O post anterior era para ter sido o último deste ano, mas como a novidade mais quente de 2012 foi anunciada via twitter, não resisto a uma postagem final. Reproduzo o tweet em questão:
@edit_Underworld Nossa primeira antologia será sobre o universo Steampunk e contará com a participação de escritores nacionais e internacionais \O/
Isso mesmo, a editora responsável pela publicação em português de Boneshaker, de Cherie Priest, e da Steampunk Bible, de Jeff VanderMeer e S.J. Chambers, vai também trazer ao público leitor brasileiro uma antologia steampunk reunindo pela primeira vez autores nacionais e escritores do concorridíssimo mundo anglófono. Vai ser uma obra para levar o Brazilian Steampunk a outro patamar, posso garantir a vocês.
A organização coube orgulhosamente a este blogueiro que vos escreve em parceria com Fábio Fernandes, tradutor daquelas duas obras internacionais citadas anteriormente, e Fabiana Andrade, a editora por trás da Underworld. Já fica meu compromisso aqui, assumido com os leitores do Cidade Phantástica, de assim que for possível, após uma reunião virtual no eixo Minas Gerais (sede da editora), São Paulo (onde mora Fábio Fernandes) e Santa Catarina (minha base fixa), divulgar os nomes dos autores convidados para... Underworld of Steampunk (guardem este nome).
Muito feliz por ter tido a chance de dar esta notícia bem no dia do meu aniversário (valeu, Fabi e Fábio!), deixo, agora sim, os frequentadores desta página com meus melhores votos de um feliz ano novo! Abraço a todos e até 2012!
29.12.11
27.12.11
Cursed City entre os destaques do ano
Nada como a ideia de fechar um ciclo quando se encerra um ano. Então, neste que, provavelmente, deverá ser o último post do ano, tenho a oportunidade de falar do primeiro livro a publicar um conto meu em 2011. O advogado, escritor e organizador da coletânea que será a primeira a publicar um conto meu em 2012 (ciclos), Marcelo Augusto Galvão, postou em seu blog a lista dos livros que se destacaram entre suas leituras do ano. Estou presente lá, com meu conto "Domingo, Sangrento Domingo":
Cursed City – vários autores (Estronho). Essa antologia weird west, organizada por M. D. Amado, já chama a atenção pela capa, com um buraco de bala atravessando o livro. São 20 histórias, algumas ótimas, outras com uma boa ideia mas que precisavam de um tratamento melhor. Os contos que se destacam são os de Alfer Medeiros, Cirilo S. Lemos, Alliah e Romeu Martins.
Aproveito para agradecer ao Galvão pela lembrança e aos leitores por acompanharem este blog em mais um ano de atividade. Abraços e até o próximo ciclo!
Cursed City – vários autores (Estronho). Essa antologia weird west, organizada por M. D. Amado, já chama a atenção pela capa, com um buraco de bala atravessando o livro. São 20 histórias, algumas ótimas, outras com uma boa ideia mas que precisavam de um tratamento melhor. Os contos que se destacam são os de Alfer Medeiros, Cirilo S. Lemos, Alliah e Romeu Martins.
Aproveito para agradecer ao Galvão pela lembrança e aos leitores por acompanharem este blog em mais um ano de atividade. Abraços e até o próximo ciclo!
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26.12.11
Steampunk e MMA
Meu colega na coletânea Deus ex machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor, João Norberto, está em fase de preparação de novos materiais com influência steampunk. Uma amostra do que está por vir foi postada por ele em seu blog, unindo a ficção steamer com uma modalidade de luta que cada vez atrai mais público. Segue um trecho da apresentação e a ilustração que ele fez para o projeto:
Continua
Enquanto vou preparando um livro expandindo o universo apresentado no conto Anhanguera, publicado na antologia Deus Ex Machina da editora Estronho, comecei a pensar em novos conceitos para outros contos Steampunk e eis uma das tentativas.
Imaginei como seria uma luta de MMA ( Mixed Martial Arts) com elementos “à vapor” e aos poucos foram surgindo personagens e acabei me inspirando num clipe da banda Within Temptation para o casal principal.
Enquanto o conto anterior, com o personagem Jaguar-Upiara tinha como cenário Aupaba, também conhecida como Terra de Santa Cruz, esse mostra um pouco do já citado Império Primordial, de onde vêm os colonizadores (ou invasores) mostrando que existe mais nesse mundo do que parece.
Sem mais delongas, escolha seu lutador, torça muito e boa leitura.
Continua
25.12.11
Feliz Natal, steamers!
A imagem veio daqui http://www.fanpop.com/spots/steampunk/images/17649273/title/christmas-steampunk-ornaments-photo
13.12.11
Dirty Harry Potter
Quando foi lançado em 2005, o filme Constantine descontentou boa parte dos leitores de Hellblazer, a revista mais longeva do selo de quadrinhos adultos da DC Comics e que lhe serviu de inspiração. Ainda que não fosse exatamente um trabalho ruim, a obra tomou liberdades na recriação de seu protagonista com o objetivo de tentar torná-lo mais atrativo ao mercado dos EUA. Resumidamente, saiu de cena o loiro inglês com a cara do Sting das HQs para chegar às telas um americano moreno e com a cara inexpressiva de Keanu Reeves. O mais irônico é que havia à disposição dos produtores dos estúdios um personagem que corresponderia mais prontamente, sem a necessidade de descaracterizações, àquele modelo americanizado de mago investigador que foi levado aos cinemas. Estou falando de Harry Dresden, um bruxo morador de Chicago e que atende tanto clientes particulares quanto presta auxílio à polícia daquela cidade mediante a quantia de 50 dólares a hora. Criação do escritor Jim Butcher, um romance tendo ele como personagem principal foi lançado no Brasil pela Editora Underworld, a mesma que vai trazer a Steampunk Bible a nosso país em 2012.
Frente de tempestade é apenas o primeiro de uma longa lista de livros agrupados na série Dresden Files. Originalmente, foi lançado no ano 2000; no ano seguinte, o autor publicou dois outros títulos que já tinha prontos; desde então, anualmente um novo romance do bruxo de Chicago tem chegado ao mercado, sempre narrados por Harry Blackstone Copperfield Dresden. Filho de um mágico de circo (e de uma maga com poderes reais), o motivo de seu batismo na ficção teria sido homenagear Harry Houdini (1874-1926), David Copperfield e Harry Blackstone (1885-1867), três dos mais famosos mágicos de todos os tempos. Consta que Butcher descreve informalmente seu personagem e seu universo aludindo a outras duas inspirações que podem ser resumidas na expressão usada no título desta resenha. É uma excelente maneira de descrever o que o leitor pode esperar do livro: a união do ambiente policial dos filmes adultos protagonizados por Clint Eastwood com os ingredientes fantásticos da série literária infanto-juvenil criada por J. K. Rowling. Uma espécie de fantasia hardboiled.
O público alvo também corresponderia a tal colisão dos mundos de Dirty Harry com Harry Potter, pois toda a série dos Arquivos de Dresden é voltada para os chamados Young Adults, aquela nova faixa de consumidores que embarca lá desde a pré-adolescência até leitores por volta dos 30 anos - ou mais. Exatamente o grupo que a editora brasileira busca atingir por aqui e que resultou na aposta neste romance de estreia de Jim Butcher. Sendo assim, o livro pode não ter a profundidade psicológica que se esperaria de uma obra realmente adulta, mas em seu lugar reserva aos apreciadores de uma boa trama de investigação e também aos que cresceram apreciando aventuras com bruxos recitando encantamentos uma boa dose de ação e de diversão. O equilíbrio fica entre assassinatos brutais, com as vítimas tendo o coração arrancado por forças místicas, com cenas bem humoradas, descritas pela narrativa quase cínica e cheias de referências ao mundo real - com marcas bem conhecidas, por exemplo - do jovem adulto Harry Dresden.
O romance é uma boa e promissora estreia, com seus gangsteres humanos e cafetinas vampiras, que talvez agrade ainda mais os leitores de Hellblazer que aquele filme de seis anos atrás. Espero que o lançamento de Frente de tempestade seja seguido em nosso país por mais livros da longa série que nos EUA está programada para ter ao todo vinte livros (e que pode ainda não ter ido aos cinemas, mas já rendeu um seriado televisivo de curtíssima duração, com apenas 12 episódios exibidos na mesma época em que Constantine ia parar nas telas). A prosa e a imaginação de Jim Butcher mereceriam fazer sucesso no mercado nacional também. O mesmo vale para trabalho da editora Underworld, apesar do deslize desagradável ocorrido em algum lugar entre o trabalho de tradução de Johann Heyss e o de revisão de Marcelo Sampaio. Algumas expressões usadas por um foram apenas parcialmente substituídas pelo outro. O caso mais grave foi a sucessiva mudança de "que nem" para "como" que acabou por resultar em uma dezena de "comoque nem" espalhados ao longo das 340 páginas do livro. Fora esse contratempo, obviamente de caráter técnico, a revisão deixou ainda escapar vários "quês" e "porquês" sem o devido acento circunflexo e algumas palavras grafadas na velha ortografia, como "microondas" (agora, micro-ondas). São problemas que podem ser corrigidos em uma eventual segunda tiragem e que não devem se repetir em um possível novo livro da série.
