12.7.10

Um certo monarca do século XIX 2

Relembrando o que escrevi neste blog no dia 19 de abril:


Tiburcio, quadrinista e ilustrador conhecido dos leitores por seu trabalho publicado na revista Mad, está desenvolvendo desde o início deste ano uma tirinha na rede com uma ambientação muito próxima aos trabalhos da cultura steampunk. Claramente inspirada nos últimos dias do Império do Brasil, Meu Monarca Favorito narra as desventuras de um rei fictício, de um país fictício, em pleno século XIX, cercado de ameaças à sua coroa.

Agora, graças ao desenhista e escritor Alexande Nagado, que mantém o blog SushiPOP temos a oportunidade de saber mais sobre os bastidores daquela webtira e sobre seu criador. Nagado publicou nesta segunda-feira uma entrevista com o ilustrador responsável pelo cabeçalho deste blog com muitas informações sobre o processo criativo de Meu Monarca Favorito e sobre a visão de mundo de Tiburcio. Seleciono duas perguntas e respostas que têm bastante a ver com o espírito retrô do steampunk. A íntegra pode ser lida aqui.

Quando e como surgiu a ideia da série Meu Monarca Favorito?

Olha, foi no Twitter. Como disse, já ilustrei diversos livros infantojuvenis e um deles, que acredito não chegou a ser publicado, tratava da proclamação da república. Na época – e isso tem tempo – a pesquisa feita para compor as ilustrações foi muito interessante. Deu para perceber uma série de nuances do episódio que não são muito claras nos livros escolares.

Bem, um dia estou ali, tweetando, e o Laudo comunica que trabalhava em um quadrinho sobre a proclamação. Eu fiquei entusiasmadíssimo, enviei a ele até meus desenhos, pois conhecia o tema, e eis que ele me diz que sua história se passava toda na cidade de São Paulo. E eu entendi que ela era contada do prisma paulista. Entendi isso. E fiquei a pensar se poderia fazer diferente disso.


Na minha opinião, a figura de D. Pedro II é muito pouco reverenciada, aliás todo o II reinado assim o é. Ele é vinculado à escravatura,  à Guerra do Paraguai, ao atraso e “n” qualidades pouco lisonjeiras. Mas não é só isso. Eu moro no RJ e passei toda a minha infância e adolescência passando em frente ao Paço Imperial, que fica na Praça XV aqui no Rio, e só vim a saber que aquele prédio que abrigava uma agência dos Correios era o palácio do Imperador quando foi reformado e transformado em Centro Cultural nos anos 80.

Pouco se falava do II Reinado na escola e isso vim a perceber – coloco isso como uma opinião minha – porque desde a proclamação da República não havia o interesse de se falar bem do antigo regime. Isso se cristalizou em atitudes que nunca procuravam ver o lado bom desse período.
Daí que resolvi aproveitar que detinha algum conhecimento histórico e apreciava a figura e criar o Monarca, que é D. Pedro II sem ser D. Pedro II, pois ele é ficcional – de outra forma eu não poderia tomar as liberdades que tomo, como inventar a Liga Imperial de Football - mas é positivo e friso que nessa webcomic o Monarca é o herói. Os vilões são os conspiradores.  E sob essa ótica e salientando que é uma ficção, eu vou tocando a HQ, e procuro sempre dar uma pincelada em temas relevantes da nossa sociedade.  

Além do resgate histórico da figura de D. Pedro II, você também pretende mostrar com sua série uma visão positiva da monarquia enquanto sistema de governo? Como você se define politicamente? 

Eu não sou monarquista. Se o fosse faria uma HQ sobre D. Pedro II mesmo, à vera. O que eu entendo é que tivemos um Imperador super gente boa e que ninguém sabe disso por causa de anos de abandono desse tema. Acredito que o Monarca possa gerar um debate e suscitar ao brasileiro à pesquisa sobre esse passado recente – a meu ver – e o esclarecimento, a dualidade de opiniões, ah!, ele era bom por causa disso, mas tem isso, nisso ele não era bom, mas todos os presidentes não foram assim?

Não compreendo por que parecemos não ter no nosso passado nada que não seja vergonhoso ou criticável. Só o futebol escapa disso, mas nós somos mais do que isso, senão não estaríamos aqui. O Brasil não seria um país continental se tivéssemos tido governos tão ruins como se tenta passar historicamente. O monarca visa uma reflexão e um olhar positivo sobre a nossa história, sobre a nossa sociedade, sobre o que fomos e podemos ser. Não se trata de uma visão positiva do sistema monárquico, mas sim de uma visão positiva do passado monárquico que todos temos. Não são os argentinos que vão valorizar nosso passado monárquico, isso tem de partir de nós mesmos. Auto Estima Histórica.

Um comentário:

Leonardo Peixoto disse...

Isso prova que quando uma porta é fechada , uma janela se abre depois .