7.10.10

Corujas noturnas

Zack Snyder é um diretor conhecido por suas adaptações de quadrinhos consagrados, primeiramente 300, de Frank Miller, e mais recentemente Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. No filme que vai chegar aos cinemas brasileiros esta semana, o americano volta a a dirigir uma adaptação, mas desta vez a fonte original vem da literatura e o resultado é sua primeira animação. A lenda dos Guardiões é a versão em 3d da série de livros juvenis da escritora Kathryn Lasky (publicados no Brasil pela editora Fundamento) que encontrou personagens sui genreris para protagonizar sua história de fantasia. Ela usa uma rica diversidade de corujas de todas as espécies, das mais imponentes às menores, graças à pesquisa elaborada para o que, um dia, cogitou trabalhar na forma de obras de não-ficção. Com essa parceria, a Warner Brothers disputa um filão dominado por Disney e DreamWorks, o dos longas de animação. Aliás, o curta que antecede a atração principal parece estar lá para lembrar que, apesar de não ter seu nome muito associado a iniciativas do tipo nos cinemas, o estúdio tem longa tradição em outras mídias. Na tela grande, encarnações tridimensionais de Wile E. Coyote e do Papa-Léguas se enfrentam exatamente do mesmo modo que já cansaram de fazer em nossas TVs.



Diretor, escritora e estúdio podem se orgulhar do material que produziram e que deve ser apenas o primeiro de uma nova franquia cinematográfica, já que ainda há mais livros a serem adaptados e a estreia é bem promissora. Antes de mais nada, é preciso dizer o quanto faz diferença quando um projeto assim é planejado de fato para ser 3d e não apenas se dá um jeitinho na pós-produção. A riqueza dos detalhes do filme valorizam muito as cenas naquele mundo habitado por corujas inteligentes e que dominam tecnologia de metalurgia (vou tentar evitar aqui a piada que fiz no twitter classificando a obra como owlpunk, certo?). As texturas das penas daquelas aves, por exemplo, são um deslumbre à parte, uma demonstração de que a WB reuniu um ótimo time de animadores a seu serviço. E se desde Avatar, passando por Como treinar seu dragão, tomadas aéreas paracem ser um dos grandes atrativos da moda do 3d nas películas - aliás, será interessante ver o mesmo Snyder usar esses recursos no próximo filme do Superman, pelo mesmo estúdio - A lenda dos Guardiões não decepciona. Cada voo das corujas é um verdadeiro espetáculo, tanto em longas travessias entre tempestades quanto nas cenas de combate.

Boa parte da graça do filme está justamente baseada no realismo empregado para retratar seus atores, sejam os protagonistas, sejam os coadjuvantes. Os irmãos Soren e Kludd, capturados por um beligerante grupo autodenominado Puros; os aliados Gyfie, Digger, Crepúsculo; os míticos Guardiões que dão título ao filme; todos eles foram recriados mais baseados em suas contrapartes reais do que em uma antropomorfização caricata. Isso exige um grau maior de sutilezas dos responsáveis pela animação, pois não é tarefa das mais fáceis emprestar ao elenco expressões faciais dignas dos sentimentos despertados durante a história e com isso garantir a empatia dos espectadores. A tarefa é mais simples em alguns casos, como na reinterpretação do principal vilão da trama, chamado de Bico de Ferro na tradução brasileira, que com seu capacete sinistro se torna uma espécie de Darth Vader emplumado. Mas na maioria das vezes, são pequenos detalhes nos olhos tudo o que eles têm - e precisam - para passar a mensagem.

Com tanto requinte, a imagem que eu faço do filme é meio têxtil: o tecido é da maior qualidade, poderia dar uma traje e tanto, só pecou nas costuras. A história é bastante tensa e forte, com temas complicados de se lidar em relação a crianças menores, como sequestros, escravismo, crueza no campo de batalha... Elementos que poderiam dar leveza e unidade ao conjunto são exatamente os pontos fracos neste trabalho de Snyder. Trechos de virada do roteiro, como os alívios cômicos, o momento da profecia, a revelação da arma secreta ou mesmo o do interesse romântico, acabaram não sendo tão eficazes quanto poderiam. O resultado: para o público muito jovem e para quem não conhece a saga criada por Kathryn Lasky é a sensação de não poder aproveitar tanto quanto ocorreria se esses pontos fossem mais bem acertados. De qualquer forma, é excelente ver um novo jogador dando cartas neste circuito fechado das animações, ainda mais um que já venha para a mesa com a tradição de uma Warner.

6 comentários:

bibs disse...

corujaaaaaaaaas *-*
amo muito!
sempre quis ter uma

Romeu Martins disse...

Só tive em pequenas estátuas na estante ;-)

bibs disse...

em estátua também tive
mas queria cuidar de alguma de carne, osso e penas *-*

Romeu Martins disse...

De carne, osso e penas só tive uns canários e uma codorna perneta (que mesmo sem uma perna, botava um ovinho por dia, tadinha)

Não deixe de comentar se for ver o filme (garanto que é melhor que Canudos ;-) )

Anônimo disse...

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Leonardo Peixoto disse...

Infelizmente parece que A Lenda dos Guardiões não vai ter continuações :(