31.8.09

Isto é Steampunk

Uma matéria de comportamento escrita por Renata Cabral apresentou aos leitores da revista semanal IstoÉ um pouco da cultura steamer. As entrevistas que ajudaram a repórter a produzir o material foram feitas com integrantes do Conselho Steampunk: Bruno Accioly, do Rio de Janeiro, Raul Cândido Ruiz, de São Paulo, e Joanna Oliveira, do Rio Grande do Sul, dando um alcance bem nacional ao texto. "Punks da era vitoriana" fala de literatura e comportamento, assim como dá dicas de músicas, moda e filmes que seguem tal estética.

Abaixo, segue a abertura do texto que está disponível na íntegra no site da revista:





Quando estão entre si, eles chamam carro de carruagem sem cavalo e televisão de teletroscópio - como o fariam os antepassados de seus avós. São os jovens seguidores dos steampunk, uma tribo contemporânea que cultua o século XIX. Não é nada fácil conceituá-los. Steampunks, movimento que começou nos Estados Unidos e tem a literatura como berço, é um estilo de vida.
A tradução livre é punks a vapor - steam, ou vapor, é um dos símbolos da revolução industrial que aconteceu a partir do século XVIII. E punk é herança do movimento literário cyberpunk, que prega um futurismo apocalíptico e underground, embora pouco lembre os ideais românticos de seus sucessores.
A intenção é referir-se a um passado remoto, quando as máquinas a vapor eram a sensação do mundo. E a inspiração são os livros de pioneiros do gênero: os americanos Tim Powers, Kevin Wayne Jeter e James Blaylock. A obra considerada clássica é "The Difference Engine" (A máquina diferencial), de 1990, escrita por Bruce Sterling (autor do gênero cyberpunk) e William Gibson. Foi a partir de 2006 que jovens começaram a transpor costumes, modas e ambientes para o dia a dia.

29.8.09

É hoje: Virtual SteamCon

Neste sábado, às 21 h, ocorrerá a primeira convenção virtual sobre Steampunk do Brasil. Abaixo, reproduzo o post do site do Conselho Steampunk que detalha como será este evento pioneiro:

Com um nome pomposo mas com aspirações modestas, a primeira convenção virtual de SteamPunk do Brasil teve uma divulgação intencionalmente restrita, feita de forma discreta, sem grande alarde e com muita cautela.
A ambiguidade entre o interesse em divulgar ao gênero e a viabilidade técnica de um evento em nível nacional não é para menos, tendo em vista que há entre 300 e 400 entusiastas do gênero espalhados entre o Registro SteamPunk, as Comunidades e os Twitters.
Uma vez que a Virtual SteamCon 2009 recebeu a alcunha de “Virtual” por conta de ser um evento Web – e portanto veiculado através da Internet – toda preocupação se justifica através das dificuldades de infra-estrutura tecnológia apresentada em nosso país, cuja realidade “internética” beira a dos engenhos Vitorianos.
Não se tem idéia de quantos Steamers pretendem comparecer ao evento – que vai ao ar pelo endereço www.steamcon.com.br/virtual-2009, mas sabe-se que tudo pode acontecer, uma vez que a caldeira pode explodir de tanta gente ou (quem sabe?) o evento vai funcionar a todo vapor.
Dentre os objetivos principais do evento, o Conselho SteamPunk pretende identificar os interesses do público na criação de novas lojas, sua disposição em participar de diferentes tipos de eventos, sua intenção em adquirir de produtos que façam referência ao gênero e suas expectativas para eventos futuros.
O evento, contudo, não é meramente funcional, sendo igualmente um meio de intercâmbio de informações e novidades, como qualquer convenção, ao mesmo tempo que uma plataforma para a exibição de material relacionado ao movimento SteamPunk.
Se você se interessa pelo gênero e gostaria de se aprofundar um pouco mais, vale aparecer por lá. Afinal, para fazer presença na Virtual SteamCon 2009, basta você ter uma conexão internet e um navegador (Safari, Chrome, Firefox, Opera ou Internet Explorer).

27.8.09

Nova edição de Mundo Verne

O autor clássico de Ficção Científica favorito deste blog é homenageado periodicamente com uma ótima revista que leva seu nome. O melhor é que Mundo Verne conta com uma edição em português cortesia de uma equipe que inclui o já citado por aqui Frederico J. Em seu blog, também dedicado a Jules Verne, nosso colega lusitano comentou o conteúdo deste exemplar:


Com 30 páginas, destacamos a abertura de uma nova secção graças à colaboração de Alexandre Tarrieu que trará curiosidades e material de interesse acerca do universo verniano.

O artigo de Cristian, nesta ocasião, fala da obra da Secessão, Norte contra Sul. Cristian também escreve uma interessante análise da relação do seu país com o escritor francês.

Há duas colaborações provenientes de Espanha nesta edição: Pasqual Bernat, presidente da Sociedade Catalã Jules Verne explora a ciência na aventura lunar e Joan Manuel Soldevilla fala sobre a leitura de Verne na escola e como envolver os alunos nas obras do gaulês.

Mundo Verne põe-se à fala com... Volker Dehs que nos fala da actualidade verniana e dos seus planos futuros, como também de uma surpresa.
De resto, o capítulo 3 de O cerco a Roma e uma carta de Verne ao pai escrita nos finais de Outubro de 1848.

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Podem fazer o download gratuitamente aqui.
Esperemos que gostem!

