11.8.09

Saudade ou rebeldia?

A pergunta acima dá título à coluna que um dos escritores de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário - Antônio Luiz M. C. Costa, autor de "A flor do estrume" - acaba de publicar na versão digital da revista em que trabalha, a CartaCapital. Em um texto muito bem embasado, o jornalista faz o histórico do gênero literário, analisa o perfil que esta cultura - ou modismo - tem assumido em nosso país, comenta uma das principais obras steamer, The Difference Engine, de Willian Gibson e Bruce Sterling, e ainda anuncia os recentes projetos de coletâneas com noveletas temáticas, a já citada Steampunk e a anunciada Vaporpunk.

O texto pode - e deve - ser lido neste endereço, mas vou citar alguns trechos aqui, como de hábito.

Sobre Steampunk como subcultura:

Uma subcultura curiosa toma corpo no Brasil, imitando e até sofisticando um modelo originário do Reino Unido e também com certa popularidade nos EUA: o steampunk. Na versão verde-amarela, conta com uma estrutura que inclui um Conselho SteamPunk criado em 2008, com um bem-cuidado site na internet e Lojas regionais no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Ocasionalmente, essas “lojas” – terminologia que imita conscientemente a linguagem maçônica, tão popular no século XIX – promovem eventos como o de 26 de julho, no qual um grupo de jovens reuniu-se, primeiro na Estação da Luz, depois no Memorial do Imigrante de São Paulo para passear, vestidos como damas e cavalheiros do século XIX, na velha Maria Fumaça que percorre algumas centenas de metros de trilhos junto ao Memorial.

Assim como os punks propriamente ditos, é sob certos aspectos o que se costuma chamar de tribo urbana, mas essa é quase a única relação entre os dois movimentos. E uma peculiaridade desta nova subcultura é que não se associa a um estilo de música pop, como punks, metaleiros, emos e clubbers, ou ao culto a uma obra específica do cinema ou tevê, como os trekkers (fãs da série Star Trek, ou Jornada nas Estrelas), mas a um subgênero da literatura de ficção científica e da história alternativa, também conhecido como Steampunk.


Sobre analogias com o cyberpunk:

Mas o parentesco e a analogia com o cyberpunk foi reforçada por aquela que veio a ser vista como a primeira grande obra da ficção steampunk – o romance The Difference Engine, de 1990, escrito justamente pelos dois maiores astros da ficção cyberpunk: William Gibson (autor da trilogia iniciada com Neuromancer) e Bruce Sterling (autor do romance editado no Brasil como Piratas de Dados e editor da pioneira antologia cyberpunk Mirrorshades).

The Difference Engine (A Máquina Diferencial) também não tem nada de punk, mas consolidou o nome e o subgênero não só pelos autores que teve como também por fazer uma ponte entre as duas temáticas. Gibson e Sterling imaginaram uma história alternativa do século XIX.

O pivô da mudança é Charles Babbage, matemático e inventor que, na vida real, a partir dos anos 1820 tentou construir a verdadeira “máquina diferencial”, uma complexa calculadora mecânica, programável como um computador e dotada de impressora. Babbage nunca conseguiu os recursos de que precisava para transformar seus desenhos em realidade, mas em 1989, uma equipe do Museu de Ciência de Londres montou sua máquina e mostrou que ela funcionava perfeitamente. O que, naturalmente, sugere a pergunta: o que teria acontecido se Babbage tivesse concretizado seu sonho e os computadores começassem a mudar a tecnologia e a sociedade mais de um século antes de terem aparecido na história real?


Sobre o futuro do gênero no Brasil:

O pleno desenvolvimento dessas possibilidades no Brasil depende, porém, de que o Steampunk não seja apenas consumido como moda ou como decoração de animês e aventuras hollywoodianas. Para ser criativo, precisa ser produzido e discutido como um subgênero literário e associado ao ponto de vista brasileiro ou à história (real e imaginada) de nosso país. Por enquanto, conta-se apenas com a recém-lançada antologia de contos Steampunk, da Tarja (R$ 39, 184 páginas), que inclui uma colaboração do autor desta coluna. Uma segunda antologia, a ser intitulada Vaporpunk, está sendo organizada pelo escritor Gerson Lodi-Ribeiro e é esperada para breve. Teremos então uma boa ideia de como se imagina, em terras tropicais, essa história paralela.

Nenhum comentário: