9.5.10

Vitória, a mãe

Neste Dia das Mães, chamo a atenção para uma matéria da revista Aventuras na História a respeito da mulher e mãe mais famosa e influente do período em que costumam ser ambientadas a maior parte das narrativas steampunk. O artigo de Tiago Cordeiro é interessante por mostrar o quanto um avanço tecnológico muito importante para o momento do parto está, também, ligado a essa figura histórica. Os trechos abaixo ficam como uma homenagem deste blog à data. Bom domingo a todos.



Dos 81 anos que viveu, a rainha Vitória da Inglaterra (1819-1901) passou 6,5 deles grávida de nove filhos. Uma tortura para quem achava a gestação insuportável, sentia-se parecida com "uma vaca", temia o parto e achava os recém-nascidos feios. Educada em alemão e sem nunca conseguir falar inglês perfeitamente, a mulher de ar sisudo foi alvo de cinco atentados em seus primeiros anos de gestão. Apesar da antipatia de seu povo, em seus 63 anos de reinado (o mais longo do país) a Inglaterra tornou-se símbolo de prosperidade militar, industrial e política. Mas, apesar de tudo, Vitória foi mãe. No parto dos dois últimos herdeiros, ela conquistaria outro feito: o uso de uma técnica revolucionária de anestesia, contada por Gillian Gill em We Two - Victoria and Albert: Rulers, Partners, Rivals ("Nós dois - Vitória e Albert: governantes, parceiros, rivais", sem tradução em português).

No século 19, no entanto, sentir a dor do parto era fundamental. A explicação está na tradição cristã: depois de comer o fruto proibido, Eva recebe de Deus o aviso de que, como punição, passaria a "dar à luz em meio a dores" (Gênesis). O processo que a poetisa Sylvia Plath (1932-1963) chamaria de "longo e escuro corredor de dor, sem portas ou janelas" também era perigoso. A própria Vitória só havia se tornado rainha porque sua prima, a princesa Charlote (1796-1817), filha do rei Jorge IV (1762-1830) e herdeira do trono, morrera com hemorragia interna no terceiro parto.

"Técnicas de anestesia já eram testadas nos Estados Unidos e na Europa, mas eram consideradas arriscadas", afirma Donald Caton, médico da Universidade da Flórida.Vitória e o marido, o príncipe Albert (1819-1861), estavam interessados na anestesia por clorofórmio desde 1848. Para os nascimentos dos caçulas Leopoldo (1853) e Beatriz (1857), a monarca contratou o médico John Snow (1813-1858) e sua equipe. "Vossa majestade é uma paciente exemplar", Snow diria depois. Desde então, o avanço da anestesia para mães foi impressionante. Em 1920, por exemplo, o clorofórmio já era usado em 90% dos partos em países de língua inglesa e alemã (terra natal de Albert).

Suspiro antes da dor

De efeito rápido, o clorofórmio era o anestésico ideal à época


No parto
Usado pela primeira vez durante o parto em 1847, o clorofórmio ficou conhecido depois de ser usado na rainha em 1853. Ele foi aplicado quando ela já estava deitada em trabalho de parto.

Anestesia
Aplicado a cada 10 minutos sobre uma máscara de tecido, a substância inalada é absorvida pelo sangue e atua no sistema nervoso central.

Clorofórmio
Transparente, de cheiro forte e volátil, o produto foi descoberto em 1831. Seu uso pode causar arritmia e ataque cardíaco, além de parada respiratória.

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