21.8.09

A quarta Loja do Conselho

O Conselho Steampunk volta a ampliar seu alcance e abre a quarta Loja, tomando de assalto praticamente toda a região Sudeste do país. Desta vez foi de Minas Gerais que veio a novidade. Na página do site mineiro encontra-se a seguinte mensagem:

Seja bem-vindo à Loja Mineira do Conselho SteamPunk Brasil!
Acredito que deseja nos conhecer melhor, por isto, faço questão que se sente e fique à vontade. Acredito que poderei lhe fornecer todas as informações sem que perceba que o chão que lhe ofereço esteja frio.
Este portátil mecanismo de tela-teclado-conexão permite que a grande Máquina Análitica do Professor Babbage nos forneça algumas informçãoes utéis. Este cartão possui a tua pergunta e em minutos teremos de volta a reposta neste que chamamos de Monitor.
“Steampunk é um subgênero da ficção científica, ou ficção especulativa, que ganhou fama no final dos anos 1980 e início dos anos 1990.”
>>>>
“O gênero steampunk pode ser explicado de maneira muito simples, comparando-o a literatura que lhe deu origem. Baseado num universo de ficção científica criado por autores consagrados como Júlio Verne no fim do século XIX, ele mostra uma realidade espaço-temporal na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis (ou pelo menos improváveis), com automóveis, aviões e até mesmo robôs movidos a vapor já naquela época.”
<<<<

Nossa loja faz parte de um Conselho Brasileiro e, tenho que ser sincero, sou aficcionado pelo que chamamos de despertar das conexões, da maravilha da informação ao único centro. É claro que algumas engrenagens quase fundiram com o nosso centro de informações na Grade Máquina Análitica, mas já estão pensando em fazer algo que se chama de contingência do conhecimento.
Estamos abertos à sua colaboração. Sinta-se livre para nos encontrar nos endereços abaixo listados, e como dizem nestes tempos: Tecnologia a vapor, muito gás e criatividade…
http://steampunk.com.br
http://twitter.com/steampunkmg
Contatos:
julio(arroba)steampunk.com.br
Orkut:
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=92731229

19.8.09

Histórias de um futuro extraordinário

Atenção: o prazo para entrega dos textos foi prolongado para o dia 10 de outubro.

A coletânea steampunk vai ganhar um irmão cibernético. O convite abaixo acaba de ser publicado por Gianpaolo Celli na comunidade da Tarja Editorial, no Orkut:

CYBERPUNK - Histórias de Um Futuro Extraordinário

Apresentação
A idéia deste projeto é criar um livro de autores diversos em que cada história seja independente, trabalhando de maneiras diferentes o conceito deste subgênero da ficção científica.
As histórias poderão ocorrer em qualquer tempo e realidade, desde que sejam trabalhados um ou mais paradigmas que se consagraram como modelos do Cyberpunk, como: alta tecnologia/baixo nível de vida, tecnocracia, realidade virtual, implantes biônicos, direcionamento a pós humanidade, e afins – desde que naturais ao Cyberpunk.

Proposta
A intenção deste projeto, denominado Cyberpunk – Histórias de um Futuro Extraordinário, é criar um livro com entre 8 e 12 histórias, visando à integração e partilha de pontos de vista deste subgênero literário.
Os textos deverão ser escritos na forma de noveletas. A forma narrativa é livre mas não serão aceitas poesias e suas variações implícitas.
Todos os custos de seleção, preparo e criação são de responsabilidade da editora, sem nenhuma participação financeira da parte dos autores; destes não haverá nenhum tipo de compromisso que não seja o de divulgação da obra e dos demais escritores ali apresentados.
Os autores selecionados receberão três livros (os quais serão entregues durante o lançamento, a ser agendado futuramente em ocasião da conclusão e divulgação da obra), ficando estes a título de direito autoral.

Formato
O livro será diagramado em formato 14x21cm e cada autor terá aproximadamente 30 páginas para seu trabalho. Apenas para idealizar o tamanho dos textos em sua preparação, deve se ter em mente algo entre 20 e 30 mil toques, contando com espaços (entre 12 e 15 páginas no formato padrão A4, espaço entre linhas simples, fonte Times New Roman corpo 12, e margens definidas no modelo Normal).

Prazos
Os textos deverão ser entregues por e-mail no endereço informado abaixo até o dia 10 de outubro de 2009 em arquivo .DOC ou .RTF.

Informações
Tarja Editorial – e-mail:
cyberpunk@tarjaeditorial.com.br

18.8.09

Convescote vaporoso

Acabo de saber que no próximo dia 23, a partir das 13 horas, vai haver um evento steampunk na capital paranaense, mais precisamente no Parque Barreirinha. O Pic Nic Vitoriano é uma promoção da comunidade Corset Curitibano. Abaixo, vocês podem ver um dos flyers de divulgação do convescote.



Para ampliar a imagem, clique com o mouse sobre ela.

Torre de Vigia 2

Matéria, resenha e entrevista sobre a coletânea Steampunk na revista eletrônica Rraurl. Segue a abertura e a íntegra pode ser conferida aqui:


Steampunk é um termo tão amplo que torna-se injusto dizer que se trata apenas de um sub-gênero literário vindo da ficção científica. Sua influência está não apenas nos livros, mas também no cinema, nas artes visuais, até mesmo na moda.

