26.11.09

É neste final de semana

Hoje eu encaro mais de 700 quilômetros rumo ao século XIX. Começa nesta sexta, em São Paulo, a partir das 22h, o maior evento já dedicado ao steampunk em terras brasileiras. Vou deixá-los abaixo com o convite e a programação da terceira edição da Fantástica Jornada Noite Adentro. Até a volta!

Serviço

Biblioteca Pública Viriato Corrêa
Local: R. Sena Madureira, 298. Vila Mariana, zona sul.
Telefone: (11) 5573-4017
Data: Sexta-Feira, dia 27 de Novembro de 2009, com início às 22h
Entrada Franca

Desfile performático (Dia 27, às 22h)
Um desfile de moda Steampunk composto por modelos feitos a partir de tecidos antigos que quase não se usam mais como o morin, cambraia de linho, juta, fibras vegetais, sendo alguns de seda misturados com alguns elementos feitos artesanalmente como luvas e chapéus.
A estilista Lili Angelika busca a união do romantismo com elementos de uma realidade pós-apocalíptica, inspirado em filmes Cyberpunks, Steampunks e de Fantasia como “Van Helsing”, “Blade Runner”, “Cavaleiro sem Cabeça”, “Stardust”, “A Liga Extraordinária”, entre outros.

Apresentação Teatral (Dia 27, às 22h30)
A atriz Cristiana Gimenes, da Cia Em Cena Ser, apresenta textos Steampunk, selecionados por Karl F.

Bate-papo: Saiba tudo sobre Steampunk (Dia 27, às 23h)
Gerson Lodi-Ribeiro, Bruno Accioly e Karl F. falam sobre os princípios, e o que é Steampunk, sua presença na literatura, no cinema e como sub-cultura. A mediação será de Silvio Alexandre.

Exibição de filmes (dia 27, às 24h; dia 28, às 2h e 4h)

RPG live-action: “Steam-live” (dia 27, a partir da meia-noite)
Durante a madrugada acontecerá o RPG live-action, “Steam-live”. Em breve, mais informações sobre a história e cenário. Coord.: Confraria das Idéias.

Obs.: Para as atividades do teatro é necessário retirar ingresso, sujeito à lotação da sala (101 lugares), no dia 27, a partir das 21h. Durante os intervalos das projeções, ocorrem esquetes teatrais. Após a meia-noite, você pode assistir aos filmes no auditório ou acompanhar o jogo de RPG /Live-action no andar térreo. Para participar do jogo é preciso se inscrever antecipadamente.

24.11.09

Vampiros entre o vapor

Já mencionei este livro aqui em duas oportunidades. A primeira, no dia 11 de junho, ao comentar uma matéria publicada no Conselho Steampunk de São Paulo a respeito do quadrinista Alan Moore e de sua criação A Liga Extraordinária:

Pena que o artigo original não tocou em um tema delicado: as semelhanças entre os quadrinhos de Moore com os livros do seu conterrâneo Kim Newman, a série Anno Dracula, que alguns anos antes do lançamento de A Liga já trabalhava com ideias muito parecidas. A editora paulista Aleph anunciou que em breve vai lançar a edição nacional do primeiro livro da série, publicado originalmente em 1992, dando a oportunidade para que brasileiros façam esta comparação. Mesmo assim, a leitura do depoimento de Alan Moore é mais que recomendável.
A segunda foi um citação de Gerson Lodi-Ribeiro, em 9 de agosto, quando resenhei a noveleta "Não Mais" de Carlos Orsi Martinho.

Qualquer fã que tenha tido o privilégio de ler o magnífico Anno Dracula (1992) não deixará de notar um certo paralelismo temático entre a noveleta de Martinho e o romance alternativo do inglês Kim Newman. Passado na Inglaterra Vitoriana do final do século XIX, o romance mostra o que teria acontecido se Drácula houvesse vencido o confronto contra o grupo liderado por Van Helsing e Jonathan Harker. O Império Britânico, de longe a potência mais poderosa da Terra, é dominado por uma estirpe de imortais, no caso a nobreza inglesa vampirizada por um Drácula que desposou a Rainha Vitória e tornou-se Lord Protector do Império.
 Agora, os fãs brasileiros podem fazer suas devidas comparações, pois a Aleph já marcou data para o lançamento de Anno Dracula versão nacional: vai ser durante a sempre citada por aqui Fantástica Jornada Noite Adentro, na madrugada de 27 de novembro. Para dar o gosto do sangue, a editora deixou disponível em pdf o primeiro capítulo da obra.

