23.5.10

Retrofuturismo oriental

Uma ótima notícia para este dia é a volta às atividades do site Maximum Cosmo, após semanas de atraso em suas atualizações devido a uma série de problemas técnicos enfretados por seu proprietário, o jornalista, quadrinista e escritor Alexandre "Lancaster" Soaraes. Um dos contistas presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, com o texto "A música das esferas", noveleta mais pop do livro, ele também é um expert na cultura de massa nipônica, principalmente no que se trata na produção dos quadrinhos e das animações japonesas.

Para celebrar esse retorno, o blogueiro uniu essas duas pontas, e um dos artigos que ele produziu nas postagens deste domingo é justamente sobre como o steampunk se desenvolveu no Japão e passou a ser representado nessas mídias. Extenso, explicativo e muito bem pesquisado, "A revisitação neovitoriana made in Japan" é uma leitura mais que recomendada para quem gostaria de saber mais sobre como o gênero steamer é trabalhado em outras latitudes. Lancaster fornece uma lista e tanto de obras e de autores, juntamente com uma análise do porquê da popularidade deste tema no páis do sol nascente. Fiquem abaixo com a abertura do material, mas não deixem de ler a versão completa aqui:



Last Exile

É algo a se reparar: os japoneses sempre tiveram uma atracão por uma estética neovitoriana/ neoedwardiana, antes mesmo disso ser notado como tendência ao redor do mundo. Pode ser reparada em detalhes: trajes escolares, desde sempre, seguem ainda um molde de inspiração prussiana, abotoando tudo até o pescoço (tem almas pouco perspicazes que sentem inveja dos uniformes japoneses e acham nossos uniformes uma pobreza só, mas quero ver o que essas pessoas sem noção de realidade achariam de usar esses trajes pretos e abotoados aos 42 graus do verão carioca). O traje de marujo que as meninas usam na escola também é herança de época, remetendo aos velhos trajes para crianças do começo do século XX. Há um gosto para formalismos visuais em várias ocasiões sociais - e pensando bem, , o japonês tem um gosto pelo formalismo de modo geral; esse tipo de estética casa bem com esse tipo de atitude – vide a moda Lolita, além do culto a mordomos e empregadas uniformizadas, que também remetem a essa atracão pelo passado, embora esses trajes pareçam mais com as roupas das bonecas que ficavam nas prateleiras dos quartos das meninas de boa família da época do que dos trajes dessas meninas em si. Boa parte dos desenhos para meninas dos anos setenta parece beber das referências da literatura para moças de tempos idos – acha que haveria algo como Candy Candy sem a popularidade que autoras como L. M. Montgomery, Louisa May Alcott, Frances Hodgson Burnett e outras construíram ao longo de décadas por lá? Não torçam o nariz; não podemos falar nada: o clássico absoluto da demagogia declarada – Pollyanna, de Eleanor H. Porter – até hoje é enfronhado na nossa cultura popular, mesmo após décadas. Muitas vezes, o referencial que os japoneses parecem ter do velho mundo também parece não ter ido muito longe desses tempos idos, e como sabemos, o Japão é especialista em reprocessar e devolver em forma de cultura pop tudo o que lhes cai em mãos, sob novo filtro.

Não é de se espantar que em um momento aonde muito se fala do Steampunk como tendência, uma olhada mais atenta mostra que ele já era cultivado em terras nipônicas antes de ser nomeado como tal.

6 comentários:

Ulisses (Sigma) disse...

As historias japonesas, tão marcadas por sua bela cultura, fascinam pela criatividade de diversidade de assuntos e temas. Eu gosto muito da idéia de misturar esta cultura com o retrofuturismo do Steampunk =D

Romeu Martins disse...

Assino embaixo, Ulisses, que venham mais ninjas e samurais a vapor ;-)

Alexandre Lancaster disse...

E é uma vertente rica. Acho até curioso levarmos em conta que seu fator militarizado acabou sendo conservado, enquanto aspectos menos simpáticos da literatura da época (como a mentalidade do colonialismo) acabaram sendo polidos com o tempo.

Romeu Martins disse...

E esta é mais uma possibilidade ao se fazer releituras atuais, aprofundar questões que deixaram de ser abordadas anteriormente. Um novo olhar sobre o retrofuturismo oriental pode ser muito bem-vindo.

Alexandre Lancaster disse...

Em todo caso minha abordagem daqui para a frente vai ser obra a obra. :)

Romeu Martins disse...

Quero acompanhar a série ;-)