Frente de tempestade é apenas o primeiro de uma longa lista de livros agrupados na série Dresden Files. Originalmente, foi lançado no ano 2000; no ano seguinte, o autor publicou dois outros títulos que já tinha prontos; desde então, anualmente um novo romance do bruxo de Chicago tem chegado ao mercado, sempre narrados por Harry Blackstone Copperfield Dresden. Filho de um mágico de circo (e de uma maga com poderes reais), o motivo de seu batismo na ficção teria sido homenagear Harry Houdini (1874-1926), David Copperfield e Harry Blackstone (1885-1867), três dos mais famosos mágicos de todos os tempos. Consta que Butcher descreve informalmente seu personagem e seu universo aludindo a outras duas inspirações que podem ser resumidas na expressão usada no título desta resenha. É uma excelente maneira de descrever o que o leitor pode esperar do livro: a união do ambiente policial dos filmes adultos protagonizados por Clint Eastwood com os ingredientes fantásticos da série literária infanto-juvenil criada por J. K. Rowling. Uma espécie de fantasia hardboiled.
O público alvo também corresponderia a tal colisão dos mundos de Dirty Harry com Harry Potter, pois toda a série dos Arquivos de Dresden é voltada para os chamados Young Adults, aquela nova faixa de consumidores que embarca lá desde a pré-adolescência até leitores por volta dos 30 anos - ou mais. Exatamente o grupo que a editora brasileira busca atingir por aqui e que resultou na aposta neste romance de estreia de Jim Butcher. Sendo assim, o livro pode não ter a profundidade psicológica que se esperaria de uma obra realmente adulta, mas em seu lugar reserva aos apreciadores de uma boa trama de investigação e também aos que cresceram apreciando aventuras com bruxos recitando encantamentos uma boa dose de ação e de diversão. O equilíbrio fica entre assassinatos brutais, com as vítimas tendo o coração arrancado por forças místicas, com cenas bem humoradas, descritas pela narrativa quase cínica e cheias de referências ao mundo real - com marcas bem conhecidas, por exemplo - do jovem adulto Harry Dresden.
O romance é uma boa e promissora estreia, com seus gangsteres humanos e cafetinas vampiras, que talvez agrade ainda mais os leitores de Hellblazer que aquele filme de seis anos atrás. Espero que o lançamento de Frente de tempestade seja seguido em nosso país por mais livros da longa série que nos EUA está programada para ter ao todo vinte livros (e que pode ainda não ter ido aos cinemas, mas já rendeu um seriado televisivo de curtíssima duração, com apenas 12 episódios exibidos na mesma época em que Constantine ia parar nas telas). A prosa e a imaginação de Jim Butcher mereceriam fazer sucesso no mercado nacional também. O mesmo vale para trabalho da editora Underworld, apesar do deslize desagradável ocorrido em algum lugar entre o trabalho de tradução de Johann Heyss e o de revisão de Marcelo Sampaio. Algumas expressões usadas por um foram apenas parcialmente substituídas pelo outro. O caso mais grave foi a sucessiva mudança de "que nem" para "como" que acabou por resultar em uma dezena de "comoque nem" espalhados ao longo das 340 páginas do livro. Fora esse contratempo, obviamente de caráter técnico, a revisão deixou ainda escapar vários "quês" e "porquês" sem o devido acento circunflexo e algumas palavras grafadas na velha ortografia, como "microondas" (agora, micro-ondas). São problemas que podem ser corrigidos em uma eventual segunda tiragem e que não devem se repetir em um possível novo livro da série.
8.12.11
Post 666 - trecho de conto inédito
Isso mesmo, com este aqui, chegamos ao número de 666 postagens neste blog. Para comemorar o mais do que simbólico número, resolvi publicar um trecho do primeiro conto de horror que escrevi. É um tipo de horror urbano, de inspiração óbvia nos quadrinhos da linha adulta da DC Comics, o selo Vertigo.
A história por trás da história é quase coisa de terror, também. Eu o escrevi para participar de uma coletânea de uma editora, mas fui alertado por um beta reader de algo que deveria ter lido com atenção nas regras de envio: o livro, que até hoje não foi impresso, só iria aceitar FC e este não era bem o caso do meu texto. Pensei em enviar para uma segunda coletânea, de uma outra editora, mas não gostei muito dos bastidores daquele projeto - que nunca saiu - e desisti. Dai mandei o texto para uma terceira coletânea, de uma terceira editora, depois de mais de um ano, desistiram da publicação. Agora, o enviei para uma quarta coletânea de - adivinhem - uma quarta editora. Vamos ver se desta vez sai, se não o conto, pelo menos a obra que está sendo organizada.
