27.9.10

Retrofuturismo oriental 2

A última vez em que falei sobre um artigo do blog mais completo a respeito de quadrinhos e animações feitas no Japão que eu conheço foi no dia 23 de maio:

Uma ótima notícia para este dia é a volta às atividades do site Maximum Cosmo, após semanas de atraso em suas atualizações devido a uma série de problemas técnicos enfretados por seu proprietário, o jornalista, quadrinista e escritor Alexandre "Lancaster" Soaraes. Um dos contistas presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, com o texto "A música das esferas", noveleta mais pop do livro, ele também é um expert na cultura de massa nipônica, principalmente no que se trata na produção dos quadrinhos e das animações japonesas.

Para celebrar esse retorno, o blogueiro uniu essas duas pontas, e um dos artigos que ele produziu nas postagens deste domingo é justamente sobre como o steampunk se desenvolveu no Japão e passou a ser representado nessas mídias. Extenso, explicativo e muito bem pesquisado, "A revisitação neovitoriana made in Japan" é uma leitura mais que recomendada para quem gostaria de saber mais sobre como o gênero steamer é trabalhado em outras latitudes. Lancaster fornece uma lista e tanto de obras e de autores, juntamente com uma análise do porquê da popularidade deste tema no páis do sol nascente. Fiquem abaixo com a abertura do material, mas não deixem de ler a versão completa aqui:

Novamente, o Maximum Cosmo passou por um período de inatividade, mas desta vez por bons motivos. Lancaster tem se dedicado ao seu projeto de quadrinhos steampunk, Expresso!, que conta com um segundo blog. Para felicidade de quem gosta do material de origem - ou pelo menos de inspiração - nipônica, ele voltou a elaborar um de seus longos e completos artigos, e dentro da mesma série sobre cultura steamer comentada acima. Desta vez, o blogueiro analisou o mangá Steam Detectives de Kia Asamya. Destaco dois trechos abaixo, primeiramente sobre a comparação que ele faz entre dois campos da retrotecnologia - o steampunk e o dieselpunk - e em seguida uma apresentação da série em si:


 Quando abri a série de artigos sobre o gênero Steampunk (para os que estão chegando agora: a revisitação da ficção científica dos primórdios, de Jules Verne, H. G. Wells e muita gente boa), houve na seção de comentários muitas perguntas sobre um dos derivados do gênero – o Dieselpunk. Enquanto o Steampunk toma como base a ficção popular das eras Vitoriana e Edwardiana – o Dieselpunk tomaria como base os anos 20 e 30. Se um seria a Dime Novel, o outro seria a Pulp Magazine; o problema é que em termos de Japão essa definição não funciona.

Qual o problema de se falar em Steampunk e Dieselpunk sob esses termos na cultura pop japonesa? É que diferentemente do que acontece no ocidente, separar os dois é algo complicado. Isso acontece porque no hemisfério de cá do planeta, houve um evento que efetuou uma quebra clara e deixou tudo bem distinto: a Primeira Grande Guerra. Ela não foi apenas um conflito em que morreu muita gente – e que para falar a verdade, foi de certa forma mais traumático do que a própria Segunda Grande Guerra; esta mesmo foi um mero efeito colateral da guerra que veio antes. Ela foi um divisor de águas – tanto que muita gente considera que o Século XIX terminou em 1914 (e se olharmos bem o que o mundo foi entre 1870 e 1914 – a "Era dos Impérios", de acordo com Hobsbawn [sim, tenho o livro] – dou toda a razão a quem pensa assim).

Então há uma diferença clara entre a cultura que gerou a matriz do Steampunk e a cultura que gerou a matriz do Dieselpunk. Há um mundo de distância entre a cultura pop que gerou Sherlock Holmes e a que gerou Doc Savage (apesar deste também ter uma mente científica ao seu favor); entre o culto ao racionalismo e a desconfiança que se passou a ter com ele; o cientista que, de herói inventor, passou a ser vilão e ameaça para um troglodita musculoso (se pensarmos bem, Conan é a transposição desse espírito a um universo de fantasia); entre as Dime Novels e as Pulp Magazines… enfim, no ocidente, o dieselpunk e o steampunk remontam a dois conjuntos culturais que são bem  diferentes, cada um com seu ethos, tendo como ponto comum meramente seu aspecto nostálgico e sua costura temática envolvendo o passado e a retrotecnologia.

Quando falamos de Japão, no entanto, essa diferença não existe. E há um bom motivo para isso. (...)


A Era Atemporal
Steam DetectivesSteam Detectives é material de entretenimento puro, e ninguém deveria esperar mais do que isso da obra. Mas ele é curioso porque não apenas é lembrado como um dos exemplares mais bem acabados do gênero Steampunk nos mangás; não fosse o fato da onipresença do vapor em si, ele seria considerado facilmente Dieselpunk.

Ou talvez não. As moças usam mangas presunto como costumavam usar nas duas primeiras décadas do século vinte, a arquitetura da cidade remete a cidades como Praga, na República Tcheca (que é praticamente um monumento vivo a todas aquelas estéticas arquitetônicas e decorativas do século dezenove – e a silhueta de suas construções é inconfundível). É a década de 1910 de autores de mistério como Sax Rohmer (o criador do infame Dr. Fu Manchu, que foi criado em 1913), dos livros, mas com uma influência estética das décadas seguintes, com os sobretudos celebrizados pelos detetives dos anos quarenta (o que não chega a ser totalmente anacrônico, porque sobretudos como os conhecemos são algo que existe desde antes do século vinte), mas também traz para esse 1910 algo das pulp magazines que marcaram as duas décadas posteriores, e, como dito ao longo desse texto, traz para si parte do ethos dos mangás dos anos 40 e 50, encaixados nesse cenário, como se Asamiya estivesse consciente dessa área difusa que faz do dieselpunk mera parte do steampunk japonês, e a corporificasse em uma cidade nominalmente steampunk sob uma neblina que esconde três décadas de mundo.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

2 comentários:

Alexandre Lancaster disse...

Opa, valeu mesmo pela propaganda. :)

Romeu Martins disse...

Sempre bom cer o Maximum Cosmo voltar à ativa ;-)