O ano em que mais vai se lançar material steampunk no Brasil não poderia começar melhor do que com a exibição da segunda aventura sherlockeana dirigida por Guy Ritchie; Se na época do primeiro filme, resenhado aqui, houve quem pusesse em dúvida se se tratava mesmo de um filme do gênero (ignorando, essas pessoas, a clara retrotecnologia que aparecia na obra), nesta segunda produção os personagens principais, vividos por Robert Downey Jr. e Jude Law, até mesmo usam em certo momento googles, aqueles óculos protetores que são verdadeiros ícones do estilo. Sherlock Holmes - O jogo de sombras apresenta ainda mais invenções tecnológicas a frente do tempo em que se passa a história (1891), ao mostrar a tentativa do Grande Detetive vitoriano de desbaratar os planos de seu nêmesis, o Napoleão do Crime, para antecipar a Primeira Guerra Mundial em uma geração.
O filme nada mais é que uma versão estendida e muito mais explosiva daquele conto que deveria ser o último que Arthur Conan Doyle escreveria sobre seu maior personagem. "O problema final" ao mesmo tempo introduzia o professor Moriarty como o único vilão a se ombrear com Holmes nos dotes intelectuais e mostrava a morte da dupla de opositores, despencando do alto de uma catarata suíça, para livrar o escritor do ônus de ser eclipsado por sua criação. Como todos sabemos, a reação do público e dos editores foi tamanha que não restou alternativa a não ser promover a volta do detetive consultor às páginas das revistas de contos e dos livros. Esta é a base da narrativa escolhida pelo diretor britânico para voltar a se aventurar em sua recriação do maior dos mitos da Era Vitoriana nas telas de cinema.
A escolha do antagonista, que aparecia apenas parcialmente no primeiro filme, depois de muita especulação acabou recaindo em Jarred Harris, ator conhecido por seu papel no seriado de TV Mad Men, e que consegue ficar à altura de contracenar com Downey Jr. inspirado como sempre. A interação da dupla só não é mesmo maior que a existente entre o protagonista e seu coadjuvante de luxo. Jude Law revive seu John H. Watson (agora homem casado e com o enigmático significado da inicial do meio revelado) com a química perfeita com seu colega de cena. Nas cenas que se passam em um trem metralhado, a quantidade de alusões homoeróticas entre os dois parceiros é tão grande quanto as que haviam entre Batman e Robin nos gibis pré-Era de Prata do Morcego, no típico humor escrachado das produções de Guy Ritchie.
Aquele recurso unindo flashbacks e flashfowards que tenta reproduzir a velocidade das deduções de Holmes - e agora também de Moriarty - a que chamei de thought time na resenha anterior, está de volta em grande estilo. Assim como uma versão atualizada de seu ancestral, o bullet time visto pela primeira vez na trilogia Matrix. Na sequência em que Holmes, Watson e seus informantes ciganos são alvejados em uma floresta, a equipe do filme empregou novas câmeras capazes de captar movimentos com uma precisão de experimento científico. O resultado é bem operístico, assim como o filme como um todo. Um filme ainda melhor que o primeiro e que já prenuncia um terceiro que deverá formar a melhor trilogia steamer a chegar aos cinemas.
3 comentários:
Opa, que legal! Vou me programar para ir ao cine em SP para ver o filme então :D
eu só ia na quarta, mas acabei não resistindo de pegar o filme na estreia ;-)
A resenha foi muito boa e espero que o terceiro filme ganhe uma em 2017 !
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