”, antologia organizada por Gianpaolo Celli, que saiu pela Tarja Editorial. Reunindo um time de oito escritores, entre eles Cláudio Villa, Jacques Barcia, Romeu Martins, Flávio Medeiros, Fábio Fernandes, Alexandre Lancaster e Roberto de Sousa Causo, além do próprio Gianpaolo Celli, o livro primou pelo ineditismo de reunir autores nacionais que trabalharam, embora não exclusivamente, a estética steampunk. De contos mais universais, como “Uma Breve História da Maquinidade”, de Fábio Fernandes, “O Assalto ao Trem Pagador”, de Gianpaolo Celli e “Por Um Fio”, de Flavio Medeiros, passando por contos com temática mais nacional, como “A Flor do Estrume”, de Antonio Luiz M. C. Costa, “Cidade Phantástica”, de Romeu Martins e “O Plano de Robida: Une Voyage Extraordinaire”, de Roberto de Sousa Causo, o livro ainda abre espaço para uma interessante história que se volta para as HQs, (“A Música das Esferas”, de Alexandre Lancaster) e outra que põe um pé — se não os dois — no new weird (“Uma Vida Possível Atrás das Barricadas”, de Jacques Barcia). A antologia alcançou um relativo sucesso junto aos leitores daqui e de fora, recebendo comentários elogiosos até de Jeff VanderMeer, um dos papas mundiais do Steampunk.

Graças à bandeira levantada por esta coletânea, e por entusiastas do movimento como o escritor Romeu Martins, a literatura a vapor começou a despertar mais e mais interesse e no finalzinho de 2009 o escritor Bruno Accioly, um dos participantes mais ativos na divulgação deste gênero no Brasil cunhou, em um artigo sobre o movimento, o termo “O Ano do Vapor”, em referência às muitas novidades que surgiriam em 2010 relacionadas ao Steampunk.

Entre as boas novas, está a tão esperada publicação do livro “The Difference Engine” (A Máquina Diferencial, em tradução livre), do William Gibson e Bruce Sterling, pela editora Aleph, os livros “O Baronato de Shoah”, de José Roberto Vieira, que mistura à estética steam um tanto de dark fantasy (ou fantasia obscura, para aportuguesarmos a coisa) e “O Peregrino”, de Tibor Moricz, um west steampunk, o mangá Hansel & Gretel, de Douglas MCT e uma coletânea recentemente anunciada pela Editora Draco.
“Vaporpunk, Relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades” reúne um novo time de autores que se debruçaram sobre esta temática, capitaneados pelos escritores-organizadores Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva. Um brasileiro e o outro, português.

Aliás, se a Steampunk primou pelo ineditismo, a Vaporpunk prima por ser a primeira a reunir autores dos dois lados do Atlântico com contos movidos a vapor — e muita imaginação — também passados tanto lá como cá.

A coletânea, cujo lançamento foi anunciado para o 4º Fantasticon, simpósio de literatura fantástica que acontece de 27 a 29 de agosto na Biblioteca de Literatura Fantástica Viriato Correia, em São Paulo, traz oito noveletas onde disputas políticas, personagens famosos e armas engenhosas dão o tom da vez.

19.8.10

Pode ser o último mesmo



Para começar, vamos lembrar que o filme deveria se chamar Avatar, do mesmo modo que a obra que lhe inspirou, a animação criada por Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko no meio da década para o canal Nickelodeon. Isso só não aconteceu para evitar qualquer tipo de confusão com o megahype cinematográfico do ano passado. A opção foi transformar o que era subtítulo, The last Airbender, em título, ou, na adaptação brasileira, O último Mestre do Ar. Foi algo meramente burocrático, como podemos ver, mas essa mudança de nome acabou ganhando um caráter quase profético até mesmo para separar duas realidades tão distintas quanto são a daquela série animada televisiva e a deste lançamento da Paramount que chega aos cinemas a partir desta sexta-feira, dirigido e roteirizado por M. Night Shyamalan. Pois, se for para comparar, a nova versão, muito mais cara e tecnologicamente apurada que o original, não faz a menor justiça ao trabalho de DiMartino e Konietzko.

O que aquela dupla fez a partir de 2005 foi a mais memorável animação desde, pelo menos, que Bruce Timm produziu Batman - The animated series para a Warner na década anterior. A dupla criou um universo de fantasia extremamente coeso, num tempo e num mundo indeterminados, em que quatro grupos de pessoas capazes de dominar os elementos – em uma mistura de coreografia marcial e telecinese – se dividem pela geografia de um planeta muito semelhante à Terra, tudo inspirado em países e culturas de povos asiáticos. A Nação do Fogo é uma espécie de Japão Imperialista, dotada de armas e de equipamentos que remetem à nossa conhecida estética steampunk; o Reino da Terra, cuja capital é cercada por uma muralha de pedra, faz às vezes da China; os Nômades do Ar reúnem monges numa clara citação aos tibetanos; e as Tribos da Água são formadas por habitantes dos círculos polares ao Norte e ao Sul do planeta. A cada geração, um escolhido, o Avatar do título original, reencarna em um desses grupos com a capacidade de dominar todos os elementos e a missão de harmonizar aquele mundo em termos espirituais, garantindo assim a paz de todos.

