10.2.12

Nova resenha das Aventuras Secretas

A primeira coletânea nacional de contos baseados no mais famoso personagem de Arthur Conan Doyle ganhou nova avaliação crítica ontem, desta vez pelo jornalista e escritor Antonio Luiz M.C. Costa, em seu blog no site da revista CartaCapital. Seguindo a tradição desta página, reproduzo o início do texto, o trecho que se refere ao meu conto e deixo os leitores ao final com o link para o texto completo.

Desde o início, o detetive da Baker Street se fez notar como um personagem capaz de ganhar vida própria, para além da vontade do autor. Em 1893, quando Conan Doyle quis livrar-se dele para se concentrar em romances históricos mais sérios e o matou em O Problema Final, fãs e editores indignados o obrigaram a ressuscitá-lo e a continuar escrevendo suas histórias. Muitos acreditaram que seus personagens realmente existiam e escreveram cartas para o inexistente endereço da Baker Street 221B.
Escrever histórias apócrifas sobre Holmes é uma tradição inaugurada em 1907, vinte anos antes da morte de Conan Doyle. Os pioneiros foram um time de escritores alemães dentro de uma série chamada Arquivos secretos de Sherlock Holmes, traduzida em francês. E desde que Holmes caiu oficialmente em domínio público, a tentação de reinventar o personagem e suas histórias tornou-se irresistível para seus fãs em todo o mundo. Inclusive no Brasil, onde a Editora Draco acaba de lançar Sherlock Holmes – Aventuras Secretas (264 págs., R$ 46,90), organizada por Marcelo Galvão, cujos contos, na maioria, valem a leitura.
A introdução, de Carlos Orsi, lembra como, em 1911, o padre anglicano Ronald Knox fez uma palestra intitulada Um estudo da literatura de Sherlock Holmes, no qual aplicava aos romances e contos publicados até então por Conan Doyle os mesmos métodos aplicados pela Alta Crítica aos Evangelhos, tratando o detetive como realmente existente e procurando, pela primeira vez, atar as pontas soltas deixadas por Doyle.

Na verdade, como está bem sinalizado ao longo do livro, a coletânea foi organizada por Marcelo Augusto Galvão em parceria com Carlos Orsi. Segue abaixo a parte da resenha que registra opiniões e informações sobre meu conto:

O caso do desconhecido íntimo, de Romeu Martins, mantém Sherlock Holmes e John Watson, mas lhes dá destinos completamente diferentes. Em vez de ser um brilhante detetive, Holmes industrializa o reagente para hemoglobina cuja invenção anunciara no primeiro romance, Um estudo em vermelho e se torna um próspero empresário. Quanto a Watson, enlouquece logo depois de conhecê-lo, delira com aventuras detetivescas que imagina viver em sua companhia e escreve os romances e contos que conhecemos até que, indigente e agonizante, é recolhido a um hospital.
Ao ler seus escritos, o médico que o atende avisa Holmes – protagonista e narrador – que visita o Watson já inconsciente, mas nada compreende. Infelizmente, nem o leitor. Nenhuma revelação interessante sobre a causa dos delírios, nenhum lampejo de inspiração sobre o relacionamento da dupla ou a natureza da loucuraem geral. Este Holmes, talvez o mais obtuso já imaginado, vê Watson como uma monstruosidade incompreensível e sem sentido. Compara-o ao homem-elefante Joseph Merrick, atendido no mesmo hospital e não mostra nem sombra da perspicácia que o tornou célebre na pena de Conan Doyle e que retorna na maioria dos contos desta antologia.
Desajeitado na forma e prosaico no conteúdo, o conto trivializa seus personagens e lhes rouba o encanto sem nada ter para dar em troca. Notam-se também alguns anacronismos: Watson recebe medicação intravenosa, prática criada só nos anos 1930 e Holmes dirige uma grande empresa de pesquisa especializada, décadas a frente do tempo. Amostra:

O jovem médico se aproximou de mim e tocou em meu ombro, fazendo o mesmo rosto que, presumo, deveria dedicar àqueles a quem era obrigado a dar notícias sobre a proximidade da morte.
– Seria tão fácil quanto falso eu dizer que posso imaginar o que sentiu ao ler aqueles textos. Creio que ninguém poderia se pôr no lugar do senhor, para saber o que se passa em seu espírito com toda esta situação tão inusitada.
Não posso negar o quanto estava confuso desde que, em meu escritório, recebera o baú repleto de papéis escritos com uma caligrafia que ficava mais errática com o tempo. Desvendar a forma, no entanto, não era mais difícil do que aceitar o conteúdo, com tudo o que dizia respeito a mim. Ou, pelo menos, a uma versão possível de mim, da minha vida, do meu passado, e até mesmo, do meu futuro…
Por isso tudo, com tamanha confusão, não me sentia à vontade para desabafar a respeito com o médico, que conheci superficialmente anos antes e de quem não ouvira falar desde então. A única coisa que me ocorreu responder foi:
– Esta parte do hospital é bem mais tranquila que o ponto onde entrei, não?
Vale dizer que, quanto aos anacronismos notados pelo autor do texto, eles são elementos próprios da ficção especulativa que permite fazer avançar situações como a criação de uma empresa especializada na área de química ou as pesquisas em relação a tratamentos intravenosos da mesma forma que ocorre com a descoberta antecipada em mais de meio século de um equivalente do nosso Luminol ou ainda a construção de toda uma ala fictícia do bem real London Hospital, onde o Homem Elefante de fato esteve internado na década de 80 do século XIX. Por falar nisso, ao contrário do que diz a resenha, no conto não é Holmes quem compara Watson àquela figura histórica, mas sim outro personagem que faz essa relação reiteradamente.

A íntegra de "Sherlock Holmes em oito reencarnações" pode ser lida aqui.

2 comentários:

Giseli disse...

Não vejo a hora de botar as mãos no meu exemplar, que encomendei :D Não pude ir no evento, então tô esperando o livro na porta de casa ^^. Aí quem sabe role uma resenha hehe.

Romeu Martins disse...

Oba! tomara que tenha mesmo uma resenha sua, Giborg ;-)