Se por um lado o cyberpunk criado por William Gibson e seu Neuromancer previa o futuro olhando muito a frente de seu tempo, o steampunk dá uma volta para trás e fala de um futuro que nunca aconteceu, imaginando como a tecnologia moderna e a sociedade funcionariam caso já estivessem disponíveis numa época em que até mesmo a eletricidade era considerada como algo mágico. Você já imaginou como seria a rede global de computadores caso estes fossem feitos de madeira e bronze e praticamente movidos à vapor?

17.8.09

Steampunk no Overmundo

Acabo de publicar uma matéria sobre a cultura steampuk e como ela vem se desenvolvendo no Brasil no site Overmundo. Quem puder, confira o texto e, se gostar, dê seu voto para o tema ganhar destaque naquele portal. Abaixo, o início do artigo que pode se lido aqui:

Uma espécie de nova Revolução Industrial chega ao Brasil e atrai interesse internacional. Chamada ao gosto do freguês de modismo, tendência, hype, cultura, manifesto, tribo urbana, estilo entre outras classificações a verdade é que o steampunk conquista adeptos, ganha forças na Internet, em eventos públicos e até na literatura enos quadrinhos, como uma vertente da ficção científica. Pelo nome e pelo parentesco com a FC mesmo quem nunca ouviu falar – ou que não tenha ligado o termo à realidade prática – deve imaginar que exista semelhança estética ou filosófica com o cyberpunk, tão popular que praticamente é sinônimo do gênero como um todo para muita gente que consumiu livros, filmes, HQs e jogos de RPG nos últimos vinte anos. De fato, a semelhança é real, se o foco de uma é especular sobre a cibernética em um futuro próximo, a da outra é imaginar tecnologias possíveis, geralmente movidas a vapor (steam, em inglês), com direito a molas, engrenagens e alavancas, no século retrasado, uma espécie de retrofuturismo. Mas vamos por partes.

16.8.09

Universos paralelos

A nota abaixo, assinada por Camila Alam, foi publicada na edição de CartaCapital com data de capa do dia 19 de agosto.

Antologia de ficção científica apresenta o estilo steampunk

Surgido em 1987, o termo steampunk denomina um subgênero da literatua de ficção científica que ambienta as histórias no século XIX, cercado pela Revolução Industrial e pelos avanços tecnológicos movidos a vapor. Extremamente visual, o estilo fantástico concentra-se em detalhes da sociedade, como comportamento e vestimenta, apostando em um desenvolvimento alternativo à história como conhecemos.

O movimento ganha seu primeiro exemplar nacional. Steampunk - Histórias de um passado extraordinário (Tarja Editorial, 184 págs., R$ 39) apresenta nove contos, de autores diferentes, que abordam essa temática. Não raro, episódios reais, em especial as guerras, são pano de fundo para aventuras na época da tecnologia do vapor (steam).

Crises internacionais, sociedades secretas, ciência e a corrida pelo domínio dos céus são temas abordados por Alexandre Lancaster, Cláudio Villa, Gianpaolo Celli, Flávio Medeiros, Fábio Fernandes, Jacques Barcia, Roberto de Sousa Causo, Romeu Martins e Antonio Luiz M. C. Costa. Este último, editor de CartaCapital, descreve o estilo não como uma reflexão sobre o passado ou o futuro, mas como algo que pudesse ter existido, um olhar paralelo para a história da sociedade e da tecnologia.

11.8.09

Saudade ou rebeldia?

A pergunta acima dá título à coluna que um dos escritores de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário - Antônio Luiz M. C. Costa, autor de "A flor do estrume" - acaba de publicar na versão digital da revista em que trabalha, a CartaCapital. Em um texto muito bem embasado, o jornalista faz o histórico do gênero literário, analisa o perfil que esta cultura - ou modismo - tem assumido em nosso país, comenta uma das principais obras steamer, The Difference Engine, de Willian Gibson e Bruce Sterling, e ainda anuncia os recentes projetos de coletâneas com noveletas temáticas, a já citada Steampunk e a anunciada Vaporpunk.

O texto pode - e deve - ser lido neste endereço, mas vou citar alguns trechos aqui, como de hábito.

Sobre Steampunk como subcultura:

Uma subcultura curiosa toma corpo no Brasil, imitando e até sofisticando um modelo originário do Reino Unido e também com certa popularidade nos EUA: o steampunk. Na versão verde-amarela, conta com uma estrutura que inclui um Conselho SteamPunk criado em 2008, com um bem-cuidado site na internet e Lojas regionais no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Ocasionalmente, essas “lojas” – terminologia que imita conscientemente a linguagem maçônica, tão popular no século XIX – promovem eventos como o de 26 de julho, no qual um grupo de jovens reuniu-se, primeiro na Estação da Luz, depois no Memorial do Imigrante de São Paulo para passear, vestidos como damas e cavalheiros do século XIX, na velha Maria Fumaça que percorre algumas centenas de metros de trilhos junto ao Memorial.

Assim como os punks propriamente ditos, é sob certos aspectos o que se costuma chamar de tribo urbana, mas essa é quase a única relação entre os dois movimentos. E uma peculiaridade desta nova subcultura é que não se associa a um estilo de música pop, como punks, metaleiros, emos e clubbers, ou ao culto a uma obra específica do cinema ou tevê, como os trekkers (fãs da série Star Trek, ou Jornada nas Estrelas), mas a um subgênero da literatura de ficção científica e da história alternativa, também conhecido como Steampunk.