Torre de Vigia 7

Um artigo do site Outra Coisa divulga a Fantástica Jornada Noite Adentro dedicada ao Steampunk, o maior evento já planejado no Brasil para este gênero, e destaca entre outras iniciativas este blog e a entrevista que fiz com Bruno Accioly para o Overmundo. Abaixo, publico alguns trechos do texto assinado por Carol Fortuna que pode ser lido na íntegra aqui:

A repercussão do evento não é pequena no meio blogueiro e sites como o Cidade Phantástica - de Romeu Martins; o Fale RPG; a RedeRPG; o site da Confraria das Idéias; estão há mais de um mês divulgando o evento para seu público. (...)

Conforme citado pelo Overmundo, em recente entrevista com um dos fundadores do Conselho SteamPunk, o trabalho da organização foi mencionado na Wired.com mais de uma vez pelo próprio Bruce Sterling, o autor do primeiro romance do gênero.

Entrevista: Bruno Accioly

Republico aqui a entrevista com um dos fundadores do Conselho Steampunk originalmente feita para o portal Overmundo.

De onde veio seu interesse pessoal na cultura steamer? Que obras steampunk, seja no cinema, na literatura, nos quadrinhos, nos games o atraíram para esse subgênero?

Uma coisa curiosa acerca do SteamPunk é que ele ganhou nome muito tarde. Muita gente já era fascinada, como eu, pelos livros e versões cinematográficas das obras de HG Wells e, particularmente, de Julio Verne. Posso dizer que foram estes dois autores que mais me chamaram a atenção - como referência de extrapolação e exagero da tecnologia e da sociedade da Era Vitoriana.

Havia contudo uma pletora de outras obras, como filmes antigos de Sherlock Holmes - e mesmo O Enigma da Pirâmide - a série As Aventuras de James West e a animação Viagem ao Centro da Terra, por exemplo, que estavam carregadas de elementos SteamPunk.

Creio que a primeira vez que tomei conhecimento do termo foi em fins da década de 1980, quando me chegou às mãos o Gurps SteamPunk e o Gurps Steam-Tech. Imediatamente me senti à vontade com o termo e... "entendi a piada".

Escrever obras no estilo de Verne, no Século XX e XXI é obviamente anacrônico, mas exerce um fascínio inegável sobre muita gente. É bom lembrar que apesar de A Máquina Diferencial [de Bruce Sterling e William Gibson] ser o primeiro romance consagrado do gênero, foi com K.W.Jeter, tentando descrever sua obra e as de Blaylock e Powers que surgiu pela primeira vez o termo.

Como exatamente surgiu a ideia para o Conselho Steampunk? De que forma aconteceram os primeiros contatos e a formatação dos diversos grupos abrigados nele?

Em meados de 2007 eu comecei a desenvolver um blog para falar de SteamPunk e, como queria fazer algo um pouco mais profissional para homenagear o gênero - que era muito menos conhecido no país - acabei adquirindo o domínio www.steampunk.com.br

Quando descobri o blog do Raul Cândido sobre o assunto, entrei em contato com ele assim que pude. O Conselho SteamPunk nasceu por telefone, quando percebemos que tanto o meu interesse quanto o dele eram grandes o suficiente para fazer algo pelo gênero e para começar a engendrar um movimento entorno dele.

A quantidade de pessoas e os grupos que se formaram ao redor do Conselho SteamPunk é uma função do conceito por trás da organização. Sabíamos que não seria possível tentar centralizar tudo e, portanto, resolvemos criar uma estrutura colaborativa, na qual qualquer pessoa, em qualquer estado, poderia criar sua Loja do Conselho SteamPunk e, com isso, poderia fazer uso da infraestrutura de Internet que elaboramos sem custo algum.

Quando uma Loja é formada ela é responsável pela promoção do gênero e pelo arrebanhar de mais entusiastas. No caso de um outro grupo na mesma região aparecer este passa a ser mais um núcleo daquela mesma Loja, o que aconteceu, por exemplo, com o núcleo SteamPunk de Bragança Paulista, que agregou-se a Loja São Paulo, e que é cheia de gente talentosa e interessada no futuro do movimento no país.

