10.2.11

Weird West nos quadrinhos - Mágico Vento

Nem mesmo os americanos parecem ser tão fascinados com a história da conquista da parte Oeste de seu território quanto são os italianos. Tamanho é o apreço e a dedicação que artistas italianos prestaram ao tema, como é o caso do diretor Sergio Leone citado no post anterior, que foi criada a expressão Western Spaghetti para definir o material produzido naquele país dentro do gênero. A definição é sempre utilizada para o cinema, mas pode muito bem se aplicar também à mídia sobre a qual é falamos nesta série, pois foi criada uma verdadeira indústria dos fumetti - o nome das HQs por lá - para produzir faroeste à italiana. O estúdio Bonelli Comics é a casa editorial da maior parte dessa produção e Tex seu símbolo máximo. Apesar de volta e meia o ranger se envolver com situações típicas do Weird West não é sobre ele este post. Nem sobre Zagor, outro personagem bonelliano ainda mais voltado aos temas fantásticos naquele mesmo espaço geográfico. Prefiro comentar a respeito de uma criação mais artesanal, com menos ares industriais, cujas aventuras alcançam, com uma regularidade significativamente maior que seus colegas de editora, um grau de excelência tanto na arte quando nos roteiros poucas vezes vistos na nona arte.  Mágico Vento é o nome do personagem cuja revista mensal é publicada no Brasil pela editora Mythos e que em outubro passado chegou ao número 100. A capa dessa edição - ineditamente toda colorida em suas 100 páginas para comemorar o feito - é a que vai abaixo.



O verdadeiro nome do personagem é Ned Ellis, um homem branco que, graças a um pedaço de metal alojado em seu cérebro, perdeu parte da memória e passa a ter enigmáticas visões sobre o futuro. Tal habilidade o permitiu se tornar xamã dos lakotas - a mesma etnia citada por aqui quando comentei "Escalpo", da Vertigo - e se dedicar a impedir o massacre dos povos indígenas na marcha do progresso americano. Ou pelo menos, morrer tentando impedir tais massacres. Criado pelo romancista, roteirista de cinema e quadrinista Gianfranco Manfredi, a revista teve 131 edições publicadas na Itália (apenas duas não foram escritas ou ao menos argumentadas por ele), baseada em uma pesquisa histórica sólida sobre os EUA de meados do século XIX e sobre as lendas e mitos correntes naqueles tempos. O resultado é impressionante, uma união de realidade e fantasia (ou, devo dizer, terror?) que representa exemplarmente o gênero. Na edição destacada acima, desenhada pelo croata Goran Parlov, temos na mesma aventura o assassinato de Wild Bill Hickock, em Deadwood; o início da vingança do exército americano contra os índios Sioux pela morte do General Custer, ocorrida pouco antes; e uma amostra das visões xamânicas do protagonista em relação ao chefe guerreiro Cavalo Louco. Mas é apenas um exemplo. Recomendo com ênfase a leitura da série como um todo, uma das melhores demonstrações que conheço do potencial do Weird West e uma façanha e tanto de Manfredi, com tradução primorosa e dedicada de Julio Schneider. Mitakuye Oyasin! 

Nota: no primeiro post desta série sobre Weird West, anunciei a intenção de finalizar com uma resenha do remake de Bravura Indômita. Só que por um erro meu, acabei trocando a data da cabine de imprensa e perdi a exibição. Fica para uma próxima oportunidade. Ah, em tempo: chegou ontem o contrato para autorizar a publicação do meu conto "Domingo, Sangrento Domingo", na coletânea Cursed City, a primeira dedicada ao gênero no Brasil.

2 comentários:

Anônimo disse...

pena que o autor vai acabar com o magico vento ele era a melhor historia em quandrinhos agora passa o bastão para a julia kendall.

Romeu Martins disse...

Mas acho bem positivo que uma série tenha começo-meio-fim, como foi com Ken Parker. Bem melhor que ficar se arrastando por décadas e passar pela mão de autores menos comprometidos com a qualidade, né?

O negócio é tentar acompanhar outros trabalhos de Gianfranco Manfredi daqui para frente ;-)