28.7.11

Touro Indomável

Com este nome aliterado de personagem Marvel, devo ao diretor Joe Johnston meus agradecimentos por ajudar a ilustrar com exemplos dois subgêneros retrofuturistas muito semelhantes entre si e que costumam causar bastante confusão. Em 1991, ele dirigiu a adaptação cinematográfica  The Rocketeer, personagem das HQs criado pelo escritor e desenhista Dave Stevens que com sua mochila voadora nas costas em plena II Guerra Mundial é um ótimo exemplo de diselpunk. Passados inacreditáveis 20 anos, JJ agora dirige Capitão América - O primeiro vingador, que estreia amanhã nos cinemas brasileiros, um filme também baseado em personagem dos quadrinhos, criado em 1941 pelo escritor Joe Simon e pelo lendário desenhista Jack Kirby, que apesar de se passar na mesma época tem sua estética predominantemente baseada na estética alemã do períoso, sendo, portanto, uma obra mais bem classificada como nazipunk. Uma curiosa manifestação que, em tempos complexos como os nossos - com impensáveis ataques terroristas de extrema-direita na Noruega - aborda tal estética omitindo a presença da suástica em qualquer parte da produção ou de seu material de divulgação; mas ainda assim, nazipunk.


É exatamente na Noruega que começa a parte de época do filme - antes cortar para os anos 40, há uma breve cena nos dias presentes em que uma nave é localizada na neve, em território americano, com segredos guardados há quase 70 anos.  Mas é naquela década de guerra que vemos o oficial Johann Schmidt, comandante de um grupo chamado Hidra que trocou a suástica pela insígnia prateada de um crânio rodeado por tentáculos, buscar no país escandinavo possíveis vestígios dos antigos deuses nórdicos. Naquele momento, podemos vislumbrar parte dos equipamentos avançados que preencherão a maior parte do filme, tanques gigantescos, motos supervelozes, aviões com estranhas hélices, submarinos para um único passageiro, armaduras para soldados, todos com o visual que ao mesmo tempo remete às soluções de engenharia e de design daquele imaginário e deixa evidente que se tratam de apetrechos de um futuro do pretérito. Ideais tanto para vender itens para colecionadores no decorrer da divulgação do filme quanto, no caso dos soldados por baixo dos metais que escondem todo o corpo, incluindo o rosto, para serem desumanizados o suficiente e não despertar pena quando os vilões forem metralhados, explodidos e esfaqueados pelos mocinhos da história.


Falando neles, um novo corte, agora de espaço, para Nova Iorque, onde conheceremos Steve Rogers, um garoto que, apesar da óbvia inadequação física - baixote, magro às portas da inanição e com histórico exaustivo de doenças - tenta obsessivamente se alistar nas forças armadas que combatem na Europa.  Tanto insiste, mesmo correndo risco de ser preso por mentir nos formulários de alistamento, que acaba ganhando a chance de participar de um grupo especial do exército americano que tem a nada modesta intenção de criar uma geração de supersoldados. Além do treinamento à moda antiga, teremos nestas sequências novas oportunidades de conferir retrotecnologia das indústrias Stark, com todos os mostradores de ponteiros, chaves de contato, fios e válvulas que vão ajudar a transformar o rapazote frágil no personagem heróico que dá nome ao filme: o marombado Capitão América. 


É interessante lembrar ser de fato a tecnologia que está por trás de tal transformação, mas não aquela retrô, dos anos 40, e sim a digital que já havia sido posta à prova em filmes como X-Men 3 (lembram-se dos  jovens Charles Xavier e Magneto dos minutos iniciais?) e em O curioso caso de Benjamin Button (no qual Brad Pitt nasce idoso e morre como um bebê).  Pois trata-se do mesmo ator a interpretar Rogers nas duas fases de sua vida, a de rejeitado pelo serviço militar e a de herói de guerra. Chris Evans, que já havia tido a oportunidade de viver um personagem das HQs Marvel nas telas, como o Tocha Humana da fracassada franquia do Quarteto Fantástico, repetindo assim, de forma, digamos, artificial, o feito Robert De Niro realizado de modo natural em 1980, em Touro Indomável. Para viver o pugilista Jake LaMotta do auge à decadência, o ator ítalo-americano ganhou no período de produção pelo menos trinta quilos que lhe renderam o posto de mito do cinema e um Oscar.


