26.7.10

Um ano de histórias de um passado extraordinário

Como lembrei ontem, comemorou-se tanto o Dia do Escritor, como o primeiro aniversário do lançamento da coletânea na qual foi publicada a noveleta que emprestou seu nome a este blog. Ao longo deste tempo, vim registrando a repercussão que o livro alcançou tanto dentro quanto fora do país além de acompanhar o que mais se veio a produzir em relação à cultura steampunk no Brasil. Para encerrar este primeiro ciclo da publicação, a melhor maneira que encontrei de celebrar o feito foi convidar a dupla responsável pela obra para uma entrevista em que pudéssemos saber um pouco mais sobre seus bastidores.


Entrei em contato com os dois sócios da Tarja Editorial, Gianpaolo Celli, organizador e contista de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário - em uma foto abaixo, ele aparece a meu lado durante um lançamento literário em São Paulo - e Richard Diegues, que acaba de lançar um romance cyberpunk. Na conversa a seguir, eles refletem a respeito do impacto gerado com a primeira coletânea do gênero publicada em nosso país e comentam um pouco a respeito do que ainda se pode esperar dela futuramente.



A coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário está completando um ano de lançamento desde que veio ao público pela primeira vez, durante o Fantasticon de 2009. Vocês poderiam falar um pouco sobre como foi a ideia de por no mercado o primeiro livro do tipo, dedicado a um subgênero então bem pouco conhecido entre os brasileiros?

GIAN: Bom, Romeu, primeiro tem que eu pessoalmente sempre gostei do estilo. Depois, nós percebemos que existia um mercado para o mesmo aqui dentro, o qual era órfão, pois não existia nada no estilo publicado em português. E finalmente, acompanhando notícias de eventos lá fora, percebemos que o momento para o lançamento era exatamente aquele, sim...


E como foi o processo de escolha dos nove contos presentes na coletânea? Quantas pessoas estiveram envolvidas? Ao todo, quantas contribuições a editora recebeu para compor àquelas páginas?

GIAN: Olha, a coletânea foi 'semi-aberta', ou seja, foram convidados autores conhecidos da editora, com convite aberto a outros escritores que eles conhecessem e que dominassem o estilo. Ao todo recebemos treze originais, dos quais nove foram escolhidos. No processo, os originais passaram nas mãos de dois leitores beta, que após analisar nos passaram os textos, para que eu mesmo e o Richard fizéssemos as leituras críticas.



O livro acabou chamando a atenção de vários críticos, recebendo resenhas em dezenas de blogs pelo Brasil e mesmo fora do país, como o de Larry Nolen nos EUA e o de Cristina Alves em Portugal, além de citações ligadas a revista Locus e na página que Bruce Sterling mantém no site da Wired, ambos de suma importância para o steampunk como o conhecemos. Como vocês avaliam a repercussão que o material teve, mesmo saindo em um ano em que se bateu o recorde de lançamento de obras de ficção científica e fantasia?

RICHARD: O Steampunk é um gênero que vinha aumentando sua produção no exterior, mas de forma vagarosa. Dessa forma, quando lançamos nosso livro aqui no Brasil acabamos agregando volume a essa produção e conquistamos um público que estava ávido por novidades. Quando resolvemos que a Tarja deveria levantar esse gênero aqui no país, já estávamos realmente de olho no mercado internacional. Não foi tão estranho assim vermos que a coisa repercutiu de forma positiva. A coletânea tem qualidade e diversidade, além de ter sido escrita com nossas características literárias, o que acabou cativando o público do exterior, que viu que é possível escrever de diversas outras formas, e principalmente inovando as receitas. Apesar de termos tido diversos lançamentos no ano, nossa obra se destacou por dois pontos: inovação de mercado e qualidade literária. Foram esses dois fatores que levaram a repercussão da coletânea tão longe. E isso foi bom, pois basta ver as promessas de próximos lançamentos no gênero para saber que botamos muita lenha na caldeira.



Por falar na reação dos leitores estrangeiros, e lembrando que a Tarja vai lançar em breve suas primeiras iniciativas de tradução de obras internacionais, com livros de Jeff VanderMeer e de China Miéville: há algum plano por parte da editora de lançar uma versão da coletânea no exterior? Já se chegou a pensar nisso, foi feito algum contato a respeito?

