Transistorpunk. Continuando com a lista de Remy, temos esse subgênero que diz respeito a “uma exagerada e glamourizada sociedade da era da Guerra Fria”. Influenciado pelos ideais e modismos da década de 1960, o Transistorpunk também pode ser chamado de "Psychedelipunk" ou "Weedpunk", quando enfatiza elementos psicodélicos ou “tecnologias à base de cânhamo”.
Tendo uma versão bastante particular da Crise dos Mísseis em Cuba (ocorrida em outubro de 1962) como pano de fundo, o filme é sem a menor dúvida influenciado pelos ideais - o embate entre comunismo e capitalismo da Guerra Fria - e pelos modismos - o cafoníssimo visual sessentista - daquela década, além de contar com boa dose de uma tecnologia avançada demais para ter existido de fato meio século atrás. Felizmente, ninguém precisa decorar termos como transistorpunk, psychedelipunk, weedpunk ou quetais para se divertir com a obra dirigida por Matthew Vaughn, que já tinha no currículo adaptações da HQ Kick-Ass, de Mark Millar, e do livro ilustrado Stardust, de Neil Gaiman. Agora, este londrino se dedicou a contar a origem dos mutantes mais populares dos quadrinhos, com tal ambientação que, certamente não por acaso, coincide com a data da criação desses personagens pela mitológica dupla Stan Lee e Jack Kirby para a editora Marvel.
Falando nisso, não custa lembrar que este não é um dos vários filmes cuja criação é assumida inteiramente por aquela editora, caso dos longas recentes Hulk, Homem de Ferro, Thor e dos futuros Capitão América e Vingadores. Os X-Men, assim como Homem-Aranha, estão licenciados para a Fox, o que faz este lançamento ter um compromisso maior com a continuidade estabelecida na trilogia cinematográfica iniciada no ano 2000 por X-Men, o filme do que com o material que rende uma infinidade de gibis todos os meses. A intenção declarada desta nova produção remete diretamente à estratégia adotada por George Lucas em Star Wars: Primeira Classe é apresentado como sendo a parte um de uma nova série de três filmes que atencede a trilogia que o precedeu... Isso mesmo, pensei que nunca mais veria um projeto com essa proposta, mas aconteceu de novo. Sendo assim, o que chegará às salas de cinema nesta semana é algo como A Ameaça Fantasma da saga X-Men, com a vantagem de ser bem melhor que aquele filme de 1999.
Tal ligação com os três filmes que o precederam nos cinemas mas que o sucedem cronologicamente fica clara desde os minutos iniciais. Vaughn optou por reproduzir a sequência em que o garoto que um dia se tornaria Magneto manifesta pela primeira vez seus poderes ao ser violentamente separado dos pais em um campo de concentração nazista, em 1944; exatamente a mesma que abriu o filme de Bryan Singer, uma década atrás (esse cineasta, aliás, aparece nos créditos como produtor do novo longa e, não, não há nenhuma cena legal no pós-crédito, pode sair da sala quando começarem a acender as luzes). Paralelamente também vemos como estaria Charles Xavier naquele mesmo ano, vivendo na mansão de sua família no condado de Westchester, NY, e seu encontro com Mística, a primeira mutante além de ele próprio que o futuro geneticista conhece. E em paralelo seguimos adiante, avançando 18 anos no futuro, quando o sobrevivente inicia sua busca por vingança atravessando países como Suíça e Argentina; bem como o pacifista vai até a Inglaterra aprofundar seus estudos sobre o fenômeno da mutação. Neste momento, conhecemos a dupla que tem a missão de defender personagens que foram brilhantemente interpretados por Patrick Stewart e sir Ian McKellen, respectivamente os jovens James McAvoy e Michael Fassbander, que cumprem a tarefa com êxito, principalmente este último.