Há um projeto de transformar este conto em uma graphic novel, quando puder, divulgo mais detalhes a respeito. Por enquanto, segue a parte inicial desta narrativa que parece assombrar o meu HD enquanto não dá um jeito de ser publicada. Abraço, boa leitura, bom final de semana.
Vaso Ruim observa sua imagem reproduzida em detalhes no boneco de aproximadamente 30 centímetros de altura que o visitante colocou na mesa à sua frente. Detalhes minuciosos, a cabeça de cabelos raspados do brinquedo revelava o mesmo crânio irregular com formato aproximado ao de uma bola de futebol americano daquele jovem roqueiro. Característica que ele passara a ter desde o acidente de carro que inspirou seu apelido. Na verdade, aquele acidente também foi o ponto de partida para o batismo da banda do rapaz, que por sua vez tem o mesmo nome do primeiro álbum lançado por ela – Traumatismo Craniano, conhecido pelos fãs como “aquele do raio-x”, por ter trazido na capa do CD uma radiografia real da cabeça do vocalista, ainda com pinos de titânio sustentando ossos fraturados. A barba comprida, ruiva e pontuda, do Vaso Ruim de brinquedo também é idêntica a do real; a expressão de ódio constante, idem: sobrancelhas como duas setas apontando em direção ao nariz e a boca crispada num trapézio com a arcada dentária à mostra. Mas nem de longe lembrando um sorriso.
A mudança mais evidente entre o homem de quase dois metros e sua miniatura com um sexto do tamanho eram as roupas que cada um vestia. O boneco envergava um uniforme típico de show, o plástico de que era feito fazia a imitação perfeita do couro preto grudado no corpo, incluindo os pés, calçados com coturnos de estilo militar. Na parte de trás da jaqueta, o logo da Traumatismo Craniano: uma caveira estilizada, cor de sangue, estilhaçada. Já o modelo vivo daquela escultura estava de camiseta vermelha, de time de futebol gaúcho, bermuda e chinelos de dedo de um verde berrante, um conjunto mais adequado ao calor soteropolitano capaz de resistir até à potência máxima do ar-condicionado que atendia àquela saleta próxima à recepção no hotel em que o roqueiro e sua banda estavam hospedados. Um hotel de categoria, na orla da cidade, bem diferente das posadas ou apartamentos emprestados nos quais eles ficavam até poucos anos atrás, entre uma apresentação ou outra pelo país ou mesmo durante os festivais fora do Brasil nos quais eles abriam shows de artistas bem mais conhecidos.
Bebendo uma garrafa de cerveja atrás da outra desde que chegara à Bahia, ainda na madrugada daquele sábado, o líder da Traumatismo Craniano olhava a sua réplica sem demonstrar interesse. Afinal, para ele o boneco não era mais novidade. Desde que assinou o contrato com a atual gravadora, a gigante alemã Nuclear Blast, artigos licenciados eram lançados regularmente. Por onde quer que passe com as turnês da banda, no Brasil ou no exterior, lojas especializadas se enchiam com exemplares da figura e, em alguns lugares, até alguns camelôs vendiam cópias pirateadas feitas de material inferior e com pintura irregular. Ele mesmo encontrou várias réplicas ilegais nas proximidades da Galeria do Rock, na manhã anterior, quando foi dar uma de suas raras entrevistas para uma rádio paulistana, antes de pegar o avião rumo ao Nordeste.
Não era o caso daquela ali, de pé sobre a mesa. Claramente diante dele estava uma representante da versão de luxo, aquela que vem em uma cartela marcada com um “Collector’s Edition” escrito com letras escarlates. Foram poucos os exemplares do tipo postos à venda. A figura era disputada em leilões virtuais, alcançando boas ofertas dos mais entusiasmados, principalmente se o item ainda estivesse na embalagem, intocado, e se ela viesse personalizada com algum garrancho do rapaz. Era essa a suspeita de Vaso Ruim, apesar de a peça em questão estar fora do altar fetichista de plástico e papelão, tão importante para colecionadores radicais. O homem que entrou para conversar naquela sala e se sentou diante dele deveria ser um desses caçadores de autógrafos, prontos para aproveitar uma oportunidade de valorizar o produto antes de lançá-lo no eBay e faturar alguns dólares, libras ou ienes na operação.
