25.1.10

Dragões do Império

Para a noveleta "Cidade Phantástica" peguei emprestada da história brasileira uma força policial com um nome tão poético que parecia ser fictício: a Polícia dos Caminhos de Ferro. Foi assim que descrevi, em um dos primeiros posts deste blog, aquela instituição:

Pode até parecer, mas essa força policial não é somente uma invenção para o universo ficcional de Cidade Phantástica. Polícia dos Caminhos de Ferro foi realmente o nome da primeira corporação de segurança especializada do Brasil, criada antes mesmo da inauguração de alguma estrada de ferro no país.

D. Pedro II fundou a instituição por força de um decreto régio em julho de 1852. Apenas dois anos depois, em abril de 1854, terminou a construção da ferrovia por onde circulou a locomotiva número um do Brasil, a Baroneza (conforme grafia da época), apelido recebido para homenagear a esposa do Barão de Mauá.

Na noveleta que dá continuação à primeira desventura de João Fumaça surge um novo aparato de segurança naquela versão mais industrializada do Brasil no século XIX. Desta vez, trata-se de um grupamento fictício, porém baseado em forças armadas que realmente existiram em nosso país. Segue um trecho no qual são citados os Dragões do Império:

Na noite de hoje, alguns de seus homens garantem a proteção da corte, trajando o uniforme de gala, idêntico ao dos Dragões da Independência, conforme foi criado pelo pintor francês Jean Baptiste Debret a pedido do pai do atual Imperador. A diferença marcante entre o fardamento das duas tropas de Dragões é que no dos mais antigos predomina a cor branca; no dos que se encontram perfilados do lado de fora da Catedral de São Patrício o preto contrasta com o vermelho dos detalhes da gola, dos punhos e da faixa da cintura, além do dourado dos capacetes. Acima desses, penachos coloridos sinalizam a patente de cada militar e fazem companhia às esculturas do animal mítico que empresta seu nome àqueles militares. Os sabres na cintura dos alferes são mero enfeite, o poder de fogo deles pode ser medido pelos fuzis mecanizados do tipo Guarany que portam: armas capazes de disparar as dezenas de balas de suas câmaras com um único apertar de gatilho.

De fato, Jean Baptiste Debret (1768-1848) viveu no Brasil entre os anos de 1816 e 1831, onde registou, com pinturas e desenhos, os principais momentos que levaram à Independência do país e os primeiros anos do reinado de D. Pedro I (1798-1834). Uma de suas primeiras contribuições para o imaginário nativo foi a recriação da farda do Primeiro Regimento de Cavalaria do Exército, criado em 1808, ainda pelo Príncipe Regente D. João VI (1767-1826). Após a Independência, a denominação mudou oficialmente para Imperial Guarda de Honra. A inspiração para o desenho do uniforme veio da Tropa de Cavalaria do império austríaco, na qual também predominava a cor branca. Aquela foi a forma do pintor homenagear o país de origem da Imperatriz Maria Leopoldina (1797-1826).

Em nossa história alternativa, as duas forças ostentam o nome de Dragões já em 1866, algo que na realidade só veio a ocorrer oficialmente sete décadas depois, em 1936. Dragão é o soldado de cavalaria ligeira, em contraposição às tropas de cavalaria couraçada. Pode ser encarada como uma referência ao animal heráldico que adorna o capacete dos militares e que vem diretamente do brasão da Casa de Bragança, a Família Imperial brasileira. Na criação do fictício regimento dos Dragões do Império entrou ainda outra fonte: os Voluntários da Pátria. Foram os corpos de soldados criados em 1865 para ampliar a força do Exército e servir basicamente como frente de combate na Guerra do Paraguai (1864-1870). Neste mundo, tal conflito não ocorreu, contudo o Brasil e seus aliados (o Paraguai à frente) se encontram em outra zona de batalha no ano em que se passa a noveleta, 1868.

Quem for ler "Tridente de Cristo" deverá perceber ainda uma terceira referência na mistura que deu origem a esses dragões ficcionais; uma tropa bem mais contemporânea e bastante conhecida de nosso país. Dali veio a ideia de modificar a cor original do fardamento, como pode ser visto na pintura acima, de autoria de Debret com intervenção minha. Clicando na imagem, é possível perceber muitos detalhes do trabalho daquele artista francês.

2 comentários:

Anônimo disse...

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Leonardo Peixoto disse...

O universo ficcional de Cidade Phantástica é muito interessante e espero que fique maior futuramente .