A primeira temporada do desenho – “Livro 1 – Água” – começava justamente com esse equilíbrio alcançado em um infindável ciclo de reencarnações desfeito. Com o último Avatar desaparecido ainda criança, a Nação do Fogo iniciou um processo de conquista de territórios e de aniquilação dos demais dominadores de elementos. A começar pelo povo no qual o escolhido surgiu pela última vez, os Nômades do Ar, aquele império foi mirando seus tanques e navios a vapor contra todos, restando pouca resistência após um século sem a presença do protetor mítico. A esperança ressurge quando um casal de irmãos adolescentes – ela, Katara, uma ainda inexperiente dominadora da Água, e ele, Sokka, um caçador sem poderes especiais – encontra um criança presa num bloco de gelo nas proximidades do Polo Sul. Logo descobrem que a criança é Aang, o Avatar desaparecido, que por ter ficado cem anos hibernando, travou o ciclo de renascimentos e deixou o mundo no caos em que se encontra. Ele nem mesmo teve tempo de iniciar o treinamento com os demais elementos para tentar resolver a questão. Agora o garoto não apenas é a última pessoa com capacidade para dominar os ventos, como é o único sobrevivente de seu povo, sendo caçado por vários inimigos, entre eles Zuko, um príncipe exilado da Nação do Fogo.

É a partir deste ponto que se inicia o material adaptado por Shyamalan. A tarefa é complexa, pois o que se pode perceber é que o filme foi concebido para ser o primeiro de uma trilogia baseada nas três temporadas de Avatar. É complexa porque cada uma delas tem 20 episódios, somando meio milhar de minutos, a serem compactados em menos de duas horas de cinema a cada vez. Ou seja, cada temporada, ou “Livro” – sendo o segundo “Terra” e o último “Fogo” – , renderia por si sua própria trilogia, em termos de quantidade de material à disposição. E é mais complicada ainda porque, a julgar por este O último Mestre do Ar, o projeto pode muito bem ser abortado no início e o primeiro filme pode mesmo ser o derradeiro como aparece no título. Tamanha é a sucessão de erros cometidos pelo cineasta, não seria surpresa alguma se isso ocorresse. E talvez até fosse melhor mesmo a franquia entrar, no mínimo, em hibernação. Assim como a carreira do diretor, que começou em termos mundiais tão bem, com Sexto sentido, de 1999, prosseguiu em alta com Corpo fechado e, daí em frente, atingiu um declínio cada vez mais evidente até agora, o momento em que quicou de vez no fundo do poço.

Os erros já começam nos minutos iniciais, com uma sequência inacreditavelmente preguiçosa que mostra o Avatar finalmente sendo localizado. A escolha de atores brancos para interpretar o trio de protagonistas já é uma decisão polêmica, com Noah Ringer como Aang e Nicola Peltz e Jackson Rathbone como seus salvadores. Poderia até haver alguma razão artística para tal escolha, mas a verdade é que se houve, ela não ficou visível na tela. Todos os três são muito ruins, principalmente o garotinho no papel principal, que, como ator, é um excelente - mesmo! - artista marcial. Menos arriscada, pelo menos, foi a escolha de Dev Patel como Zuko. Mesmo não sendo, como seria mais de acordo com a lógica da série, japonês, o jovem ator conterrâneo dos antepassados do diretor já mostrou em Quem quer ser um milionário? que é bom no que faz e talvez dê conta de segurar um papel que, ao longo das três temporadas, se revelou um personagem dos mais bem construídos da história das animações.

Se não fosse esse fator humano, pelo menos daria para se elogiar a fidelidade na questão visual da película que respeitou bastante o design de cenários e da estranha fauna daquele planeta apresentados na animação. Destaque para os impressionantes navios de guerra da Nação do Fogo, blindados e com suas enormes caldeiras e canhões lançadores de chamas. Apesar de não mostrar muito do seu funcionamento, é nesses momentos que o lado steampunk desta fantasia se mostra presente. Seria até o caso de reclamar a ausência na tela de uma cena muito interessante dos primeiros episódios da série: a que mostra uma engenhosa porta metálica com múltiplas engrenagens, num exemplo perfeito da melhor engenharia especulativa steamer - mas a verdade é que a obra tem tantos defeitos que reclarmar disso seria perfeccionismo demais.

De volta aos personagens, desde a apresentação deles já é possível intuir que o filme não daria mesmo certo. Sokka, por exemplo, é mostrado desde o início como um alívio cômico da série animada, com múltiplas caretas, atuações atrapalhadas e vários jogos de palavras. É só comparar com sua adaptacão, vivida por Rathbone, que atuou na cinessérie Crepúsculo: sem humor de forma alguma, com aparente paralisia facial e falas burocráticas. Vale o mesmo para o tio de Zuko, outro personagem que teve seu humor bonachão deletado na transposição de mídias. O pior é que essas características eram apenas uma das facetas deles, que ao viverem seus momentos dramáticos ao longo dos episódios, demonstraram ser - ironicamente - muito mais tridimensionais que essa versão 3d dos cinemas. Não houve essa mudança de tom no filme, Zukko e o tio Iroh continuaram basicamente os mesmos do início ao fim: rasos, unidimensionais, chatos. Nem eles nem nenhum outro personagem em cena consegue extrair um mínimo de empatia com o público.

