Usando apenas quatro algarismos nos títulos de seus livros, o escritor e jornalista Laurentino Gomes vem se consolidando como um produtor de best sellers em série sobre a História brasileira. Primeiro veio 1808, a respeito da vinda da família real portuguesa para esta sua colônia ultramarina na mais ousada fuga provocada pelas Guerras Napoleônicas. O sucesso atual é o de 1822, que conta os bastidores da Independência do Brasil do ponto de vista de múltiplos personagens. Para fechar a trilogia de momentos que definiram a identidade de nosso país, haverá ainda um 1889 a ser lançado em futuro breve com a narrativa da Proclamação da República. Há muito que se pensar por aí, nestas obras de divulgação que se tornam fenômeno de vendas atraindo o interesse de dezenas e dezenas de milhares de brasileiros sobre assuntos que eles viram em algum momento de suas vidas escolares.Continua na Vapor Marginal.
Ajuda a ter uma ideia ainda mais clara do quanto o tema é relevante para tantas pessoas se pensarmos além do que faz sucesso hoje. Por exemplo, qual foi o filme que marcou a retomada do cinema nacional, tornando-se um sucesso de público como há muito não era visto no país em meados dos anos 90? Carlota Joaquina, Princesa do Brasil, de Carla Camurati, uma visão burlesca daquele mesmo tema do primeiro livro de Laurentino Gomes. E qual foi o primeiro produto de exportação em massa de nossa produção audiovisual, uma telenovela que atingiu mais de uma centena de países tornando-se campeã de audiência em vários deles? A Escrava Isaura, de 1976, adaptação que Gilberto Braga fez para a rede Globo do livro de Bernardo Guimarães (1825-1884), que já podia ser considerado um sucesso na época do seu lançamento em 1875.
Como podemos perceber, o fascínio pela época não é de hoje e não se restringe apenas à realidade como foi registrada oficialmente. Algo no século XIX atrai leitores, espectadores, público em geral para dedicar atenção a livros de divulgação, a romances, a programas de TV e a filmes ambientados nele com um interesse acima da média. A mistura de um Império nos Trópicos, das lutas abolicionistas, dos grandes personagens daquele tempo, de um período que foi definidor para o presente em que vivemos parece ser irresistível a muito de nossos compatriotas. E não apenas a eles, como comprovou o consagrador sucesso que a citada novela Escrava Isaura alcançou em lugares de formação tão diferente da nossa quanto a Rússia e a China. Naqueles locais, a protagonista da trama, vivida pela atriz Lucélia Santos, se estabeleceu durante um bom tempo como embaixadora não-oficial de nossa televisão em particular e de nossa cultura em geral; e o vilão Leôncio Almeida, interpretado pelo saudoso Rubens de Falco (1931-2008), tornou-se uma encarnação do Mal. Palavras como senzala entraram para o vocabulário de pessoas que talvez nunca tenham visto pessoalmente um descendente de africanos.
E nada mais natural que as apropriações do Oitocentos não se restringissem apenas àquelas exercidas por historiadores, divulgadores e autores de ficção realista. Era de se esperar que em algum momento os escritores dedicados à ficção fantástica nacional fossem se voltar também para aquele período do tempo, usando tal século como matéria prima para suas criações de ficção científica, terror ou fantasia. E a liberdade para se especular com o passado, imaginar novas possibilidades históricas, reinterpretar personagens reais ou mesmo os ficcionais que o tempo encarregou de tornar sob domínio público é o caminho natural dessa tribo que atende pelo nome de steampunkers. Quando o casamento do fantástico local com o século XIX foi oficialmente celebrado em 2009, por ocasião do lançamento da primeira coletânea nacional dedicada ao tema, a história voltou a se repetir, dentro das devidas proporções que o nicho da literatura especulativa ocupa em nosso país.
4.2.11
Damas e Cavalheiros: a Vapor Marginal - Artigo
Então, mesmo passando por um dos costumeiros apagões da Net em minha cidade, quero concluir a apresentação das minhas contribuições na revista oficial do Conselho Steampunk. A pedido do editor, Bruno Accioly, escrevi um artigo que tenta analisar o interesse dos brasileiros pelo século XIX e ao mesmo tempo o interesse dos estrangeiros pelo século XIX no Brasil. Claro que também fiz um link para o que a ficção fantástica tem a ver com isso, especialmente o subgênero steampunk. Segue o início do texto:
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