(A-há, vocês acharam que eu tinha desistido de ocupar o puxadinho do Cidade Phantástica? Ledo engano. Só estava (mais) enrolada.)
Quando vocês estiverem lendo essa resenha, estarei a caminho de São Paulo. Ou melhor, provavelmente, já estarei lá para acompanhar a entrega do Troféu HQMix desse ano. Não é a primeira vez que vou na cerimônia, mas agora o gostinho é especial, já que meu marido ganhou o prêmio de Melhor Publicação Infanto-Juvenil.
Então, aproveito a ocasião para falar do álbum que ganhou as três principais categorias (Melhor Álbum, Melhor Roteirista e Melhor Desenhista)
deste ano e que tem tudo a ver com vários outros posts do Cidade Phantástica: a graphic novel Bando de Dois, ilustrada e roteirizada por Danilo Beyruth e publicada pela Zarabatana. Li a obra logo após o lançamento, emprestada por um amigo, e comecei a procura para adquirir um exemplar para chamar de meu. Aí entra o grande problema da produção cultural pop brasileira: a distribuição. Ô quadrinho difícil de achar, mesmo nas lojas especializadas aqui do RJ.
Na Bienal, aproveitando a minha jornada heróica nos 11 dias, consegui entrar na Comix antes da criançada que entupia o estande nos dias de semana e finalmente sair com o meu exemplar em mãos!
Capa simpática, né?
Pra começo de conversa, Beyruth é um artista completo. É muito comum termos desenhistas que acham que contar uma história é moleza e saem cometendo atentados contra a arte sequencial por aí. Ou roteiristas que, cansados de lidar com desenhistas, arriscam uns rabiscos indecifráveis. Bando de Dois é a prova que existem casos excepcionais em que um grande desenhista é ao mesmo tempo um contador de histórias sensacional.
Beyruth nos leva até o cangaço, nosso ponto de referência histórica mais parecido com o cenário dos westerns. Traça um relato de vingança, morte e redenção acompanhando os dois últimos sobreviventes de um bando destroçado pela Volante, a tropa que patrulhava o sertão em busca de cabeças dos bandidos, garantia de recompensa na capital.
Os dois aliados tem motivações diferentes. Tinhoso recebe dos espíritos do bando a incumbência de garantir-lhes o repouso final, enquanto Caveira de Boi está atrás de um tesouro cujo mapa ficou no tapa-olho de um dos mortos. A partir desse começo, acompanhamos os dois enquanto traçam um plano de ação e o executam, tentando sempre estar um passo a frente do malicioso Tenente Honório.
A história é bem amarrada, com pouquíssimas pontas soltas (tem um ex-cangaceiro que ajuda os dois até um certo ponto e depois some), situações bem resolvidas e com um ritmo narrativo surpreendente. Beyruth consegue usar uma linguagem quase cinematográfica sem parecer forçado ou sem timing, dando os ganchos e as explicações na hora em que devem surgir na história.
Beyruth sabe que falar fácil é difícil e segue isso no contar da história, sem abusar de firulas ou de desvios que às vezes são tão comuns nos quadrinhos brasileiros.
E a arte é uma coisa maravilhosa.
Já sendo um desenhista excelente desde a época em que publicava o zine do Necronauta (uma das experiências brasileiras mais interessantes na área de super-seres), em Bando de Dois, Beyruth extrapola. Na luz estourada do sertão, ele consegue fazer um jogo de claro/escuro de dar inveja a pintores renascentistas.
Recomendo MUITO a leitura do álbum! E parabéns ao Danilo Beyruth pela conquista tripla!
3 comentários:
Mais que merecidos os prêmios.
Um dos [se não o] melhores albuns lançados esse ano.
Parabéns, Beyruth, pelo álbum [e os prêmios] e Ana, pela resenha.
Opa, que bom ver a Ana por aqui. Grande mesmo esse álbum, que eu comprei, uns meses atrás, justamente pela indicação da Ana quando saiu aquela série sobre Weird Western nas HQs!
Pois é, Chefe, voltei! :D
Semana que vem, tem Black Company e ASoIaF por aqui.
E procês verem como o cabra é bom, vai ser adotado em escolas:
http://t.co/NShclkf9
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