Tudo isso aconteceu por conta dos cortes necessários na trama para fazer cumprir os limites de tempo do cinema, claro. Então, não teve jeito, o que a direção e o roteiro de Shyamalan adotaram como solução foi um resumo drástico daqueles já comentados quase 500 minutos do original, muitos diálogos explicativos - com enquadramentos de close no rosto dos atores que parecem ser ainda mais televisivos que os do próprio desenho animado - e cortes no que ele deve ter considerado supérfluo, porém que, muitas vezes, era justamente a garantia de sucesso de Avatar. Sacrificou-se assim muito não só das personalidades e da coerência daquele universo, como também de vários elementos que, talvez, terão que ser inseridos em um espaço ainda mais apertado depois, caso a franquia tenha mesmo a almejada continuidade.

Há ainda problemas sérios na parte técnica. Aparentemente, o efeito 3d adotado, para seguir a tendência aberta por aquele outro filme, o homônimo do seriado, trouxe os prejuízos que podem ser percebidos no controle de luz e no contraste das cores vistas no cinema. Se ao menos em contrapartida os efeitos valessem a pena e compensassem a perda geral na qualidade da imagem... Nem isso. De todo o filme, apenas algumas rajadas de água e de fogo, além do recorte dos navios de guerra, receberam o tal tratamento especial. Algo perfeitamente dispensável no contexto geral. Mas acredito que nem essa explicação sirva para algo que realmente me impressionou no filme: o diretor, acreditem, perdeu o foco em simples travelings, aquele passeio da câmera. Não apenas uma, mas duas vezes! Não entendo como algo assim, que deve dar demissão por justa causa até mesmo em novela da Record, foi mantido na montagem final. Do mesmo modo como não entendo como o plano sequência que mostra pela primeira vez dominadores de Terra tenha sido filmado de forma tão desanimada, com uma coreografia tão pobre. Não à toa que, para o trailer, escolheram uma outra cena de luta, bem mais impressionante que aquela, pobrezinha.

E foi isso o que Shyamalan fez com a obra de DiMartino e de Konietzko em sua adaptação live action e cinematográfica de um dos melhores seriados animados que já vi na televisão. Num mundo ideal, talvez os 150 milhões de dólares investidos em O último Mestre do Ar tivessem melhor destino, chamando os criadores originais, que mostraram entender, afinal de contas, de audiovisual, para tocar este projeto. Ou mesmo para que a dupla criasse algo completamente novo para os cinemas, uma nova franquia de animação para competir com Toy Story e Shrek, por exemplo. Enfim, qualquer coisa poderia ter acontecido em um mundo perfeito, menos a produção deste filme da maneira como ela foi cometida.

Quem não faz, leva

A notícia dada ontem no site Universo Insônia confirma duas teses. A primeira: há interesse internacional em histórias de ficção fantástica sobre o passado do Brasil. Já a segunda é a máxima futebolística posta em prática.

Série de fantasia brasileira atraí a atenção do público e críticos norte-americanos

Porto Alegre – 17 de agosto de 2010

The Elephant and Macaw Banner™, uma série de contos escritos por Christopher Kastensmidt, anda fazendo sucesso nos EUA. Os contos são do gênero conhecido como “Espada & Feitiçaria”, um estilo de literatura fantástica estabelecida nas revistas populares de ficção de polpa do século XX. A série baseia-se no Brasil Colonial do século XVI, e expõe seres do folclore brasileiro como personagens.

O primeiro conto foi publicado em fevereiro deste ano na revista Realms of Fantasy, maior revista de fantasia literária dos EUA. E não foi tarefa fácil; a revista recebe milhares de submissões literárias por ano, e costuma publicar menos de quarenta delas. Douglas Cohen, editor da revista, afirma que em quinze anos de existência foi a primeira vez que a revista publicou um conto situado no Brasil.

Douglas escreve: “Personagens verdadeiramente memoráveis na literatura de Espada e Feitiçaria são raros. Como numerosos autores descobriram ao longo dos anos, é um trabalho hercúleo sair das sombras do Conan de Robert E. Howard, do Elric de Michael Moorcock e de Fafhrd e Gray Mouse de Fritz Leiber. Com Gerard van Oost e Oludara, Christopher Kastensmidt me deu motivos para crer que este clube exclusivo tenha admitido seus dois mais recentes membros. Esta dupla é nova e diferente – assim como a ambientação de um Brasil Colonial mágico — mas ao mesmo tempo suas aventuras relembram tudo que me faz amar este gênero.”

Christopher também mantém um website, escrito em inglês, onde ele apresenta informação sobre a época colonial para o público internacional. A série e website estão recebendo bastante publicidade; saíram recentemente duas resenhas favoráveis da revista Locus, principal revista de crítica de literatura fantástica nos EUA, e uma entrevista com o escritor no site da editora Apex Book Company.

O escritor Christopher Kastensmidt, norte-americano radicado há dez anos em Porto Alegre, explica: “Esta série é uma combinação de duas paixões minhas: fantasia e Brasil Colonial. É uma honra poder mostrar um pouco da história e cultura do Brasil para o mundo afora na forma de ficção. Vem muito mais pela frente.”