As representações regionais do Conselho são chamadas de Lojas a exemplo do que é feito na mais famosa das sociedades secretas. Essa terminologia chamou a atenção e arrancou elogios de ninguém menos que Bruce Sterling, um dos principais criadores da vertente literária Steampunk. Como surgiram os conceitos que batizam as várias iniciativas do Conselho? Foram ideias suas ou propostas do grupo?

Não foi nada difícil, na verdade. Acontece que tanto eu quanto o Raul, o Karl e tantos outros entusiastas que fazem parte do Conselho SteamPunk estamos imersos em vários aspectos da cultura Vitoriana e do gênero SteamPunk, e sempre que precisamos trabalhar algum conceito para uma nova iniciativa, acaba que alguém tem uma ideia interessante.

O espírito por trás da ideia do Conselho é de colaboração e generosidade e, portanto, não há muito espaço para líderes ou algo assim. Todos nutrimos profunda admiração uns pelos outros e pelos talentos e conhecimentos de cada um.

Acreditamos que a capacidade de cada Loja seja uma consequência direta do talento de cada um dos envolvidos no Conselho e estamos sempre buscando pessoas disponíveis, diligentes e interessadas em fazer mais pelo gênero e pelo movimento.

Atualmente quantas pessoas estão ligadas direta ou indiretamente ao Conselho Nacional e às lojas regionais? Entre membros que participam ativamente e pessoas que acompanham os diversos sites, blogs e dos eventos já organizados qual é o público estimado hoje do Conselho Steampunk?

Está aí algo difícil de dizer. O que se pode dizer é que existem quase 400 pessoas na comunidade do Orkut do Conselho, cerca de 250 pessoas na comunidade da Loja São Paulo e mais umas 100 pessoas nas comunidades das demais Lojas. Há ainda, claro, quase 800 pessoas na comunidade SteamPunk do Fábio Ori, que surgiu antes mesmo do Conselho SteamPunk existir.

Muitos entusiastas presentes nestas comunidades se repetem, logicamente, mas considerando-se as 200 pessoas cadastradas no Registro SteamPunk (precursor do SteamBook) - e as mais de 100 pessoas que entraram no SteamBook, a Rede Social SteamPunk, nas primeiras 3 semanas, nos parece possível que haja cerca de 1000 entusiastas declarados e muitos outros simpatizantes por aí.

Você poderia enumerar quais iniciativas existem atualmente com a chancela do Conselho, deixar os endereços e comentar brevemente cada uma?

Não são poucas... Como sou empresário e minha firma trabalha com Comunicação Digital e Mídias Sociais, acaba que boa parte destas iniciativas tem uma manifestação bem clara na Internet.

SteamPunk.com.br
Este é o site do Conselho SteamPunk, que costuma falar do gênero e do movimento em nível nacional.
Cada Loja tem seu próprio site:
- http://rj.steampunk.com.br/
- http://rs.steampunk.com.br/
- http://sp.steampunk.com.br/
- http://mg.steampunk.com.br/
E 3 outros estão para ser colocados no ar - quando da conclusão das Lojas:
- http://pa.steampunk.com.br/
- http://pr.steampunk.com.br/
- http://df.steampunk.com.br/

SteamCon - www.steamcon.com.br
Site dedicado a avisar os entusiastas dos eventos SteamPunk no país. O site é alimentado por cada uma das lojas e é também o lar da Virtual SteamCon, um evento de nível nacional que acontece via Internet.

SteamGirls - www.steamgirls.com.br
Site que dá lugar a sessões de fotos femininas de praticantes de SteamPlay e que divulga o trabalho de quem faz acessórios e trajes SteamPunk/Vitorianos.

SteamPedia - www.steampedia.com.br
A proposta da SteamPedia é ser como a WikiPedia, um enciclopédia alimentada por quem se interessa pelo assunto. Trata-se de uma iniciativa nova e poucos já se inscreveram de fato, mas qualquer um pode participar.

SteamBook - www.steambook.com.br
Rede Social SteamPunk, a melhor forma de participar do movimento e fazer diferença nele sem fazer parte efetivamente do Conselho SteamPunk. É possível construir ali seu blog a respeito do gênero e do movimento.

RetroFuturista - www.retrofuturista.com.br
Este site é uma proposta experimental de produção não-linear de ficção SteamPunk. A idéia é produzir um universo SteamPunk com licença Creative Commons que possa ser usado por outros autores como base para suas narrativas.