Sem as mesmas pretensões artísticas daquele marco cultural dirigido por Martin Scorsese, o longa de Joe Johnston é uma garantia de diversão para quem gosta da sequência de super-heróis que está sendo apresentada no cinema nos últimos anos.  No filme evento anunciado para março de 2012, Os Vingadores, veremos, além do Capitão América, Hulk, Homem de Ferro e Thor, em uma reunião de estrelas como não tínhamos desde os tempos dos Monstros da Universal, com seus vampiros, lobisomens, frankensteins, múmias e afins. Essa necessidade de servir como prólogos de luxo para o blockbuster do grupo acaba prejudicando um pouco o andamento de alguns dos filmes solo. Capitão América - O primeiro vingador se sai muitíssimo melhor neste quesito que o recente Thor,  e no mesmo nível que os dois Homem de Ferro (Hulk, com suas inconstâncias de tom e na permanência dos atores principais nos dois filmes já feitos, segue como o pato manco e feio do cast). Mas não deixa de ser promissor perceber alguns ganchos neste filme de agora que permitem alguma esperança de evolução do personagem e de suas tramas quando o compromisso duplo de apresentação de seu universo e de dar coerência ao filme comunitário passar.


Pois mesmo com suas limitações impostas pelo compromisso com a continuidade compartilhada, Capitão América funciona muito bem e para em pé por si mesmo. Tivesse um protagonista tão carismático quanto Robert Downey Jr. seria o grande achado da Marvel nos cinemas. Mas, apesar de estar bem melhor em cena como o herói de guerra do que como o pós-adolescente inflamável do Quarteto Fantástico, Ewans não tem a mesma tarimba do homem que vive o Tony Stark definitivo. O melhor de sua participação como um novo personagem da editora é a certeza de que a franquia do Quarteto está definitivamente enterrada, pronta para um reboot. O vilão, vivido com gosto por Hugo Weaving, garante ainda mais qualidade final ao projeto: o ator rouba as cenas principalmente quando desencarna o rosto e adota a identidade de Caveira Vermelha, o supersoldado alemão. Weaving, revelado como Agente Smith na trilogia Matrix (update: ao menos em termos de filmes mais ligados à estética super-heroística, pois, como comentou Nikelen Witter, não devemos esquecer de seu trabalho anterior em Priscila, a rainha do deserto), está ocupando um espaço que já foi de Gary Oldman antes que este virasse o policial honesto dos filmes do Batman - aquele intérprete que não tem medo de aparecer mesmo com pesada maquiagem e efeitos especiais tapando seu rosto na maior parte da participação em cena.


O acerto de Capitão América é o de não ter medo de atacar os dois lados que a vertente do realismo permite quando se trata de dar um olhar maduro aos super-heróis. Em um primeiro momento, quando o recém transformado Rogers vira, literalmente, porta-bandeira dos EUA no esforço de propaganda para arrecadar recursos em tempos de guerra, o tom é o do humor, do sarcasmo, com a recepção cínica que os soldados dão àquele sujeito fantasiado que tenta elevar o ânimo das tropas. O oficial vivido por Tommy Lee Jones é certeiro quando dá voz ao que pensam dele os homens de armas - o garoto não passa de uma corista, com seu escudo carnavalesco, uniforme inspirado na bandeira das estrelas e listras e botas de bucaneiro. Quando finalmente entra em ação, o olhar realista se aproxima mais das reinterpretações cinematográficas recentes para estes personagens originalmente feitos para agradar um público de 12 anos (outra fala explícita do filme). Acertar este tom, algo considerado indispensável pelos fãs hoje em dia, é o que Joe Johnston e equipe conseguiram.

Ficção Alternativa brasileira chega à Portugal


Aos poucos, os escritores brasileiros vão conseguindo espaço no exterior. Se primeiro iamos com contos em publicações não profissionais, avançamos para as publicações profissionais e chegamos aos nossos romances atravessando fronteiras. Depois do capixaba Estevão Ribeiro - que já apareceu por aqui com seus passarinhos a vapor - é a vez do carioca Raphael Draccon, que na verdade parte para o seu segundo livro em terras estrangeiras.

O primeiro foi o terror Espíritos de gelo, lançado pela Gailivro em 2011. Semana passada, o escritor revelou em seu site uma notícia que não foi totalmente uma surpresa: o lançamento de sua trilogia de Ficção Alternativa Dragões de Éter em paragens lusitanas.

Não é uma completa surpresa, pois os dois últimos volumes da trilogia foram lançados pelo braço brasileiro do conglomerado editorial multinacional português LeYa (que também relançou o primeiro, originalmente editado pela Planeta). A LeYa tem vários selos e braços editoriais em Portugal: um é a própria Gailivro, um outro a D. Quixote, responsável pela Livros D'hoje, que irá lançar a trilogia. Ou seja, o autor tem tudo para começar uma sólida carreira nas terras dos meus antepassados.