17.8.10

Superdotados e Eticamente Ilimitados

Transplantes interespécies, taxidermia em vivos, enxertos a vapor.  Disciplinas assim passariam longe do que poderia ser considerado o currículo de uma escola normal, principalmente uma que aceite a matrícula de uma menininha de nove anos e meio que chegue ao local sozinha, em uma noite chuvosa, carregando um singelo dinossauro de pelúcia. É o contraste entre o ambiente sinistro de uma academia especializada no ensino de aprendizes de supervilões - ou na versão politicamente correta do termo, que aparece no título desta resenha - e a inocência de uma criança deslocada por lá a grande atração do mangá Hollow Fields, lançamento da NewPOP Editora. Planejada como uma minissérie em três volumes, a obra é classificada e reconhecida como um mangá pelo próprio governo japonês, que a premiou por meio do Ministério do Exterior como exemplo do melhor que é feito no mundo no estilo, mesmo com sua autora, Madeleine Rosca, tendo nascido e sido criada na Austrália.

Já havia anunciado o lançamento aqui, assim que soube da novidade pelo blog do Alexandre Lancaster. Como ele mesmo afirmou, a HQ é fortemente inspirada na estética steampunk, mesmo não sendo ambientada no período vitoriano. As indicações geográficas e de tempo não são muito precisas: sabemos que a escola Hollow Fields fica em um lugarejo chamado Nullsville e, pela conversa entre a protagonista Lucy Snow com sua principal rival, que não estamos no século XIX. Porém, muito dos excelentes desenhos da artista, com suas engrenagens onipresentes e nuvenzinhas de vapor, e algo do texto, com referências aos jovens frankensteins que se formarão lá, remetem na forma e no conteúdo ao gênero, sem dúvida. Mesmo assim, nada é muito preciso, como bem cabe a histórias do tipo, uma fantasia com público-alvo claramente juvenil.

A indicação da própria editora é a de que o material seja consumido por crianças com mais de 12 anos, até porque a temática pode ser um tanto assustadora aos ainda mais jovens que isso. Mesmo não mostrando detalhes das tais taxidermias em vivos, por exemplo, a tensão permanente pelo tipo de cobrança exercido naquela escola, administrada não-metaforicamente com mão de ferro pela Senhora Weaver, pode mesmo não ser indicada a todos os públicos. Semanalmente, o aluno com a pior nota é obrigado a se retirar para a dtenção em um antigo moinho no terreno da escola, de onde ninguém jamais voltou para contar história - e para onde são arrastados, às vezes em uma crise de pânico e choro. Claro que para leitores mais maduros o clima é até bastante leve e ingênuo, pelo menos neste primeiro volume da série. Veremos como a trama se desenvolve futuramente.


O que dá para se dizer pela primeira amostragem é que a mangaka australiana cumpriu à risca o dever de casa, com um empenho ainda maior que o de sua personagem principal ameaçada pelos professores a vapor. Estou longe de ser um especialista em quadrinhos e animações feitos no Japão, mas caso não fosse informada a nacionalidade de sua criadora, jamais pensaria que este não é um autêntico produto nipônico. Ela mimetizou as qualidades e os defeitos que encontrei em todos os mangás que já li, desde a narrativa extremamente imagética e fluida até os diálogos que não passam do patamar meramente funcional. Neste último ponto, a única exceção que conheço a confirmar a regra vem de outro exemplar não-japonês, mas que há quem defenda ser, sim, um mangá - e o citado Lancaster está entre eles -, Scott Pilgrim, do canadense Brian Lee O'Malley, com falas absurdamente acima da média de seus pares. Contudo, o resultado do trabalho de Madeleine Rosca deve passar longe de desagradar aos verdadeiros fãs do estilo e, talvez, seja apreciado pelos interessados em steampunk. Bem editado, com um bem-vindo caderno de esboços e informações sobre as criaturas e a criadora, a editora fez um bom trabalho no geral, só pecando um pouco na revisão que deixou passar errinhos como "obeder" no lugar de "obedecer" na fala da diretora de Hollow Fields.



16.8.10

Mais flagrantes do HQCon

Uma nova leva de fotos da maior convenção de quadrinhos da história de Floripa. A autoria é de outro chapa meu, o jornalista e artista gráfico Ivan Jerônimo.

Lotação completa na casa de shows Floripa Music Hall


Uma das sensacionais esculturas em argila de Leandro Chaves

 Exposição das artes originais dos quadrinhos de Ricardo Manhães

A colega jornalista Laura Tuyama, o mestre Clóvis Geyer e eu


A salvadora equipe Superfakes (em breve, novidades deles por aqui)


Carol Grilo e Cristine Isabele, respectivamente as senhoras Ivan Jerônimo e Gabriel Rocha

Sobre "A nova frente russa"

Quando publiquei neste blog o conto "A Máquina", de Leonardo Stockler, recorri a mesma fonte de onde tirei o texto abaixo. Ambos foram enviados para participar da segunda edição do Prêmio Braulio Tavares, em 2008, concurso organizado na maior comunidade em língua portuguesa dedicada à Ficção Científica no Orkut. "A nova frente russa", assim como "A Máquina", levaram meus votos entre os três que eu poderia escolher respectivamente nas categorias conto e miniconto daquela premiação. O texto de Michel Argento, retratando uma realidade em que a II Guerra Mundial se estendeu por muito mais tempo que em nosso mundo, com a Alemanha empregando novas tecnologias bélicas, já havia sido postado em meu outro blog, o Terroristas da Conspiração, procurando incentivar o autor a continuar com a série. Republico aqui, para novamente enfatizar meu convite para que novos escritores se arrisquem em mais cenários retrofuturistas, além do período Vitoriano, como foi o caso com "CyberRoma", de Eric Novello.