Temos ainda perfis nas seguintes mídias sociais:
Facebook - http://www.facebook.com/group.php?gid=38039372045
Orkut - http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=fpp&uid=2382475252867688827
Comunidade no Orkut - http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=72139589
Twitter - http://twitter.com/consteampunk
SteamFeed - http://feeds.feedburner.com/steamfeed
Sobre o SteamFeed - http://www.steampunk.com.br/o-que-e-o-steamfeed/

E para o futuro próximo, quais são as expectativas de novos projetos e de criação de novas Lojas ligadas a seu grupo?

O grupo não é exatamente meu. Digo... ele foi fundado de forma a, se algo acontecer com qualquer um de nós, ele continue existindo. Na verdade, uma vez que a infraestrutura de hospedagem, messenger, e-mails e sites é montada pela minha empresa eu tomei o cuidado de deixar tudo esquematizado e pago por alguns anos, deixando o Conselho SteamPunk sadio mesmo no advento de batermos em um iceberg.

O futuro nos reserva algumas coisas interessantes, dentre elas a Liga de Artífices SteamPunk - que vai se manifestar no SteamCon.com.br como uma galeria de artistas e produtos; um PodCast convencional sobre o tema; um VidCast bem diferente do que já se viu; um RPG que lançará as bases para um trabalho de LARP (Live Action Role Playing) no Brasil; alguns SteamCamps - reuniões de pauta para colher os interesses dos entusiastas em cada estado; e uma SteamCon presencial, que deve acontecer em São Paulo, pelo que estamos vendo.

Na estreia da edição on line da RPG Magazine havia um conto seu chamado “Rota de fuga”. Foi seu primeiro conto steampunk? Vamos ver mais produção literária sua e de outros membros do Conselho?

Não foi meu primeiro conto SteamPunk. O primeiro foi sobre uma sociedade marciana baseada em vapor, que se passa antes do nascimento da raça humana e o segundo foi uma experiência literária pessoal na qual o vapor e a eletricidade eram entidades escravizadas pela raça humana no século XIX.

Estou trabalhando há alguns anos em duas histórias com temática SteamPunk e me preparando para lançar mais alguns contos.

Eu e alguns outros membros do Conselho estamos preparando algumas surpresas para os entusiastas, no sentido de produção literária SteamPunk e, creio, todos vão gostar muito do resultado.

Sempre fui um apaixonado pela ficção científica de um modo geral, independente do SteamPunk, e sou um fã incondicional de Arthur C.Clarke, ávido leitor de Isaac Asimov e admirador do trabalho de Carl Sagan, o que me levou a escrever muitos outros contos.

Tenho conhecido muita gente interessante e importante no meio, o que me fez perceber que o Conselho SteamPunk pode retribuir o carinho da comunidade de produção literária de Ficção Científica através das ferramentas que vem desenvolvendo para promoção do sub-gênero que tanto estimamos.

A nova iniciativa do Conselho SteamPunk, como resultado, não será endereçada a entusiastas de nicho, mas a toda comunidade de escritores e leitores de literatura fantástica.

O que ninguém ouviu até agora é o nome desta iniciativa, que foi batizada por nós de: aoLimiar.

Se o leitor tiver alguma dúvida, interesse em estreitar relações com o Conselho SteamPunk ou colaborar de alguma forma, basta enviar um e-mail para conselho@steampunk.com.br

17.11.09

Mon nom est Mouchez. Ernst Mouchez.

Espionagem em ritmo steampunk, com direito a conspiratas, traições, viradas de trama, tecnologias a vapor e brigas aéreas. Essa é a receita do conto "Ernst Amedée B. Mouchez, espião de Sua Majestade Imperial" que Ana Cristina Rodrigues acaba de postar em seu já citado blog: o Observatório a vapor. A escritora imprimiu no texto uma característica de sua profissão - além de ficcionista ela é historiadora e trabalha na Biblioteca Nacional, na Cidade Fantástica, digo, no Rio de Janeiro - a marca da pesquisa de época bem feita.

O protagonista da noveleta é uma prova disso. Ana escolheu um personagem da vida real, o astrônomo e hidrógrafo espanhol de nascimento, mas com carreira na França, Ernst Mouchez (1821-1892). Se, na história oficial, ele explorou com fins científicos as costas da Coreia, China e América do Sul, avançou pelo Rio Paraguai e mapeou a Argélia, na ficção se tornou um espião a serviço de Sua Majestade. À semelhança de James Bond? Sim, mas aqui o agente não serve a uma rainha, mas a um imperador. Napoleão III, no caso.

