30.3.10

Entrevista com China Miéville

Já havia falado do site Capacitor Fantástico quando comentei uma entrevista que eles traduziram com o escritor e organizador de coletâneas Jeff VanderMeer. Agora, seguindo uma dica via Twitter da cyberpesquisadora Adriana Amaral, fiquei sabendo que a equipe daquela página adaptou mais um material ao português, desta vez uma conversa de David Soyka com o escritor inglês China Miéville, nome mais citado quando se pensa em literatura New Weird. Reproduzo abaixo o texto de apresentação e as duas primeiras perguntas, que fazem referência ao gênero steampunk, uma das influências assumidas daquele autor. A entrevista completa pode ser lida aqui.


Seu primeiro romance, KING RAT, era uma aterrorizante história de fadas.

Em PERDIDO STREET STATION, Miéville criou 'New Crobuzon', uma metrópole corrupta habitada por insetos humanóides, cactos andantes, grotescos 'Renascidos' pela bioengenharia, e máquinas conscientes e 'vivas’, assim como um monte de tipos comuns, assediadas por criaturas que sugam espíritos, saídas de um experimento fracassado.

A fantasia de Miéville é permeada por um realismo que rejeita finais felizes. 


Pergunta:: Parabéns pelo Prêmio Arthur C.Clarke por 'Perdido Street Station'. Não parece irônico ou incongruente que um romance de fantasia baseado em um cenário 'steampunk' tenha recebido um prêmio tão importante, que recebe o nome de um escritor de Ficção Científica Hard, de satélites e naves espaciais, em que a sensibilidade para a prosa não é, digamos, sublime.


Miéville: Obrigado - ainda estou um pouco estupefato. Existe uma ironia sim, mas não é tão incomum este prêmio ir para alguém que faz uma FC tão pouco 'Clarkeniana'. O próprio Clarke é um sujeito muito generoso a respeito do que se trata o prêmio, e a quem deve ser dado.

Além de estar pessoalmente extasiado, me sinto contente, porque eu sempre senti que era impossível separar a Ficção Científica da Fantasia - certamente eu devo ter conscientemente estado em um e em outro, e eu esperava que o prêmio indo para um romance não tão de FC, deveria encorajar uma abertura conceitual da tradição. Sempre gostei de dizer que escrevo uma 'ficção esquisita', porque me sinto na interseção da Ficção Científica, Fantasia e até do horror, o que claramente, torna as fronteiras nebulosas. Quer dizer, é fácil dizer que Larry Niven é FC e Tolkien é fantasia, mas e David Lindsay? Lovecraft? Clark Ashton Smith?


P: A 'ciência' que aparece em seus romances, dependem de mecanismos da era-vitoriana. A teoria da grande crise soa igual à especulação quântica e a inteligência artificial sempre foi uma obsessão da FC. Tem sempre um cientista maluco e que é responsável por forças desastrosas, resultado direto de sua arrogância e da irracional manipulação cientifica, sem ligar para as conseqüências. O que da FC de antigamente se tornou um fato hoje, como a biotecnologia e as máquinas pensantes que aparecem em seu trabalho?

M: Em geral não penso que se possa ver a FC como profecia cientifica, sociológica ou outra coisa desse tipo. Não acho que FC trate disso. É obvio que muitos cientistas se inspiraram em historias de FC que leram quando jovens e não posso dizer que não seja uma influência.

Sou totalmente pró-ciência. Acho muito interessante. Tento evitar a tradicional tropa de escritores 'metidos a cientistas'. Não é a atividade cientifica por si só que nos causa problemas, como o doutor Frankenstein. Mary Shelley, refutava em ter a responsabilidade dos frutos de sua pesquisa - em meus livros, é algo mais como uma má sorte danada!

O problema não é a ciência, mas onde ela nos leva. Biotecnologia é um bom exemplo. Não tenho nenhum problema, em termos abstratos com a modificação genética dos alimentos. Porém, acho problemático quando ela caminha para beneficiar os exploradores.

Além disso, muita coisa é lançada no mercado sem os devidos testes - sem termos uma ideia real dos efeitos a longo prazo. Além disso, algumas pesquisas são socialmente inadequadas e inúteis, como fazer plantas que só respondam a um único tipo de fertilizante.

Muita coisa vai surgir nos próximos anos e isso é excitante. Particularmente estas coisas mais grotescas são as que mais falam à minha natureza macabra. Ratos com genes de águas-vivas e que brilham verdes, é demais!

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