29.4.10

Tempo e eternidade

Se lançar um livro no Brasil já é um feito, alcançar uma segunda edição é algo ainda maior. E se a obra em questão é ligada à ficção científica, então, isso já é quase um milagre. Este é o caso da antologia de contos Fábulas do tempo e eternidade, da paulistana Cristina Lasaitis, título lançado em meados de 2008 pela Tarja Editorial e que agora vai ganhar sua segunda tiragem. E com um belo banho de loja, já que a nova capa é bem mais bonita que a primeira e a editora garante que a encadernação também é superior - este foi o grande problema da edição original, assim como ocorreu com outros livros de formato de bolso daquela casa editorial que também é responsável pela coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.

Como o livro em questão é muito bom mas não é ligado ao gênero tratado aqui, precisei de alguma desculpa para poder tocar no assunto. Consegui isso ao relembrar de um texto antigo da escritora para seu blog no qual ele apresentava a seus leitores os vários subgêneros da FC. Como o steampunk está entre eles, esta abertura fica a título de introdução aos trechos que reproduzo abaixo.

E o que é ficção científica, afinal?
É um gênero muito rico, que engloba vários subgêneros, comportando obras tão diferentes entre si que muita gente nem suspeita se tratar de FC. Costumam designa-la também como ficção especulativa, porque sua função é especular sobre realidades diferentes e explorar novos universos de possibilidades. É a ficção do: “como seria se…?”, e sobre essa pergunta, os autores constroem universos inteiros dentro de uma complexidade própria, abordando aspectos científicos, políticos, tecnológicos e culturais; partindo de premissas que nos conduzem a reflexões por horizontes além dos limites do convencional. E é aí que reside o grande valor da ficção científica: ela exercita a criatividade, a imaginação, o raciocínio, o poder de abstração e a flexibilidade de pensamento. São habilidades exploradas pela literatura como um todo, mas que florescem de forma especial quando a ficção extrapola as fronteiras do cotidiano.

A ficção científica pode ser fatiada em vários subgêneros, que não são absolutos. Muitas obras não podem ser classificadas dentro de uma vertente ou outra, por reunirem características de vários subgêneros. Farei um resumo das principais vanguardas da FC, mas entenda que as fronteiras que separam uma e outra são tênues, algumas fizeram sentido em momentos específicos da literatura, outras são divisões tão virtuais quanto as dos times de futebol. (...)


Steampunk
Amostra de um futuro que jamais houve

Um dia William Gibson (o mesmo autor de Neuromancer) acordou com um bug nas idéias, se reuniu com Bruce Sterling e juntos eles decidiram desenterrar o projeto da máquina diferencial de Charles Babbage (que se tivesse funcionado teria se tornado o primeiro computador da história, isso em… 1822!), puseram-na para funcionar sob forças fictícias e criaram um desvio na história, situando a revolução da informática um século antes que ela realmente acontecesse. O resultado foi The Difference Engine, outro romance que chegou para abalar a FC com estilo.

Imagine você que maravilha o mundo computadorizado batendo cartões em máquinas a vapor, os céus tomados por zeppelins movidos por piloto automático e a Rainha Vitória atravessando os oceanos com os submarinos da Nautilus Rapinante Ltda. Sim, isso mais parece Júlio Verne recauchutado, com engrenagens de ouro e rococós barrocos. O steampunk – punk a vapor – é a tendência que veio explorar o progresso científico que o passado poderia ter vivido e que jamais aconteceu. A premissa sempre é fundamentada em um ponto crítico da história, gerando um desvio para uma revolução tecnológica bem-sucedida.

Nos quadrinhos, o gênero foi muito bem explorado por Alan Moore em A Liga Extraordinária (cuja adaptação cinematográfica deixa a desejar). E mais recentemente, o filme A Bússola de Ouro traz uma linda amostra dos devaneios estéticos do steampunk.

Na verdade, o punk a vapor é um gênero pouco ou nada funcional, mas com um apelo estético fortíssimo, retro-futurista e quase parnasiano. Em outras palavras: “essa engenhoca do vovô não serve pra nada, mas é tão bonitinha, tão legal, tão bacana…!!”

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Romeu,
Muito obrigada pela divulgação!

Romeu Martins disse...

Nada a agradecer. Sucesso com a nova edição, que ela abra caminho para as próximas.

Camila Fernandes disse...

"O steampunk – punk a vapor – é a tendência que veio explorar o progresso científico que o passado poderia ter vivido e que jamais aconteceu."

Taí uma excelente definição! Lovit.

Romeu Martins disse...

Olá, Mila! Há quanto tempo! Saudade de seus comentários.

Pois é, gostei das definições da Cris para o steampunk e para as outras vertentes da FC. Vale a pena ler o artigo completo.