A história por trás da história é quase coisa de terror, também. Eu o escrevi para participar de uma coletânea de uma editora, mas fui alertado por um beta reader de algo que deveria ter lido com atenção nas regras de envio: o livro, que até hoje não foi impresso, só iria aceitar FC e este não era bem o caso do meu texto. Pensei em enviar para uma segunda coletânea, de uma outra editora, mas não gostei muito dos bastidores daquele projeto - que nunca saiu - e desisti. Dai mandei o texto para uma terceira coletânea, de uma terceira editora, depois de mais de um ano, desistiram da publicação. Agora, o enviei para uma quarta coletânea de - adivinhem - uma quarta editora. Vamos ver se desta vez sai, se não o conto, pelo menos a obra que está sendo organizada.
Há um projeto de transformar este conto em uma graphic novel, quando puder, divulgo mais detalhes a respeito. Por enquanto, segue a parte inicial desta narrativa que parece assombrar o meu HD enquanto não dá um jeito de ser publicada. Abraço, boa leitura, bom final de semana.
Item de Colecionador
Vaso Ruim observa sua imagem reproduzida em detalhes no boneco de aproximadamente 30 centímetros de altura que o visitante colocou na mesa à sua frente. Detalhes minuciosos, a cabeça de cabelos raspados do brinquedo revelava o mesmo crânio irregular com formato aproximado ao de uma bola de futebol americano daquele jovem roqueiro. Característica que ele passara a ter desde o acidente de carro que inspirou seu apelido. Na verdade, aquele acidente também foi o ponto de partida para o batismo da banda do rapaz, que por sua vez tem o mesmo nome do primeiro álbum lançado por ela – Traumatismo Craniano, conhecido pelos fãs como “aquele do raio-x”, por ter trazido na capa do CD uma radiografia real da cabeça do vocalista, ainda com pinos de titânio sustentando ossos fraturados. A barba comprida, ruiva e pontuda, do Vaso Ruim de brinquedo também é idêntica a do real; a expressão de ódio constante, idem: sobrancelhas como duas setas apontando em direção ao nariz e a boca crispada num trapézio com a arcada dentária à mostra. Mas nem de longe lembrando um sorriso.
A mudança mais evidente entre o homem de quase dois metros e sua miniatura com um sexto do tamanho eram as roupas que cada um vestia. O boneco envergava um uniforme típico de show, o plástico de que era feito fazia a imitação perfeita do couro preto grudado no corpo, incluindo os pés, calçados com coturnos de estilo militar. Na parte de trás da jaqueta, o logo da Traumatismo Craniano: uma caveira estilizada, cor de sangue, estilhaçada. Já o modelo vivo daquela escultura estava de camiseta vermelha, de time de futebol gaúcho, bermuda e chinelos de dedo de um verde berrante, um conjunto mais adequado ao calor soteropolitano capaz de resistir até à potência máxima do ar-condicionado que atendia àquela saleta próxima à recepção no hotel em que o roqueiro e sua banda estavam hospedados. Um hotel de categoria, na orla da cidade, bem diferente das posadas ou apartamentos emprestados nos quais eles ficavam até poucos anos atrás, entre uma apresentação ou outra pelo país ou mesmo durante os festivais fora do Brasil nos quais eles abriam shows de artistas bem mais conhecidos.
Bebendo uma garrafa de cerveja atrás da outra desde que chegara à Bahia, ainda na madrugada daquele sábado, o líder da Traumatismo Craniano olhava a sua réplica sem demonstrar interesse. Afinal, para ele o boneco não era mais novidade. Desde que assinou o contrato com a atual gravadora, a gigante alemã Nuclear Blast, artigos licenciados eram lançados regularmente. Por onde quer que passe com as turnês da banda, no Brasil ou no exterior, lojas especializadas se enchiam com exemplares da figura e, em alguns lugares, até alguns camelôs vendiam cópias pirateadas feitas de material inferior e com pintura irregular. Ele mesmo encontrou várias réplicas ilegais nas proximidades da Galeria do Rock, na manhã anterior, quando foi dar uma de suas raras entrevistas para uma rádio paulistana, antes de pegar o avião rumo ao Nordeste.