Sobre analogias com o cyberpunk:

Mas o parentesco e a analogia com o cyberpunk foi reforçada por aquela que veio a ser vista como a primeira grande obra da ficção steampunk – o romance The Difference Engine, de 1990, escrito justamente pelos dois maiores astros da ficção cyberpunk: William Gibson (autor da trilogia iniciada com Neuromancer) e Bruce Sterling (autor do romance editado no Brasil como Piratas de Dados e editor da pioneira antologia cyberpunk Mirrorshades).

The Difference Engine (A Máquina Diferencial) também não tem nada de punk, mas consolidou o nome e o subgênero não só pelos autores que teve como também por fazer uma ponte entre as duas temáticas. Gibson e Sterling imaginaram uma história alternativa do século XIX.

O pivô da mudança é Charles Babbage, matemático e inventor que, na vida real, a partir dos anos 1820 tentou construir a verdadeira “máquina diferencial”, uma complexa calculadora mecânica, programável como um computador e dotada de impressora. Babbage nunca conseguiu os recursos de que precisava para transformar seus desenhos em realidade, mas em 1989, uma equipe do Museu de Ciência de Londres montou sua máquina e mostrou que ela funcionava perfeitamente. O que, naturalmente, sugere a pergunta: o que teria acontecido se Babbage tivesse concretizado seu sonho e os computadores começassem a mudar a tecnologia e a sociedade mais de um século antes de terem aparecido na história real?


Sobre o futuro do gênero no Brasil:

O pleno desenvolvimento dessas possibilidades no Brasil depende, porém, de que o Steampunk não seja apenas consumido como moda ou como decoração de animês e aventuras hollywoodianas. Para ser criativo, precisa ser produzido e discutido como um subgênero literário e associado ao ponto de vista brasileiro ou à história (real e imaginada) de nosso país. Por enquanto, conta-se apenas com a recém-lançada antologia de contos Steampunk, da Tarja (R$ 39, 184 páginas), que inclui uma colaboração do autor desta coluna. Uma segunda antologia, a ser intitulada Vaporpunk, está sendo organizada pelo escritor Gerson Lodi-Ribeiro e é esperada para breve. Teremos então uma boa ideia de como se imagina, em terras tropicais, essa história paralela.

9.8.09

Steampunk hecho en Brasil

Na chamada que escreveram para a submissão de textos da coletânea Vaporpunk, os editores Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva deram uma conceituação bem mais livre para o gênero steampunk. Na visão da dupla, as histórias não precisam necessariamente se passar na Era Vitoriana nem ter tecnologias baseadas no vapor para se enquadrar no estilo. Eles admitem mesmo uma noveleta situada em tempos atuais, como revela este trecho: "Nos presentes alternativos, a ação se passa mais ou menos em nossa época, só que numa linha histórica alternativa, modificada pelo advento precoce de uma tecnologia."

Dentro desta concepção mais liberal do que seja steampunk, existe um exemplo perfeito de conto brasileiro ambientado num presente alternativo alterado substancialmente por uma tecnologia surgida no século XIX. O nome da história é "Não Mais" e foi escrita por Carlos Orsi para outra coletânea, a Phantastica Brasiliana, organizada em comemoração aos 500 do Descobrimento do Brasil, por ele mesmo e por Lodi-Ribeiro para a editora da qual ambos foram sócios, a Ano-Luz.


O motivo para o título deste post - além de brincar com três outros anteriores chamados Steampunk made in Brazil - é que o texto de Carlos Orsi se encontra disponível em espanhol no portal argentino que é referência em contos fantásticos, o Axxon. Neste endereço, o leitor que não teve acesso ao livro brasileiro pode encontrar "Ya No", traduzido em 2004 por Claudia De Bella. A introdução, assinada por Alfredo Álamo e Sergio Gaut vel Hartman, dá uma ótima ideia do conceito que os hermanos têm deste nosso conterrâneo:

Carlos Orsi Martinho es periodista y, probablemente, el mayor autor del género de terror en lengua portuguesa. Carlos nació en Jundiaí, en el interior del estado de São Paulo, Brasil, el 5 de enero de 1971. Sus primeras historias se publicaron entre 1986 y 1989, en el Diario de Jundiaí y su primer trabajo profesional apareció en 1992, en el N°24 de la edición brasileña de la revista Isaac Asimov. Su primera colección de cuentos fue Medo, Mistério, Morte (1996) y la segunda O Mal de Um Homem (2000), e incluye "A Engrenagem Vulgar", elegido el mejor relato de 1999 por los lectores de la revista Quark. Muchas otras historias de Martinho aparecieron a partir de entonces en distintas antologías y fanzines, tanto nacionales como extranjeros. Su predilección por las ucronías permitirán que vuelva ser huésped de estas páginas muy pronto.


Por sua vez, ler o conto é a melhor maneira de entender o motivo para tal apresentação elogiosa. Orsi criou uma história em que a família real brasileira, tendo D. Pedro II à frente, perpetuou-se no poder - literalmente -, dominou boa parte do mundo e com isso o Brasil segue sendo um império naquele presente alternativo - provavelmente, o ano 2000 da publicação do livro. Agora, a tecnologia que muda tudo não é exatamente o que estamos acostumados a ver nos livros de Jules Verne ou de H. G. Wells. Não se trata de algo mecânico ou elétrico, um novo dirigível ou um computador vitoriano. A tecnologia é de natureza mística.

