23.2.14

Lei de Murphy

O Robocop original, feito na ressaca do governo ultraliberal de Ronald Reagan, é considerado um clássico do cyberpunk, gênero criado na literatura poucos anos antes de sua estreia nos cinemas. O Robocop atualizado pelo diretor brasileiro José Padilha, feito agora na ressaca dos governos Bush e de seu sucessor democrata Obama, dispensou as críticas pertinentes aos anos 80, tentando substituí-las por outras da nova agenda americana de guerra ao terror e da eterna vigilância, aos inimigos, aos aliados e aos próprios cidadãos do país. Se antes a OCP privatizava a polícia de Detroit, agora a OminiCorp fatura bilhões projetando drones em fábricas chinesas para patrulhar democracias recém implantadas no Oriente Médio e em outras regiões quentes do mundo. Menos na América, onde, segundo um telejornalista vivido por Samuel Jackson como uma caricatura dos apresentadores da Fox ou dos telejornais expreme-sai-sangue do Brasil, existe uma forte "robofobia". A criação de um robô metade humano para dar, literalmente, um rosto confiável à máquina não passa de uma jogada de marketing para que a empresa possa convencer o Congresso a liberar o uso de drones aéreos e de solo no território cobiçado dos Estados Unidos.

É assim que o detetive Alex Murphy, agora interpretado por Joel Kinnaman, se torna o homem de 2,6 bilhões de dólares, após sofrer um atentado à moda mafiosa, no lugar do brutal tiroteio do filme original. Mudou a realidade sócio-político-econômica, mudou o cinema. A própria existência do remake é um sinal disso, pois Hollywood se arrisca cada vez menos a lançar novidades, preferindo apostar em produções que já tragam consigo algum recall entre possíveis espectadores. Não se faz mais blockbusters milionários com a carga de violência da obra dos anos 80, ela deve ser amenizada para que o filme alcance fatias maiores do público que ainda vai aos cinemas, os mais jovens, o que gerou a maior parte das críticas iniciais a este novo projeto (curiosamente, pelo menos no Brasil, a crítica é feita por saudosistas da ultraviolência do filme de Paul Verhoven, mesmo que boa parte deles só tenha visto a edição editada para a TV nas edições vespertinas da Globo). As cenas de ação também não são mais vividas in loco por atores e, no máximo, por miniaturas, agora tudo é em CGI, que acelera o ritmo ao mesmo tempo em que empresta um ar de video game a tudo.

Mesmo sem poder mostrar o sangue, as amputações e os vilões derretidos em ácido que regozijaram plateias mais de vinte anos atrás, o filme de Padilha e de seus três roteiristas creditados tenta ser mais adulto do outro lado do espectro. O remake se pretende ser mais filosófico que a obra original, com uma discussão sobre a ilusão do livre arbítrio, mais sério e mais intimista, dentro do que permite uma superprodução do tipo. Acaba que a discussão filosófica é rasa, o filme é sisudo e muito rombudo em seu segundo ato. O filme original soube dosar sua crítica ácida com momentos do mais puro pop bem humorado, como aquelas inusitadas publicidades que surgiam a todo momento, tão decalcadas da graphic novel O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller (tanto que o quadrinista se envolveu nas horrorosas sequências que foram feitas nos anos 90). A grande parceria do Alex Murphy original estava em sua colega de armas, o que privilegiava os diálogos ágeis em meio às cenas de ação. Agora o foco está na família do detetive ressuscitado, em sua mulher e filho, e no médico-cientista que o recriou, vivido por um Gary Oldman com uma nota baseada em Edward Snowden (basta notar como o citado jornalista o chama ao final do filme).

Dessa forma, com uma mão pesada e uma história mais rabugenta e menos ágil - não apenas se comparada com o original, mas também se a régua usada for os filmes mais famosos do diretor, os dois Tropa de Elite que o credenciaram para o projeto - o que podia ter dado errado no novo Robocop infelizmente acabou se cumprindo. Sobram momentos de qualidade, como quando o personagem se vê pela primeira vez diante do que sobrou de sua humanidade, que já credenciam o longa como sendo a melhor derivação do original, bem mais satisfatório que as citadas sequências feitas nos anos 90, o seriado de TV ou as animações. Mas não é muito mais que isso.

3 comentários:

Leonardo Peixoto disse...

Embora peque por não mostrar a violência que esperávamos tanto pela fonte original quanto pelo diretor escolhido , realmente gostei da forma como o roteiro abordou a guerra contra o terrorismo e o conluio de certos jornalistas com as grandes corporações !
Faz tempo que eu admiro o seu trabalho e espero que volte a postar , seu blog é incrível !

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