9.11.11

Vapor e mitologia em prol da literatura fantástica

O título acima é o mesmo da mais nova resenha que o livro Deus Ex Machina - Anjos e Demônios na Era do Vapor recebeu no blog da escritora Carol Mancini. Minha colega em outra coletânea da editora Estronho, Cursed City - Onde as almas não têm vez fez uma análise bastante detalhada de cada conto daquela antolgia e me deixou uma pergunta no ar. Vou fazer os procedimentos tradicionais daqui, postando o início do texto e o trecho que se refere ao meu conto, remetendo à íntegra, logo abaixo. Em seguida, volto para responder a pergunta:

“Deus Ex Machina” é outra das antologias da Editora Estronho com chamada e proposta criativa, que se diferencia também pelo capricho da edição. Em uma ambiente bastante saturado da literatura fantástica que é a “Guerra entre anjos e demônios” , os organizadores optaram por mesclar ao enredo a tecnologia Steampunk como objeto principal de trabalho para os escritores, ou até mesmo pano de fundo. De fato, não é uma temática fácil, e no final foram selecionados doze escritores que se juntaram ao convidado Romeu Martins, todos para nos contar de diferentes pontos de vista, e com bastante criatividade, caminhos e desventuras dessa grandiosa batalha.
O prefácio ficou por conta de Bruno Accioly, que nos indica que a viajem é para além de uma literatura de ficção sim, mas ficção de um passado que nunca existiu, (como é de fato uma característica do Steampunk), e que nesta feita, alinha-se ao celestial e ao improvável. Aqui, encontramos já o estilo um pouco mais rebuscado e de parâmetros cultos na escrita, o que esteticamente falando, já nos remete pela própria estrutura à época onde o gênero Steam é passado. Estilo esse que, em muitos contos, torna a aparecer.
Assim, aviso. Para os leitores desacostumados ou que preferem a simplicidade do coloquial pode não ser o tipo de obra a ser mais apreciada, mas tanto aos leitores que não se importem de por as engrenagens do seu cérebro para funcionar no desbravamento dessas frases ou para àquele que já está acostumado, “Deus Ex Machina” será um deleite de forma e conteúdo.
"Observação. Sempre que o termo “guerra” for utilizado, me refiro à guerra fictícia sugerida como proposta da antologia, e o termo “tecnologia” ao próprio gênero Steampunk.
Em segundo lugar, não sou uma entendida deste mesmo gênero, assim sendo, não avalio em nenhuma hipótese o quanto o que é apresentado se enquadra mais ou menos nesta temática."

Quem abre as narrativas é o convidado Romeu Martins (mais sobre ele e seus trabalhos no blog Cidade Phantastica) com “A diabólica comédia” (seria uma referência direta à "A divina comédia" de Dante?). Um conto onde interesses pessoais falam mais forte do que o “sangue” nessa batalha. Ele cruza diferentes mitologias levando a história aos primórdios da guerra. A tecnologia é um ponto interessante colocada sem prejudicar a fluência da leitura. Tudo bem equilibrado e com ótimas imagens.

Continua

A respeito da dúvida de Carol: o título completo do meu conto, "A Diabólica Comédia - A conquista dos mares", faz mesmo referência à obra mais conhecida do poeta Dante Alighieri, mas não apenas a ela. Quando meu caro confrade Cândido Ruiz, um dos organizadores do livro ao lado de Tatiana Ruiz e de M. D. Amado, me convidou para escrever algo para Deus Ex Machina unindo a temática steampunk com as figuras de anjos e demônios, apesar de ter aceitado na hora fiquei numa dúvida e tanto. Deveria escrever algo usando o cenário da noveleta "Cidade Phantástica" ou fazer algo novo?

O motivo da dúvida era que aquela mundo que dá nome a este blog tem algumas regras que eu me impus, sendo a mais notável que o seu protagonista, João Fumaça, só contracenaria com personagens já existentes, tomados de empréstimo de outros criadores. Sendo assim, até pensei em uma trama envolvendo meu agente da Polícia dos Caminhos de Ferro, o arcanjo Rafael, um cenário baseado em Demônios de Aloízio Azevedo e uma certa figura da mitologia greco-romana. O problema é que para desenvolver tudo aquilo eu precisaria de mais espaço que o estipulado para a coletânea que estava em desenvolvimento.

Sendo assim, decidi que usaria um outro universo para situar minha contribuição para o livro. A escolha recaiu em uma outra história que eu havia escrito, em 2008, para o blog Letra e Vídeo, criado por Ana Cristina Rodrigues. Como o nome sugere, a ideia daquele espaço era a de que os escritores escolhessem um vídeo musical e escrevessem algo inspirado nele. Minha contribuição na época foi o conto "A Diabólica Comédia", baseado na música "Ave, Lúcifer", da banda brasileira Os Mutantes. O disco em que saiu aquela música, de 1970, tem um nome duplo, é conhecido como Ando meio desligado ou ainda.. A Divina Comédia.

Sendo assim, aquele primeiro conto (cuja versão mais recente pode ser lida na revista Hyperpulp) foi batizado parodiando o nome de um disco que por sua vez citava o livro de Dante. Para escrever a continuação, mais uma vez recorri a uma inspiração musical (desta vez foi "The battle of evermore" da banda britânica Led Zepellin, a característica mais marcante daquele universo). Portanto, para marcar que "A conquista dos mares" fazia parte de uma história maior, deixei o "A Diabólica Comédia" no título completo do conto de Deus Ex Machina.

2 comentários:

Carolina Mancini disse...

Romeu, pergunta mais que respondida.
Um bom repertório é realmente fundamental e faz toda a diferença.
Obrigada pelo espaço por aqui.
Beijo

Romeu Martins disse...

Eu quem agradeço duplamente, Carol, pela ótima resenha e pela oportunidade de aprofundar um ponto sobre o qual eu ainda não havia falado por aqui ;-) beijão