O escritor coloca em nossas terras o misterioso alquimista alemão Athanasius Kircher (1601 - 80), que, nesta versão, tornou-se portador de um conhecimento que altera a história: importando certas substâncias do Haiti, a terra dos zumbis, ele se mostra capaz de criar um estranho fluido verde que garante a quem se banha periodicamente nele nada menos que a imortalidade. Em alguns casos, como ocorre com o alquimista, àquela altura com seus 400 anos, e com a realeza, sem consequências negativas; em outros, caso dos negros, ainda mantidos como escravos naquela realidade, os usuários se tornam criaturas sem vontade própria.

O mago europeu, trazido a nosso país por José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) - chamado apenas de Andrada na história -, tornou-se uma figura rasputiniana na corte dos Bragança. Produzindo o líquido alquímico no Jardim Botânico, ele garante a imortalidade dos que interessam a seus planos, tanto que a nobreza brasileira se encontra distribuída em reinos espalhados por toda a Europa e, neste continente, o Império brasileiro se estende da Argentina ao México. Os EUA deste universo foram derrotados ainda no século XIX em uma guerra que determinou o controle verde-amarelo do canal do Panamá, e não chegam a ser ameaça aos domínios de Athanasius, eminência parda do regime.

Mas o mundo influenciado por tal poder não é um lugar agradável. Além da escravidão persistir, arte, ciência e a imortalidade são privilégios das classes abastadas, dos escolhidos pelo alquimista. Várias personalidades famosas são citadas no texto como exemplo daqueles que não quiseram se submeter e tiveram fim trágico: Machado de Assis, Euclides da Cunha, Santos Dumont. No tempo em que se passa a narrativa, o nome do grupo de conspiradores que tramam contra o despotismo de Athanasius é o mesmo do conto: Não Mais em português, Ya no, em espanhol. O termo foi cunhado em um manifesto escrito pelo protagonista da história, Madeira, que aliado a outros agentes na capital do Império - cujos nomes são homenagens de Orsi a colegas cariocas escritores de FC - se prepara para dar um golpe desesperado na sede do poder do Rasputin germânico que domina o país.

Um dos homenageados no conto, Gerson Lodi-Ribeiro, escreveu uma coluna em que apresentou o livro Phantastica Brasiliana e comentou o texto de Orsi. Segue um trecho:

Qualquer fã que tenha tido o privilégio de ler o magnífico Anno Dracula (1992) não deixará de notar um certo paralelismo temático entre a noveleta de Martinho e o romance alternativo do inglês Kim Newman. Passado na Inglaterra Vitoriana do final do século XIX, o romance mostra o que teria acontecido se Drácula houvesse vencido o confronto contra o grupo liderado por Van Helsing e Jonathan Harker. O Império Britânico, de longe a potência mais poderosa da Terra, é dominado por uma estirpe de imortais, no caso a nobreza inglesa vampirizada por um Drácula que desposou a Rainha Vitória e tornou-se Lord Protector do Império. Mais ou menos a mesma coisa ocorre em "Não Mais", embora os imortais de Martinho não sejam vampiros. Em ambos os trabalhos há uma revolta de homens e mulheres notáveis que se recusam a compactuar com a nova ordem, mesmo ao preço de abrir mão da imortalidade. Tanto num quanto noutro há uma espécie de sociedade secreta composta por mortais patriotas e abnegados — a Não Mais da noveleta e o Diogenes Club do romance — lutando desesperadamente para reverter a situação ao status vigente antes do advento da imortalidade. Este paralelismo é um tour de force adicional dessa noveleta que se constitui num trabalhos mais interessantes e elaborados já escritos por aquele que é reputado por muitos como o autor brasileiro de horror mais criativo da atualidade.


O que mais dizer? Vale ainda citar o final que se vale de uma engenhosa manipulação metalinguística por parte de Carlos Orsi, remetendo o leitor dez anos depois da conclusão do conto, portanto, considerando-se a data do lançamento do livro, ao que seria aproximadamente os dias de hoje. Só ela, não fosse o excelente cenário construído, a perfeita caracterização dos personagens e os diálogos inspirados, já valeria a leitura da obra. Mas para quem ainda não se convenceu de que "Não Mais"/"Ya No" seja uma noveleta steampunk, vou encerrar com a passagem mais emblemática do texto, reforçando o convite para que o leiam por inteiro:

Frente a él, un intrincado sistema de ruedas, palancas, engranajes, cilindros y bielas trabajaba en el más absoluto silencio. El aparato ocupaba toda la altura de la torre y atravesaba el piso de mármol rosado, hundiéndose en el subsuelo.

La planta baja, donde se encontraba el alquimista, era el único nivel que poseía un piso sólido. Encima del mármol, alrededor del hueco central de la torre y a lo largo de toda la altura del edificio, el espacio entre el aparato y las paredes de bronce era interrumpido, aquí y allá, por una espiral simple, hecha de plataformas metálicas, que daba acceso a puntos específicos del Molino... así era como Athanasius llamaba a su silenciosa creación.

Por la espiral caminaban los esclavos sin mente, trabajando como abejas u hormigas para mantener a la reina alimentada y saludable. Esos esclavos salían de pasadizos tubulares que se abrían en la superficie interna de la torre.

