Octavio Aragão acaba de publicar em seu blog uma entrevista com um historiador português, aficcionado por ficção científica, que traçou um rápido panorama da situação daquele gênero literário no país onde reside há 36 anos e onde a FC nasceu, por mérito do sempre citado por aqui Jules Verne (1828-1905). Pedro Mota, criador do site
La Porte des Mondes, deu especial atenção a certo subgênero, como Aragão destacou no título do seu post - "
Steampunk em Paris: entrevista com Pedro Mota". Abaixo, seguem a abertura da entrevista e o trecho da conversa em que o especialista lusitano toca no assunto:
Pedro Mota é um historiador português que atualmente reside na França.
Graças a seus projetos editoriais e admiração pela Ficção Científica – especialmente o subgênero chamado “História Alternativa” – vem promovendo um intercâmbio bastante salutar e inédito entre autores de língua portuguesa e de origem francesa. (...)
O A – Você acredita que há a possibilidade do desenvolvimento de um mercado de literatura de FC de cunho mundial, fora do universo editorial anglófono?
P M – Sinceramente, creio que sim. Porque penso que pode haver outros modos de escrever FC, outras sensibilidades além daquela dos anglo-saxônicos. A pouco, tive uma conversa com a Sylvie Miller, onde ela me disse que a FC americana é, por vezes, demasiado maniqueísta e um tanto redutora. Enquanto que a FC espanhola ou lusófona aparece mais colorida e mais diversa.
Na França, os leitores puderam descobrir nestes últimos anos, autores alemães, espanhóis, italianos, cubanos, jamaicanos. Todos eles propõem visões e alternativas diferentes da FC anglo-saxônica. Não quero dizer que a FC não-anglosaxônica seja melhor, mas é diferente, e desenvolve outras maneiras de escrever temas clássicos como space-opera, hard-science, cyberpunk, steampunk e outros.
Pegamos, por exemplo, o steampunk, que conheço bem: a princípio, trata-se de uma nova corrente que se iniciou nos EUA e na Inglaterra, com os livros de Powers, Blaylock, Gibson e demais. Mas, por volta de 1995, reparamos que vários autores francos souberam recuperar esse tema e adaptá-lo ao público francês. Em vez de situar a ação em Londres dos finais do século XIX, transpuseram as suas historias à Paris, mas na mesma época, com personagens (verdadeiros ou imaginarios) bem conhecidos, como Arsène Lupin, Jules Verne, Vidocq etc... Acho que o steampunk “à francesa” não deve nada ao anglófono, e até pode interessar o público português, espanhol ou brasileiro. Mas será que esses públicos alguma vez ouviram falar desses livros? Julgo que não, e acho uma pena.
Ademais, a FC estrangeira pode contar histórias com temas bem diferentes dos habituais, temas usados na França, tal como "Eu matei Paolo Rossi", de Octavio Aragão. Nesse conto, um dos pontos focais é a paixão pelo futebol que existe no Brasil, o que soa um pouco "exótico" na França.
É preciso saber se as editoras portuguesas, brasileiras e as outras, podem ter vontade de buscar e traduzir contos franceses, e realizar um trabalho similar ao de alguns editores franceses.
Se ninguém der o primeiro passo, todo o trabalho realizado por várias pessoas para tentar descobrir essa "outra" FC pode não ser mais do que "un coup d'épée dans l'eau" (un golpe de espada na água) e as várias FC existentes no resto do mundo continuarão a ignorar-se, medindo forças com a FC anglófona.
2 comentários:
Opa, Romeu!
Rapaz, que rápido. Agora, pelo menos, dei uma revisada básica e acrescentei uma imagem.
Como essa é uma entrevista antiga, pedi ao Pedro Mota alguns adendos para essa versão.
Muito obrigado pela divulgação.
Er tenho uns precogs k.dickianos trabalhando pra me atualizar no que ainda vai ser publicado sobre steampunk, Octavio.
Parabéns pela entrevista, sempre é bom saber o que se passa em novas fronteiras.
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