29.10.10

Do Brasil com vapor

O título acima, um belo achado semântico, é a tradução do artigo que Fábio Fernandes acaba de publicar no site da Tor nesta quinzena que eles dedicam ao steampunk. Segue abaixo um aportuguesamento meu do texto em que ele apresenta ao público anglófono o cenário da cultura steamer em nosso país.

Vá em frente, pergunte a eles: no país do Carnaval, geeks, nerds e aficionados por ficção científica normalmente não são diferentes do que você encontraria, digamos, nos EUA, no Canadá, na Austrália ou no Reino Unido Eles preferem ficar com uma boa leitura ou assistindo a uma maratona de séries de TV do que se fantasiar e se divertir com o samba nas ruas, por exemplo. Mas estaria o samba tão distante da ficção científica nos dias de hoje? Talvez não: em fevereiro de 2009, uma conhecida escola de samba bem carioca, a União da Ilha do Governador, escolheu como tema o maravilhoso mundo de Júlio Verne!



Até dois ou três anos atrás, os fãs mais literários da FC ficariam horrorizados se alguém os relacionasse aos "aos geeks que se vestem como Kirk e Spock nas convenções". (Sim, nós também temos. Várias delas). Mas veio um motor a vapor que, curiosamente, parece ter mudado tudo.



Não houve nenhum evento de proporções cósmicas no Brasil ao qual podemos atribuir o início do steampunk nestas terras. Muitos dos fãs de ficção científica tradicional que leem Inglês estavam bem familiarizados com o tropos steampunk desde o início dos anos 90, especialmente desde a publicação do The Difference Engine, embora tenhamos também lido James Blaylock, Michael Moorcock, e KW Jeter (nenhum dos quais foi publicado no Brasil até hoje, com exceção de uma única história de Elric Moorcock ... e de quase trinta anos atrás, imaginem vocês).

Mas talvez as coisas tenham se colocado aos poucos em movimento por aqui com outras mídias: cinema, anime e quadrinhos. Steamboy, de Katsuhiro Otomo, Fullmetal Alchemist, de Hiromu Arakawa e A Liga Extraordinária, de Alan Moore,  vêm à mente, entre outros exemplos.

E, de repente, uma nova geração veio se juntar a nós, velhos escritores e fãs (eu tenho 44 anos e a maioria destes steamers estão com seus vinte e poucos anos, o que é muito refrescante). E as coisas estão funcionando sem problemas na subcultura steamer brasileira: não falta carvão para alimentar as fornalhas daqui.



Hoje, o Brasil tem nada menos que sete Lojas Steampunk algo ligeiramente semelhante na organização de lojas maçônicas - mas sem segredos e conspirações - em um país com 26 estados. O fato de todas essas lojas terem sido criadas nos últimos dois anos é um feito enorme. As Lojas não escaparam do olho sempre atento de Bruce Sterling, que tem agora e repetidamente escrito sobre elas em seu blog. Há também um Conselho Steampunk Brasil, que serve como um elo para essas lojas e mantém uma comunidade web, AoLimiar que agora abriga cerca de sessenta blogs relacionados ao steampunk.

E, ao final do dia, esta situação gerou um efeito inesperado, uma reversão de expectativas, por assim dizer: em 2009, foi publicada, pela primeira vez, uma antologia Steampunk brasileira, apresentando contos originais de escritores conhecidos e de novos nomes do gênero. No mês passado, nós publicamos Vaporpunk, uma colaboração Brasil-Portugal com histórias originais que vão do conto até a noveleta (Ambos serão analisados por mim aqui na próximas semanas.)
 
Vários romances steampunk estrangeiros estão começando a ser publicado por aqui em tradução para o português brasileiro: The Difference Engine vai finalmente ser visto nas livrarias brasileiras em dezembro, e atualmente estou traduzindo Boneshaker Cherie Priest (que foi nomeado para Melhor Romance do prêmio Hugo, no início deste ano) para publicação no início de 2011. (Também traduzi a versão Absolute da Liga Extraordinária, publicado este mês no Brasil). Há também uma abundância de histórias originais steampunk brasileiras. Engraçado para um país tropical, você pode perguntar? Você nunca deve ter ido a São Paulo, ou para os estados mais ao sul. Pode ficar muito frio lá, e se vestir como nos anos oitenta (os anos oitenta do século XIX, é claro).

Fábio Fernandes é um escritor e tradutor vivendo em São Paulo, Brasil. Ele traduziu aproximadamente setenta romances de diversos gêneros para o Português do Brasil, entre eles Laranja Mecânica, Neuromancer e Snow Crash. Você pode ler alguns de seus escritos em Steampunk Reloaded e no vindouro The Apex Book of World SF, Vol 2.

3 comentários:

Vinicius A. Amaral disse...

Grande Fábio! Nosso steampunk não poderia ser melhor apresentado.

Fabio Fernandes disse...

Obrigado pela tradução e pela divulgação, Romeu! Fico lisonjeado e feliz!

Romeu Martins disse...

Assino embaixo, Vinicius; feliz fiquei eu, Fábio, apesar da responsabilidade irresponsável de traduzir O tradutor ;-)