14.12.09

Entre os melhores do mundo 3

Larry Nolen enfrentou uma drástica intoxicação alimentar por esses dias, leu mais de 500 livros este ano e mesmo assim encontou tempo para ler, nos últimos quatro meses, três vezes cada um dos nove contos que constituíram a primeira coletânea steampunk lançada no Brasil. O resultado da dedicação deste crítico da ficção científica é uma excelente resenha, muito bem contextualizada, que ele acaba de publicar em seu blog sobre Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.

Nolen começa seu texto analisando o fato de que o subgênero explodiu em popularidade na última década, criando suas versões alternativas para a Era do Vapor (1775-1914), inspirado igualmente por Jules Verne, H. G. Wells, Thomas Edson, na Era do Imperialismo, e, especula ele, talvez como uma reação à confusão e ao horror do século XX. "De qualquer forma, as contradições inerentes nas estruturas social e política daquela época dão um sentido de tensão, algumas das quais explodiram nos conflitos devastadores do século XX, quando a guerra mecanizada inspirou novos horrores nos campos de batalha da Europa, da África e da Ásia (e, em grau menor,  nos da América e da Austrália)", relembra o resenhista. "Foi uma época em que Marx e Engels deram uma voz e um sentido às frustrações das classes trabalhadoras industriais através do globo; foi um tempo em que a prática repugnante da escravidão dava seus últimos suspiros nos EUA e no Brasil".

Na visão dele, todos esses elementos se combinam para criar possibilidades narrativas sobre realizações históricas e científicas compartilhadas. Sepultando de vez a noção de que só é possível se escrever sobre o gênero dentro dos limites do antigo Império Britânico, Larry Nolen aponta: "Em muitos sentidos, steampunk é um dos primeiros subgêneros verdadeiramente 'internacionais' da ficção especulativa, seu apelo se espalhou rapidamente de um país a outro, sem que um único país ou língua domine a paisagem literária". Ele ainda completa: "é verdadeiramente um movimento internacional, ele se adapta para atender às necessidades dos cenários literários de cada país".

Feita a análise do gênero em seus aspectos globais, o autor passa a se deter ao lançamento da antologia brasileira. Nolen comenta que, com as releituras das noveletas do livro, acabou desvendando, na maioria delas, novas camadas de significado. Então, passa a comentar algumas das histórias presentes no livro, "Cidade Phantástica" entre elas. Confessa que, quando teve acesso ao livro, em agosto deste ano, temia que os autores da coletânea tivessem imitado estilos e maneirismos de escritores anglo-americanos no lugar de escrever algo original sobre o tema. A opinião desse resenhista, que leu boa parte - se não podemos ousar dizer que tudo - daquilo produzido nos últimos anos dentro do estilo, é uma grata surpresa: "os elementos que esses nove escritores ultizaram são, para mim, mais atraentes do que os que encontrei na maior parte da ficção de steampunk em inglês na década passada". Ele percebeu uma tendência dark na antologia, uma frustação de que o avanço tecnológico e a ascenção de alguns não estejam favorecendo a todos como poderia. Nolen usa a imagem de uma nuvem negra que paira em algumas das histórias, uma nuvem que ameaça trazer destruição e mudança ruinosa em sua passagem.

Mr. Nolen observa que isso não significa que as histórias sejam excessivamente didáticas, desprovidas de aventura e de divertimento. "Steampunk - Histórias de um passado extraordinário é uma das antologias mais tensas e mais agradáveis que li em 2009, em qualquer língua". Ele prevê que a ficção feita no Brasil como um todo, uma potência emergente na FC, e o trabalho de alguns dos escritores da obra em particular deverão desafiar algumas concepções anglocêntricas e influenciar o diálogo global sobre o steampunk e sobre a ficção científica. "Altamente recomendado para aqueles que podem ler em português", ele finaliza. "Vai figurar durante algumas semanas no posto dos meus Melhores de 2009".

9 comentários:

Jacques Barcia disse...

Romeu...eh Larry Nolen, nao Niven.

Romeu Martins disse...

Opa, valeu! Ato falho.

Cirilo S. Lemos disse...

Como eu disse antes, um profundo orgulho dos nossos autores! Parabéns!

Alexandre Lancaster disse...

E realmente fez o dia de todos que participaram. :)

Romeu Martins disse...

E eu também me repito: é algo que nos honra ;-)

Fabio Fernandes disse...

Bacana, né não? ;-)

Romeu Martins disse...

Orra, meu ;-)

Anônimo disse...

Cara, tou passado. Mesmo.

Flávio Medeiros

Romeu Martins disse...

Também passei-me, Flávio :-)