A nova frente russa

Por Michel Argento



O Coronel Von Koch encostou-se no beiral da porta, com seu uniforme negro com frisos cor-de-rosa das Divisões Panzer amarrotado, e começou a coçar distraidamente o antebraço direito com os dedos indicador e médio da mão esquerda, enquanto contemplava o campo logo a sua frente e à floresta de pinheiros que se erguia após meio quilometro, já na subida da colina. O céu estava de um cinza sujo e lufadas de vento gelado corriam pelo campo, anunciando mais um rigoroso inverno na frente russa.

Estava com as mangas da camisa arregaçadas, e sentia o frio contra a pele clara de seus braços. Nessa hora ele desejava uma vaga qualquer nos trópicos, nem que fosse somente para cuidar da segurança de alguma embaixada junto ao império japonês na Ásia, ou quem sabe em alguma praia do norte da África ou no Brasil. Até o sul da Itália e a Espanha lhe pareciam mais promissores e muito aconchegantes do que aquela sucessão de estepes e florestas geladas no inverno, de lama no degelo e poeira fina de quartzo no verão.

“O braço está coçando, senhor?”, perguntou seu ajudante-de-ordens, um jovem francês chamado Jacques, nascido na França livre, mas criado nas possessões alemãs ao sul do canal da mancha.

Instintivamente ele olhou para o antebraço direito, que até então estava coçando desesperadamente, e só viu o metal frio que lhe substituíra toda a extensão desde a articulação do cotovelo até a mão. A prótese era revestida com um novo tipo de borracha negra e enrugada nas articulações, e porosa nos dedos e palmas, para melhorar sua sensibilidade ao segurar algum objeto, principalmente uma dama, uma arma ou um cálice. As outras partes eram de uma liga metálica leve, mas extremamente resistente, de um cinza escuro e brilhoso, cujo nome agora ele não recordava. Esticou-o e abriu os dedos metálicos, depois fechou-os e dobrou o braço em direção ao corpo. Era uma obra de engenharia magnífica, tão bem ligada a seu sistema nervoso que a resposta era imediata, mas vez por outra ainda sentia o velho braço coçar, a mesma sensação que seu pai dizia ter após ter perdido uma perda nas trincheiras da primeira guerra.

Baixou as mangas e vestiu suas luvas de couro negras.

“Traga meu casaco, e uma caneca de café. Café, não aquela água suja que serviram hoje de manhã”, disse ao ajudante, enquanto pegava seu cinturão, com sua pistola e a velha faca da juventude hitlerista. Saiu da casa, onde havia montado o quartel-general de sua companhia, e que vinha sendo seu lar desde o ultimo inverno e desceu a colina até onde uma fila com cinco tanques estavam estacionados. Eram os novíssimos “Minotauro”, rápidos como cavalos de corrida, e com uma torre ágil como um gato. Ficou olhando para eles, com sua belíssima pintura camuflada para imitar o ambiente da frente russa, as incansáveis estepes, florestas e tundras.

Achava incrível como, com tanta tecnologia, aquela guerra ainda não houvesse terminado. Desde 1948, com a assinatura do armistício com os Estados Unidos e com a Inglaterra, não houve mais batalhas memoráveis, apenas escaramuças contra rebeldes nas áreas anexadas da Europa Ocidental, e o constante incômodo dos ataques dos partizans russos, em uma guerrilha que parecia não perder o fôlego, e não haviam dado tréguas. Talvez tivesse sido melhor seguir o conselho de Rommel e assinar um armistício com a União Soviética também, visto que o império alemão se estendia por seus territórios até a outrora fortaleza dos czares no rio Volga, Stalingrado, hoje chamada de Hitlersburg, um nome horrível, diga-se de passagem. Mas não, a SS e o alto escalão do partido nazista não iriam aceitar nada menos do que a rendição completa da URSS, o que deixava aquela fronteira sempre com cheiro de pólvora. Por hora os russos não tinham condições de arremeterem-se em uma grande ofensiva, visto suas escaramuças na fronteira com a China, e os alemães tinham outras preocupações mais imediatas, como a tal corrida espacial com satélites, voos extra-orbitais e pousos na lua.

Cumprimentou os soldados e os oficiais que estava conversando em volta de uma fogueira, protegidos do vento entre dois tanques, mas ninguém bateu continência, um ato que era extremamente desencorajado, visto que atiradores inimigos poderiam estar de tocaia, sempre prontos a abater um oficial. Eles faziam café em um bule sobre algumas pedras, e o cheiro chegou quente e reconfortante as suas narinas.

“Quer um gole, senhor?”, perguntou um velho sargento chamado Priller.

“Priller, se este café for tão bom quanto o último, eu dispenso. Graças a Deus que você atira melhor do que cozinha.”, todos gargalharam. Ele servia com a maioria daqueles homens há muito tempo, e sentia-se à vontade com eles, de forma que esse tipo de brincadeira essa aceita, independente de qual lado partisse.

Jacques chegou com sua caneca de café e seu casaco. Ele tomou um gole, fez cara de repulsa e devolveu a caneca.

