5.7.10

Um steampunk da vida real

Se alguém perguntasse assim, de súbito, aposto como praticamente todos iriam errar: quem foi o primeiro homem a voar no Brasil com um mecanismo mais pesado que o ar? Arriscar um Alberto Santos-Dumont (1873-1932) seria certeza de erro, já que o brasileiro realizou sua aventura aérea em 1906 nos ares franceses mas nunca a repetiu em sua terra natal. A resposta correta foi dada pela tradutora Suzana Alexandria em parceria com o jornalista Salvador Nogueira no livro 1910 - O primeiro voo do Brasil: Dimitri Sensaud de Lavaud (1882-1947), um inventor nascido na Espanha que se considerava francês mas se radicou por aqui, onde, quatro anos após a aventura francesa do 14-Bis, decolou com uma máquina chamada São Paulo pelos céus de Osasco.

A cidade do interior paulista é onde nasceu a coautora da obra, sobre quem falei neste blog ao resenhar o livro Anno Dracula: "A tradução competente é de Susana Alexandria que, além de verter as palavras para o português, ainda compilou uma muito bem-vinda (mesmo que, como dificilmente deixaria de ser, incompleta) lista com 104 personagens históricos e fictícios retrabalhados pelo jornalista, crítico e escritor Kim Newman". O feito dessa osasquense agora foi o de resgatar essa história centenária que estava praticamente condenada ao esquecimento em nosso país. E ela o fez pela mesma editora que publicou a obra daquele escritor britânico, a Aleph. Suzana mantem um blog com mais detalhes sobre o livro que conta essa história quase steampunk, de como Lavaud idealizou com projeto e materiais nacionais o primeiro voo realizado na América do Sul. Abaixo, seguem a capa da obra e um trecho da biografia do inventor, publicada pelo Estadão, jornal que cobriu a demonstração pública em 1910 e que voltou a dedicar uma reportagem ao pioneirismo, digno de um romance steamer, exatemente um século depois.



Lavaud nasceu na Espanha, em 1882, filho do casamento de um francês com uma russa. Antes de se mudar para o Brasil, viveu na Suíça, Turquia e Grécia. Em Osasco desde 1898, a família Lavaud se instalou no chalé Bricola, construído menos de uma década antes pelo banqueiro Giovanni Bricola, no alto de um morro em uma área então distante do centro urbano. Seu pai comprou uma olaria e, em seguida, tornou-se sócio de indústrias de cerâmica da região.

Ainda adolescente, Lavaud já se dedicava a ler livros técnicos, construir barcos a vela e a jogar xadrez. Aos 26 anos, iniciou os projetos e cálculos para a realização de seu sonho: projetar e construir um avião. O aeroplano São Paulo, cujo esqueleto media 10,2 metros de comprimento por 10 metros de largura, ficou pronto em fins de 1909, e todas as suas peças foram feitas no Brasil.


"Ele era nosso Thomas Edison, um homem fantástico", compara o engenheiro civil Pierre Arthur Camps, citando o célebre inventor norte-americano. Camps, cujo avô era irmão da sogra de Lavaud, sempre foi um admirador da história do aviador. Em 2007, construiu uma réplica do São Paulo, doada ao Museu Asas de Um Sonho, mantido pela companhia aérea TAM na cidade de São Carlos, interior do Estado. "Levei um ano para construir o avião, com base em desenhos da época", recorda-se. "Precisei reprojetá-lo."

A carreira de Lavaud não se encerrou com o histórico voo. Acredita-se que ele tenha registrado cerca de 1,2 mil patentes diferentes, em vários países. Entre seus inventos, estão peças até hoje utilizadas pela indústria automobilística e aeronáutica, como tipos de chassis, freios, câmbios e hélices.

Em 1916, trocou o Brasil pelo Canadá. Na década de 20, mudou-se para a França - onde se estabeleceu até a sua morte, em 1947. Durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a ser preso, a mando dos alemães, para que contribuísse com conhecimento tecnológico. A embaixada brasileira na França atuou por sua libertação.
"Infelizmente, não cheguei a conviver com ele. Mas minha família sempre lembrava de sua história com orgulho, afinal foi um grande inventor", afirma a única de suas netas ainda viva, Martine Ryser de Souza e Silva, de 63 anos.

4 comentários:

bibs disse...

uau, vou procurar por esse livro depois =D
eu nao tenho como fugir da profissão hahaahha
toda vez me animo quando vejo um lançamento desse tipo, com alguma coisa que estava escondida na história

Romeu Martins disse...

Qual seria a profissão? ;-)

bibs disse...

historiadora!
^^

Romeu Martins disse...

Ah! Nem imaginava qual era seu curso ;-) Perfeito para se escrever contos e romances steampunk ;-)