7.12.09

Deu na Time

Neste blog costumo abordar apenas material steampunk que tenha sido produzido no Brasil ou que esteja disponível em versão nacional. Não é o caso deste post em que vou falar de uma matéria veiculada em inglês no site da revista Time. O motivo é que gostei muito da abordagem do texto que levou o título "Steampunk: Reclaiming Tech for the Masses" (algo como Recuperando a tecnologia para as massas), ele sintetiza vários dos elementos que, na minha opinião, tornam este gênero da ficção fantástica tão atrativo em termos estéticos-formais e de conteúdo.

Demonstra também que, como mui raramente acontece na literatura de gênero no Brasil, estamos vivendo uma onda que ocorre simultaneamente aqui e lá fora. No exterior, está se vendo uma renovação no interesse pela cultura steamer e em nosso país surgem os primeiros sinais de que este segmento pode mesmo vir a se consolidar como mais que apenas um modismo passageiro.

O texto de Lev Grossman começa por relembrar um acontecimento histórico citado neste blog desde suas primeiras postagens: o projeto de um protocomputador projetado, mas não confeccionado, pelo matemático inglês Charles Babbage (1791-1871). A matéria passa a especular o que teria ocorrido caso tal máquina tivesse mesmo sido construída:

Bifurca-se o espaço temporal. Imagine se a tecnologia da computação tivesse se desenvolvido em torno da visão de Babbage: bronze e aço em vez do silicone e do plástico; maquinário de relojoaria em vez da eletrônica. De fato, imagine se todas as grandes revoluções tecnológicas dos últimos 100 anos não tivessem ocorrido. Nosso mundo funcionaria com tecnologia vitoriana - seria um mundo feito a mão, movido a vapor, com acabamento em couro e mogno. É uma visão elegante, romântica. E tem um nome: steampunk.

A partir deste ponto, a matéria passa a citar obras que tenham explorado tal conceito, desde o romance Morlock Night (1979), de K.W. Jeter - inspirado na obra A máquina do tempo, de H. G. Wells - até The Difference Engine (1990), de William Gibson e Bruce Sterling, cujo ponto de partida é justamente o sucesso daquele citado projeto de Babbage. Outras mídias também são citadas, como os games, a exemplo de Myst; quadrinhos, como A Liga Extraordinária, de Alan Moore; e o cinema, na adaptação do seriado televisivo Wild Wild West, protagonizada por Will Smith.

Mas não é só da revisão do passado que a Time se valeu. Para demonstrar a vitalidade do steampunk hoje, "cada vez mais intenso e relevante" o texto cita, entre outros exemplos, que existem 27 aplicativos com o tema para iPhone disponíveis; informa que um museu de Oxford, na Inglaterra, abre espaço para uma exposição artística com esta mesma inspiração; comenta o sucesso do gênero na última Comic-Con, de San Diego, nos EUA, a maior convenção dedicada às HQs no mundo (de onde foi tirada a foto que ilustra a matéria e este post); e ainda menciona que, no mesmo país, em Seattle, ocorreu a primeira convenção anual dedicada ao Steampunk. No campo literário, Grossman ainda entrevistou o escritor Scott Westerfeld que lançou em outubro Leviathan, mais uma obra assumidamente focada neste gênero.

Nas suas conclusões, o artigo volta a tentar definir o efeito que o steampunk causa em seus entusiastas e, pelo menos no que me diz respeito, acerta no alvo:

Do mesmo modo que o punk fez com a música, o steampunk recuperou a tecnologia para as massas. Ele sustitui por engrenagens de metal o silicone, por tubos pneumáticos o 3G e o wi-fi. Maximiza o que foi miniaturizado e faz visível o que foi oculto. Onde o iPhone é todo aço inoxidável e plástico, o steampunk é de bronze e de madeira e de couro. Steampunk não é produzido em massa; é único e original, e se você não gostar, pode fazer do seu jeito.

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