GIAN: Evidentemente que, tendo em vista o retorno internacional que tivemos, que estamos com planos, sim, de verter o livro e tentar a sorte lá fora. A questão da tradução do português para o inglês, no entanto, complica um pouco. Em especial porque publicar lá fora não é o foco principal da editora.

Há sucessos de crítica, há sucessos de público e há as raras obras que conseguem conjugar esse dois pólos. Steampunk - Histórias de um passado extraordinário se saiu bem entre a crítica, pois a média dos comentários publicados a respeito do livro é bem positiva, e a coletânea chegou a receber o prêmio de melhor do ano em sua categoria numa escolha determinada pelo voto do público. Mas em termos de vendagem, ela está dentro das expectativas da editora? Superou, ficou aquém?

RICHARD: Graças ao público fiel que lê os livros da Tarja, independentemente do tema, por conhecer nossa qualidade, somando com os inúmeros fãs do gênero Steampunk, a coletânea superou bem nossas expectativas. A primeira edição se esgotou e fizemos uma segunda tiragem para suprir a demanda ainda existente pela obra. Dentro dos livros nacionais do nicho de FC, é um fato a ser comemorado. Obviamente os comentários positivos a respeito da obra também tiveram grande influência nessa vendagem, mas tenho certo que isso se deve à qualidade dos autores integrantes e à dedicação que tiveram para caracterizar suas obras dentro do gênero.

Desde o lançamento da coletânea, em julho passado, começaram a surgir outros anúncios de livros e quadrinhos nacionais no mesmo gênero ou mesmo de traduções de obras estrangeiras steampunk. Como os editores da Tarja avaliam esse nicho que parece ter sido aberto pela coletânea? Ainda há planos de novos lançamentos pela editora para atender a tal demanda? Vai haver mais histórias de um passado extraordinário com o selo da Tarja?

RICHARD: A Tarja sempre teve esse foco de pioneirismo em suas publicações. Durante todas nossas reuniões tentamos pensar no seguinte: “o que podemos apresentar ao público brasileiro, dentro da Literatura Fantástica, que ainda não tenha sido devidamente apresentado?”. Iniciamos com o Steampunk, publicando a primeira coletânea do gênero e puxando a fila de publicações. Durante um evento que participei em uma universidade em São Paulo, soltei as próximas tendências que exploraríamos, como o Cyberpunk e a New Weird, que estamos lançando não somente com autores nacionais, mas com internacionais, como você bem o citou antes. Tenho certo que isso trará muitos frutos aos leitores de FC, pois ficou claro que os editores que me ouviram durante o evento já começaram a maquinar e apontar seus canhões nesse rumo que apontamos. E isso é bom. Deve surgir muita coisa boa nesse rastro. E o leitor é o maior beneficiado com isso. Quanto ao Steampunk mesmo, confesso que estamos aguardando as publicações de outras editoras que vêm sendo alardeadas, pois não temos a intenção de afogar o nicho, mas sim de suprir uma demanda por trabalhos de qualidade. Após essa primeira onda passar e enxergarmos atentamente para onde o mercado foi arrastado, é muito provável que publiquemos mais algo dentro do gênero, pois temos sempre que pensar em atender ao público no momento em que ele mais precisa. Se o mercado der ares de que está deixando o leitor na mão, vamos sim dar essa força para o gênero.

GIAN: Complementando o que o Richard colocou. Eu estou, sim, dando continuidade ao meu conto (parte de um romance, na realidade), o qual pretendo lançar se possível ainda em 2010.

2 comentários:

bibs disse...

ainda bem que fizeram uma segunda tiragem, acabei comprando outros, mas a próxima grana pra livros vai pra esse com certeza.

gostei muito de ler a entrevista - estou bastante animada com os próximos lançamentos da editora- , pena que não foi no dia - mas tô tirando o atraso hoje =DDD

Romeu Martins disse...

Valeu a leitura, não importa o dia ;-) Já estamos no Ano II da coletânea ;-)