Para quem não conhece, Dragões de Éter é uma repaginada de vários contos de fadas, com personagens clássicos como João, Maria, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, Robin Hood, misturados com referências a cultura pop como games - Final Fantasy é central - e televisão. Um verdadeiro pastiche, no sentido original da palavra, voltado para jovens leitores, com muita ação e romance espalhados pelos três volumes.


26.7.11

FC no reino da HQ

Uma pequena grande revolução aconteceu  no mundo da cultura pop catarinense ano passado, quando o trio Diego Moreau, Ester Gewehr e José Mathias realizaram um evento dedicado a uma de minhas paixões e que foi descrito desta forma por aqui:

Foi sem a menor dúvida o maior e o melhor programa do tipo na história de Florianópolis dando a certeza de que a aposta certa é a de que a HQCon veio para ficar. Tanto que a promessa para o próximo ano é a de que se abra um espaço nela para a discussão da ficção científica e, sim, do steampunk!

Sim, o maior e melhor evento dedicado aos quadrinhos de Santa Catarina vai voltar, com o dobro do tamanho - e olha que ano passado o negócio foi gigante - e ainda abrindo espaço para o retrofuturismo nosso de cada dia. Uma pista sobre isso está lá no cartaz do evento, disponível no site, e idealizado por José Mathias:



Sacaram a silhueta daquele dirigível ao centro e bem no fundão? Não tem toda a pinta de um veículo steamer? Bem, o certo é o seguinte, a ficção científica, o steampunk e outras formas de retrofuturismo marcarão mesmo presença no final de semana dos dias 13 e 14 de agosto, no Floripa Shopping. Fábio Fernandes, escritor, tradutor, pesquisador, e Romeu Martins, vulgo este blogueiro, faremos um bate papo sobre estes assuntos para o público presente, que está previsto para superar as mais de mil cabeças.

Lá na parte dedicada aos Convidados do evento, já consta minha ficha técnica (upgrade: a de meu colega de palestra, também), que reproduzo a seguir, ansioso para rever meu amigo Fábio Fernandes e o grande barato de participar de um projeto feito com tanta dedicação e profissionalismo por pessoas tão fantásticas quanto o trio Diego Moreau, Ester Gewehr e José Mathias.

Romeu Martins

Poderes e Armas: A habilidade de digitar com três, às vezes quatro, dedos de cada mão e com a cauda pênsil no teclado alfanumérico de sua arma secreta, o computador HAL 1,99.
Fraquezas: A falta de um sol amarelo, ou seja, o frio.
Base de Operações: Logo ali, depois da ponte, em São José.
Velocidade: Nunca foi corretamente medida, mas, na dúvida, não aconselho que me deixem cuidar de uma tartaruga manca.
Força: O Fantasma tinha a de Dez Tigres, devo ter a de um gato vira-latas.
Inteligência: Tipo Sudoku nível médio.
Identidade Secreta: Agora me pegou, não sei se sou um jornalista que nas horas vagas é escritor de ficção cientítica ou escritor de ficção científica que nas horas vagas é jornalista.
Histórico: Meus contos de FC, fantasia e horror podem ser lidos nos livros de papel Paradigmas Vol 1;
Steampunk – Histórias de um passado extraordinário;
Cursed City – Onde as almas não têm valor;
Deus Ex Machina – Anjos e Demônios na Era do Vapor;
Sherlock Holmes – Aventuras Secretas;
Steampunk Bible (com luxuosa tradução de Fábio Fernandes).
E virtualmente nos livros e revistas eletrônicos Vapor Marginal, 1000 Universos, Hyperpulp.



Fabio Fernandes
Poderes e Armas: Língua Afiada e Poliglota (não confundir com Troglodita); Escritor, Jornalista e Tradutor
Fraquezas: Não suportar a burrice alheia.
Base de Operações: São Paulo, alternando com Rio de Janeiro (onde nasceu) e Oxford (onde faz parte de um grupo de pesquisa de Ficção Científica e Cibercultura)
Velocidade: A do pensamento – é impressionantemente rápida.
Força: A das minhas convicções (hm, posso mudar essa resposta? Não tenho
muita certeza….)
Inteligência: Aqui no Brasil, não falam muito bem dela; já na Europa, dizem que eu sou um polímata (grosso modo, uma pessoa de conhecimento razoavelmente enciclopédico). Gosto de acreditar na segunda opção, mas com um pé atrás – tenho muito respeito pelos meus críticos brasileiros.
Identidade Secreta: Um pacato professor universitário (com direito a óculos e à falta de jeito proverbiais)
Histórico: Em mais de vinte e cinco anos de carreira, trabalhei em vários jornais (O PASQUIM, O Globo, Tribuna da Imprensa, Valor Econômico) e traduzi mais de cem obras entre livros e quadrinhos. Entre os livros, Neuromancer, Laranja Mecânica e O Homem do Castelo Alto estão entre os de maior destaque. Já entre os quadrinhos, O Vol. 1 da Edição Absolute da Liga Extraordinária e as séries Ex Machina, Transmetropolitan, Y – O Último Homem e Hellblazer (todas pela Panini/Mythos) estão entre os trabalhos que mais tive prazer de traduzir. Como escritor, publiquei um livro sobre a obra do autor de ficção científica William Gibson (A Construção do Imaginário Cyber, 2006) e um romance cyberpunk (Os Dias da Peste, 2009). Atualmente tenho escrito para o mercado de língua inglesa, onde publiquei um conto na antologia Steampunk II – Steampunk Reloaded (2010) e tenho outro para sair na antologia The Apex Book of World SF Vol. 2 (2011).
Links:

25.7.11

Ave, Imperatriz

Damas e cavalheiros da Malta do Vapor, é com muita satisfação que faço a apresentação de uma nova fase deste blog. Como a maioria dos frequentadores deste espaço deve saber, esta página nasceu apenas com o propósito de servir como ferramenta de apoio para me ajudar a escrever uma noveleta homônima, lá em 2009. Com o tempo, evoluiu para me ajudar na divulgação e na clipagem da coletânea em que tal noveleta foi publicada. Pouco mais tarde, a página foi se tornando primeiro um lugar para divulgação da ficção steampunk produzida no Brasil, logo em seguida da cultura steamer nacional como um todo, em diversas formas de manifestação: quadrinhos, moda, joias, jogos, poesia, cinema. Do steampunk para o retrofuturismo em geral, como o sandalpunk, o nazipunk e gêneros retrôs afins, como espada & magia e weird western, foi um pulo. Ou seja, a coisa foi crescendo, crescendo, crescendo tanto que foi ficando muito maior do que eu poderia dar conta sozinho. Felizmente, não estou mais sozinho!

Ontem, em pleno domingo, depois de uma semana bastante intensa que resultou em poucas postagens por aqui, tive uma longa conversa com uma amiga que compartilha comigo vários interesses em comum no objetivo da consolidação da ficção fantástica em nosso país em todas as suas vertentes, FC, fantasia e horror. Uma pessoa que, segundo me informa aquele mecanismo de busca interna do Google, disponível no canto superior à direita do blog, já foi citada nada menos que em 32 posts por aqui (este, por consequência, é o trigésimo terceiro). Uma escritora que esteve comigo em minha primeira publicação impressa, o primeiro volume da coleção Paradigmas, da Tarja Editorial, e está ao meu lado na mais recente a ter saído das gráficas,  Cursed City, da Estronho. Uma pesquisadora e historiadora especializada no pretérito, com ênfase no período medieval, no qual é pós-graduada. Uma agitadora cultural que já promoveu concursos, prêmios, organizou coletâneas, oficinas literárias, mediou comunidades e publicou ensaios e manifestos e agora é publisher do selo editorial Lyr. E que também é agora uma parceira do Cidade Phantástica: Ana Cristina Rodrigues.

Ana vem somar e muito nos esforços deste canto da internet para divulgação de toda aquela gama de assuntos que já formava o escopo deste blog e que agora deve ser ampliado para o alto e além. Somando sua experiência ao considerável arquivo e massa crítica já disponível por aqui, tenho certeza de que os nossos leitores vão ganhar novas e abrangentes abordagens nos temas que já diziam respeito ao habitual por aqui e ainda uma infinidade de outros dos quais eu não tratava, por falta de tempo ou por não serem minha especialidade mesmo. Isso acontece em um momento de extrema importância pois a quantidade de lançamentos nacionais e traduzidos que devem chegar a nosso mercado cresce num ritmo vertiginoso, muito além do que apenas uma pessoa poderia acompanhar. Ainda mais que, no momento, estou diretamente envolvido em pelo menos três desses futuros lançamentos, acarretando uma diminuição e tanto do meu tempo disponível para blogar e para pesquisar novidades. Sendo assim, não poderia eu estar mais bem acompanhado e não poderiam estar os leitores mais bem servidos. Deixo aqui a palavra para nossa Imperatriz de Finisterra.

(Limpa a garganta, ou melhor estala os dedos, o equivalente internético)

Então, pessoas. Primeiro eu quero agradecer ao Romeu, não só pela oportunidade, mas antes disso, por ser um dos poucos oásis de conteúdo de qualidade no mar de blogs literários que tomou a internet brasileira. Participar de algo como o Cidade Phantástica, que vem evoluindo e crescendo sempre, é uma honra e um prazer. Espero que esse movimento de somar forças em uma hora que surgem cada vez mais e mais blogs por aí, inspire outros a fazer o mesmo e termos mais qualidade pululando por aí.