El grosor del espacio que separaba la cara externa de la Torre de las paredes internas no era nada despreciable. Ese era otro truco, otro legerdemain del alquimista: para un observador casual, un noble visitante, la Torre del Bronce parecería hueca, un simple galpón metálico, construido para albergar al Molino y sustentar el volumen de la gran caja de distribución montada en su pináculo. Pero, en realidad, toda la estructura estaba entrecortada por corredores, cámaras, rampas y escaleras: una colmena secreta habitada por esclavos.

Todo sumido en el silencio. Como máximo, el sonido de una respiración, de un tenue suspiro, cada hora y media.

Como máximo.

6.8.09

Conselheiro honorário 2

Eis que surge uma nova resenha minha para a loja de São Paulo do Conselho Steampunk. Novamente eu falo de uma revista em quadrinhos do selo Elseworlds da DC Comics, desta vez protagonizada pelo Superman: A Nation Divided, traduzida no Brasil por Uma nação dividida.

Trecho, sendo que a íntegra pode ser lida aqui:

A história é praticamente uma versão em quadrinhos da chamada literatura epistolar, ou seja, daquela que é narrada por meio de cartas trocadas por seus personagens. Ela já abre com um exemplo desse recurso, quando vemos o jovem recruta nortista Atticus Kent escrever uma carta para seus pais, de Kansas, Josephus e Sarah – versão do século retrasado de nossos conhecidos Clark, Jonathan e Martha Kent.

"Queridos pai e mãe, não sei quando terei condições de remeter esta carta, mas eu queria registrar meus pensamentos, antes que o tempo os apague. Tem sido uma longa marcha. Embora eu não me sinta cansado, ando ouvindo queixas de outros homens. Desconfio que amanhã entraremos em combate. Eu não queria enfrentar os rebeldes. Sei que é preciso, pra encerrar esta guerra e preservar a União. No entanto, o preço será alto demais. Nós já vimos o resultado de batalhas preliminares. Homens mutilados e tão enfaixados que não vêem nada. Como crianças, eles são levados pela mão.”

A correspondência continua, com o soldado relembrando a vez em que seus pais deram abrigo à família Johnson, um casal e seus três filhos, negros, que fugiam de um grupo de escravistas. Pelas reminiscências do rapaz, podemos perceber que não se cansar nos deslocamentos não é a única evidência do quanto ele é diferente das demais pessoas. Os três homens armados que perseguiam os fugitivos foram expulsos do Rancho Kent por pedras lançadas por Atticus, em uma uma demonstração de força no mínimo incomum. Obviamente, isso seria apenas um aperitivo do que estava pra vir nas próximas páginas.

4.8.09

Conto steampunk em revista de RPG

Estive fora da rede mundial por uns dias, por isso não dei a notícia antes. A revista para entusiastas de jogos de interpretação RPG Magazine estreou na internet com uma versão em PDF e abriu espaço para o gênero abordado por este blog. Logo no seu primeiro número on line, a publicação trouxe o conto "Rota de fuga" de um dos criadores do Conselho Steampunk, Bruno Accioly, uma ótima surpresa em termos de steampunk made in Brazil.

Narrado em primeira pessoa por um mais que inusitado personagem, cuja origem pode ser deduzida pelo leitor desde o início, mas cuja confirmação só ocorre ao final do texto, o conto é excelente. O autor conseguiu unir informações técnicas muito precisas e verossímeis sobre o que se poderia esperar de um construto movido a vapor sem se descuidar do lado humano da narrativa. O conjunto é muito bom, como se pode provar pelo trecho a seguir:

Os pistões começavam a funcionar, o vapor escapando pelas pequenas imperfeições inevitáveis em minha estrutura. O som repetitivo das engrenagens era previsível, mas por ser a primeira vez que eu as escutava e por serem estes os primeiros passos que eu ensaiava a descer do teto e da parede da biblioteca, era como se eu estivesse nascendo de uma gestação interminável.
O capitão não me dava atenção e, como que em transe, tentava resolver uma série de questões mecânicas de transferência de energia que não tinham mais qualquer relevância. Olhava-o por trás enquanto ele se esforçava com habilidade nos controles que acionara após retirar de cima deles a enorme edição do Alcorão que os escondia.
As espirais amplas que a embarcação agora descreviam pelas laterais do gigantesco redemoinho provocavam rangidos sinistros que provavelmente assustavam toda a experiente tripulação, mas o capitão continuava impassível.
Quando falei pela primeira vez ele não pestanejou, mesmo tendo o som sido mal articulado e sem significado – Agora não! – disse, aparentemente para minha manifestação.
- É o momento, capitão… – insisti no único tom monótono, metálico e sibilante que eu era capaz de usar.

A íntegra pode ser lida tanto no site do Conselho quanto no arquivo da revista, que trás o mutante Wolverine na capa e ainda dá oportunidade para seus leitores concorrerem a livros. Um ótimo aperitivo para o que promete ser uma grande parceria.

3.8.09

Caleidoscópio retro-futurista

Por Ricardo França


Uma coletânea como há muito não se via em termos de coesão e variedade com qualidade. Obviamente facilitou a consecução destas virtudes o fato de existir um fio condutor na forma do tema-estilo do título, que com todo o charme das histórias em futuro do pretérito mostra várias as possibilidades do que poderia ter sido com um estilo que dificilmente se adota hoje em dia. Todos os autores manifestaram ao jeito de cada um seu caleidoscópio interessante de imagens retro-futuristas. O espanto pessoal quanto ao grau de pesquisa necessária para as escrituras acompanhou cada página lida neste opúsculo, que é também adicionalmente uma mostra que se pode se manter as referências de nossas raízes culturais em quase qualquer estilo ficcional de forma bem feita. Minhas impressões de cada conto vão descritas individualmente como segue:

O Assalto ao Trem Pagador – Gianpaolo Celli

Abrindo a coletânea um conto que é uma verdadeira “traulitada” em termos de construção de cenário. Pesquisa intensiva descendo aos mínimos detalhes de consistência entremeados organicamente num ritmo de aventura e ação fazem deste conto steampunk uma experiência de fruição única para quem também aprecia uma boa pitada de teoria da conspiração. Fica aquele gosto de querer mais histórias com o desdobrar deste pano de fundo sócio-histórico.