“Pena que não tenho uma língua de metal, só assim para aguentar essa comida e esse café”, disse enquanto vestia a jaqueta e o cachecol. Jacques lhe entregou o quepe com a insígnia da 25ª Divisão Panzer, cuja aba de plástico fora partida por estilhaços do mesmo morteiro que arrancara metade de seu braço e matara seu antigo ajudante. Guardava-o como um amuleto da sorte, a única superstição que se permitia.

Um silvo cortou o céu cinzento, partindo da floresta e ficando mais alto a cada momento, até que um projétil de morteiro explodiu contra a varanda da frente da casa, arrancando o telhado, provocando uma chuva de pedaços de madeira e cacos de telhas de cerâmicas, abrindo uma pequena cratera no local do impacto. Jacques jogou-se ao chão, derramando o café quente sobre seu uniforme. Os demais apenas olharam, sem esboçar qualquer reação. Aquilo era um acontecimento ao qual estavam acostumados, pois todo dia, em horários variados, os russos testavam seus nervos daquela forma. Somente ficavam preocupados quando mais de um morteiro era disparado.

O cabo e o sargento responsáveis pela cozinha saíram correndo dos fundos da casa, carregando baldes para apagar as poucas chamas que começavam a se formar na madeira seca da casa.

“Jacques, traga o nosso ‘infiltrador’” disse Von Koch, sem esconder a repulsa na voz. Os demais soldados e oficiais o olhavam calados, também compartilhando de seu asco por aquele ‘instrumento’ que tanto orgulho trazia ao reich.

Desde a ascensão de Hitler e de seus partidários, as pesquisas sobre ocultismo eram vastamente encorajadas, e recebiam enormes somas todos os anos, com raros retornos consideráveis. O Projeto Infiltrador era um desses poucos retornos. Em algum momento no auge das pesquisas com as “raças inferiores” nos campos de concentração na Alemanha e Polônia, descobriram certos traços telepáticos em alguns prisioneiros judeus e ciganos, que podiam mandar mensagens para pessoas com quem compartilhavam determinadas ligações, principalmente emocionais, e podiam afirmar, com margem de erro de alguns poucos metros, onde estas pessoas encontravam-se. Dez anos depois, uma máquina ligada ao cérebro e coluna vertebral das pessoas com esse “dom” aumentava suas capacidades naturais, dando-lhes o poder de localizar qualquer um, dentro de um ambiente conhecido, e enviar mensagens através de distâncias consideráveis.

Von Koch sabia que, ao contrário do que se afirmava, não eram utilizados apenas judeus e ciganos como cobaias, mas certas coisas era melhor ignorar, pois ele sabia muito bem onde iam parar os “linguarudos subversivos”, usando o linguajar da Gestapo.

Minutos depois Jacques voltou, ao seu lado o SS-Hauptsturmfuhrer [1], que era o oficial médico responsável por aquele “equipamento”, empurrava a cadeira de rodas onde estava o garoto conhecido apenas como B-32c, numero gravado em sua testa. Era um garoto magro, pois alimentava-se apenas com um mingau acinzentado com gosto metálico, sua cabeça era mais arredondada e maior do que o comum, com um cabelo ralo e fino. Pouco acima e à frente de suas orelhas eram parafusadas duas caixas metálicas, do tamanho de caixas de fósforo, com duas pequenas antenas e fios que ligavam-nas com outra maior, presa também por parafusos ao seu crânio na altura da nuca.

Nessa caixa, por suas vez, eram ligados os fios que partiam de sua coluna cervical, que eram presos em suas vértebras por pinos de aço. Devido a esses pinos atravessados na coluna vertebral todos os “infiltradores” eram paraplégicos. Todos os fios se ligavam a uma outra caixa, que era presa às costas da cadeira.

Essa caixa era um pequeno computador, que traduzia os impulsos elétricos do cérebro do “infiltrador” e os convertia em coordenadas e palavras. Também eram largamente utilizados em interrogatórios, com amplo sucesso.

A roda da cadeira bateu em uma pedra, e o garoto atrelado aos fios e equipamentos sacolejou de um lado para outro. Von Koch pode notar um esgar de dor em sua boca, mas este durou tanto quando uma chuva de verão.

“Cuidado com ele” disse ao Capitão da SS que o conduzia.

“Cuidado com isto, você quer dizer, Herr Coronel” respondeu o SS-Hauptsturmfuhrer, como a prepotência característica das SS.

Em sua grande maioria, os soldados de linha da AS, e principalmente das divisões Panzer, nutriam uma eterna rivalidade e repulsa pela SS devido a seus atos, considerados como indignos de qualquer soldado. Eles eram covardes, traiçoeiros e puxa-sacos. Von Koch não era exceção, mas como todo soldado, devia cumprir ordens, e algumas delas incluíam aturar esse tipo de coisa.

“Como você quiser, Lieber, apenas faça seu trabalho, pois o tempo não está nada agradável aqui fora.”

Lieber mexeu em algumas alavancas, pressionou uns botões, girou um comutador de energia, por fim digitou alguns comandos no teclado do computador e esperou. O garoto começou a tremer como que atingido por uma forte corrente elétrica. Um fio grosso de saliva escorreu pelo canto de sua boca, e a tremedeira parou. Uma luz verde acendeu no alto da caixa metálica, e uma tira de papel foi impressa. O oficial da SS rasgou a tira e entregou-a para Von Koch.

Ele leu as coordenadas e entregou para Priller, que de seu tanque repassaria as informações via rádio codificado para os outros blindados.