Minha chegada às terras do João Fumaça não veio alterar o perfil do blog. Aqui, continuaremos a falar de vapor e cidades fantásticas, porém de um ângulo mais amplo. Além dos retrofuturismos, iremos trazer mais Fantasia/Ficção Histórica, Alta Fantasia, Fantasia/Ficção Urbana, Ficção Alternativa e muitos etcs. Novidades daqui e lá de fora, lançamentos, resenhas e sorteios. Ou seja, o que já tinha aqui no blog, ms agora também com tempero finisterriano.

E lá vamos nós!

23.7.11

E a Vaporpunk vai para...

E então, caríssima Malta do Vapor? Ontem, dia 22 de julho, foi a data marcada para o sorteio anunciado neste blog em comemoração ao Dia do Vapor. Ao todo, se inscreveram para concorrer a uma edição da coletânea Vaporpunk da Editora Draco 55 pessoas que comentaram no post linkado anteriormente e com isso viraram papeizinhos depositados em meu chapéu weird western de Forquilhinhas. Ou seja, o mesmo método empregado anteriormente no sorteio do Superfakes do João Fumaça. Uma mudança significativa no sorteio deste ano foi a escolha do local: a melhor loja de artigos colecionáveis de Santa Catarina, ponto de encontro dos nerds de Floripa, a Universo Colecionáveis dos meus chapas Marcos Madrys e Kayuá Wazak, que ficou responsável pelos flagrantes captados pela máquina. Nossa sorteadora da vez foi a estudante de Química Juana Gulart. Feitas as apresentações, vamos com o making of do sorteio.



Alguns dos bonquinhos aprisionados na loja, à espera de boas - ou más - almas que os levem para casa.


O lugar conta com a proteção do Mjolnir, como podem notar pelo detalhe superior à esquerda. E aquele, quase saindo da foto sou eu, sem barba, devido a uma troca de tweets com Lidia Zuin, mas essa é uma outra história.


Como vocês podem notar, cacei alguns itens legitimamente steamers na loja para compor o ambiente: uma edição encadernada do segundo volume da Liga Extraordinária e um miniatura do Nautilus. Para vocês verem que o lugar tem a ver com o espírito vaporpunk.


Aqui temos o momento em que 55 papeizinhos foram parar em meu chapéu weird western diante do olhar atento de nossa futura química e auditora de plantão.


Detalhes dos comentaristas/concorrentes esperando a vez de sentirem as garras estilosas de Juana.

Lá foi o gancho...



...tentando decifrar meus hieroglifos...


...e eis o nome do ganhador, parcialmente coberto pelas unhas de nossa sorteadora: Pedro Dobbin.



Aqui, no close para não deixar dúvida (apesar daquele meu primeiro B parecer um G). Entrarei em contato com Pedro Dobbin pelo email que ele deixou no comentário para acertar a entrega do livro. A coletânea Vaporpunk será enviada para ele - ou, se for paulista e preferir, poderá pegar na Fantasticon - assim que o editor Erick Sama voltar de sua viagem ao Japão. Foi isso, pessoal, encerramos aqui o making of agradecendo à Editora Draco, aos parceiros da Loja Universo, à Juana Goulart e a todos os outros 54 comentaristas que participaram. Obrigadão a todos e até a próxima!

19.7.11

Retrofuturismo lusófono: Lisboa Electropunk

E atenção para a oportunidade de publicação de texto retrofuturista em português na Europa. No post anterior, falei do artigo de Fábio Fernandes traçando um panorama do fandom brasileiro na revista lusa Bang! Naquela mesma edição, saiu a chamada para uma nova antologia aberta para submissão de textos com uma temática fortemente retrofuturista, ainda que não seja o vapor a animar as especulações que ela trará. Lisboa Electropunk  será o nome do livro que, como pode-se adivinhar pelo título, centrará sua imaginação na eletricidade, projetando uma capital portuguesa alternativa com o olhar dos pioneiros da FC mas existindo em um hipotético ano 2000.