Uma Breve Historia da Maquinidade – Fábio Fernandes

Um sintético conto que, mesmo num espaço bem “mignon”, consegue através de uma visão dos “rabota” em largas pinceladas aludir contextualmente aos grandes conflitos sócio-industriais do sec. XIX, ao mesmo tempo em que resgata personagens já bem conhecidos do imaginário coletivo, mas sempre sob um viés originalíssimo, e com o mesmo tom criativo no desembocar do seu final. Um “FF” da melhor qualidade.


A Flor do Estrume – Antônio Luiz M. C. Costa

Esta deliciosa história, recheada de bem urdidas referências de cunho estilístico e literário da nossa cultura para quem já teve oportunidade em algum momento de estabelecer um “primeiro contacto” com esta, é também quase um “must” como potencial ferramenta para alavancar interesses se for usada como atrativo para que nossos jovens se interessem pela produção dos autores nacionais clássicos. E além de apresentar o perfil de uma História Alternativa com nossas cores ainda põe uma criativa abordagem da possibilidade quanto às tecnologias biológicas dentro do estilo steampunk.


A Música das Esferas – Alexandre Lancaster

Os personagens deste conto contém grande eficácia de identificação, sendo tanto convincentes e bem construídas como adequadamente inseridas dentro de uma ação de ritmo jovem e ágil, dada a curta extensão de uma história ainda muito bem situada segundo o tema do livro. Uma também convincente aplicação do conceito operacional de um “mecha a vapor” e um estilo que por vezes perpassa ao “gore”, agregados a um sólido bom humor que coube muito bem no cenário e nos diálogos, faz com que fiquemos expectantes quanto às futuras incursões do autor.


O Plano de Robida: Une Voyage Extraordinaire – Roberto de Sousa Causo

Fantástica exposição de história de aventura num “blend” de tons míticos com tecnológicos, aborda um tema que sempre me foi de interesse, e cuja consecução resultou altamente satisfatória. Condensando o melhor do estilo e tradição dos pulps com um locus histórico mais do que adequado à coletânea, tem aquele tom estimulante que faz falta em muitas histórias mais “reflexivas” da atualidade. Espero ansiosamente a provável continuação deste conto que fecha bem, mas que claramente apresenta um gancho certo para a extensão deste fragoroso embate entre um vilão mais ambicioso que o sherlockiano Moriarty e as forças atlantes, sob a quase impotente e ainda ingênua sociedade da época.

Obs: Foi ótimo ver o Padre Landell de Moura representado de forma tão adequada e respeitosa.


O Dobrão de Prata – Claudio Villa

Esta angustiante história de terror narrada em primeira pessoa não fica nada a dever às dos grandes representantes do gênero. A montagem de um cenário (sub-)aquático entre duas épocas seculares, bem como a sensação de como nem a ingênua confiança advinda dos albores da tecnologia pode ajudar quando confrontada com o incognoscível foram judiciosamente usadas para criar o clima macabro deste conto.

Uma Vida Possível Atrás das Barricadas – Jacques Barcia

A fusão estilística steam-punk-chaotic-weird-science (des-)enquadrada num hipotético cenário de conflagração política semelhante aos gerados pelas grandes confusões ideológicas dos séc. XIX e XX, na forma como obtida pelo autor, conseguiu atingir a dosagem certa dos elementos para a inclusão de uma vida aparentemente impossível mas não obstante invencível. Uma ode à liberdade e tolerância do diferente embutida nestes rasgados e plásticos (ou seriam organo-metálicos?) võos imaginativos.


Cidade Phantástica – Romeu Martins

Esta deliciosa fusão de elementos reais e literários (nacionais e internacionais) absolutamente bem pesquisados e embasados no contexto temático da coletânea teve na sua construção o toque de um estilo de ação policial tipicamente pulp, porém mesclado com sutis e às vezes grandiloquentes toques descricionais que fizeram paradoxalmente acelerar e dar colorido vivo a uma história cuja plausibilidade se estabelece como uma das mais fortemente impactantes desta coletânea.


Por Um Fio – Flávio Medeiros

Um grande otimismo subjacente pela humanidade, mesmo sob as condições mais limítrofes e desesperançosas, perpassa por este claustrofóbico conto que, ao mesmo tempo que resgata o estilo clássico de histórias de confronto entre oponentes valorosos de semelhante brilho, tem um “timing” que prende e nos faz “navegar” sem escalas até o fecho final.