E se o personagem criado por Ian Fleming (1909-1964) cumpria ordens de M e contava com o auxílio dos inventos de Q, Mouchez é ainda mais bem servido. O ministro dos Assuntos Secretos aqui é um dos favoritos deste blog, monsieur Jules Verne (1828-1905), que aparentemente trocou sua carreira de escritor pela de político e inventor, sendo ao mesmo tempo, o M e o Q dessa realidade. São desse Verne fictício duas invejáveis inovações steamers apresentadas no texto: o casaco a vapor, que permite ao usuário obter uma impulsão de até 15 metros, e os óculos - ou seriam goggles? - de visão noturna, acionados por um engenhoso método de eletricidade estática. Tendo tais personagens e apetrechos no foco narrativo e com um pano de fundo envolvendo uma conspiração que ameça o trono de D. Pedro I no Brasil, a história de Ana Cristina é diversão garantida.

16.11.09

Mais steampunk no Overmundo

Acabo de publicar no Overmundo, conto com sua leitura e votos:

O que aconteceria se as tecnologias baseadas no vapor do século XIX tivessem sido ainda mais poderosas que em nossa realidade? E se, a exemplo do que podemos ver nos livros de Verne e Wells, os vitorianos tivessem conquistado o espaço, viajado no tempo? Essa pergunta está por trás de um subgênero da ficção científica chamado steampunk que já foi tema de um artigo aqui no Overmundo. No Brasil, a cultura steamer ganha cada vez mais força a ponto de, ainda este mês, acontecer em São Paulo um encontro que deve reunir fãs das diversas vertentes possíveis desse estilo em forma literária, cinematográfica, teatral, ligada a moda e acessórios, jogos e o que mais a imaginação permitir. O evento vai acontecer ao longo da madrugada de 27 de novembro, na Biblioteca Pública Viriato Corrêa, durante a III Fantástica Jornada Madrugada Adentro.

Graças aos esforços de um grupo de entusiastas, os steampunkers brasileiros contam com uma invejável estrutura virtual para trocar ideias, se manterem informados e organizar reuniões presenciais como essa. O Conselho Steampunk é uma organização de fãs sem fins lucrativos que se divide em iniciativas regionais – denominadas de Lojas – e que põe à disposição dos interessados uma variedade de projetos e ferramentas da web. O grau de profissionalismo é tão grande que chamou a atenção, entre outros, de Bruce Sterling, o escritor americano que, ao lado de William Gibson, criou as bases tanto do cyberpunk quanto do steampunk. Um empresário da área de informática morador do Rio de Janeiro está por trás de todo esse movimento nacional de cybervitorianismo: Bruno Accioly, um dos fundadores do Conselho Steampunk, que nos concedeu a entrevista a seguir.continua.


15.11.09

Boneca a vapor é gente

A obra de José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) está servindo de base para um artista e empresário paranaense recriá-la com conceitos assumidamente inspirados no steampunk. Arthur Moreno Milan Parreira concebeu a ideia como trabalho de conclusão do curso de Artes Visuais - Multimídia: a concept art de O Sítio do Picapau Amarelo a série de livros que o paulista de Taubaté escreveu a partir da década de 20 do século passado e que já recebeu variadas versões de seriados televisivos, música popular e histórias em quadrinhos.

Como além de estudante Parreira é dono de uma empresa que terceiriza arte para games, o objetivo do trabalho é relacionar a literatura com esta outra mídia, a dos jogos eletrônicos. Para dar forma ao projeto, ele se utilizou de softwares de código aberto, citando o Sistema Operacional Ubuntu 8.10, o GIMP e o Inkscape. Resultados preliminares do TCC podem ser vistos na página que o artista mantém no site deviantART. Lá podemos ver os conceitos para o humano Pedro Encerrabodes de Oliveira, o sabugo de milho Visconde de Sabugosa, o leitão Marquês de Rabicó e sua esposa, alter ego e criatura mais famosa de Monteiro Lobato, a boneca Emília, agora em uma versão metálica movida a vapor, não mais um brinquedo de pano animado, como podemos ver abaixo (clique na arte para ampliá-la).