A organização do livro caberá a João Barreiros, escritor português autor do livro Terrarium, apontado pela crítica como sendo o melhor de toda a história do gênero escrito em nosso idioma. A publicação será pelo grupo editorial Saída de Emergência, em cujo site há o link para baixar a chamada para coletânea, com a descrição das regras gerais daquele universo consensual proposto, várias sugestões de abordagens possíveis, o tamanho dos textos e o prazo de entrega. Como o texto não exige que os participantes sejam naturais de Portugal, apenas que os textos apresentados sejam inéditos e escritos em português, esta é uma bela oportunidade para brasileiros publicarem no mercado europeu. Cito abaixo o início do texto de apresentação, escrito por João Barreiros:



LISBOA ELECTROPUNK

O CONCEITO

O propósito desta antologia temática será retratar Lisboa na volta do Milénio — Natal do Ano 2000 — mas um Milénio diferente tal como poderia ter sido imaginado pelos autores do início do séc XX.

Trata-se pois de um conceito semelhante ao tão popular género steampunk, mas com duas diferenças. As narrativas terão de decorrer precisamente no ano 2000, ou seja, no futuro e a base de energia não será o vapor, tão caro aos autores com Blaylock, Powers e Gibson, mas sim a electricidade cuja utilização começava já a despontar na aurora do século XX.

A nossa intenção será criar um mundo consensual, de uma série de contos interligados no mesmo tempo (uma semana), no mesmo futuro/passado (ano 2000), onde serão utilizadas todas as tecnologias sonhadas pelos nossos avós.

18.7.11

Steampunk brasileiro em revista lusitana

Como anunciei por aqui anteriormente, Fábio Fernandes foi contatado pela equipe da revista portuguesa Bang! para publicar um relato sobre a cena de literatura fantástica brasileira naquela publicação trimestral, editada pela Saída de Emergência em uma parceria com as livrarias Fnac. "Vida noutros planetas" é o título do artigo do escritor, tradutor e pesquisador que abrange vários aspectos e manifestações do fandom nacional, desde os fanzines, passando pelas comunidades virtuais e os eventos presenciais, até chegar no advento recente das pequenas editoras que investem na área. O relato dá destaque para a ascensão da cultura steampunk em nosso país, citando o Conselho Steampunk e as várias manifestações de apoio que Bruce Sterling deu ao movimento nacional em posts de sua coluna no site da Wired Magazine. Fábio Fernandes ainda fez uma gentil menção a mim, que cito a seguir:


Embora exista contato e amizade entre os dois grupos, o conselho atua de forma inteiramente independente e promove, através de suas lojas, eventos periódicos (quase mensais) em todo o Brasil. A recém-lançada The Steampunk Bible, editada por S. J. Chambers e Jeff VanderMeer, há uma seção inteira dedicada ao Brasil. Um dos nomes de maior destaque desse movimento steamer é Romeu Martins, cuja história Cidade Phantástica teve um excerto traduzido por mim para esse livro.

O artigo ainda dá algumas pistas de empreendimentos futuros de nosso mais internacional articulador da ficção científica em prol de, como ele mesmo fala ao final de seu texto, "um fandom unido, com membros de vários países trabalhando junto em projetos diferentes". Alvissareiras notícias, meus caros.

15.7.11

Saiu a degustação de Deus Ex Machina com meu conto

Caríssima Malta do Vapor, está a disposição dos leitores um dos contos que mais me deu orgulho e alegria em escrever, pois foi resultado de um convite que muito me honrou. Já descrevi a trajetória desde a criação até a confirmação do texto em uma série de posts neste blog, mas rememoro brevemente. No final do ano passado, fui convidado pelo casal Cândido e Tatiana Ruiz para fazer parte de um projeto organizado por eles para a editora Estronho, uma inusitada mistura de steampunk com elementos mitológicos. Convite aceito, escrevi em tempo recorde uma narrativa que dá continuidade ao meu miniconto "A Diabólica Comédia", recentemente publicado, em português e em inglês, na edição inaugural da Hyperpulp. "A Conquista dos Mares" expande aquele universo que tenta unificar em um mesmo mundo mitologias pagãs e a tradição Judaico-Cristã, agora acrescido de fortes elementos steamers e com direito a trilha sonora do Led Zepellin.



O resultado pode ser lido agora, integralmente, na degustação que a editora deixou à disposição de seus leitores de Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor (basta clicar na capa e um arquivo em pdf vai ser aberto em seu computador ou leitor digital). Fico duplamente feliz porque, além de estar ao lado de ótimos escritores e escritoras (este livro vai ser a primeira coletânea steampunk mista do Brasil, após duas apenas com homens e uma com mulheres) na edição em papel, estou em um ebook igualmente caprichado, que já foi baixado por mais de 40 pessoas apenas nas primeiras horas, ao lado do prefaciador da obra, Bruno Accioly. Para os futuros leitores é uma oportunidade de conferir o projeto gráfico, mais uma vez a cargo de M. D. Amado, que inclui neste volume uma novidade e tanto: algumas das páginas ilustradas do livro sairão da gráfica coloridas. O lançamento vai acontecer, juntamente com a antologia Steampink, durante a Fantasticon, daqui a exatamente um mês.

