Diz a lenda que há uma maldição em relação a obra autoral mais famosa de Garth Ennis no Brasil. Desde meados dos anos 90, uma infinidade de editoras nacionais começaram a publicar Preacher em nosso país, sem nunca conseguir chegar à conclusão da série, sendo que algumas delas chegaram mesmo a deixar de existir como empresas. Já ficaram pelo caminho Metal Pesado, Brainstore, Pixel, Devir... A bola da vez está com a Panini, que vem tentando dar continuidade ao trabalho das suas antecessoras com uma série de edições encadernadas compilando a trama criada pelo roteirista irlandês e desenhada pelo britânico Steve Dillon para o selo Vertigo, da DC. A história trata do pregador texano Jesse Custer, um homem que perdeu a fé, em sua busca por Deus (e que tem John Wayne vertido de caubói como amigo invisível). Mas as intenções por trás desta procura não são muito epifánicas, ele quer mesmo é por o Criador contra a parede. Além dessas dúvidas existenciais, o rapaz incorporou uma poderosa entidade chamada Gênesis, fruto do cruzamento de um anjo e de um demônio, o que lhe confere o poder da Palavra de Deus: tudo aquilo que Custer fala deve ser obedecido. A série regular teve 66 edições, sempre desenhadas por Dillon; mas para fazer uma piada com o famoso número da besta, Ennis produziu outras seis edições especiais, em coautoria com desenhistas diversos. É sobre uma delas, publicada na forma de minissérie em quatro partes, que vou comentar aqui. Segue a capa do primeiro volume:
Sim, há o logo da editora Abril lá em cima. Até mesmo a casa dos Civita se aventurou em publicar esse título aparentemente amaldiçoado. Porém, ela escolheu para tanto um material fechado que poderia ser lido mesmo por quem não acompanhava a saga principal: Santo dos Assassinos narrou a origem de um dos muitos inimigos que surgiram no caminho do Pregador para tentar impedi-lo de executar sua missão. Na minissérie, ilustada por Steve Pugh, ficamos sabendo quem é na verdade essa criatura, uma espécie de pistoleiro a serviço de Deus. Seu passado remete ao século XIX, quando ele ainda era humano, um caçador de recompensas arrependido e aposentado. O problema é que ele não conseguiu evitar o massacre de toda sua família, mulher e filhos, nem escapar da própria morte. Indo parar no Inferno, sua alma é tão fria a ponto de congelar tudo por lá e dar uma bela dor de cabeça para o Diabo. Para evitar maiores confusões, o ex-caubói ganha suas novas atribuições divinas e se torna o Santo Padroeiro dos Assassinos. Minha intenção com esta série, que se encerra nesta postagem, era trazer apenas material à disposição dos brasileiros. Só que encontrar essas quatro revistas, lançadas em 1997, não chega a ser tarefa das mais fáceis, mesmo para quem vasculha os sebos. Espero que a Panini, tão disposta a vencer a maldição de Preacher em nossas terras, reedite essa minissérie Weird West de primeira.
5 comentários:
Se Jonah Hex tem a metade da cara de Cliant Eastwood na nos anos 60/70, o Santo dos Assassinos é William Muny, de Imperdoáveis (anos 90).
Uma dúvida: Gênesis, filho de Anjo e Demônio, tem alguma ligação com aquele filho de Anjo e Demônio que apareceu em Hellblazer, escrita pelo próprio Ennis? OO
Disse tudo, Cirilo, esse daí é o Willaim Munny :) Quanto ao Genesis, li em algum lugar que não havia qualquer relação com Hellblazer, apenas a mesma ideia.
Romeu, esses posts ficaram ótimos; depois, faço um link deles com um post sobre weird west que vou escrever no meu blog.
Salve, Cirilo e Galvão;
Essas homenagens a atores nos personagens dos faroestes dos quadrinhos são bem frequentes, Cirilo. Tex é John Wayne; Ken Parker, Robert Redford; o Mágico Vento, ali embaixo, Daniel Day Lewis...
Quando eu lia pela primeira vez o Preacher e o Hellblazer do Ennis essa dúvida também me perseguia, mas dá para se notar que a mitologia do inferno, nas duas séries, é bem diferente. Então, são dois universos distintos, com dois cruzamentos diferentes de anjos e demônios ;-)
Massa, Galvão, já agradeço pelo link e vou querer ler e linkar o teu artigo, também!
Abraços
Como disse um grande escritor latino-americano chamado Bolaños: suspeitei desde o princípio.
Grande Shasperito ;-)
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