Um detalhe curioso foi revelado pela matéria que o site do Conselho Steampunk dedicou ao TCC do artista paranaense. A Loja Rio de Janeiro do grupo também tem um projeto semelhante, de retrabalhar os personagens do Sítio em uma estética steamer. Ficamos sabendo que o nome da ideia é "Herdade" e que esta deve ser uma novidade cuja veiculação está prevista para o próximo ano. Como enfatiza o site, ambos os projetos são exercícios não comerciais de exploração do trabalho ficcional de Lobato, uma vez que a obra do autor só entrará em domínio público quando se completarem 70 anos de sua morte, ou seja, em 2018.

Mesmo assim, a matéria comemora a coincidência: "Isso significa que o gênero está de fato se popularizando e que, embora ainda haja muito chão a ser percorrido, o Zeitgeist aponta para o ano de 2010 como sendo 'O Ano do Vapor'!". Que as palavras se mostrem proféticas e a Cuca não atrapalhe. Parabéns ao artista do Paraná e à Loja do Rio de Janeiro por manter vivo o interesse na criação daquele paulista genial.

Fantástica Jornada a Vapor 2

Em um post de setembro, eu havia comentado sobre o maior evento dedicado à cultura steamer que já fora planejado em nosso país: a III Fantástica Jornada Noite Adentro dedicada ao gênero steampunk. Fruto de uma pareceria entre o sempre citado Conselho Steampunk, Sílvio Alexandre - organizador da Fantasticon -, Confraria das Ideias e Biblioteca Pública Viriato Corrêa - Temática de Literatura Fantástica, o encontro está agendado para toda a madrugada de 27 de novembro. Volto ao assunto sgora pois recebi por email a notícia de que dois membros da Loja São Paulo do Conselho Steampunk, Raul Cândido e Karl F. concederam uma entrevista em que dão vários detalhes sobre essa atividade imperdível para os interessados em todos os aspectos estéticos, culturais, literários, cinematográficos, fashionistas e afins ligados ao vaporpunk. Deixo vocês com o link para a entrevista.

14.11.09

Bruce Sterling rides again

Não é só no sistema elétrico brasileiro que os raios caem duas vezes (aliás, se tivessem ouvido Tesla não teríamos tais problemas com transmissão de energia por fio, mas isso é um assunto para outra hora). Em julho eu tinha feito um post sobre comentários que Bruce Sterling a respeito do Conselho Steampunk do Brasil, que ele descobriu em suas andanças pela Internet. Agora, no dia 11 de novembro, o homem que é fundamental para este subgênero voltou a tocar no assunto, publicando uma nova mensagem de um dos fundadores do Conselho, Bruno Accioly, para atualizar seus muitos leitores quanto às ultimas novidades por aqui.

"Those Irrepresible Brazilian Steampunks" é o título do novo post de Sterling em seu blog hospedado no site da Wired. Nele, o escritor americano publicou, com rapidíssimos comentários - um deles em português -, a mensagem de Accioly. Além de falar do lançamento do primeiro livro de contos do gênero em nosso país, a coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, o brasileiro aproveitou para contar duas novidades criadas pelos membros do Conselho que passam a integrar minha lista de links aqui ao lado. A primeira é a Steampedia, que, como o nome sugere, é uma enciclopédia virtual dedicada a verbetes sobre o steampunk; e o Steambook, a primeira rede social dedicada a este gênero no Brasil, que permite a criação e a interação de perfis de usuários e toda uma estrutura para hospedagem de blogs temáticos. Accioly ainda anunciou dois projetos futuros, a serem implementados em breve, o primeiro um podcast dedicado à cultura steamer e o segundo uma série de parcerias que eles pretendem firmar com escritores de FC do Brasil para fomentar a atividade no país. Que os raios voltem a cair!

10.11.09

Steampunk na rádio

Está no ar um verdadeiro crossover de podcasts tratando integralmente de cultura steamer. Rod Reis, do Papo de Artista, recebeu a equipe do Papo na Estante para falar sobre várias manifestações steampunk. Durante mais de uma hora, Thiago Cabello, Ana Cristina Rodrigues, Ana Carolina Silveira e Eric Novello fazem um levantamento de obras literárias, cinematográficas e dos quadrinhos dentro do gênero. Alguns dos contos presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário são comentados. Para ouvir o programa este é o endereço.

Torre de Vigia 6

Nova resenha da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Quem assina o texto, desta vez, é, na própria definição, o ogremista, gaúcho, professor de História, RPGista, HQéfilo, gamemaníaco, anarquista desencantado, guitarrista frustrado, blueseiro apaixonado, leitor obsessivo, pseudo-escritor amador e outras coisas menos interessantes Bruno Schlatter. Vou deixá-los abaixo com o início do texto e o link para a leitura da crítica completa no blog Rodapé do Horizonte.

