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7.6.09

Um livro escrito ao vivo

Fãs brasileiros de steampunk têm a oportunidade de acompanhar em tempo real a criação de um romance que mistura o gênero com elementos de fantasia. O escritor José Roberto Vieira está compartilhando com seus leitores a experiência de criar sua obra em público, através das postagens em seu blog Nexus RPG.

Naquele endereço o autor publica trechos do livro, expõe suas dúvidas e compartilha as imagens que garimpa na internet e que lhe servem de inspiração, como o exemplo abaixo, retirado do site The Gatehouse:

A seguir, reproduzo o prelúdio de Baronato de Shoah, desejando a seu criador sucesso com o projeto.


Sob o olhar atento de uma centena de cabeças, o guerreiro entrou pelo arco de pedras.

Leu na placa de boas vindas – Tosten – e não se importou nem um pouco. Aquele nome nada dizia , mesmo que insistisse em fingir ser poderoso. Insignificante, o vilarejo começava a cercá-lo com pequenas casas de madeira e tablados rangentes.

Mais um entre tantos dominados por uma potestade alheia à suas necessidades mais básicas e seus sonhos mais profundos. Caminhava furtivamente pelos cantos da memória, teimando em não ser esquecida. Levianamente, o único pensamento do guerreiro era sair dali o mais rápido possível.

Não que fosse incômoda ou perigosa, nada disso. O que irritava o viajante era o fato dela não-ser. De nem tentar ser. O devir era algo que não fazia parte de seus planos. E o futuro não passava de anseio.

Ao contrário da morada de pescadores, o guerreiro era uma presença nítida e intimidadora. De longos cabelos azeviche, olhos violeta, roupas pretas e uma espada nas costas, além das botas de fivelas, também pretas. Sua pele era da cor da lua e ele carregava um pingente no pescoço. No braço esquerdo da blusa, uma estrela de cinco pontas.

– Bom dia, Capitão. – cumprimentou um cocheiro, enquanto o homem se aproximava da taverna. – Mianeh te abençoe. – tirou o chapéu, em respeito ao viajante. Aqui os dias são longos e as noites perigosas.

– Bom dia, cocheiro – respondeu o militar, acenou imperceptivelmente para as duas moças que passaram entre os dois. Não sorriu nem esboçou qualquer outra reação. Estóico, continuou olhando para o serviçal. Um cavalo relinchou, incomodado com a nova presença.

O cocheiro lançou um olhar significativo para o outro, mas não obteve resposta. – O que nossa cidade pode oferecer ao senhor? A gente tem menos que nada.

O vento soprou dramaticamente, revoando a pelerine do homem de preto.

- Procuro um homem.

- Geralmente procuram mulher – brincou o cocheiro. A sisudez do outro o fez desistir, olhou para o céu, constrangido com a própria idiotice e falou: – Tem poucos homens por estas bandas, a maioria viaja pras cidades e volta uma vez por ano.

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