“Coordenadas confirmas e canhões prontos, senhor.” Disse Priller.

“Tiro para efeito.” Disse. “Não queremos que pensem que isso é uma colônia para férias de verão.”

“Tiros irradiados?” Perguntou um dos tenentes novatos, cujo nome Von Koch ainda não tivera tempo de decorar.

Esse tipo de projétil era revestido com uma “capa” irradiada, que se fragmentava, e segundo dizia o alto escalão do desenvolvimento armamentista do Reich, os fragmentos atingiam os rebeldes, ficando presos na pele, roupas ou veículos, que depois, com o auxílio de um medidor de radiação criado especialmente para tal fim, podiam ser rastreados por até cinco quilômetros. A emissão radioativa, embora fraca, começava a causar um mal-estar após algum tempo de contato, o que debilitava e colocava fora de combate os soldados atingidos. Era algo completamente contrário às diretrizes da convenção de Genebra, mas hoje não havia muitos que pudesses reclamar contra o império alemão.

“Só se vocês quiserem sair para caçar.” Respondeu Von Koch, sabendo que aqueles homens estavam ansiosos por qualquer tipo de ação, mesmo que fosse para caçar rebeldes esfarrapados e feridos em uma gélida floresta de pinheiros gelados.

Vinte e cinco projéteis de 120 milímetros foram disparados, erguendo uma barreira de fogo, poeira e fumaça dentro da mata. O garoto mais uma vez tremeu em sua cadeira e quando parou um novo fio de saliva escorria juntando-se ao primeiro, a luz verde tornou a acender e uma nova tira de papel foi cuspida da máquina.

“Ele não capta mais nada. Todos estão mortos” disse Lieber entregando a tira de papel para Von Koch.

O comandante recebeu as informações e parou pensativo por alguns instantes, depois amassou o papel e jogou no chão.

“Jacques, traga minha arma. Priller, você e seus homens tratem de colocar esses tanques em marcha vamos ver o que sobrou de nossos desafetos.”

Qualquer dia, pensou Von Koch, eu deserto e me mando para um lugar quente, longe disso tudo, mas por enquanto estava bem desse jeito...

[1]Equivalente a capitão na SS

15.8.10

Post probido para puritanos

O twitter, ah, o twitter. Bastou o escritor Rober Pinheiro me chamar a atenção para uma matéria a respeito de uma inusitada criação retrofuturista para termos uma interessante discussão sobre os limites da realidade e da ficção. A matéria em questão é sobre este instrumento, tão bem e excitantemente demonstrado pela modelo abaixo:


Para quem não associou a forma à função, uma dica, não se trata de uma arma de raios, mas sim um vibrador steamer. Bastou isso para que Fernando Salvaterra nos recomendasse duas matérias extremamente interessante sobre a história desses falos automatizados que, vejam só!, remetem ao período Vitoriano. Tirem todas as suas dúvidas a respeito da história do vibrador na primeira e na segunda partes do artigo.Para atiçar a imaginação dos leitores e das leitoras, ao invés de destacar trechos dos textos, irei capturar algumas das imagens que ilustram os posts. Tentem adivinhar em que contexto elas se encaixam. Boa semana a todos!



Ajoelhem-se perante ele



Sim, é o próprio General Zod, um brinde que ganhei aos 44 minutos do segundo tempo oferecido pela Loja Universo Colecionáveis presente na excelente  HQCon realizada neste sábado em Florianópolis. Para levar a action figure - ainda de quebra, ganhei também a colega dele, Ursa - precisei responder a pergunta sobre quem teria sido o responsável pela tradução de gibis da Image como Spawn e Savage Dragon na época de seus lançamentos no Brasil, nos anos 90. A resposta certa ainda estava sobre o palco, onde acabara de realizar um bate-bola com Eddy Barrows, o mineiro que é o atual desenhista do Superman;  Gabriel Rocha, meu chapa e jornalista especialista em quadrinhos; Ricardo Manhães, quadrinista de estilo franco-belga residente em Floripa; e Érico Assis,o cozinheiro do Omelete assentado na longínqua Chapecó. E a resposta certa era Mário Luiz C.Barroso (na foto abaixo ele aparece ao lado do barbudo Gabriel), a quem entrevistei há mais de dez anos - ainda na época do nosso e-zine O Malaco - assim que ele se mudou para capital de Santa Catarina para estudar Educação Física. Ele próprio se lembrou daquela nossa conversa, que ocorreu numa época em que um evento de quadrinhos de sucesso na cidade era a reunião de umas 20 ou 30 pessoas no CFH da UFSC.



Como comparar aquelas iniciativas pioneiras do início da década com o evento profissional que estava acabando naquele exato momento e que reuniu mais de 500 pessoas no Floripa Music Hall durante parte da manhã e toda a tarde do dia 14 de agosto para debater HQs, animações e assuntos relacionados à cultura nerd? Foi sem a menor dúvida o maior e o melhor programa do tipo na história de Florianópolis dando a certeza de que a aposta certa é a de que a HQCon veio para ficar. Tanto que a promessa para o próximo ano é a de que se abra um espaço nela para a discussão da ficção científica e, sim, do steampunk!