Não era o caso daquela ali, de pé sobre a mesa. Claramente diante dele estava uma representante da versão de luxo, aquela que vem em uma cartela marcada com um “Collector’s Edition” escrito com letras escarlates. Foram poucos os exemplares do tipo postos à venda. A figura era disputada em leilões virtuais, alcançando boas ofertas dos mais entusiasmados, principalmente se o item ainda estivesse na embalagem, intocado, e se ela viesse personalizada com algum garrancho do rapaz. Era essa a suspeita de Vaso Ruim, apesar de a peça em questão estar fora do altar fetichista de plástico e papelão, tão importante para colecionadores radicais. O homem que entrou para conversar naquela sala e se sentou diante dele deveria ser um desses caçadores de autógrafos, prontos para aproveitar uma oportunidade de valorizar o produto antes de lançá-lo no eBay e faturar alguns dólares, libras ou ienes na operação.
6.12.11
Sherlock Begins
Antes do recente filme de Guy Ritchie com Robert Downey Jr. no papel principal, a obra cinematográfica que apresentou as aventuras do Grande Detetive a um novo e grande público foi O enigma da pirâmide, título nacional de Young Sherlock Holmes, de 1985. Duas décadas e meia depois daquela película - que já virou um clássico nas reprises da TV aberta - chegou às nossas livrarias o primeiro livro de uma série com o mesmo nome original e a mesma proposta de mostrar os anos de formação do personagem de Conan Doyle. O Jovem Sherlock Holmes - Nuvem da morte foi lançado no Brasil este ano pela editora Intrínseca que já promete publicar também a continuação, Parasita Vermelho, e, a depender do sucesso, quem sabe as duas outras obras da série, já circulando pela Inglaterra, país natal tanto do personagem quanto do autor, Andrew Lane.
Em certos momentos tão divertido quanto o filme oitentista, a vantagem inicial deste livro que abre a série é seguir mais de perto o cânone legado pelo criador do personagem. Tanto é verdade, que Lane conseguiu as bênçãos dos descendentes de Conan Doyle para escrever sua própria versão da adolescência de um dos personagens mais conhecidos e visados do mundo. Em Nuvem da morte, vemos Holmes aos 14 anos, na década de 60 do século XIX, ainda dando os primeiros passos para domar seu cérebro privilegiado, adquirindo a gama de conhecimentos que serão tão úteis para quando ele for morar em Baker Street e se tornar um detetive consultor, vinte anos mais tarde. Para tanto, Lane criou a figura de um tutor para o jovem, controvertidamente - e, por certo, com a intenção de tornar mais viável uma possível adaptação cinematográfica de seu texto - na figura de um personagem americano. Amyus Crowe, ex-caçador de recompensas em Albuquerque, foi a quem coube tal honraria.
Do material canônico, além do protagonista, apenas seu irmão Mycroft faz uma ponta. Outros personagens estão lá para cumprir funções de criações originais de Conan Doyle. Virginia, a filha de Crowe, seria A Garota, uma espécie de prévia de Irene Adler. Matty Arnatt, que abre o livro no prólogo, mas não é o narrador (o livro é em terceira pessoa), faz às vezes de Watson. Quanto ao vilão, uma espécie de antecessor de Moriarty, prefiro não revelar o nome e estragar alguma surpresa. Mas digo que, em caso de uma bem provável adaptação para o cinema, este antagonista poderia resultar em efeitos especiais tão memoráveis quanto os utilizados em O enigma da pirâmide, filme pioneiro no uso da computação gráfica, com seus doces ambulantes e um espadachim saído de um vitral.
O plano encabeçado pelo vilão é que não é lá grandes coisas na trama. Tanto que a partir do momento em que o jovem Sherlock deduz seus detalhes, o estrategema passa a ser contestado em sua viabilidade por todos os personagens coadjuvantes. Parece mais que a ideia surgiu mais para Lane fazer uma ponte entre esta estreia não-oficial do personagem e o interesse que o criador dele imaginou que Holmes teria ao final da vida, após se retirar das grandes aventuras. E mais não digo. Porém, mesmo inconsistente, o pano de fundo serve para divertir e para mostrar como o futuro ícone da lógica se virava no início da carreira. Segundo podemos ver na interpretação de Andrew Lane, enquanto não desenvolvia plenamente seu lado Spock, o rapazinho sabia lutar tão sujo quanto Kirk.