A convergência ocorre nos Estados Unidos, quando um inimigo em comum força uma parceria entre os dois mutantes e um braço operativo da CIA: Sebastian Shaw, o líder de um grupo de conspiradores chamado Clube do Inferno (sobre o qual já falei aqui), interpretado por Kevin Bacon, o ator mais experiente da película e, dos que estão em atividade, talvez o que tenha mais a cara dos anos 60. O restante do elenco principal é composto por jovens com pouca experiência, mas quase todos dando conta do recado. É assim com os mutantes que fazem parte da tal "primeira classe" do título, uma formação bastante diferente daquela vista nas HQs, com Ciclope, Garota Marvel, Anjo, Homem de Gelo e Fera. Na versão do cinema, apenas este último (responsável pela criação das tecnologias avançadas que vemos no filme), se mantém; os demais são alguns personagens obscuros até mesmo para um leitor moderado das revistas: Banshee, Angel, Destrutor e Darwin. Uma ousadia e tanto, garantir o filme mais nos alicerces das obras anteriores que em personagens carismáticos e de apelo popular. Sendo que alguns deles podem até mesmo confundir o público que precisa estar atento para entender, por exemplo, que aquele demônio vermelho que se teleporta (Azazel) não é o mesmo demônio azul que se teleportava (Noturno) de X-Men 2 (também dirigido por Bryan Singer, em 2003).
Só posso torcer para que essa ousadia não espante o público e garanta a continuação da trilogia de prequels programada pela Fox. Nem essa nem as demais, como o fato de ser um filme poliglota, com diversos diálogos sendo falados, pela ordem, em alemão, francês, espanhol e russo. Bem como o já citado visual sessentista e a trama de espionagem internacional que lembram mais os episódios iniciais da cinessérie 007 do que uma adaptação típica de super-heróis. Caso a audiência média americana e do restante do mundo supere tais estranhamentos, ela poderá aproveitar uma obra muito mais interessante que o filme solo dedicado ao popstar do grupo (X-Men Origens: Wolverine, de 2009) e dar a chance para que essa experiência continue em frente. Pois com seu roteiro complexo - e às vezes confuso, sim - X-Men - Primeira Classe consegue dar coerência a muitos dos elementos vistos anteriormentes na franquia. Mas também abriu novas pontas que poderiam ser mais bem exploradas nos dois próximos filmes, cobrindo 50 anos de história. E novas formas de retrofuturismo seriam vistas na tela grande, o que seria uma ótima notícia.
7 comentários:
Não estou animado com esse X-men tanto quanto com o filme do Cap e dos Vingadores, porém a coisa do transístor me deixou curioso. Mas o que eu queria mesmo era um filme do Quarteto puxado pra FC, com um toque de Caçadores da Arca Perdida, e um Destino bem vilão de folhetim.
("para ter existido de fato meio século atrás..." Putz, o tempo está voando!)
Eu também fui ver esse filme com baixa expectativa (depois de ver cartazes e trailers) e acabei gostando bem mais do que esperava. Apesar da falta de carisma de alguns personagens e da trama às vezes rocambolesca além da conta, é bem interessante e muito melhor que o longa do Wolverine.
Se você achou que o fato de ter passado meio século desde os anos 60 já é evidência de que o tempo está passando rápido, o que dizer de que faz mais de uma década que vi X-Men, o filme nos cinemas? Credo...
Gostei. Me animou pra assistir a esse danado. Só diz mais uma coisa: você falou que era melhor que Wolverine (o que não quer dizer muita coisa, né?), mas em relação à trilogia anterior, é melhor também?
Hmmm, bem, tem muitas pessoas que não curtem tanto assim a primeira trilogia, o que não é meu caso; gosto bastante dos três filmes, principalmente do segundo.
Mas acho este novo mais bem estruturado que o terceiro (O Conflito Final) que ficou meio corridão e foi prejudicado pela saída do Singer pra ir fazer aquele filme meia boca do Super-Homem...
procuro nunca criar grandes expectativas, até porque leio poucos quadrinhos
mas estão falando bem desse filme, vale conferir =D
Este filme usou uns personagens tão obscuros que só sendo um leitor hardcore pra reconhecer ;-) Mesmo assim, fizeram o filme para todos os públicos e acertaram bem nisso
Acho que a proposta da nova trilogia dos X-Men anteceder os filmes dos anos 2000 foi deixada de lado em Dias de Um Futuro Esquecido .
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