6.12.11

Sherlock Begins

Antes do recente filme de Guy Ritchie com Robert Downey Jr. no papel principal, a obra cinematográfica que apresentou as aventuras do Grande Detetive a um novo e grande público foi O enigma da pirâmide, título nacional de Young Sherlock Holmes, de 1985. Duas décadas e meia depois daquela película - que já virou um clássico nas reprises da TV aberta - chegou às nossas livrarias o primeiro livro de uma série com o mesmo nome original e a mesma proposta de mostrar os anos de formação do personagem de Conan Doyle. O Jovem Sherlock Holmes - Nuvem da morte foi lançado no Brasil este ano pela editora Intrínseca que já promete publicar também a continuação, Parasita Vermelho, e, a depender do sucesso, quem sabe as duas outras obras da série, já circulando pela Inglaterra, país natal tanto do personagem quanto do autor, Andrew Lane.

Em certos momentos tão divertido quanto o filme oitentista, a vantagem inicial deste livro que abre a série é seguir mais de perto o cânone legado pelo criador do personagem. Tanto é verdade, que Lane conseguiu as bênçãos dos descendentes de Conan Doyle para escrever sua própria versão da adolescência de um dos personagens mais conhecidos e visados do mundo. Em Nuvem da morte, vemos Holmes aos 14 anos, na década de 60 do século XIX, ainda dando os primeiros passos para domar seu cérebro privilegiado, adquirindo a gama de conhecimentos que serão tão úteis para quando ele for morar em Baker Street e se tornar um detetive consultor, vinte anos mais tarde. Para tanto, Lane criou a figura de um tutor para o jovem, controvertidamente - e, por certo, com a intenção de tornar mais viável uma possível adaptação cinematográfica de seu texto - na figura de um personagem americano. Amyus Crowe, ex-caçador de recompensas em Albuquerque, foi a quem coube tal honraria.

Do material canônico, além do protagonista, apenas seu irmão Mycroft faz uma ponta. Outros personagens estão lá para cumprir funções de criações originais de Conan Doyle. Virginia, a filha de Crowe, seria A Garota, uma espécie de prévia de Irene Adler. Matty Arnatt, que abre o livro no prólogo, mas não é o narrador (o livro é em terceira pessoa), faz às vezes de Watson. Quanto ao vilão, uma espécie de antecessor de Moriarty, prefiro não revelar o nome e estragar alguma surpresa. Mas digo que, em caso de uma bem provável adaptação para o cinema, este antagonista poderia resultar em efeitos especiais tão memoráveis quanto os utilizados em O enigma da pirâmide, filme pioneiro no uso da computação gráfica, com seus doces ambulantes e um espadachim saído de um vitral.

O plano encabeçado pelo vilão é que não é lá grandes coisas na trama. Tanto que a partir do momento em que o jovem Sherlock deduz seus detalhes, o estrategema passa a ser contestado em sua viabilidade por todos os personagens coadjuvantes. Parece mais que a ideia surgiu mais para Lane fazer uma ponte entre esta estreia não-oficial do personagem e o interesse que o criador dele imaginou que Holmes teria ao final da vida, após se retirar das grandes aventuras. E mais não digo. Porém, mesmo inconsistente, o pano de fundo serve para divertir e para mostrar como o futuro ícone da lógica se virava no início da carreira. Segundo podemos ver na interpretação de Andrew Lane, enquanto não desenvolvia plenamente seu lado Spock, o rapazinho sabia lutar tão sujo quanto Kirk.

4 comentários:

Pedro Dobbin disse...

Mais um que vai para a lista de leituras futuras. Nunca me interessei por essas histórias tipo "o jovem" seja lá quem seja, mas pelo que você diz e se segue o canône ou pelo menos tem a preocupação com ele, então deve valer a pena. Como trekker de carteirinha fiquei curioso e gostei bastante da comparação.

Abraços,
Pedro Dobbin

Romeu Martins disse...

hehe, também não é sempre que esse negócio de juvenização me agrada. Mas eu gostava do seriado do jovem Indiana Jones, por exemplo, dos anos 90. E, claro, gostei muito e revi inúmeras vezes O enigma da pirâmide, com Holmes adolescente ;-)

Achei esse livro bem divertido, vou dar uma olhada nos próximos que saírem por aqui, mas espero que a trama de fundo melhores daqui para frente...

Gustavo disse...

Já tinha visto, e achei que era mais pra adolescente. pelo visto não é. Comprarei.

Romeu Martins disse...

É nessa linha que vem sendo chamada de Young Adults. A trama é mais leve e com menos envolvimento psicológico que um livro adulto, seria a sessão da tarde da literatura ;-)