Há quem diga por aí que estamos vivendo um princípio de começo de uma pequena onda de literatura steampunk no Brasil. Claro, isso não significa que tenhamos grandes autores consagrados subitamente interessados no assunto, ou que qualquer lançamento do gênero rivalize em atenção com o último livro de Crepúsculo ou do Paulo Coelho, mas apenas que, dentro do público ativo de certos nichos literários, tem havido um interese crescente no tema. Honestamente falando, não me considero informado ou envolvido o suficiente para confirmar ou negar essa afirmação; mesmo assim, é sempre interessante ver bons lançamentos nacionais, independente do gênero, como é o caso da coletânea Steampunk – Histórias de um Passado Extraordinário. Continua.

9.11.09

O homem pode voar

Existem vários problemas no mercado brasileiro de ficção científica, vários. Mas entre eles, podemos destacar o atraso com que obras internacionais – leia-se americanas, no mais das vezes – costumam chegar por aqui. Quando chegam. Não raro, a demora pode chegar ao espaço de uma geração ou mais e, quase sempre, acabam impressas por editoras pequenas. Exceções que comprovam a regra são lançamentos de best sellers garantidos ou, pelo menos, de autores de muito prestígio literário, caso, respectivamente, dos livros de Dan Brow e de Michael Chabon que, de novo respectivamente, a Sextante e a Cia. das Letras lançam no Brasil sem muita distância em relação aos originais ianques (vale ressaltar que não é exatamente um consenso que esses dois autores produzam FC, mas eu sou do time que acha que sim). Então, por isso mesmo, não foi sem surpresa que recebi a notícia de que um livro deste gênero tão problemático publicado ano passado por um autor de fora dos EUA já tenha chegado às nossas livrarias e ainda por cima com o selo de uma das grandes editoras do país. E o melhor, para quem se interessa pelo subgênero tratado neste blog, além de FC a obra em questão é um legítimo romance steampunk – apesar de as chamadas editoriais preferirem omitir isso, classificando o livro apenas como ficção histórica.

Estou falando de Aviador do irlandês Eoin Colfer, lançamento do selo Galera Record, tradução de Alves Calado. O autor chega aqui, como é destacado na capa, com o respaldo de uma série muito prestigiada de fantasia: Artemis Fowl, muitas vezes comparada com a protagonizada por Harry Potter. Mas nem vou entrar nessa polêmica, até porque, nas já citadas chamadas editoriais, o romance deixa claro que sua seara é outra: “Nenhuma fada foi necessária para o desenvolvimento deste livro”. E é verdade, na meia dúzia de vezes que são citadas naquelas páginas o objetivo claramente é o de ressaltar que as criaturas míticas não existem. O que move o universo de Aviador é a ciência, é a obstinação de seu personagem principal, Conor Broekhart, em conseguir encontrar meios para voar. Nada de pós mágicos, vassouras encantadas ou mandingas assemelhadas. As tentativas do rapaz se limitam aos artefatos que funcionaram no mundo real: balões, planadores, veículos a motor. Alguns dos pioneiros que construíram tal história foram nominalmente citados na página 58 – mas não adianta procurar por Santos Dumont. O que torna a obra um legítimo exemplar steamer é que o jovem protagonista, nascido - atenção para o detalhe - em um balão, no ano de 1878, consegue seus feitos décadas antes do que tivemos justamente nesta história oficial, garantindo o toque de retrofuturismo que marca o gênero.


E a trama criada por Colfer garante bastante ação para fixar o interesse dos leitores – cujo público alvo é o juvenil, mas há potencial para agradar de verdade também aos mais velhos que gostem de boas histórias de aventuras. Grande parte da charada já foi desvendada por Ana Cristina Rodrigues que resenhou a edição britânica original, Airman, em seu recém-inaugurado blog Observatório a Vapor: o livro presta uma grande homenagem, quase uma releitura, de O conde de Monte Cristo, clássico de Alexandre Dumas, com fortes pitadas da presença do Batman de Bob Kane. Toda a parte da prisão de Conor, que consome cerca de um terço das páginas do romance, remetem diretamente ao autor francês, como observou a resenhista: “Não só o tema da vingança dá o mote da ação do protagonista, como há vários elementos reforçando a sensação, como a prisão, mortes que não são verdadeiras, uma identidade falsa… Registro que isso não é um ponto negativo. Muito pelo contrário. Refrescar temas clássicos da literatura e homenagear livros como esse, que formam o verdadeiro cânone literário mundial, só pode ser bom”. Assino integralmente.