14.7.11

Novas resenhas de Cursed City e sorteio

Parece que começou a temporada de resenhas da coletânea weird west da editora Estronho! Hoje tenho mais duas dela para incluir em minha clipagem e ainda dar a notícia de um sorteio para concorrer a um exemplar de Cursed City - Onde as almas não têm valor. Começo pela análise feita por uma das contistas do livro, a escritora e atriz Carolina Mancini (autora de "Número 37", trama com uma ótima protagonista feminina) escreveu uma resenha detalhada, texto a texto, da obra. Como sempre faço, copiarei aqui o início da crítica e o trecho em que fala do meu conto, mas a íntegra pode ser lida neste endereço:

Falar sobre Cursed não é uma tarefa fácil, porém é muito divertida e emocionante. Sei que pode parecer estranho ou inapropriado resenhar um livro do qual se faz parte, mas quando se trata de uma antologia em que os autores selecionados não mantêm nenhum tipo de contato ou troca de opiniões relativas aos textos, a surpresa e a tomada de ciência da obra completa é muito parecida com a apreciação de qualquer outra obra. E justamente por esses motivos que acho possível falar sobre o livro além de outro fator. Quando você pensa em um conto dentro de uma proposta com um cenário tão rico e detalhado como o desta antologia, é inevitável arregalar os olhos - e até mesmo deixar o queixo cair - diante tantas idéias inesperadas, criativas e diferentes.

Ao todo são vinte autores, isso quer dizer que - com muita audácia e cara de pau hehe - posso falar sobre o trabalho desses parceiros que me emocionaram, divertiram e meteram algumas pulgas atrás da minha orelha ao pensar de onde vieram suas inspirações amaldiçoadas.

A qualidade gráfica dos livros da estronho como sempre é incrível, e dessa vez não foi diferente. Um trabalho que só se faz com muito amor e dedicação - não importa quanto essa frase seja piegas. O cuidado vem desde a proposta com a descrição da cidade tanto no site da editora, para que os autores se baseassem na hora de escrever suas "desventuras" e também no próprio livro para que o leitor saiba em que pedaço do inferno está pisando.

A capa e arte interna do livro mesclam elementos do velho oeste com o horror. A graça é tanta que o livro tem um furo de bala. O papel é de ótima qualidade, e todas as páginas são tematizadas. Assim como marcadores e botons que você adquiri ao comprar o livro. E o que mais se pode falar sobre a diagramação? Nada? Muito pelo contrário. Antes de cada conto há um resuminho sobre cada autor e uma foto sua em um cartaz de procurado! Um mimo tanto para o leitor como para os selecionados. (...)

Romeu Martins caprichou na referência histórica e no modo de falar dos personagens. Tem uma cena de mais tensão, mas o conto ficou firme no dialogo. Tem quase a característica de um capítulo ou introdução de uma história maior. Mesmo assim, cheio de surpresas.

A segunda resenha vem do blog Elo das Letras, do qual faço o mesmo corte, indicando aqui o endereço para o texto completo:

Cursed City é uma cidade muito agitada! E é com essa afirmação que inicio essepost, já para assegurar-lhe de que lá você não vai encontrar um local tranquilo para descansa, ao contrário se você for passar uma noite lá tenha cuidado pois a qualquer momento um bandido poderá tirar-lhe a vida.



Esse livro é um livro peculiar traz um universo que poucos se aventuram na escrita que é o universo do western, mas é sem dúvidas alguma um universo cheio de possibilidades para se explorar e foi assim nesse universo cheio de possibilidades a se explorarem que o livro tomou forma, na verdade formas, que possibilitam ao leitor uma leitura diversificada e ainda a contemplação dos mais diversos estilos.


O livro é uma antologia, com participação dos mais diversos escritores que aceitaram o desafio de viverem alguns dias ou simplesmente darem uma passada em Cursed, a leitura flui bem alguns autores acertaram na tônica do western outros não foram o caso, o fato é que o gênero literário de faroeste é um gênero não muito comum por esses lados da fronteira enquanto alguns se identificam bem com esse gênero outros escrevem contos que não têm a ação esperada para esse tipo de literatura, um livro que poderia ter explorado mais o tamanho das letras, mas fica a dica (...)


Eu quero aqui destacar alguns autores que dentro desse universo trouxeram ação e fantasia e transformaram o cotidiano de Cursed City, são eles: Alfer Medeiros, Georgette Silen, Tânia Souza, Romeu Matins. Esses no meu ponto de vista trouxeram algo de especial já que a leitura fluiu e a curiosidade é aguçada para a cada momento tentar se descobrir o que poderia acontecer mais adiante.

