8.11.11

Nova resenha de Vaporpunk

Pedro Dobbin, o ganhador da coletânea Vaporpunk em sorteio realizado neste blog, me enviou ontem uma resenha daquele livro publicado pela editora Draco. Ele atendeu a um convite que refaço a todos os leitores deste espaço: caso queiram fazer críticas a obras relacionadas à temática daqui, e não tenham uma página pessoal para publicar, podem enviar o material para cá. Quando falo em temática, me refiro não apenas à cultura steamer e aos subgêneros coirmãos, como cyberpunk e dieselpunk entre outros. Falo também de outras abordagens que retratem o passado - histórico ou mítico - no gênero fantástico: weird west, fantasia histórica, espada & magia, gaslight novels e afins. Dito isso, resta agradecer a Dobbin por sua resenha completa e deixar o texto à apreciação dos leitores.




Vaporpunk, Relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades

Organização: Gerson Lodi-Ribeiro e Luís Filipe Silva
Editora Draco, 2010, 312 páginas.

A proposta do livro, como podemos ver na introdução, é a de uma coletânea de noveletas steampunk com o enredo basicamente voltado às culturas brasileira e portuguesa. A questão do que vem a ser uma noveleta, se é algo maior que um conto e menor que uma novela é uma discussão à parte. Pelo que li tratou-se do número de palavras, entre 8 e 18 mil, classificando os contos em até 8 mil, as noveletas a seguir e as novelas acima de 18 mil. A justificativa para tal é pertinente: como se trata de história alternativa, necessita-se de mais espaço para situar o cenário histórico propriamente dito. No meu entender isso não deixa de lado os contos, que podem muito bem tratar disso com eficiência, mas as noveletas, ou contos grandes ,também são eficazes. A seguir breves comentários das 8 participações no livro, sendo 5 brasileiras e 3 portuguesas.

A fazenda-relógio
Octavio Aragão (bras.)

Pelo tamanho trata-se de um conto (não contei as palavras). E é a prova cabal de que contos podem dar conta da temática. Vemos a automação das fazendas escravagistas, com a libertação escravos, a transformação destes em hordas de desempregados miseráveis e suas consequencias. O ritmo é vertiginoso, tem-se a impressão de que estamos a correr junto com o autor de uma ação à outra. Mérito do autor, chega-se ao final quase sem folêgo, mas satisfeito. Excelente.

Os oito nomes do Deus sem nome
Yves Robert (port.)

Inglaterra, França e Portugal são superpotências e como tal lutam entre si. Inglaterra com a ciência física , França com as ciências psíquicas e Portugal com as ciências espirituais. A trama é um intriga internacional, envolvendo representantes das 3 potências e a tentativa de descobrir o segredo do crescimento acelerado do poderio Português. Um final um tanto confuso, mas de resto a trama é boa.

Os primeiros astecas na lua
Flávio Medeiros Jr. (bras.)

Um agente duplo luta com sua conciência e com as dificultades inerentes à traição. Inglaterra e o império Asteca de um lado e o império Francês do outro. É interessante observar as justificativas que o agente duplo dá para si mesmo. Outro ponto a notar são os grandes nomes e personagens da Literatura Fantástica alçados a posições políticas ou militares. É divertido encontrar essas referências. A história se desenrola bem e o final é no mínimo surpreendente.

Consciência de ébano
Gerson Lodi-Ribeiro (bras.)

Uma organização secreta dentro do governo é responsável por proteger um ser que é a “arma secreta” da República dos Palmares. A traição de um de seus membros e a construção de uma hidroelétrica são o pano de fundo para uma história maravilhosa, muito bem contada e original. Faz juz ao termo noveleta e é a melhor do livro.

Unidade em Chamas
Jorge Candeias (port.)

A história de um passarolista português e seu regimento, as dificuldades e a lenta transição do preconceito ao companheirismo quando um regimento de negros se junta ao seu. As traições decorrentes do abismo gerado pelo racismo de alguns. As descrições dos mecanismos das passarolas são muito bem detalhadas, assim como dos cenários e dos personagens. Excelente.

A extinção das espécies
Carlos Orsi (bras.)

Um naturalista inglês em viagem pela América do Sul narra seus encontros com cientistas e sua criações. A invenção de máquinas capazes de se reproduzir e de alimentarem-se dos mais variados cardápios dá margem a uma reflexão sobre qual espécie prevalecerá. Muito bem escrito, narração fluente, as vezes parece mais uma noveleta de terror. Um doce para quem descobrir quem é o naturalista, e atenção especial para a reflexão ao final. Muito bom.

Os dias da besta
Eric Novello (bras.)

Agentes da Guarda Imperial examinam um animal capturado no cais do Rio de Janeiro. Após a sua fuga descobrem que trata-se na verdade de um metamorfo que havia sido capturado pelos ingleses. Com a guerra do Paraguai se aproximando, um Brasil que ascende tecnologicamente, e uma Princesa Isabel aviadora temos uma história bastante interessante.

O sol é que alegra o dia...
João Ventura (port.)

História de um padre cientista com pitadas de aventura e intriga. A questão da parceira público-privada e sua eficácia é interessante, bem como a discussão sobre ciência e religião.

Conclusão


A edição é muito boa e as histórias são de qualidade. Na minha opinião uma ou duas foram “esticadas” e acabam por ter uma narrativa um pouco lenta, mas nada que prejudique o prazer da leitura. Destaque para a revisão, pois não pude encontrar os erros incômodos tão comuns em outras leituras, o que demonstra o cuidado e a preocupação da editora. A capa é um item a parte e merece um exame cuidadoso. No mais é leitura altamente recomendável.

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