9.6.11

O Brasil na Bíblia

Mas afinal, o que a Steampunk Bible traz a respeito de nosso país, além da tradução de minha noveleta feita com habitual competência por Fábio Fernandes? O Brasil surge no derradeiro capítulo desta obra de referência, justamente aquele dedicado ao futuro da cultura steamer, ao lado de outros países emergentes, como a França. Mesmo sem a mesma competência de meu tradutor, fiz abaixo uma versão para o português das citações que Jeff VanderMeer e S.J. Chambers fizeram de nós. Como vão ver, as informações sobre a cena brasileira foram cedidas por depoimentos do próprio Fábio Fernandes e de Jacques Barcia, autores que estiveram presentes na primeira antologia nacional steampunk. Aliás, a capa de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário aparece ilustrando o capítulo, e ocupa toda uma página do livro, o que garantiu a essa reprodução uma dimensão ainda maior do que a que foi publicada originalmente por aqui. Segue o texto e um detalhe das páginas deste capítulo:



Steampunk Internacional e multicultural

A internet tornou-se uma ferramenta essencial para os fãs do steampunk conhecerem e participarem dessa subcultura, não importando onde eles vivem. Sites como Brass Goggles e The Steampunk Workshop servem como uma conexão para tal atividade. No entanto, os entusiastas internacionais também têm desenvolvido suas próprias comunidades, com interesses em comum. Gradualmente, a internet está servindo como uma estrada de duas mãos, permitindo que steampunkers na América do Norte e na Grã-Bretanha descubram os esforços realizados em outros países. Da França ao Brasil, incluindo todos os pontos entre eles, há mais atividade do que nunca com sites como o Beyond Victoriana e Silver Goggles que focam o steampunk multicultural, independentemente de sua origem. Entusiastas de longa data como GD Falksen, que tem escrito sobre o tema steampunk multicultural para Tor.com, também reconhecem que o futuro do gênero requer diversidade. "Toda a cultura que existia no século XIX potencialmente pode ser usada para uma história steampunk ou como recurso estético", diz Falksen. "Acredito que as pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes das possibilidades".

(...) O Brasil surgiu como um ambiente efervescente do steampunk. Segundo o escritor, tradutor e fundador do blog Post-Weird Thoughs, Fábio Fernandes, o steampunk brasileiro tem estado "ativo há um par de anos, pelo menos oficialmente. A maioria de seus membros em todo o país sequer conheciam uns aos outros até 2007. Eles começaram a se reunir logo após a fundação da Loja São Paulo do Conselho Steampunk (algo semelhante a uma loja maçônica, mas só no nome). Agora, existem lojas nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraíba e Paraná."

Mesmo tendo o steampunk brasileiro menos de três anos de existência, Fernandes afirma que a comunidade "está fazendo um ótimo trabalho, atraindo muito interesse, com pessoas ativas organizando vários eventos. A maioria deles até agora, porém, está relacionada com moda e estilo de vida, em vez de literatura. Alguns eventos fundiram essas duas comunidades ... mas elas não são realmente integradas. Mas não vemos isso como um problema. Ambas as comunidades se dão muito bem. O movimento de escritores está crescendo rapidamente, e ouso dizer que nos próximos dois ou três anos vamos ver o nascimento de uma verdadeira escrita brasileira no gênero steampunk."

Fernandes aponta Jacques Barcia, um dos líderes na cena brasileira de ficção científica e fantasia, também como um dos melhores escritores steamers do país. "Ele pode evocar imagens de uma beleza terrível, engenhocas infernais e belas criaturas como golems mecânicos apaixonados."

Barcia concorda com a avaliação de Fernandes: "A literatura steampunk brasileira cresce rapidamente, mas ainda está em sua infância. Há grandes obras de ficção, grandes antologias temáticas e convenções dedicadas apenas a esse subgênero, mas muitos autores (e leitores) não têm uma visão clara do que é steampunk ou sobre como ele se desenvolveu ao longo dos anos. Por outro lado, existem grandes exemplos de escritores brasileiros criando uma vitoriana com sabor nacional, misturando figuras históricas com personagens da literatura romântica brasileira e atingindo grandes resultados."

A ficção de Barcia não se encaixa em uma "estética steampunk brasileira mais geral. Eu focalizo normalmente na Belle Époque, em vez de usar imagens vitorianas, e prefiro ambientar minhas histórias em cidades imaginárias que só lembram (ou recriam) localidades brasileiras. Além disso, meus personagens são geralmente os dissidentes, os pobres, os sindicalistas e os anarquistas do início do século 20. Acho que o steampunk precisa de mais revoluções, mais agitação. Afinal, a virada do século passado diz respeito a fábricas e seus turnos de 80 horas, além da busca pela liberdade. Não é apenas fantasia a vapor, maquinário mecânico e seus inventores."

Em 2009, uma antologia steampunk brasileira mostrou as obras de Barcia e de outros autores, na condição de porta-bandeira (ou seria porta-dirigíveis?) para uma ficção bastante variada. Muitos dos textos selecionados trazem influências familiares, como Verne e Wells; mas outros, como "Cidade Phantástica", de Romeu Martins, com suas "favelas steampunk", bandos de ex-escravos vindos da África que se tornaram capoeiristas e enormes edifícios nas margens da praia de Copacabana, são mais intrinsecamente brasileiros.

4 comentários:

Cirilo S. Lemos disse...

Parabéns, Romeu. Depois posta umas fotos suas com as Sagradas Escrituras.

Romeu Martins disse...

Hehe eu sou meio tecnófobo e neoludita e não tenho câmera digital. Mas uma hora eu posto uma foto dos dois troféus acumulados nessas andanças vaporosas: a comenda do Conselho e a Steampunk Bible.

Unknown disse...

os pobres, os sindicalistas e os anarquistas do início do século 20. Acho que o steampunk precisa de mais revoluções, mais agitação. Afinal, a virada do século passado diz respeito a fábricas e seus turnos de 80 horas, além da busca pela liberdade. Não é apenas fantasia a vapor, maquinário mecânico e seus inventores.

Amém, irmão. Concordo plenamente.

Romeu Martins disse...

E essa liberdade é o grande trunfo do steampunk, pois permite que num mesmo gênero diversos autores trabalhem com as mais diversas abordagens, da utopia à distopia, da fc à fantasia, do mundo real a universos imaginários...