E este mesmo blog está sorteando uma edição da coletânea na promoção "Eu quero o livro Cursed City". Clique aqui, leias as regras e participe. Boa sorte!

12.7.11

Resenha de Cursed City

O editor da minha primeira publicação on line do ano resenha o meu primeiro livro publicado em 2011. Júnior Cazeri, do blog Café de Ontem e da revista eletrônica 1000 Universos - por onde saiu, na edição de estreia, meu miniconto "Amazônia Underground" - publicou ontem uma resenha de Cursed City - Onde as almas não têm valor - livro com meu conto "Domingo, Sangrento Domingo". Fiquei muito feliz com o retorno, afinal de contas esta foi minha primeira tentativa em um gênero complicado de se escrever algo novo e interessante, o vampirismo. Como de hábito, republicarei aqui a introdução do texto e o trecho em que fala de meu conto, deixando os leitores com um link ao final para a análise completa:



Cursed City – Onde As Almas Não Têm Valor é uma antologia de contos temáticos lançada pela Editora Estronho, oferecendo como cenário a cidade de Golden Valley, mais conhecida como a Cursed City do título, devido a uma série de acontecimentos sobrenaturais que rondam o lugar e atormentam a vida de seus moradores. O desafio aos escritores, convidados e selecionados, foi o de compor histórias ambientadas nesta cidade e ainda utilizar alguns personagens chave como coadjuvantes na trama, o que rendeu 20 contos publicados no livro.
Com a tradicional qualidade editorial do Estronho, o livro vem muito bem apresentado, com papel que remete às revistas pulp que traziam histórias variadas de cavaleiros no oeste bravio. Um buraco de bala atravessa toda a obra, dando um charme particular ao acabamento. Algumas pessoas reclamaram de margens internas muito estreitas e alegaram que estas prejudicavam a leitura, o que é um grande exagero, mesmo elas sendo um pouco mais justas que o padrão, em nada atrapalham.
Com um brevíssimo prefácio de Adriano Siqueira e uma bem vinda apresentação do cenário oferecido aos autores, a obra se inicia. Entre os contos publicados, acredito que acertaram no alvo, sem desperdiçar munição, os autores que brincaram com os clichês do oeste e adicionaram uma pitada de originalidade na questão sobrenatural, propiciando aventuras divertidas e instigantes. Tiveram que efetuar disparos a mais os que levaram o oeste muito a sério e produziram trabalhos onde o desenvolvimento se dá de forma mais lenta, ou então, deixaram se limitar pelo cenário da trama e acabaram se enclausurando em poucas locações. E, infelizmente, perderam o duelo os que se excederam e não sacaram rápido o bastante as duas armas oferecidas.
Começando pelos melhores trabalhos: Cirilo S. Lemos exibe o melhor do estranho oeste em uma perfeita ambientação e narrativa não linear em seu Por um Punhado de Almas. Seus personagens são marcantes e a narrativa cinematográfica colabora e muito na composição de mais um ótimo trabalho na saga deste jovem escritor. André Bozzetto Jr. retrata de forma crua e divertida como uma dívida é cobrada em Cursed City em A Balada do Coyote, com direito a referências musicais e sangue espalhado pelas páginas. Tânia Souzaaposta em uma personagem feminina forte e que não deixa nada a dever aos valentões do livro em seuDemônios da Escuridão, um conto de vingança recheado de mistérios que evoluíam durante alguns anos.Georgette Silen cria um personagem extremamente carismático, brinca com o steampuk, oferece sensualidade e faz bonito com A Mão Esquerda da MorteM. D. Amado, que também é organizador da obra, mostra que entende do assunto com Nem Sempre A Fé Te Salvará, entre tiros, idas e vindas e algumas alfinetadas escondidas entre suas palavras. Ana Cristina Rodrigues vai fundo da imoralidade e ganância dos moradores com Aquele Que Vendia Almas, um conto que flui bem e surpreende no final. Carolina Mancinitambém investe em uma charmosa personagem que vive uma noite dos diabos na cidade em Número 37, e mostra uma prosa ágil e cheia de energia. Verônica Freitas mostra que não há escapatória de horrores, sobrenaturais ou não, em Cursed City e mostra violência em uma narrativa bastante direta em Deixe-me EntrarRomeu Martins constrói uma história claustrofóbica e revela segredos ocultos em Domingo, Sangrento Domingo, que mesmo tendo um diálogo como fio condutor, não perde em agilidade.