18.5.11

Cursed City em Mágico Vento

Sabem aquele negócio de timing? Pois não poderia ter sido mais preciso no caso de uma mensagem que enviei para um dos meus fumetti favoritos, editado no Brasil pela editora Mythos. O email acaba de ser publicado na edição 107 de Mágico Vento na coluna "O Correio de Poe" mantida pelo tradutor da série, Júlio Schneider, conforme reproduzo a seguir:


"Antes de mais nada quero deixar os parabéns pelo excelente trabalho de vocês, principalmente em meus títulos favoritos das bancas, Júlia e Mágico Vento. Trabalho primoroso, adaptações que respeitam e valorizam o material italiano. Quanto ao personagem criado pelo excepcional escritor que é Gianfranco Manfredi, escrevi sobre ele no meu blog dedicado ao subgênero da FC chamado steampunk, ou a reimaginação retrofuturista do século XIX. O post foi em uma série rápida a respeito do Weird West, aquela mistura de faroeste com ficção fantástica (tanto pode ser FC, fantasia ou terror), da qual Mágico Vento é um belíssimo representante: http://cidadephantastica.blogspot.com/2011/02/weird-west-nos-quadrinhos-magico-vento.html Novamente, parabenizo a todos pelo trabalho. Abraço." Recebemos essa mensagem de Romeu Martins, que mora em São José-SC, cidade da região metropolitana de Florianópolis, e que será um dos autores presentes no primeiro livro de contos dedicado ao gênero weird west, cujo título é Cursed City - Onde as almas não têm valor. Na página de arquivos de janeiro de 2011 do seu blogue há uma matéria sobre isso com o título Sou um sobrevivente de Cursed City. Segundo o autor, entre as suas influências está "o inesquecível Ken Parker, cujas edições da Mythos tenho todas guardadas na minha coleção de quadrinhos".

Afirmo que o timing é perfeito porque esta revista começou a chegar às bancas no dia 13 de maio, véspera do lançamento oficial de Cursed City, neste último sábado, em São Paulo. Em Florianópolis, como já divulgado aqui e em outras páginas o livro virá ao público no próximo dia 28, último sábado do mês, em um evento promovido em parceria com as editoras Estronho, Argonautas e a Sociedade Histórica Desterrense. Mas o timing também foi perfeito pela temática da história de Mágico Vento 107: nesta edição o escritor Gianfranco Manfredi faz seu personagem enfrentar criaturas semelhantes à que usei no conto "Domingo, Sangrento Domingo", presente naquela coletânea. A diferença está na nacionalidade. Se o meu monstro vem da região da Catalunha, mais exatamente de Barcelona, o quadrinista italiano criou uma trama com os ch'iang shih, ou seja, com os vampiros do folclore chinês.

Ned Ellis, o shaman branco dos índios sioux, está sozinho na cidade de São Francisco, onde se mete em um conflito das gangues chineses que dominam a região, as chamadas tongs. O líder de um desses grupos é que pensa em usar as criaturas místicas nessa guerra: mortos vivos com características bem diferentes daqueles que costumamos ver em obras ocidentais. Em uma inversão muito interessante do cotidiano dessa série de quadrinhos, vemos Mágico Vento tão perdido nos elementos sobrenaturais da trama quanto o leitor, pois todos estamos explorando um território desconhecido aqui. Em outra seção da revista, "Blizzard Gazette", o próprio autor escreve um artigo contando mais sobre os ch'iang shih, sobre o material de pesquisa que consultou e sobre as liberdades autorais que tomou, para evitar que o roteiro caísse em situações cômicas para os olhos não acostumados com a mitologia da China.

Esta é uma edição excelente para os interessados tomarem contato pela primeira vez com a revista mensal, por ser uma trama fechada que intercala arcos maiores com os personagens. Mágico Vento veio de duas longas sequências de histórias, a primeira envolvendo toda a negociação de compra das Montanhas Negras por parte do governo americano que acabou derivando na guerra aberta contra os índios na qual morreu o general Custer (1839-1876). Seguiu-se a essa sequência de histórias um outro ciclo, de forte influência na literatura de terror de H.P. Lovecraft (1890-1937), concluído no número anterior. E a partir da próxima edição, Manfredi vai voltar a explorar acontecimentos da história real, contando em um novo arco a história do exílio de Touro Sentado (1831-1890) e de seus guerreiros sioux no Canadá. Portanto, a HQ "Vampiros chineses", que nas palavras do próprio autor é "um apêndice de terror bastante suculento", acaba sendo uma oportunidade ótima para conhecer o universo da melhor série weird west a marcar presença em nossas bancas. E serve de preparação para quem for ler mais material do gênero nos livros das editoras Estronho e Argonautas. Mitakuye Oyasin!

6 comentários:

Alfer Medeiros disse...

Excelente matéria!
Para mim, Mágico Vento é o melhor fumetto de todos os tempos.

Romeu Martins disse...

Legal, né? Olha, Ken Parker ainda tem esse título para mim; acho o trabalho do Giancarlo Berardi insuperável.

Mas os dois fumetti que compro mensalmente nas bancas são Mágico Vento e Júlia (do Berardi, aliás), e tenho saudades de Martin Mystére e Dylan Dog...

Alfer Medeiros disse...

Judas dançarino! rs
Eu curto bastante Dylan Dog também.

Romeu Martins disse...

Tenho até medo de ver o filme que adaptou a série, ainda mais que não puderam usar o Groucho...

E se os americanos prestassem atenção no trabalho que o pessoal do western spaghetti em quadrinhos faz, Mágico Vento daria um baita filme, com Daniel Day-Lewis no papel principal...

Alfer Medeiros disse...

O autor se baseou mesmo no Daniel Day-Lewis para compor as características físicas de Ned Elis, não é?

Em relação ao Dylan Dog no cinema, estou com os dois pés atrás! Acho que Dellamorte Dellamore ainda é mais aconselhável, apesar de não ser o personagem em si.

Romeu Martins disse...

Isso mesmo, o Manfredi usou como referência o cara a partir do filme o Último dos moicanos. E vale lembrar que por isso mesmo foi engraçada a edição 91, que se passam em Nova Iorque, e foi baseada no livro/filme As gangues de Nova Iorque.

Naquela edição, o mocinho e o bandido eram baseados no mesmo ator ;-)