Da mesma forma, num momento posterior, o desenrolar da aventura vai evocando características do herói dos quadrinhos. Com algumas pequenas modificações pontuais, não é difícil reimaginar o conteúdo de Airman à moda de Batman. Substitua Conor Broekhart por Bruce Wayne; o mentor do rapaz, Victor Vigny, pelo Comissário Gordon; a prisão da ilha Pequena Salgada pelo Asilo Arkham; seu colega de cela, Linus Wynter, pelo mordomo Alfred; e o antagonista Hugo Bonvilain poderia ser um Ra´s Al Ghul ou ainda Harvey “Duas Caras” Dent. Pronto! Teríamos a receita para uma ótima revista na linha Elseworld da DC Comics, na qual alguns dos personagens tradicionais da editora americana são retirados de seus cenários costumeiros para viverem aventuras em outros mundos ou outras épocas. O Homem-Morcego já conta com algumas versões do século XIX, eu mesmo resenhei uma delas antes. Da mesma forma como concordo que é interessante homenagear obras que fazem parte do cânone também acredito que é muito bem-vindo esse olhar da literatura para meios tão pop quanto quadrinhos de super-heróis.

O diálogo feito por Eoin Colfer atravessa séculos e promove essa harmonia de nichos culturais de forma bastante agradável. Seu texto é claro e objetivo, sem muitas inovações e estilismos – o detalhe mais interessante, mas nada inédito, é misturar a narração em terceira pessoa com alguns lampejos dos pensamentos dos personagens, destacados em itálico para não provocar confusão. Mas é uma escrita eficiente e segura. Há alguns deslizes, como uma série de coincidências tão fortuitas para a trama – típicas do folhetim mas que poderiam ser retrabalhadas em uma produção contemporânea – e, como apontou Ana Cristina, uma subutilização das representantes femininas – e olhe que a própria rainha Vitória faz uma ponta no livro, que poderia ter rendido muito mais se o autor assim o quisesse. Detalhes pequenos que não tiram o brilho deste lançamento obrigatório para os steampunkers do Brasil.

6.11.09

Twitteresenha da coletânea

O texto a seguir foi escrito em tópicos do microblog Twitter por Edgard Refinetti através de seu perfil naquele site que permite notas de no máximo 140 caracteres por vez. Apelidei o modelo de twitteresenha e de twittereview quando o texto é escrito em inglês, o que o próprio autor também faz, em sua outra identidade por lá. Com a autorização do resenhista, compilei os posts para republicar aqui, um para cada conto da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, na ordem em que eles foram organizados no livro. Notem que sempre que um autor do conto resenhado possuísse um perfil no Twitter, Refinetti o citava pelo nick. Boa leitura!

Começando 'Steampunk - Histórias de um Passado Extraordinário' (Steampunk http://bit.ly/Yi21s), coletânea brasileira publicada pela 'Tarja'.

"O Assalto ao Trem Pagador" de Gianpaolo Celli. Conspiração steampunk. Aventura interessante num aerostato na Inglaterra.

"Uma Breve História da Maquinidade" de @fabiofernandes.Viktor Frankenstein não desistiu. História alternativa intrigante.

 "A Flor do Estrume" de Antonio Luiz M. C. Costa. Medicina com abordagem steampunk. História e universo bem alinhavados. Leia!

 "A Música das Esferas" de @alex_lancaster. Astronomia e morte. História boa mas que não é completamente convincente.

"O Plano de Robida" de Roberto de Sousa Causo. Piratas aéreos no Brasil. Boas ideias costuradas de modo pouco crível.

"O Dobrão de Prata" de Cláudio Villa. Buscando um tesouro no oceano. Hábil reprodução do estilo literário do século XIX. Leia!

"Uma Vida Possível Atrás das Barricadas" de @jacquesbarcia. Casal buscando liberdade. Steampunk & weird fiction. Mandatório!

"Cidade Phantástica" de @Romeumartins Maior arranha-céu do mundo, por volta de 1866. História pulp com vilão grotesco. Legal!

"Por um Fio" de Flávio Medeiros. Grandes homens em tempos de guerra. Evoca Verne otimamente, dark e esperançoso. Obrigatório!