Em certos momentos tão divertido quanto o filme oitentista, a vantagem inicial deste livro que abre a série é seguir mais de perto o cânone legado pelo criador do personagem. Tanto é verdade, que Lane conseguiu as bênçãos dos descendentes de Conan Doyle para escrever sua própria versão da adolescência de um dos personagens mais conhecidos e visados do mundo. Em Nuvem da morte, vemos Holmes aos 14 anos, na década de 60 do século XIX, ainda dando os primeiros passos para domar seu cérebro privilegiado, adquirindo a gama de conhecimentos que serão tão úteis para quando ele for morar em Baker Street e se tornar um detetive consultor, vinte anos mais tarde. Para tanto, Lane criou a figura de um tutor para o jovem, controvertidamente - e, por certo, com a intenção de tornar mais viável uma possível adaptação cinematográfica de seu texto - na figura de um personagem americano. Amyus Crowe, ex-caçador de recompensas em Albuquerque, foi a quem coube tal honraria.
Do material canônico, além do protagonista, apenas seu irmão Mycroft faz uma ponta. Outros personagens estão lá para cumprir funções de criações originais de Conan Doyle. Virginia, a filha de Crowe, seria A Garota, uma espécie de prévia de Irene Adler. Matty Arnatt, que abre o livro no prólogo, mas não é o narrador (o livro é em terceira pessoa), faz às vezes de Watson. Quanto ao vilão, uma espécie de antecessor de Moriarty, prefiro não revelar o nome e estragar alguma surpresa. Mas digo que, em caso de uma bem provável adaptação para o cinema, este antagonista poderia resultar em efeitos especiais tão memoráveis quanto os utilizados em O enigma da pirâmide, filme pioneiro no uso da computação gráfica, com seus doces ambulantes e um espadachim saído de um vitral.
O plano encabeçado pelo vilão é que não é lá grandes coisas na trama. Tanto que a partir do momento em que o jovem Sherlock deduz seus detalhes, o estrategema passa a ser contestado em sua viabilidade por todos os personagens coadjuvantes. Parece mais que a ideia surgiu mais para Lane fazer uma ponte entre esta estreia não-oficial do personagem e o interesse que o criador dele imaginou que Holmes teria ao final da vida, após se retirar das grandes aventuras. E mais não digo. Porém, mesmo inconsistente, o pano de fundo serve para divertir e para mostrar como o futuro ícone da lógica se virava no início da carreira. Segundo podemos ver na interpretação de Andrew Lane, enquanto não desenvolvia plenamente seu lado Spock, o rapazinho sabia lutar tão sujo quanto Kirk.
5.12.11
A ficção fantástica de Nautilus Friday
Já faz tempo que acompanho e escrevo por aqui a respeito da webtira Meu Monarca Favorito, do cartunista Tibúrcio. O primeiro post a respeito foi em abril de 2010, quando fiz uma apresentação da série e a classifiquei de "quase steampunk":
Tiburcio, quadrinista e ilustrador conhecido dos leitores por seu trabalho publicado na revista Mad, está desenvolvendo desde o início deste ano uma tirinha na rede com uma ambientação muito próxima aos trabalhos da cultura steampunk. Claramente inspirada nos últimos dias do Império do Brasil, Meu Monarca Favorito narra as desventuras de um rei fictício, de um país fictício, em pleno século XIX, cercado de ameaças à sua coroa.Pois em uma nova fase da tirinha, iniciada esta manhã de segunda-feira, o material começa a se aproximar ainda mais da cultura steamer, com uma homenagem explícita ao autor do século XIX que é praticamente seu santo padroeiro. Tiburcio vai começar a apresentar a seus leitores o trabalho de um escritor de ficção fantástica que é claramente inspirado em Jules Verne, já desde o seu nome Nautilus Friday. Em uma série dentro da série, ele começou a publicar trechos do folhetim "Viagem na Mayonaisse", uma ficção fantástica com toques de 20 Mil Léguas Submarinas. Escrito em parceria com Shumora e revisado por André Lasak, o texto metalinguístico reproduz o estilo dos piomeiros da ficção científica. Confiram abaixo a primeira parte dessa viagem (cliquem para ampliar):
Com um clima leve, acompanhamos uma série de conspiradores republicanos, civis e militares, cobiçando o poder do Monarca anônimo, mas cujas aparência e personalidade remetem instantaneamente a nosso conhecido D. Pedro II (1825-1891). As webtiras são postadas duas vezes por semana, às quartas-feiras e aos domingos, com algumas postagens intermediárias para apresentar novos personagens ou para dar alguma ilustração de brinde aos leitores, como foi o caso das que permitem a impressão de cédulas do dinheiro que circula naquela monarquia - o mango imperial - ou a que mostra a aparência da bandeira e das armas do país. As atualizações podem ser acompanhadas ainda pelo Twitter do cartunista, o que gerou o desenho perfeitamente steamer do computador ao lado.
