18.5.11

Os neotemplários

Nesta quarta-feira passei por uma experiência inédita: fui ver um filme que adapta quadrinhos que nunca li. No caso, a produção O Padre, baseada em Priest,  manhwa escrito e desenhado por Hyung Min-Woo (os quadrinhos sul-coreanos, muito semelhantes aos mangás japoneses mas com sentido de leitura igual ao do ocidente). Não posso falar nada, portanto, da capacidade do diretor Scott Charles Stewart em se manter ou não fiel à obra original, mas acho que vale a pena comentar alguma coisa aqui no blog, afinal, o filme remete inteiramente ao faroeste fantástico, com direito a motos supervelozes fazendo às vezes de cavalos percorrendo as pradarias e com vampiros monstruosos no lugar dos pele-vermelhas. A produção segue aquele mesmo padrão que comentei na resenha de Mortal Engines, a de um futuro retrô, no qual a sociedade acaba retomando a estética e as soluções tecnológicas de algum período histórico. Neste caso, a escolha fez de O Padre mais um lançamento weird west em nossos cinemas.

O cenário básico deste mundo é explicado logo no início com uma breve animação que faz lembrar a primeira parte de Kill Bill, de Quentin Tarantino. A humanidade sempre travou violentos combates contra os vampiros, até que em algum momento os ataques dos monstros passaram a ser tão bem sucedidos que algo precisava ser feito. Boa parte da população sobrevivente passou a se abrigar em cidades-fortificadas que, em última análise, não passavam enormes igrejas. A força policial estava nas mãos de padres guerreiros, que não usam nada com pólvora, mas contam com um arsenal de armas brancas com motivos de crucifixos: espadas, facas,  sais, shurikens... Após muita luta, aparentemente se chegou a um equilíbrio de forças, com vampiros vivendo em suas colméias em áreas isoladas e a maioria das pessoas nas tais cidades-igrejas. De uma hora para outra, como ocorreu com os Cavaleiros Templários dos tempos das Cruzadas, o Clero passou a considerar a casta de guerreiros como um embaraço a ser revisto. Com a perda de privilégios, os antigos caçadores de vampiros agora ocupam uma posição de párias em suas comunidades, marcados com tatuagens de cruz do alto da testa até o meio do nariz.

Então, acaba o desenho e somos apresentados a atores não tão animados assim. O inglês Paul Bettany é o protagonista do título; o americano Cam Gigandet, um xerife de povoado que vem lhe avisar que sua sobrinha foi raptada após um inesperado ataque dos monstros;  a americana com jeito de asiática (ela é do Hawaii) Maggie Q interpreta uma sensual... hã, como traduzir Priestess? Padreza? Madre? Este é o trio que troca tiros (no caso do xerife) e golpes de kung fu (da parte dos religiosos lutadores) contra as criaturas de CGI comandadas pelo neo-zelandês Karl Urban, que faz um vilão bem pouco aproveitado. É uma boa obra de ação, descontado alguns clichês e interpretações canastronas, que deixa antever um cenário ainda mais interessante que o filme em si. Me deu vontade de conhecer os quadrinhos e de torcer para que as possíveis continuações sejam melhores.



9 comentários:

Febo Vitoriano disse...

http://poesiaretro.blogspot.com/2011/05/selo-kreativ-blogger-award.html


Selo para o Cidade Phantástica

Romeu Martins disse...

Obrigado pela lembrança.

Anônimo disse...

Eu tive a mesma sensação. Achei o filme com cenas clichês e atuações toscas.

Mas a idéia me parece ser muito boa. Podia ser melhor explorada.

O 2 poderia falar de uma luta global, e não local e pessoal. Ficaria mais interessante.

Romeu Martins disse...

Eu gostaria que esse primeiro tivesse focado mais na ditadura clerical das cidades, para mim o ponto mais forte do cenário.

Seria interessante se a ameaça dos vampiros fosse vista só como algo folclórico, até o momento final. Daria mais força ao inimigo que aquela banalização do cgi...

Alexandre Lancaster disse...

Pior que eu li a história e posso dizer que não tem muita coisa a ver. Até porque a ameaça no original eram demônios, não vampiros, e a história até onde li se passava realmente no velho oeste, mas um velho oeste esquisito, com monstros e uso de metralhadoras lata-de-goiabada dos anos vinte.
Na verdade a wikipedia pode esclarecer bem melhor sobre o que rola no quadrinho original.
http://en.wikipedia.org/wiki/Priest_(manhwa)

Romeu Martins disse...

Pô, então é ainda pior como adaptação... Eu tinha visto pela sinopse do primeiro arco que havia esse contexto de o Padre ter vendido (ou a suspeita, pelo menos) a alma ao capeta.

Poderia ter sido um filme beeeeem melhor mesmo, então :-/

Unknown disse...

Ele vendeuu METADE da alma a um demônio chamado Tem Mussarela [Temozarella ou algo asism]. Se passa num cenário bastante weird West mesmo, sem tanta tecnologia. eu achei a série bem legal [mais empolgante que o superestimado Vampiro Americano] e com um traço bem diferente dos manhwas que costumam pintar por aqui, e muito estiloso, diga-se de passagem ;)

O filme subverteu totalmente a ideia e tranformou em algo sci-fi-com-slowmotion-e-vampiros-demais-pra-alegria-da-garotada. Uma pena.

Em feiras de quadrinho se costuma achar os volumes nacionais da HQ por 1 ou 2 reais.

Romeu Martins disse...

Vender meia alma pra um demônio com um nome desses só pode acabar em pizza hehehe

Eu já vi outro manhwa que saia na época desse em sebos, o Planet Blood, mas Priest anda sumido, pelo menos aqui em SC. Se eu topar com alguma edição, vou comprar pra conferir ;-)

Leonardo Peixoto disse...

Dependendo do momento onde a pendenga entre humanos e vampiros pegou fogo de verdade , é possível que a Reforma Protestante nunca tenha acontecido ! Isso explicaria como a Igreja conseguiu tanto poder !
Concordo que seria interessante se a ditadura clerical tivesse um enfoque maior , apresentando uma sociedade fortemente fundamentalista , onde presumidamente ateus e gays são perseguidos e questionadores dos dogmas da Igreja são acusados de quinta-colunismo !