Nota complementar:
Alguns poderiam retrucar que só fui “elogios” no que se refere à resenha dos contos desta surpreendente coletânea. Devo dizer em defesa que uma das principais preocupações foi tentar não levantar informação por demais “spoilerística”, me restringindo mais a uma descrição do clima que expondo os detalhes sobrenadantes que mais me afetaram (mesmo que por vezes falhando neste intento), até pelo fato de não ser propriamente um especialista em teoria literária no geral e no estilo steampunk em particular. Obviamente que alguns contos me agradaram mais que outros e alguns pouquíssimos deslizes na revisão (atípicamente poucos) ou de referência histórica (mas, ora bolas, se trata ou não de HA?), que no meu entender não comprometeram o prazer das leituras, poderiam ser indicados, mas achei por bem que seria mais construtivo apontar as grandes forças desta seleção de contos (que certamente fica como um marco tanto no estilo de produção como na qualidade gráfica) que pode e deve se consolidar como uma referência até mesmo acadêmica dentro do quadro da FC/HA nacional. Minhas esperanças estão em que seja esta a primeira de muitas outras iniciativas semelhantes.

Este texto foi originalmente publicado na comunidade Ficção Científica, do Orkut, que sorteou um exemplar da coletânea, cedido pelo autor Antônio Luiz M. C. Costa

1.8.09

A primeira resenha

Por Giseli Ramos

Já ouviu falar de steampunk? Se não, a explicação curta: ficção ambientada na era vitoriana, com o uso da tecnologia das máquinas a vapor alçada ao seu maior desenvolvimento possível – isto é: o que poderia acontecer se tivéssemos ido além dos navios e trens a vapor e se as máquinas mecânicas de Babbage tivessem vingado?

Uma explicação mais longa e bem mais detalhada foi feita pela Ana Cristina aqui. Um excelente post para situar os desavisados =)

Esses dias uma coletânea steampunk me surpreendeu. Melhor ainda, uma coletânea brasileira! Algumas histórias são situadas na época do Brasil Império, quando os trens a vapor eram bem comuns por aqui. Mas há também histórias bacanas de outras partes do mundo.

Comentarei rapidinho sobre cada um dos contos:
O Assalto ao Trem Pagador, de Gianpaolo Celli – Apesar de ter achado um pouco confusa algumas descrições de cenas, a história é bem legal e dá uma causa diferente e interessante à Guerra Franco-Prussiana.
Uma Breve História da Maquinidade, de Fábio Fernandes – Fantástico conto steam adaptado de “The Boulton-Watt-Frankenstein Company” (também escrito pelo Fábio), onde ele expande a história de Victor Frankenstein, que não para no primeiro experimento apenas, também se volta às máquinas e não imagina suas consequências futuras.
A Flor do Estrume, de Antônio Luiz M. C. Costa – A história é legal, se passa numa linha alternativa onde o Brasil já é uma potência respeitável, comparável à Inglaterra. A trama se trata basicamente da medicina andando de mãos dadas com o avanço tecnológico a vapor. Eu só achei a linguagem um tanto rebuscada demais e tem vez que a leitura não flui legal. O autor podia ter pegado mais leve na linguagem. Fora essa parte, o conto é bem bacana de se ler.
A Música das Esferas, de Alexandre Lancaster – Conto leve e bem divertido de se ler. Até se parece com uma HQ bacana ambientada na era do Brasil Imperial. Narra sobre as aventuras e problemas que um adolescente inventor tem que resolver. Soube há um tempinho que está em projeto (ou foi lançado já?) uma HQ justamente sobre o herói e personagem principal do conto.
O Plano de Robida: Un Voyage Extraordinaire, de Roberto de Sousa Causo – Conto com várias referências a personagens reais e ficcionais, muito bacana de se ler. Eu achei legal ver Landell de Moura e Santos Dumont em ação, coisa raríssima de se ver na ficção. A trama flui bem, com engenhos a là Verne e aprimorados com o máximo que a tecnologia a vapor pudesse oferecer, eu só esperava um pouco mais do final.
O Dobrão de Prata, de Cláudio Villa – Conto com leves pitadas de suspense/terror. Apesar de eu não ter lido Lovecraft (ainda!), dá para perceber sua influência na trama. Tudo isso em um ambiente steampunk, claro, onde o personagem conta com o auxílio da tecnologia de exploração do mar, já um pouco mais avançada graças ao vapor.
Uma Vida Possível Atrás das Barricadas, de Jacques Barcia – Não sei porque, mas quando li esse conto, me lembrei de Perdido Street Station. Apesar de ter me estranhado bem no começo, a coisa melhorou no decorrer da leitura, com personagens máquinas-quase-humanas e seres esquisitos metidos em uma revolução. Só achei alguns pontos do conto meio obscuros e podiam ser melhor desenvolvidos e descritos. Mas o final compensa, meio que leva a um clímax.
Cidade Phantástica, de Romeu Martins – Conto ambientado na época de D. Pedro II (bem mais liberal) e onde não houve a Guerra do Paraguai. É um faroeste brazuca pulp permeado de referências a vários personagens ficcionais e reais, mas sem descambar em clichês típicos. O autor reinventou várias ideias e personagens.
Por um Fio, de Flávio Medeiros – História de dois grandes homens em tempos de guerra e em lados opostos, na era vitoriana e onde é comum o uso de balões e de submergíveis. A trama é muito bem contada e o autor ainda soube manter um certo suspense no calor da batalha.
Gostei de praticamente todos os contos, apesar dos percalços de alguns. A ilustração da capa ficou ótima e reflete bem o espírito vaporoso. Eu só acho que a revisão de alguns contos meio que deixou a desejar… mas acontece.
Recomendável sua leitura! =D Pode ser adquirida aqui no site da Tarja.