2.12.11
O Grande Irmão e o Canalha
Fazia tempo que não me sobrava uma folguinha para resenhar uma HQ para o maior banco de dados de críticas da nona arte do Brasil (e talvez, do mundo). Mas esta semana saiu material novo no UniversoHQ, um comentário sobre um álbum bastante fora do padrão de um de meus personagens favoritos, John Constantine, símbolo maior da Vertigo. A seguir, o início da resenha de Passagens Sombrias, de autoria do romancista Ian Rankin e do desenhista italiano Werther Dell'Edera::
Há mais de uma década, por todo este início de Século 21, o Brasil tem sido assolado pelo sucesso televisivo dos chamados reality shows. Como acontece com fenômenos do tipo, ele tem tamanha abrangência e massificação que divide a audiência entre quem os ama e quem os odeia, restando poucos totalmente indiferentes ao material.Continua
Este lançamento da Panini, com o selo Vertigo, da DC Comics, tem tudo para satisfazer os dois lados públicos.
John Constantine estava levando sua vida de mago underground em Londres até o dia em que chega ao seu apartamento e encontra uma pessoa não convidada lá dentro: o produtor de Passagens Sombrias, programa que submete seus participantes enclausurados em uma mansão a truques para provocar medo.
O problema é que a série de visões e estranhas ocorrências que andam tirando a paz dos seis candidatos a celebridades nos primeiros dias de exibição não é provocada pela equipe da atração. Sua causa é, aparentemente, sobrenatural.
Eis que surge a participação do maior anti-herói da Vertigo, aqui em sua estreia em uma espécie de selo dentro do selo. John Constantine - Hellblazer - Passagens Sombrias é a primeira história publicada no Brasil da linha Vertigo Crime, que enfatiza tramas policiais e de suspense.
1.12.11
Damas e Cavalheiros, a Steampunk Bible - em português
Hoje faz exatamente seis meses que a melhor e maior obra de referência sobre a cultura steampunk foi lançada, com festa, em Nova Iorque. Editada pela tradicionalíssima Abrams e organizada por Jeff VanderMeer e S.J.Chambers, a Steampunk Bible desde o início já mostrou a que veio como um documento definitivo sobre toda as manifestações daquele movimento, na literatura, na moda, nos games, nos quadrinhos, na vida cotidiana de quem leva este gênero que nasceu na ficção científica a sério. Resenhado pelos principais jornais e revistas do mundo, adotado em disciplinas de escolas americanas, presente em museus importantes, procurei registrar algumas das conquistas e referências da obra a respeito de nosso país em uma tag especial neste blog. Agora tenho o prazer de dar uma notícia que há muito esperava e que me deixou verdadeiramente empolgado ontem, quando recebi a novidade oficialmente: a Bíblia do Vapor vai ganhar edição brasileira.
A editora responsável pela versão nacional foi notícia aqui em uma nota exclusiva do dia 28 de setembro (quando anunciei o primeiro investimento dela na área steamer, a compra dos direitos de Boneshaker, de Cherie Priest). Agora, a UnderWorld, da queridíssima carioca radicada em Minas Gerais Fabiana Andrade, marca mais um ponto definitivo na consolidação da cultura steamer em nosso país. Como se não bastasse isso tudo, ainda podemos ter a certeza absoluta de que a obra vai receber uma excelente tradução, pois o responsável é ninguém menos que Fábio Fernandes. O mesmo que está vertendo Boneshaker para o português e que, na direção oposta, traduziu um trecho de minha noveleta "Cidade Phantástica" para o inglês, justamente o que está presente na edição original da Steampunk Bible.
Na certeza de que não poderia dar uma notícia melhor para começar o último mês deste ano incrível, compartilho minha alegria e entusiasmo com os leitores.
A editora responsável pela versão nacional foi notícia aqui em uma nota exclusiva do dia 28 de setembro (quando anunciei o primeiro investimento dela na área steamer, a compra dos direitos de Boneshaker, de Cherie Priest). Agora, a UnderWorld, da queridíssima carioca radicada em Minas Gerais Fabiana Andrade, marca mais um ponto definitivo na consolidação da cultura steamer em nosso país. Como se não bastasse isso tudo, ainda podemos ter a certeza absoluta de que a obra vai receber uma excelente tradução, pois o responsável é ninguém menos que Fábio Fernandes. O mesmo que está vertendo Boneshaker para o português e que, na direção oposta, traduziu um trecho de minha noveleta "Cidade Phantástica" para o inglês, justamente o que está presente na edição original da Steampunk Bible.
Na certeza de que não poderia dar uma notícia melhor para começar o último mês deste ano incrível, compartilho minha alegria e entusiasmo com os leitores.
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