Fica a torcida para que o evento cresça ainda mais e que resolva os pequenos problemas enfrentados nessa estreia mais que promissora. Entre eles, o atraso que obrigou algumas mudanças no cronograma das apresentações - por conta da demora dos responsáveis para entregar o salão aos organizadores do encontro e por um problema na conexão Chapecó-Florianópolis no voo de Érico Assis. E, ainda pior, a falta de variedade do cardápio à disposição de quem deixou para almoçar por lá e só encontrou mini-pizzas para comer e a ausência completa de bebidas alcoolicas. Menção honrosa ao stand do Superfakes (foto acima) que salvou a tarde com algumas estratégicas latinhas de cerveja. Fora isso, faltou na agenda algum convidado para falar a respeito da preferência das novas gerações, os quadrinhos japoneses, fato que ficou atestado pelo concurso de fantasias. Nenhum dos cosplayers inscritos, cerca de uma dúzia, se inspirou nos velhos super-heróis americanos: todos vieram homenagear algum personagem dos mangás, animes ou games.



Mas tudo isso é aprendizado para as próximas convenções. A equipe responsável merece os mais sinceros parabéns por ter reunido o timaço de conferencistas e ainda uma surpreendente seleção de expositores. Como o suíço - me escapa o nome dele, agora Upgrade: 3st3r da trinca de organizadores me relembrou o nome do simpático helvético: monsieur Vincent Pasquier- que trouxe parte de sua preciosa coleção de álbuns francófonos, incluindo exemplares de Tintin dos anos 40 (foto abaixo)! Ou ainda o talentosíssimo escultor Leandro Chaves, o pessoal de A Toca Revistaria, e os já citados bonecos artesanais do Fernando Pascale. Garantiram um dia memorável que nem a minha garganta inflamada conseguiu estragar. Congratulações a todos! (Fotos: meu chapa Fabrício Rodrigues)


13.8.10

RPG nacional mistura Idade Média e steampunk

A dica desta postagem veio do escritor José Roberto Vieira. Fantapunk é o nome de um cenário de Role Playng Game que está sendo planejado há 25 anos, desde abril de 1985. No ínicio deste ano, seu autor, que usa o pseudônimo Marcos Archanjo, criou um blog para apresentar alguns dos conceitos, personages e sistemas daquele seu universo que faz uma mistura de Idade Média com ambientação Steampunk, recorrendo tanto à tecnologia quanto à magia. Pela classificação comentada em post anterior, o RPG poderia ser chamado de Dungeonpunk.

Abaixo, vou reproduzir trechos do post em que foi feita a apresentação resumida dos elementos do jogo.



Fantapunk é um cenário que combina os elementos de Fantasia Medieval e Steampunk, inspirado nas histórias de capa & espada, contos policiais, romances de cavalaria, Histórias em Quadrinhos e Cinema. Este cenário apresenta alguns diferenciais, como as raças disponíveis para Personagem Jogador e as organizações do Mundo das Sombras. Os jogadores representam personagens filiados a grupos especiais conhecidos como Escuderias, que por sua vez são subordinadas a Ligas e Agências de aventureiros, que disputam a supremacia do Mundo das Sombras num perigoso jogo de intriga, ações ousadas e manipulação de informações.

Além de enfrentarem aventureiros de escuderias e agências concorrentes, todos os heróis (e a maioria das pessoas do mundo) possuem um outro inimigo, talvez o mais terrível de todos, que trabalha incessantemente pelo domínio de tudo o que existe: o Caos. Utilizando armas como a violência, sedução, corrupção e até mesmo a poluição causada pelas fábricas, os agentes do Caos se infiltram em todas as organizações e sociedades, destruindo, manipulando, aterrorizando e corrompendo aqueles que cruzarem o seu caminho. (...)

O continente de Hy-Brasil
A área mais importante do mundo conhecido chama-se Hy-Brasil, um continente com o mesmo formato da nação brasileira (sem os demais países sul-americanos ao redor), no qual existem centenas de países de todas as raças de Urancha, cujo desenvolvimento tecnológico é extremamente variado, fazendo com que nações feudais convivam com outras industrializadas num padrão semelhante ao do século XIX terrestre.

Em Hy-Brasil a poderosa nação de Harari, o mais antigo dos reinos orks, divide espaço com o Império de Nova Atlântida (pertencente aos adamitas atlantes), a Federação Élfica de Öealinda, os Doze Reinos dos bandar, a tenebrosa nação de Solombra Nomortis Domus (habitada por mortos-vivos), Faéria (o paraíso das fadas), Faéra (terra das górgonas), a misteriosa Obumbra Obliteratis (dos kobolds), Drakkônia (dos drakkar), Invicta Mechânika (o grande reino industrial dos temujiins), Amazônia (uma federação de nações indígenas) e a mais famosa de todas as nações: Rio Azul, onde surgiu o primeiro governo multirracial do mundo e berço da nova revolução que promete transformar as relações sociais em todos os continentes: a Sociedade do Conhecimento.

E nesta terra de contrastes, um movimento social que visa a unificação de todas as pátrias sob uma mesma bandeira, vem ganhando força a cada dia, buscando a igualdade entre as criaturas a partir do ideal do Amor como princípio, da Ordem como base e do Progresso como fim. É o Movimento da União Patriótica, liderado pela Baronesa Orkzy, com o apoio do Conde de Montekristo (o homem mais rico do mundo), de diversas organizações e dos aventureiros em geral. Mas essa transformação social não será nada fácil, pois interfere com os interesses econômicos de corporações poderosas e também do governo de Centrópolis.